sexta-feira, 12 de junho de 2020

CALENDÁRIOS A POSTOS

Etapas da F-1 e MotoGP no Circuito das Américas (acima), em Austin, no Texas, estão sob ameaça, devido ao descontrole da Covid-19 nos Estados Unidos. A corrida da F-1 em Interlagos (abaixo), no Brasil, também está sob risco pelo mesmo motivo.

            A menos de três semanas para o iniciar o segundo semestre, acompanhamos as notícias do mundo do esporte a motor se mexendo para voltar às atividades, ainda de forma prudente, em provas com portões fechados, e rígidas regras sanitárias, para iniciar parte das disputas que foram paralisadas em decorrência da pandemia da Covid-19. Depois de vermos o certame da Indycar disputar sua primeira etapa sábado passado, no Texas, podemos concluir que teremos enfim competição neste ano, a despeito que muitos já davam como totalmente perdido.

            Mas os estragos não podem ser minimizados: algumas categorias praticamente cancelaram suas disputas de 2020, preferindo voltar em 2021, quando a situação já deverá estar normalizada. Felizmente, para quem quer ver a competição voltar a acontecer, a F-1 e a MotoGP já estão com boa parte de seus planos delineados para competir no segundo semestre. Não será tudo feito da mesma forma que antes, mas ao menos teremos corridas, o que já é um começo. Quanto ao fato de não termos público, acredito que ainda seja uma medida por demais radical, e que poderia ser admitido um pequeno público nos autódromos, mas nada em grandes proporções. Por exemplo, para as corridas da Áustria, comenta-se que poderia haver a liberação de até 500 pessoas nas arquibancadas. Considerando que o autódromo em Zeltweg tenha capacidade para mais de 50 mil pessoas, acredito que poderia haver liberação de até 10% desse público, desde que fizessem uma distribuição bem lógica nas arquibancadas, e com protocolos de conduta que fizessem o público manter sua distância, e sem interação uns com os outros. Não seria o ideal, mas ao menos permitiria alguma torcida, de modo a não deixar as arquibancadas completamente vazias. Há espaço para este tipo de ocupação com boa taxa de segurança.

            Claro que muitos discordarão de minha opinião, mas muitos também concordarão com ela. Por outro lado, um grande problema seria a atitude de certos torcedores que não respeitariam essas regras de conduta de segurança e distanciamento, uma vez nas arquibancadas, e aí é que mora o problema de se permitir até mesmo a quantidade de apenas 10% de torcedores da capacidade máxima, que em teoria, não deveria representar um perigo tão grande assim, visto que uma pessoa teria um espaço equivalente ao de 10 pessoas na arquibancada. Talvez perto das provas, eles até mudem de idéia, dependendo de como está a situação, mas em última análise, até mesmo a prova de Monza do GP de F-1, prevista para o primeiro final de semana de setembro, irá ocorrer a portões fechados. Ninguém quer correr riscos, e é factível que pensem desta maneira. Por outro lado, com certos protocolos de segurança, seria possível termos algum público também, pois do contrário, até mesmo equipes e pilotos não deveriam competir neste momento, se formos aplicar o mesmo rigor.

            A F-1 divulgou um calendário inicial de pelo menos oito corridas, com pelo menos duas rodadas duplas, sendo que estas provas terão nomes diferentes para se distinguirem, a saber: 05.07: GP da Áustria (Zeltweg); 12.07: GP da Estíria (Zeltweg); 19.07: GP da Hungria (Hungaroring); 02.08: GP da Inglaterra (Silverstone); 09.08: GP dos 70 Anos (Silverstone); 16.08: GP da Espanha (Barcelona); 30.08: GP da Bélgica (Spa-Francorchamps); e 06.09: GP da Itália (Monza). Teremos provas em dois seguimentos de três finais de semana consecutivos, com apenas um fim de semana de descanso entre a segunda prova em Silverstone e a corrida de Spa-Francorchamps. Mesmo com atividades reduzidas, o pessoal da F-1 já sabe que estas semanas irão ser bem exaustivas para todos os integrantes, uma vez que todos os times estarão nos circuitos também com staffs reduzidos ao mínimo indispensável para as atividades de competição.

Etapa da Itália da F-1 em Monza deve acontecer sem público.

            A imprensa escrita não estará autorizada a ir ao autódromo, e a princípio, apenas as equipes das emissoras de TV poderão estar presentes, e mesmo assim, com um mínimo indispensável para cumprir com suas atividades. Todos os integrantes terão restrição de circulação ao mínimo indispensável também, e os profissionais simplesmente só poderão fazer o trajeto pista-hotel, hotel-pista. Máscaras, protetores faciais, luvas, e álcool gel a rodo, além de testagem intensa de todo mundo presente nos autódromos serão rotina nestas corridas. Para alguns, ter de cumprir tantas restrições fará ser um prazer não ter como ir ao autódromo.

            Por enquanto, as provas “garantidas” são essas. Com relação ao restante da temporada, ainda estão sendo feitos ajustes e outros procedimentos para se garantir pelo menos um mínimo de 15 etapas para a temporada. Há planos para se correr em mais alguns circuitos europeus, diante da facilidade de logística, que precisa ser a mais simples possível nestes tempos de pandemia. Ross Brawn anunciou que estão a ser cogitadas hipóteses de se correr em Hockenhein, na Alemanha, prova que não iria fazer parte do calendário da F-1 este ano, e poderíamos ter corridas em duas pistas que nunca sediaram provas da categoria, como Mugello, na Itália, e Algarve, em Portugal. Outras pistas que, em tese poderiam receber a F-1 seria Jerez de La Fronteira, na Espanha; e Ímola, na Itália. A direção da F-1 pretende verificar a possibilidade destes locais de receber corridas o quanto antes, a fim de poder anunciar as datas, e verificar as chances das corridas receberem público nas arquibancadas, a fim de que todos possam se planejar, não apenas os profissionais envolvidos, mas de o público também ter a chance de comprar os ingressos.

            Quanto ao restante da temporada, nada está certo, especialmente as provas no continente americano. Com a situação da pandemia crescendo em larga escala no Brasil, muitos duvidam que a etapa brasileira seja mantida no calendário. Por motivos similares, a corrida nos Estados Unidos, país mais afetado pela Covid-19, também não está garantida. Com isso, a etapa do México também corre o risco de não acontecer. Ross Brawn citou Bahrein e Abu Dhabi como opções para se correr fora da Europa, lembrando que corridas em circuitos de rua, como são o caso de Baku e Singapura, demandam mais tempo de preparação do que em circuitos permanentes, de modo a sinalizar que a tradicional prova noturna na cidade-estado do sudeste asiático não deverá ser realizada neste ano, o que acabou se confirmando há pouco, junto com o cancelamento da corrida do Japão, em Suzuka. E Baku, no Azerbaijão já tinha ido para o vinagre mesmo... Ele aventou a possibilidade de se disputar duas provas no Bahrein utilizando traçados diferentes do circuito para cada uma das corridas, a fim de diferenciar as provas.

Etapa de Suzuka também foi cancelada, deixando o Japão sem sua prova de F-1 pela primeira vez desde 1987.
            Se tudo der certo, a F-1 conseguiria chegar sem maiores problemas a 15 ou 16 corridas, e com isso, apresentar um campeonato com número bem satisfatório de corridas, oferecendo provas para entreter os amantes da velocidade, e atender tanto quanto possível aos interesses dos profissionais do esporte. Esperemos claro que tudo dê certo, e a pandemia, que parece sob relativo controle no Velho Continente, não registre alguma reviravolta inesperada que acaba complicando tudo, não apenas com relação à F-1 ou outro esporte a motor, como à situação em geral de todos.

            E é apostando na melhora das condições na Europa que outro campeonato, a MotoGP, apresentou também seu calendário inicial para 2020, com pelo menos 13 corridas na classe rainha, a serem disputadas a partir do dia 19 de julho, e indo pelo menos até 15 de novembro, exclusivamente em terras europeias, pelos motivos de controle da pandemia, além dos mesmos motivos anunciados pela F-1, de facilidade de logística para a estrutura da competição nos países europeus. E, a exemplo do que a F-1 pretende fazer, a MotoGP também pretende fazer rodadas duplas para aumentar o número de provas na competição, e tentar com isso amenizar o cancelamento de várias etapas, das quais a última baixa é justamente o GP da Itália, que seria disputado em Mugello, que foi cancelado devido à pandemia da Covid-19. E a MotoGP também terá seus momentos de intensa atividade consecutiva, com pelo menos três provas em finais de semana seguidos, em pelo menos três oportunidades. A Dorna, que comanda o certame, ainda está averiguando se será possível disputar as corridas que oficialmente ainda não foram dadas como canceladas este ano, como Estados Unidos, Argentina, Tailândia e Malásia.

A pista de Jerez de La Fronteira abrirá o Mundial da MotoGP com duas corridas, na segunda quinzena de julho.

            Mas as complicações relativas à F-1 também servem para a etapa da MotoGP nos Estados Unidos, já que ambas as categorias correm na pista de Austin, no Texas. Quanto às outras corridas, precisaremos ver como serão as situações dos respectivos países no combate à pandemia, e controle da liberação de acesso aos estrangeiros, e os protocolos de segurança que serão exigidos para que os eventos possam ser realizados. Com a direção da categoria afirmando também que a data limite para se correr este ano é 13 de dezembro, fica ainda mais difícil termos todas estas provas. Muito provavelmente teremos no máximo 15 corridas, o que não seria tão ruim também, diante dos problemas que ocorreram este ano.

            De acordo com o calendário divulgado pela MotoGP, teremos então as seguintes corridas: 19.07: GP da Espanha (Jerez de La Fronteira); 26.07: GP da Andaluzia (Jerez de La Fronteira); 09.08: GP da República Tcheca (Brno); 16.08: GP da Áustria (Zeltweg); 23.08: GP da Estíria (Zeltweg); 13.09: GP de San Marino (Misano); 20.09: GP de Emilia-Romagna (Misano); 27.09: GP da Catalunha (Barcelona); 11.10: GP da França (Le Mans); 18.10: GP de Aragão (Motorland Aragon); 25.10: GP de Teruel (Motorland Aragon); 08.11: GP da Europa (Ricardo Tormo); 15.11: GP da Comunidade Valenciana (Ricardo Tormo). Além da prova da Itália, a MotoGP teve canceladas as etapas do Catar, Holanda, Alemanha, Finlândia, Grã-Bretanha, Austrália e Japão deste ano. Já foram oito etapas que só retornarão mesmo em 2021. As provas além de Valência devem ser definidas até o final do mês de julho, de modo a garantir que todos possam se preparar devidamente para elas.

            Até anúncio em contrário, todas as etapas deverão ser realizadas a portões fechados, e com rígidos protocolos de segurança sanitários, a exemplo do que será feito na F-1. Todos os integrantes das equipes passarão por testes de detecção da Covid-19, entre outros procedimentos, de forma a garantir a segurança de todos. Talvez muitos que irão assistir pela TV se sintam incomodados com tantas precauções, mas é isso, ou simplesmente não termos nada. Enquanto não existir pelo menos um tratamento eficaz contra a Covid-19, fora a tão esperada vacina, teremos que nos acostumar a este novo modo de se ter as corridas. É o que dá para fazer, e por isso, aqueles que de fato amam o esporte a motor que compreendam que a situação ainda inspira cuidados, e apoiem os esforços que todos estão fazendo para podermos ter os campeonatos do mundo da velocidade podendo ser realizados novamente, neste momento ainda tenso e complicado em que o mundo se encontra.

 

Red Bull, McLaren e Renault tentaram planejar testes privados para se prepararem para o início da temporada na Áustria, no início de julho, mas esbarraram em um problema inusitado: falta de motores. O regulamento da F-1 permite que os times realizem testes particulares, desde que usem um chassi com pelo menos dois anos de defasagem, no caso atual, no máximo um modelo de 2018. O problema é que as escuderias não têm acesso às unidades de potência. No caso de McLaren, e da própria Renault, que usam os propulsores franceses, as unidades de potência encontram-se em sua fábrica na França, e no atual momento, não são permitidas entradas na Inglaterra sem que se passe pela inevitável quarentena de 14 dias de isolamento. Situação que chega a ser ridícula para a Renault, que não tem acesso a seus próprios motores, uma vez que sua fábrica de competição localiza-se em Enstone, na Inglaterra, assim como Woking, sede da McLaren. No caso da Red Bull, o problema é que o modelo de 2018 utilizava motor...Renault, com o qual o time dos energéticos rompeu o relacionamento no ano passado, quando passou a utilizar as unidades de potência da Honda, não tendo feito nenhum comentário positivo a respeito dos muitos anos de atividades que tiveram com os franceses. E seria infrutífero adaptar o carro de 2018 para usar a unidade da Honda, só para um teste privado destinado a “desenferrujar” a dupla de pilotos. Já a Mercedes, por outro lado, não viveu este problema, e realizou esta semana dois testes de testes com o carro de 2018 na pista de Silverstone com sua dupla de pilotos, com cada um deles andando um dia inteiro, para readquirirem o ritmo de pilotagem de um carro de F-1. Ferrari e Racing Point anunciaram que também farão testes com carros de 2018 para se prepararem para o início da temporada. O objetivo também é de deixar todos os integrantes dos times familiarizados com os protocolos de segurança que deverão ser seguidos, além de fazer com que seus pilotos voltem a pegar o ritmo de condução dos monopostos.

 Com contrato válido apenas para esta temporada, o finlandês Valtteri Bottas é dado quase que como certo estar em sua última temporada pela Mercedes. Isso reforçou boatos de que o time alemão poderia até pensar na possibilidade de contar com Sebastian Vettel como novo companheiro de Lewis Hamilton na temporada de 2021. O tetracampeão fará sua temporada de despedida da Ferrari este ano, e está sem contrato para o próximo ano. Para os amantes do esporte, seria o máximo ver os dois maiores nomes do grid atual da F-1 sob o mesmo teto em 2021, onde poderia haver uma luta titânica entre ambos. Mas segundo o finlandês, seu time não está cogitando ter o piloto alemão junto de Hamilton no time. A Mercedes não quer viver o mesmo clima tenso de 2014 a 2016, quando Nico Rosberg se engalfinhou com Lewis em algumas oportunidades. O alemão resolveu aposentar o capacete dias após conquistar o título de 2016, alegando que seu principal objetivo como piloto estava cumprido, e que não teria condições de continuar competindo no nível que seria necessário para se manter no topo, frustrando os fãs que gostariam de ver uma revanche entre ambos. Desde então, Bottas é o companheiro de time de Lewis, e até aqui, não complicou a relação com o inglês, deixando o clima nos boxes menos carregados. Mas é verdade que Valtteri até o presente momento não apresentou a mesma performance de Rosberg como piloto da Mercedes, o que gera dúvidas sobre sua manutenção no time prateado, que quer ver alguém que entregue mais resultados, mas ao mesmo tempo, não crie problemas com Hamilton. E trazer Vettel para a escuderia poderia fazer o clima interno do time voltar a ser bem carregado, algo que Toto Wolf, apesar de algumas falas sobre não poder ignorar um tetracampeão disponível no mercado, não deseja exatamente, ainda mais quando há a perspectiva dos rivais estarem bem mais perto do que em outras temporadas... Mas, quem sabe o que pode realmente acontecer de fato? Vez por outra, a F-1 é pródiga em nos surpreender, por mais improvável que algumas situações se apresentem...

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