sexta-feira, 26 de junho de 2020

CONTAGEM REGRESSIVA PARA A F-1


A Áustria está pronta para dar a largada da F-1 2020.
            Está chegando a hora. No próximo final de semana, a Fórmula 1 finalmente dará a sua largada para a temporada de 2020, interrompida às vésperas do primeiro treino livre na Austrália, em decorrência da pandemia do coronavírus que virou o mundo de cabeça para baixo, e continua a ser uma grande dor de cabeça para todo o planeta mesmo hoje, mais de três meses depois. Com normas de segurança sanitária visando eliminar tanto quanto possível o contato e a aglomeração das pessoas, o campeonato será iniciado com a prova da Áustria no domingo da próxima semana, dia 5 de julho. Para os fãs da velocidade, enfim a disputa começará, e para que isso aconteça, alguns procedimentos serão diferentes dos quais estávamos habituados.
            O primeiro e mais óbvio deles é que não haverá público no circuito. Por medida de segurança, pelo menos as oito primeiras provas, já definidas, da Áustria até a Itália, serão realizadas a portões fechados. Isso já implica na eliminação, também por questões de segurança, do tradicional desfile dos pilotos pelo circuito antes da corrida. Afinal, sem público, para quem os pilotos vão acenar, se as arquibancadas estiverem vazias? Outra mudança é que não teremos a cerimônia do pódio, momento onde os pilotos recebem seus troféus e comemoram, diante do público, os resultados alcançados. Sem público, sem pódio, e mesmo as entregas dos troféus deverá ser feita de outra maneira, de modo a não haver contato entre pilotos e aqueles que irão entregar os troféus.
            Para a transmissão de TV, cogita-se a possibilidade dos três primeiros colocados pararem seus carros na pista, com os pilotos agradecendo ao apoio de todos, e talvez, pegando lá seus troféus, colocados alguns instantes antes. Isso ainda está sendo estudado, segundo Ross Brawn. A intenção é tentar dar um ar de normalidade tanto quanto possível.
            As equipes contarão apenas com o pessoal indispensável para efetuarem seus trabalhos, com um máximo de 80 integrantes por time. E os integrantes de cada time não deverão travar contato com os integrantes dos outros times. A ordem é que cada equipe fique “isolada” de todos os outros, com contatos mínimos entre todos, e quando isso não for possível, manter o distanciamento o máximo possível. O objetivo é diminuir a possibilidade de transmissão do vírus entre o pessoal presente. Estes, aliás, terão de assinar documentos de conduta a serem seguidos, estabelecidos pela FIA, e terão de apresentar um teste de verificação da Covid-19 antes de chegarem ao circuito. E mesmo no local, todo mundo ainda terá de passar por testes a cada pelo menos cinco dias, por questões de segurança.
            Como no caso da Áustria, e posteriormente, em Silverstone, serão realizadas duas corridas, o pessoal ficará no local por praticamente uma semana e meia. No caso de Zeltweg, todo o pessoal deverá chegar de avião, procedimento que será facilitado pela existência de uma pista bem próxima ao circuito, e o itinerário dos integrantes da F-1 será o menor possível, chegando ao hotel, e de lá saindo unicamente para a pista, e retornando ao hotel após os trabalhos do dia. E mesmo no hotel, deverão seguir os protocolos de segurança estabelecidos. E todos deverão utilizar equipamentos de proteção individuais. Nem mesmo os reluzentes motorhomes das escuderias deverão ser vistos na pista austríaca. Todos os times deverão utilizar as instalações do autódromo, uma vez que hoje em dia, além de transportar os equipamentos das equipes, os motorhomes se tornaram muito mais uma área de convivência social, onde as equipes recebem patrocinadores, convidados, e atuam como escritórios remotos para se tratar de vários assuntos. Como não teremos a presença de convidados e patrocinadores, e assuntos de marketing estão tendo de ser resolvidos de forma remota, o máximo que veremos serão os caminhões de transporte dos equipamentos. Para todos os profissionais presentes, será um misto de satisfação e frustração voltar a disputar um GP, depois de tanto tempo.
Times e profissionais terão de cumprir com várias normas de segurança para evitar riscos de contaminação pela Covid-19.
            Satisfação por poderem voltar a trabalhar, depois de tanto tempo de incerteza, quando a pandemia se mostrou realmente mais séria do que todos imaginavam, forçando os países a fecharem suas fronteiras, e a estabelecer isolamento para tentar frear a disseminação do vírus. Foram praticamente dois meses com tudo parado, inclusive nas fábricas das equipes, que também tiveram que ficar fechadas, sendo liberadas para retorno aos trabalhos apenas há poucas semanas. A frustração é mais pelo rígido controle a que todos terão de se submeter, lembrando que a situação ainda não está normalizada, e que o perigo do vírus ainda é bastante elevado, até que se encontre um tratamento adequado para os enfermos, além de uma vacina efetiva, que felizmente parece estar a caminho, com testes já sendo iniciados baseados na pesquisa de Oxford no mais avançado dos trabalhos. Mas, enquanto não temos remédios de eficácia comprovada, além desta vacina, o melhor a fazer é tentar evitar o risco de contaminação, razão pela qual as corridas, mesmo em países que em tese podem flexibilizar mais as condições sanitárias, não irão baixar a guarda.
            Por causa disso, procedimentos normais como os trabalhos dos mecânicos nos carros nos boxes poderá não ser tão célere quanto antes, de modo que a FIA resolveu dar um pouco mais de tempo de trabalho permitido no autódromo a todos, cerca de uma hora a mais, para tentar facilitar o andamento dos serviços nas noites de quinta e sexta-feira. Devido a isso, também os trabalhos dos mecânicos dos carros no grid será diferente, com os times mantendo no local muito menos pessoas cuidando de cada carro. Contudo, os trabalhos no grid, por serem no momento o local com maior aglomeração possível, ainda está sendo estudado o que fazer, se avaliarem que isso ainda será arriscado demais. Uma possibilidade, até porque, como já mencionado, não haverá público nas arquibancadas, seria os carros saírem dos boxes, já com todos os ajustes feitos por lá mesmo, dar a volta na pista, e já alinhar para a largada. Entende-se que nos boxes seria possível manter os integrantes dos times mais distantes uns dos outros do que no grid de largada na pista.
            Boa parte da mídia terá de acompanhar o evento à distância, já que a presença no autódromo será bem reduzida, restrita a alguns veículos somente, e mesmo assim, os profissionais que poderão estar presentes terão de cumprir rígidos protocolos de segurança, assim como todos os demais. Não haverá acesso aos boxes ou ao paddock, e mesmo as entrevistas terão de ser feitas à distância. O famoso “cercadinho”, onde os pilotos tinham de comparecer nos últimos anos para atender à imprensa, não será visto nesta temporada. Ainda estão sendo definidos como serão feitas entrevistas e coletivas. Na Indycar, uma coisa que notei foi que os microfones estavam todos em suportes, com os pilotos e profissionais falando, mas sem que víssemos os repórteres e/ou jornalistas próximos. Depois de termos visto o “pau de selfie” virar moda, agora vamos ver o pau de microfone virar moda, provavelmente.
O circuito de Ímola (acima) quer sediar um GP, formando uma trinca de provas italianas com Monza e Mugello. Já Portugal espera poder voltar a sediar uma corrida, no novo autódromo de Portimão (abaixo).
            Enquanto a Indycar já fala em algumas liberações, como permitir a entrada de um número restrito de público na prova de Road America, por exemplo, ainda não se fala disso em relação à F-1. Eu já havia mencionado que, com certas salvaguardas, poderia ser possível permitir algo entre 5% e 10% de público, dependendo da capacidade total das arquibancadas de um autódromo. Creio que não seria um risco enorme, desde que o público seguisse as normas. Não seria ainda um GP com público propriamente, mas poderíamos ao menos não ver as arquibancadas completamente vazias. Talvez isso seja possível mais adiante, dentro das oito provas já marcadas. Tudo dependerá da experiência das primeiras corridas, se bem que na Áustria, um país que conseguiu manter a pandemia sobre relativo controle, isso até já poderia ser implantado. Mas todos estão jogando pelo seguro, a fim de não terem de recuar depois, e compreende-se a medida.
            Alguns lugares na Europa, que já haviam flexibilizado as normas de isolamento, como a Alemanha, viram o surgimento de alguns surtos, e com todos temendo uma segunda onda de infecções da Covid-19, estes lugares já estão voltando a fazer um isolamento mais rígido, a fim de evitar o pior. E a F-1, mesmo com as restrições, já está tendo muito trabalho para conseguir realizar as corridas, e por isso mesmo, não é bom forçar a barra. Mesmo com um número reduzido de profissionais, ainda teremos mais de mil pessoas nos autódromos, e o desafio de evitar o contato entre eles, a fim de restringir possíveis casos de transmissão do vírus. Os times que conseguiram sair à pista nas últimas semanas, para efetuarem testes com os carros de dois anos atrás, além de procurarem entrar no ritmo dos trabalhos, depois que todos ficaram tanto tempo parados, também utilizaram a oportunidade para se adequarem aos protocolos de segurança que todos terão de seguir nas corridas.
            Enquanto isso, os times se preparam para viajar para Zeltweg, e os pilotos estão ávidos para começarem finalmente a disputarem o campeonato. As negociações sobre as demais corridas após a prova de Monza continuam, e as especulações sobre corridas fora da Europa ainda não fornecem dados seguros sobre a possibilidade de GPs em outros continentes. Tudo vai depender de como a pandemia irá se comportar nos próximos meses, mas a julgar pela situação de países como os Estados Unidos e Brasil, onde o número de caros não para de subir, é bem provável que 2020 termine sem que tenhamos uma luz no final do longo túnel que estamos atravessando em relação a essa doença. Por enquanto, ao menos os fãs da velocidade podem comemorar que no próximo final de semana veremos os bólidos da F-1 novamente na pista, prontos para iniciar a disputa deste ano, e esperamos que ao menos as corridas sejam boas, a fim de poderem nos trazer algum alívio, neste momento tão complicado que vivemos.


Enquanto não chega o momento de embarcar para a Áustria, a equipe Williams apresentou esta semana o novo layout de seus carros para a temporada, já sem o patrocínio da Rokit, cujo contrato acabou rescindido. Como consequência, a faixa vermelha das laterais dos carros onde estava o nome da empresa sumiu, sendo substituída pela cor branca, que junto com o azul, compõe o novo visual estético dos carros de Grove. A perda do patrocínio da empresa, com alguns boatos indicando que ela pode vir a patrocinar dos carros da Mercedes, foi outro duro golpe no time fundado por Frank Williams, que já se colocou praticamente à venda para algum interessado que surja, diante das dificuldades financeiras da escuderia. Conversas de bastidores dizem que já há quem tenha interesse na escuderia, mas por enquanto, nada muito certo. Esperemos que a adoção do teto orçamentário, a partir de 2021, ajude os times a serem mais viáveis economicamente, uma vez que os patrocínios andam escassos, enquanto os custos de competição continuam nas alturas...
Novo visual da pintura dos carros da Williams para a temporada 2020.


Aumentam as chances de a Itália ter três provas da F-1 neste ano. Com o GP da Itália confirmado para o primeiro final de semana em Monza, a probabilidade de Mugello, e também de Ímola receberem as provas seguintes, estão sendo bem recebidas. Mugello nunca recebeu um GP de F-1, embora já tenha servido de pista de testes da Ferrari em temporadas passadas, já que pertence à empresa de Maranello, e o fato de ser um circuito desconhecido para a imensa maioria dos times e pilotos poderia propiciar uma disputa com chances de termos algumas surpresas. E Ímola, pista que está há praticamente quinze anos longe da categoria máxima do automobilismo, está ansiosa por poder receber novamente a categoria, já que recuperou a classificação de segurança exigida para um circuito receber a F-1. A programação viria a calhar por manter os times na Itália, evitando maiores deslocamentos, e com isso reduzindo também custos. Isso também permitiria alcançar a marca de dez GPs no campeonato de 2020, além das oito provas já acertadas.


As chances de Portugal também receber a F-1 parecem crescer, com o autódromo de Portimão, no Algarve, tendo plenas condições de sediar um GP. A dúvida seria se teríamos uma rodada dupla, ou apenas uma corrida. O circuito até hoje só recebeu alguns testes esporádicos da F-1, uma vez que o país está fora do calendário da categoria máxima do automobilismo desde a segunda metade dos anos 1990, com todas as provas lá disputadas sendo realizadas na pista do Estoril. Seria outro circuito cuja prova poderia render algumas surpresas na competição, a exemplo de Mugello. E muitos torcedores aprovam a idéia de Portugal sediar novamente uma corrida.


Com a F-1 concentrada em ver opções de provas na Europa, por questões de custos e de logística, entre as quais a pista de Hockenhein, na Alemanha, que poderia sediar um GP, a categoria ainda se vê frente às possibilidades de quais provas poderiam ser feitas fora do Velho Continente. As etapas dos Estados Unidos, México e Brasil parecem cada vez mais distantes, diante do quadro preocupante da pandemia da Covid-19 nestes países. Mesmo nos Estados Unidos, onde a Nascar e Indycar já estariam com seus campeonatos novamente em andamento, a presença da F-1 é altamente duvidosa, até porque os casos nos EUA parecem estar tendo uma escalada de novas contaminações, situação que também é vivenciada pelo México, mesmo que em menor escala. E o Brasil, mesmo com a data de novembro sendo mantida do calendário original, também não teria garantias, uma vez que nosso país vê crescer o número de casos e mortes sem que tenha atingido o pico da doença. As atenções se voltam para o Oriente Médio, onde já se especulou a possibilidade do Bahrein sediar uma rodada dupla, com a adoção de traçados diferentes no autódromo de Sakhir, a fim de aumentar o interesse pela segunda corrida. Abu Dhabi, que nos últimos anos encerrou o campeonato, é outra pista que em tese, deve manter o seu GP, que seria realocado para dezembro, ganhando mais tempo para as situações referentes à pandemia se estabilizarem. E até mesmo a China, onde surgiu o vírus, parece ainda estar no páreo para voltar a ter a sua corrida em Shangai, e até com a possibilidade de duas provas. Isso poderia fazer o campeonato chegar a cerca de 15 ou 16 corridas, número suficiente para se apresentar uma competição, diante das circunstâncias. Contudo, até agora, as provas fora da Europa ainda não passam de mera especulação, sem nada garantido. Vamos esperar que tudo possa ser resolvido, e tenhamos mais corridas para apreciar neste ano, e acima de tudo, que a situação possa voltar à normalidade, tão logo seja possível...

quarta-feira, 24 de junho de 2020

A TRAJETÓRIA DOS CIRCUITOS DA F-1 – DALLAS


            Hora de mais um texto sobre pistas que a Fórmula 1 já visitou em seus 70 anos de história. E hoje falarei de Dallas, cidade que já teve o privilégio de sediar um Grande Prêmio, nos anos 1980. Foi uma corrida cheia de emoções, mas só para o público, uma vez que para os pilotos, a situação não foi assim tão agradável. Confiram mais detalhes no texto abaixo, e boa leitura a todos...

 



DALLAS

            Quem vê a Fórmula 1 hoje toda cheia de frescuras e exigências para correr em determinadas pistas, muitas vezes justificando a necessidade de segurança, não imagina por onde a categoria já correu em determinadas ocasiões. Se é verdade que não se pode renegar as melhores condições de segurança, para se evitar acidentes, ou pelo menos minimizar suas consequências, não é menos verdade que, por causa disso, muitas pistas que ofereciam desafio aos pilotos acabaram expurgadas do calendário, em que peses muitas vezes os motivos terem sido muito mais econômicos do que de segurança propriamente dita, uma vez que as taxas de realização de um GP cresceram a níveis astronômicos, ficando muito difícil de se bancar a brincadeira por simples desejo.
            Por outro lado, por força do dinheiro, não foram poucas vezes onde a categoria máxima do automobilismo se aventurou em alguns lugares onde os pilotos nunca sentiram saudades de repetir a dose. E Dallas, certamente, foi um destes lugares. Tanto, que foi uma corrida única, que esteve presente no calendário de 1984, tendo sido realizada no dia 8 de julho daquele ano. Curioso que, em um país como os Estados Unidos, que possuí diversos circuitos permanentes, a F-1 tenha insistido tanto em algumas pistas de rua que, à exceção de Long Beach, nunca deixaram os pilotos muito entusiasmados em disputar um GP neste tipo de circuito. E Dallas, certamente, ganha com louvor o posto de pior pista citadina que a F-1 já visitou em terras do Tio Sam.
            Os organizadores queriam mostrar a força da cidade de Dallas, como um centro econômico mundial, e com o aval de Bernie Ecclestone, conseguiram o seu Grande Prêmio de Fórmula 1 para a temporada de 1984. O local escolhido para abrigar a pista seria o Fair Park, um complexo destinado, como o nome diz, a feiras, além de outros eventos recreativos e educacionais localizado ao leste do centro da metrópole texana. A pista usaria as ruas do local, o que resultou em um traçado de 3,9 Km de extensão, e 23 curvas, a ser percorrido no sentido anti-horário. Além das tradicionais curvas em cotovelo, típicas de circuitos de rua, havia algumas curvas mais rápidas e não tão travadas, além de alguns trechos razoáveis de retas, que em tese dariam pontos satisfatórios de ultrapassagens. Não parecia tão ruim, mas não era nenhuma maravilha. Como a corrida tinha sido organizada com a ajuda de Chris Pook, que era o criador da etapa oeste do GP dos Estados Unidos, na ensolarada Long Beach, o pessoal dava um voto de confiança para esta nova prova, que seria a 9ª etapa da competição em 1984, logo após as provas do Canadá, e a de Detroit, outra pista de rua que não era nem um pouco apreciada pelos pilotos. Claro que, na teoria, tudo parecia bem razoável, com a perspectiva de um traçado que era bem mais interessante do que o da capital do automóvel, mas na prática, o que se viu foi outra coisa.
            Quando chegou o fim de semana da corrida, Dallas estava um inferno, literalmente, com a temperatura chegando fácil aos 38º C. Os muros de concreto que circundavam a pista montada praticamente tornavam todas as curvas em raio cego para o nível da altura dos pilotos. E o pior era o piso, cuja condição era horrorosa, e como se desgraça pouca fosse bobagem, se deteriorava a olhos vistos. Geralmente, o que acontece é que, com o uso dos carros, um traçado vai ficando mais emborrachado, e ganhando mais aderência, ficando melhor para a condução dos pilotos. Mas no Dallas Fair Park, acontecia o contrário, com o asfalto a se desintegrar quanto mais os carros andavam. E com a pista mais estreita do que os pilotos imaginavam, e um trilho bem instável no piso, a pista de Dallas, segundo alguns, parecia mais um traçado de rali do que de monopostos, com as condições traiçoeiras prontas para vitimar quem não se precavesse.
            Nélson Piquet teria perguntado o que iria quebrar primeiro naquele calor infernal: a pista, os pilotos, ou os carros. Na prática, sobrou para todo mundo. Na verdade, nos treinos mesmo, dois pilotos já ficaram fora de combate: o francês Phillipe Alliot, da equipe Ram/Hart, terminou seu fim de semana logo no primeiro treino livre, ao bater seu carro nos muros da pista. Como sua escuderia não tinha carro reserva, o piloto nem conseguiu participar da corrida. Já o inglês Martin Brundle, da Tyrrel/Ford, bateu forte no início do primeiro treino de classificação, fraturando o pé direito e o tornozelo do pé esquerdo.
O traçado da pista de Dallas no Fair Park (acima). Boa parte das ruas ainda existe ainda hoje no local, como se pode ver em uma visão aérea, com o traçado de onde a pista foi montada (abaixo).

            A dupla da McLaren, Alain Prost e Niki Lauda, tentaram organizar os pilotos para fazer um boicote à corrida, devido ao estado calamitoso do pisto, mas não conseguiram ser bem-sucedidos. E acabou que a prova foi disputada, e apesar dos pesares, por incrível que pareça, foi uma das mais emocionantes da temporada, e teve alguns lances bem interessantes. A começar pela primeira pole-position de Nigel Mansell, com a Lotus/Renault, tendo ao seu lado seu companheiro de equipe Elio de Angelis, com uma primeira fila toda da equipe fundada por Colin Chapman. Entre os brasileiros, Ayrton Senna largava numa ótima sexta posição com sua Toleman/Hart, em sua temporada de estréia na F-1, enquanto Nélson Piquet era apenas o 12º no grid. A bandeira verde da corrida era dada por Larry Hagman, ator que fazia o personagem mais famoso da série “Dallas”, o infame J.R. Ewing, produção que estava entre os grandes sucessos da TV não apenas nos Estados Unidos, mas em diversos outros países do mundo onde era exibida.
            E foi uma corrida bem disputada, com vários lances emocionantes, e muitos pilotos infelizmente perdendo para o circuito citadino. Nigel Mansell liderou metade da corrida, antes de ser superado pelos concorrentes, que já vinham acossando o inglês há muitas voltas. Keke Rosberg, com a Williams/Honda, foi quem se deu melhor nesta prova, com uma pilotagem inspirada, garantindo a primeira vitória para a Honda no seu retorno à F-1 ocorrido no ano anterior. A prova, programada para 77 voltas, foi encerrada com 67, por ter atingido o tempo limite de uma corrida de F-1. René Arnoux, com a Ferrari, foi o 2º colocado, enquanto Elio de Angelis garantia um pódio para a Lotus com o 3º lugar. No finalzinho da corrida, Nigel Mansell, com o carro já meio judiado depois de alguns toques nos muros, parou na pista, e o inglês tentou empurrar o seu carro até a linha de chegada, acabando por desmaiar e cair ao lado de seu carro, devido ao fortíssimo calor reinante, acabando por se classificar em 6º lugar.
            Para os brasileiros, foi uma corrida para se esquecer. Nélson Piquet teve um acelerador preso, e acabou atingindo o muro. Já Ayrton Senna também acabou acertando o muro, após uma manobra, e por incrível que pareça, sentiu que alguma coisa estava errada. Pat Symonds, que na época era engenheiro da Toleman, foi ver depois da corrida, e viu que o muro de fato estava numa posição ligeiramente diferente, coisa de no máximo um centímetro, algo que havia acontecido devido a um acidente ocorrido no mesmo local momentos antes. Esse detalhe deixou Symonds impressionado com a capacidade de Senna medir a distância com que fazia as curvas em uma pista e passar rente aos muros com incrível precisão. Ayrton julgava estar fazendo a curva no limite, quando acabou acertando o muro, que estava aproximadamente um centímetro mais para dentro da pista.
            Apenas oito carros foram classificados, e apenas os dois primeiros terminaram na mesma volta. Felizmente, o bom senso mostrou que a pista do Dallas Fair Park, apesar de um traçado interessante até, não era adequada para a Fórmula 1, que nunca mais voltou àquela cidade, sendo este circuito um daqueles vários GPs que tiveram a honra de sediar apenas um Grande Prêmio, e que na opinião de muitos que correram naquele dia, já foi até demais. Tanto que o local, que ainda hoje é um parque onde ocorrem feiras na cidade de Dallas, apesar de ainda possuir a maioria das ruas que formaram o circuito usado para a F-1, nunca chegou a ser usado para sediar corridas de outras categorias, mesmo as dos Estados Unidos, como as categorias Indy, que já correram em muitos locais similares até. Na prova da F-1, a pole-position de Nigel Mansell foi obtida com o tempo de 1min37s041, à velocidade média de 261,367 Km/h. Já a melhor volta na prova foi de Niki Lauda, com McLaren/TAG-Porsche, com o tempo de 1min45s353.
Keke Rosberg (acima) marcou a primeira vitória da Honda na sua parceria com a equipe Williams. Já Nigel Mansell (abaixo), caiu desmaiado devido ao forte calor ao tentar empurrar sua Lotus até a linha de chegada, depois de largar pela primeira vez na pole na F-1.