sexta-feira, 28 de novembro de 2025

FINAL DE TEMPORADA IMPREVISÍVEL

Max Verstappen obteve novo triunfo em Las Vegas com a bobeada de Lando Norris na largada, mas nem poderia imaginar o presente maior que ganharia horas depois, com a desclassificação da McLaren da corrida, e relançando o campeonato a duas provas do final da temporada.

            Uma nova vitória de Max Verstappen na prova de Las Vegas ajudava a apimentar um pouco mais a disputa deste final de temporada da Fórmula 1, mas sem a ardência potencial que poderia fazer a disputa ficar mais explosiva como vinha sendo especulada até o GP dos Estados Unidos, antes que Lando Norris iniciasse uma reação vigorosa e ganhasse com autoridade as provas do México e do Brasil, tomando a liderança do campeonato, e assumindo a posição de favorito ao título da competição. Lando, mesmo com o segundo lugar na corrida de Nevada, minimizava o prejuízo e poderia encerrar a fatura já neste final de semana, em Losail, no Qatar, com o maior perigo potencial indo para Oscar Piastri, que de favorito ao título, virava protagonista potencial da disputa pelo vice-campeonato, com o piloto da Red Bull chegando perigosamente perto, a ponto de poder destronar o australiano até mesmo dessa posição final ao encerramento da temporada, na pior das hipóteses.

            Pelo menos, na forma como a corrida de Las Vegas terminou na pista… Horas depois, contudo, veio a bomba: ambas as McLarens foram desclassificadas por desgaste excessivo do skid-block, a peça de madeira central que fica no centro do assoalho dos carros da F-1, e que servem de parâmetro para verificação da altura dos carros, com espessura de 10 mm, com tolerância de desgaste máximo de 1 mm. Só que as medições feitas em ambos os carros, tanto de Norris quanto de Piastri apontou um desgaste maior do que isso, e o regulamento é claro: desclassificação imediata se o desgaste superar o limite de tolerância. A justificativa é de que o carro teria andado mais baixo do que o permitido, e quanto mais baixo o bólido fica, mais junto ao solo, mais performance ele teoricamente ganha.

            E agora, a situação fica totalmente complicada, e com o campeonato relançado para o final da temporada. Ao fim do resultado original de Las Vegas, Norris tinha uma vantagem de 42 pontos na liderança para Verstappen, e também tinha aberto distância para Piastri. A condição era bastante cômoda para o inglês, que nem precisava mais vencer, e podia se dar ao luxo de ser conservador na pista, evitando situações mais arriscadas, se as condições não fossem favoráveis como esperado. Havia margem de segurança relevante para adotar essa postura. Porém, a desclassificação muda praticamente tudo...

            Max Verstappen agora está praticamente empatado com Oscar Piastri, oficialmente classificado em 3º lugar pelo australiano no critério de desempate ter mais vitórias. Mas o holandês agora está a apenas 24 pontos de distância de Lando Norris, menos do que uma vitória na pontuação. E, contadas as duas provas que faltam, mais a prova sprint deste final de semana, temos um total de 58 pontos em jogo. Então, podemos ver que agora, tudo pode acontecer…

            A margem de pontos disponíveis em jogo é ampla, e nenhum prognóstico pode ser descartado. A luta, que se resumia mais a Verstappen e Piastri pelo vice-campeonato numa escala mais crível, agora fica praticamente aberta aos três pilotos, deixando a disputa emocionante para o fim de temporada, promovendo uma reviravolta dramática na situação. O menor erro pode ser fatal agora, e não há mais margem para isso...

Oscar Piastri, de favorito a azarão na luta pelo título? Ainda há chance, e ele obteve a pole da corrida Sprint em Losail, mas precisa aproveitar a chance.

            Verstappen joga o favoritismo para Norris, mas assume claramente a posição de franco-atirador. A diferença de pontos do inglês para o holandês ainda é razoavelmente confortável para se poder administrar, é fato. Mas, neste momento, confiar nesta opção é simplesmente brincar de roleta russa, e o resultado é dos mais perigosos.

            A vantagem que Norris tinha obtido ao fim do GP no Brasil credenciava o inglês a poder administrar com relativa folga os resultados nas etapas finais da temporada, com direito à possibilidade de haver algum problema inesperado que complicasse tudo, mas que, bem gerenciado, não seria dramático. O problema é que justamente o “percalço” inesperado veio a aparecer logo de cara em Las Vegas, e assim, a margem de segurança ficou relativamente muito pequena.

            O que deveria ser um campeonato quase de favas contadas para a McLaren pode virar uma derrota das mais vergonhosas, dada a possibilidade de uma reviravolta que, no início da temporada, parecia das mais improváveis. A superioridade técnica do modelo MCL39 do time de Woking fazia seus pilotos imporem um domínio arrasador, onde todos os demais competidores, diante da fragilidade de seus bólidos diante da performance dos carros papaias, os faziam meros coadjuvantes de uma disputa reservada apenas a Lando Norris e Oscar Piastri. No ano passado a McLaren reagiu tarde no campeonato, e mesmo quando o fez, a sensação foi de que não conseguiu aproveitar todo o seu potencial, diante do desempenho por vezes titubeante de seus pilotos, além de erros internos da própria McLaren no gerenciamento de algumas corridas. Agora, na condição de franco favorita, permitir o revés do adversário que veio de trás pode ser ainda mais contundente, como poucas reviravoltas vistas na história do esporte a motor.

            Estou sendo dramático demais? Admitindo a derrota de Norris antes do consumado? Antecipando o pentacampeonato do piloto da Red Bull? Talvez, mas o problema é o histórico pregresso de Norris e Verstappen, onde o holandês raras vezes saiu perdedor da contenda entre ambos, e onde Norris ainda parece ficar devendo. E neste momento, com uma pressão inédita em sua carreira, podendo chegar a seu primeiro título na F-1, como ele vai reagir. O próprio Lando deu uma declaração sincera de que não sabe o que vai acontecer, diante da situação inédita que enfrenta, e isso pode ser o seu grande ponto fraco, pois Verstappen já passou por isso, e saiu-se vencedor, e pode muito bem repetir a dose, dependendo do que irá acontecer nestas etapas finais do campeonato agora. Ele e a Red Bull não tem nada a perder. Norris, por outro lado, pode perder sua maior, e talvez única chance de ser campeão. Ele está preparado para enfrentar essa decisão? Para muitos, ainda não, diante do que se viu em momentos anteriores onde, na hora de ir para o tudo ou nada, ele perdeu quase todas as divididas que precisou fazer.

Lando Norris conquistou a pole em Las Vegas, mas errou feio na primeira curva e deu a chance que Max Verstappen para assumir a liderança e não sair mais de lá. Será que o campeonato pode fugir do inglês?

            Isso não quer dizer que Lando não possa reagir, e retomar o controle da situação. O inglês teve desempenho irrepreensível no México e em Interlagos, sabendo arrancar a pole-position no momento certo da classificação, e mais importante, não perdendo a posição de honra nas largadas destas duas provas, e conduzindo ambas as corridas com autoridade, dominância, e vencendo com aquela performance de piloto que, na reta final, cresce e mostra que é de fato candidato e favorito ao título.

            Era a performance perfeita para se manter e liquidar a fatura o quanto antes, “matando” as chances potenciais do adversário em ainda tentar uma reação, por mais improvável que fosse, mas reafirmando a autoridade e o favoritismo, e podendo ter mais tranquilidade e conforto para jogar com os resultados nas provas finais, sem ter que contar tanto com o fator sorte ou azar.

            Mas em Las Vegas, Norris voltou a mostrar uma falha capital: na tentativa de fechar a porta para Verstappen, Lando moveu o carro demasiadamente para bloquear o piloto da Red Bull, e isso o fez perder o ponto de freada da curva seguinte, onde quase saiu da pista, e deixou a porta escancarada para o holandês assumir a liderança, de onde não mais sairia, e ainda por cima, perdeu a posição também para George Russell, ficando em 3º lugar.

            Norris conseguiu se recuperar para terminar em 2º lugar, como deveria de fato efetuar, conseguindo amainar sua falha, e manter o conforto para poder continuar administrando os resultados. A falha da McLaren, que resultou na desclassificação de seus dois pilotos, contudo, é o tipo de falha capital que uma escuderia que se pretende ser campeã não pode cometer. E foi o tipo de falha que jogou por terra os esforços de Lando na corrida. Quando é o piloto que erra, e ele errou, isso tem dimensão diferente de quanto é o time que erra, e assim, compromete os esforços empreendidos pelo seu piloto na pista. Apesar do erro na largada, Norris fez o que bastante para deixar tudo administrável, enquanto Oscar Piastri novamente saia como o maior derrotado, e cada vez mais perigando ver até o vice-campeonato ir para outro piloto. A partir de agora, nem um nem outro podem mais pisar na bola. A cota de erros já foi esgotada, e um novo deslize pode ser fatal.

            E não podemos falar apenas de Norris e Verstappen nessa equação. Oscar Piastri, a apenas 24 pontos do colega de time inglês, também pode reagir, e surgir como campeão improvável, saindo da condição de azarão para favorito. O problema é que, desde sua última vitória, na Holanda, o australiano vem em um momento inferior tanto a Norris, quando principalmente a Verstappen. Uma reação não é impossível, mas é cada vez mais vista como improvável, e agora com uma complicação: com Verstappen vindo com tudo, a McLaren vai ter de usar jogo de equipe para garantir o título de pilotos? Piastri terá que ser o escudeiro de Lando neste final de temporaa? Ou a McLaren ainda vai deixar a disputa em aberto, mesmo diante de todos os riscos possíveis de tal decisão? Qual atitude a escuderia inglesa tomará? Se permitir a disputa, Piastri ganharia também nova chance, e poderia voltar a sonhar com o título, mas para isso, ele precisaria voltar a ser o piloto aguerrido, focado, eficiente, das provas que venceu este ano. Desde a escalada de Verstappen, contudo, Oscar tem tido desempenho abaixo de Norris, e quando se imagina que o australiano pode dar a volta por cima, e reafirmar o favoritismo que até o fim de agosto era mais do que patente, ele não consegue reagir na medida do necessário.

A corrida de Las Vegas não foi das mais emocionantes, mas o que aconteceu fora da pista, com a desclassificação dos dois carros papaias acabou ofuscando os poucos bons momentos de disputa que ocorreram na pista.

            Oficialmente, a McLaren já anunciou nesta quinta-feira que sua dupla de pilotos está livre para duelar pelo título na pista, desde unicamente que não batam um no outro, o que indica que não haverá interferências e/ou favorecimentos a favor de Lando Norris, que então dependerá unicamente dele par chegar ao título, o que também vale para Oscar Piastri, que como já mencionei, ainda está devendo essa reação nas últimas corridas, ainda mais agora que, não apenas foi despojado da liderança, mas está com Verstappen praticamente ao seu lado na pontuação do campeonato.

            Isso não significa que seja impossível ele virar o jogo agora, só que vai se tornando cada vez mais improvável, conforme ele foi demonstrando nas últimas corridas, e agora com o complicador de que as duas últimas corridas, tanto para ele quanto para Verstappen, se tornam um tudo ou nada. E Verstappen, pelo seu histórico, é quem tem mais chances de tornar isso realidade. A temporada caminha para um final eletrizante, o mais dramático desde a controversa conquista de Max Verstappen de seu primeiro título, pelo modo como as coisas se desenvolveram em Abu Dhabi no final da prova de 2021, que até hoje suscita discussões. E muito provavelmente, veremos a decisão do título novamente em Yas Marina. Quem aguentará a pressão? Quem conseguirá reagir à altura do que é necessário? As respostas começam a ser dadas hoje em Losail, com o único treino livre, e a classificação para a última prova Sprint da temporada da Fórmula 1.

            A sorte está lançada...

 

 

Gabriel Bortoleto acumulou abandonos nas últimas duas etapas, interrompendo um momento em que o brasileiro vinha em ascenção sobre Nico Hulkenberg no time da Sauber, mas que colocou tudo a perder tanto em Interlagos quanto Las Vegas com manobras desastradas logo no início das corridas, tentando compensar classificações fracas, onde foi amplamente superado pelo colega de time alemão. Gabriel vinha em um momento positivo, mostrando crescimento e determinação, mas os abandonos, derivados de manobras afobadas e impulsivas, acabam jogando contra o brasileiro, que precisa voltar a colocar a cabeça no lugar e se concentrar em ser menos afoito e procurar não tentar resolver tudo na largada, quando a posição de grid é ruim. Que ele possa refletir e evitar cometer os mesmos erros nestas duas provas que faltam para encerrar a temporada de 2025… Por enquanto, ele precisa lidar com as consequências, e pelo acidente provocado com Lance Stroll, Gabriel tomou um gancho de 5 posições no grid da etapa do Qatar, o que já pode complicar as coisas se ele novamente largar lá no fundo e resolver recuperar tudo na freada da primeira curva...

Barbeiragem de Gabriel Bortoleto no início da corrida de Las Vegas rendeu uma punição de cinco posições no grid de Losail neste final de semana.

 

 

E a pista de Losail provoca de novo mudanças nas regras de uso dos pneus, que estarão limitados obrigatoriamente a 25 voltas de uso em ritmo de corrida. A preocupação é “desgaste excessivo” que o circuito catari provoca nos pneus, reeditando o problema visto na prova de 2023, embora tenha sido causado por outros motivos naquele ano. Mas, depois de uma corrida sem problemas neste sentido no ano passado, fica estranha a adoção de tal limitação, que forçará dois pit stops obrigatórios para todos na corrida de domingo. Para muitos, parece mais uma forma de disfarçar a imposição de se fazer dois pit stops na prova, para tentar deixar a situação mais agitada, diante de algumas corridas monótonas este ano. Nem mesmo esperaram para ver o resultado do treino livre para adotar esta medida, anunciada já há vários dias atrás. Mas como teremos apenas um treino livre, pode-se até entender a medida. O que não se pode entender é como a Pirelli apresenta compostos que, se aguentaram as exigências de forma satisfatória no ano passado, não aguentem a situação este ano, quando por teoria, os pneus de 2025 deveriam ser melhores que os de 2024, e não o contrário, como parece estar acontecendo neste caso… A obrigatoriedade de stints fixos não causou problemas dramáticos na prova de 2023, embora tenha contribuído para “engessar” as estratégias dos times e pilotos quanto aos momentos dos pit stops, e provavelmente, poderão pouco influir no andamento da corrida este ano, mas vamos ver o que acontece, afinal… Ah, claro que, por sua duração mais curta, não serão necessários pits obrigatórios na prova sprint deste sábado, uma vez que ela terá 19 voltas. A corrida Sprint terá largada às 12:00 Hrs. Deste sábado, enquanto a corrida de domingo largará às 14:00 Hrs., com transmissão ao vivo pela TV Bandeirantes, em sua penúltima corrida da temporada 2025, uma vez que em 2026 os direitos voltam para a Globo...

 

 

E Felipe Drugovich encerrou oficialmente seu vínculo com a Aston Martin, depois de três anos como piloto reserva e de testes da equipe. Em duas semanas o brasileiro fará sua estréia como piloto titular da Formula-E, defendendo a equipe Andretti, onde inicia uma nova fase em sua carreira. Felipe já havia sido anunciado como novo piloto do Brasil na competição, mas ainda seguia com a Aston Martin até a chegada da nova temporada do certame de carros monopostos elétricos. Boa sorte a ele em sua nova empreitada. Felizmente, ele viu que no time de Silverstone não iria mais a lugar nenhum... Agora é recuperar o tempo perdido, e ir adiante..

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