sexta-feira, 29 de setembro de 2017

O ADEUS DE SEPANG


As belas instalações do circuito da Malásia inauguraram a era dos "megautódromos" da F-1, em 1999.

            A Fórmula 1 segue em direção às etapas finais da temporada de 2017, e hoje iniciam-se os treinos oficiais para o Grande Prêmio da Malásia, que terá um gosto diferente para todos, dentro e fora da pista. É a despedida do circuito e do país asiático do calendário da categoria, tendo estreado em 1999, e de lá para cá marcado presença constante na competição. Mas, os tempos são outros, a própria F-1 é outra, e passou por diversas mudanças. E, na sistemática de cobrança cada vez maior por parte de Bernie Ecclestone das taxas de promoção de um GP, aliados aos anos de domínio ora da Red Bull, ora da Mercedes, nos últimos anos, os malaios resolveram que a relação custo-benefício da corrida já não era mais vantajosa como em seu início, e optaram por não renovar o atual contrato com a FOM.
            Portanto, após quase 20 anos, e 19 edições, contando com a corrida deste domingo, o Grande Prêmio da Malásia encerrará sua história na F-1. Mesmo com a categoria máxima do automobilismo agora sob comando do grupo norte-americano Liberty Media, Sepang não estará no calendário daF-1 em 2018, e não tão já voltará. Claro que os malaios podem mudar de idéia, e resolverem retornar um dia, mas no momento, eles decidiram que o belo e majestoso circuito de Kuala Lumpur passará a ter como maior evento de competição a etapa da MotoGP, muito mais acessível, e que traz muito mais emoção e disputa do que os bólidos de Mercedes, Ferrari, Red Bull & Cia. O Liberty Media, por sua vez, tem outras pistas e países em mente para expandir o calendário no momento, e se sai a Malásia no próximo ano, volta a França, o que para muitos, é um bônus, ainda mais por trazer o circuito de Paul Ricard de volta à F-1. Todos torcem, então, para que esta corrida de despedida de Sepang possa pelo menos oferecer uma corrida decente e com emoção para todos.
            Aliás, dependendo do resultado da corrida malaia, poderemos ver se haverá maior disputa pelo título da temporada 2017 ou não. Lewis Hamilton vem de três vitórias consecutivas, e por mais que alguns digam que, com a vantagem acumulada, o inglês pode correr de forma mais segura em Sepang, creio que podem tirar o cavalo da chuva. Hamilton, se tiver condições, partirá para o ataque, para vencer pela quarta vez consecutiva, e quebrar definitivamente o ânimo do adversário, no caso, Sebastian Vettel.
            Mas o tricampeão da Mercedes teria seus motivos para não lutar a ferro e fogo pela vitória na corrida, dependendo da situação. Uma delas seria o ocorrido no ano passado, quando Lewis tinha tudo para vencer aqui, e sofreu uma quebra de motor que certamente foi decisiva para a perda do título da temporada de 2016. A partir dali, com o triunfo de Nico Rosberg no Japão, a corrida seguinte, o alemão pôde administrar os resultados até o fim da temporada, e ser campeão. Agora, quem está em posição favorável é Hamilton, mas o inglês sabe que não pode comemorar antecipadamente, ainda mais aqui na Malásia. E apesar de o circuito possuir duas grandes retas que em teoria favorecem a potência da unidade de força da Mercedes, o inglês diz que a Ferrari pode vir muito forte, e especialmente Sebastian Vettel, se o alemão estiver com a cabeça no lugar para dar o melhor de si, e não deixar o incidente de Singapura abalar sua confiança.
Maior vencedor da corrida da Malásia, Sebastian Vettel precisa repetir o triunfo para impedir a disparada de Lewis Hamilton.
            Pelo sim, pelo não, é bom Hamilton não cantar vitória antes da hora mesmo. Com seis corridas até o fim da temporada, muita coisa pode acontecer. Um abandono do inglês, ou ficar fora dos pontos, e tudo pode se inverter. E nas 18 provas disputadas aqui em Sepang, a Ferrari foi a escuderia que mais venceu, portanto, é bom mesmo ficar de olho no que pode acontecer. E não se pode descuidar também do clima. Estamos praticamente na linha do Equador, o calor é forte e abafado, com aquele clima tropical onde pode desabar um temporal a qualquer momento, e olhe que a previsão diz que pode chover neste final de semana... Se em Singapura foi Lewis que comemorou a vinda da chuva, aqui é Vettel quem está fazendo a dança da chuva para melhorar suas chances. Vale apelar para tudo para reverter as expectativas na luta pelo título da temporada.
            A favor de Sebastian Vettel ainda está o fato de o alemão ser o maior vencedor da prova malaia, com quatro vitórias até aqui. O primeiro triunfo veio em 2010, quando a Red Bull começava a se impor como time de ponta na F-1, e levaria Vettel a seu primeiro título ao fim daquela temporada. O alemão repetiria a dose em 2011, tanto na vitória em Sepang, quanto na conquista do título da temporada, tornando-se bicampeão. A vitória seguinte seria em 2013, no ano da conquista do tetracampeonato do alemão pela Red Bull, no último título vencido até aqui tanto por Sebastian quanto pelo time dos energéticos. Em 2015, Vettel surpreendeu a favoritíssima Mercedes nesta pista, conquistando logo em seu segundo GP pela escuderia de Maranello, sua nova casa, após deixar a Red Bull, seu último triunfo nesta pista, para delírio da torcida rossa, que acreditava que o time italiano seria capaz de abalar a supremacia da Mercedes na F-1. Mas mesmo a Ferrari não conseguiu deter o massacre imposto na pista pelos carros alemães.
            Hoje, o objetivo de Vettel é repetir aquela vitória marcante, para evitar ir a nocaute na disputa pelo título da F-1. O resultado da corrida em Singapura, uma prova onde a Ferrari tinha tudo para vencer, e Sebastian retomar a dianteira da competição, foi para o vinagre com o acidente múltiplo na largada que acabou eliminando da prova Sebastian Vettel, Kimi Raikkonem, Max Verstappen, e Fernando Alonso. Com mais uma vitória de Lewis Hamilton, sua terceira consecutiva no retorno da F-1 das férias de verão, o alemão está com 28 pontos de desvantagem na classificação, e precisa reagir já se ainda quiser manter vivas suas esperanças de chegar ao pentacampeonato. Portanto, mãos à obra, e pelo desempenho dos treinos de hoje poderemos ter algumas idéias a respeito das possibilidades ou não da Ferrari de reverter a situação na classificação. Poderemos ter então uma corrida disputada, ou não...
            Com certeza, uma coisa de que ninguém irá sentir saudade é deste calor sufocante. A prova é a mais desgastante da temporada. Duas semanas atrás, em Singapura, que é nas imediações, o fato da corrida ser disputada à noite mitiga o forte calor desta área do sudeste asiático, mas aqui, próximo a Kuala Lumpur, a capital do país, o preparo físico dos pilotos, com o sol a pino, é colocado mais do que à prova. São 56 voltas, em um percurso pelos 5,543 Km de extensão da pista, totalizando 310,48 Km na corrida.
            Da pista, certamente os pilotos até poderão sentir saudades, apesar de que Sepang também tem seus males. Quando estreou, em 1999, este foi o primeiro circuito da era “Hermann Tilke”, que viria a se tornar, na opinião de muitos, uma praga no calendário da F-1, com a concepção de pistas insossas e cheias de acelera-freia-acelera, que não deixaram saudade em ninguém, com algumas exceções. Mas aqui, Tilke ainda não tinha concebido o traçado com este tipo de característica, de modo que a pista oferece seus desafios, e apresenta alguns pontos propícios para ultrapassagens, exigindo não apenas um bom equilíbrio dos monopostos, mas também potência para não ser vítima de outros concorrentes nos dois longos trechos de retas, onde os propulsores dos bólidos são exigidos a fundo, e o acerto dos carros tem que equilibrar a necessidade de velocidade de ponta com a estabilidade nas demais curvas.
As belas coberturas das arquibancadas das grandes retas são um dos destaques da infraestrutura do circuito de Sepang.
            Mas, talvez a pior “herança” de Sepang é que este foi o primeiro autódromo com uma megaestrutura, concebida a nível nunca antes visto na categoria máxima do automobilismo. Com o investimento do governo malaio, via Petronas, a petrolífera estatal do país, foi concebido um autódromo monumental, com paddock imenso, boxes com o que havia de mais moderno, com amplos espaços para todas as escuderias, e todos os requisitos de segurança no traçado. Seriam características que a F-1 passaria a exigir praticamente de todas as novas pistas que tivessem intenção de ingressar no calendário da categoria, e isso praticamente limou as chances de vários circuitos que já haviam sediado GPs de voltarem a sediar corridas, como por exemplo Portugal, no Estoril, ou Jerez de La Fronteira, na Espanha.
            Com o governo bancando, Bernie Ecclestone não se fez de rogado, e vendo que dinheiro não era problema, as exigências para se sediar um novo GP foram crescendo sem parar, além da contratação obrigatória de Hermann Tilke projetar a pista. Como surgiram vários interessados de lá para cá em tentar entrar na brincadeira, Bernie sorriu de orelha a orelha, e os bolsos da FOM nunca se encheram tão rápido como desde então. Os times, claro, adoraram as estruturas novas que estiveram a dispor para eles nestas novas pistas, e alguns autódromos tiveram de se reformar, sob o risco de perder suas corridas. Ou se atendia ao novo “padrão” ou simplesmente podia-se pular fora. A resposta de Bernie era sempre a mesma, no estilo “se não quer atender às exigências, temos vários candidatos na fila que o farão...”
            Bom... O tempo passou, e este modus operandi de Ecclestone cansou vários destes candidatos que entraram na brincadeira e saíram rapidinho, devido à escalada dos custos. Turquia teve um excelente traçado, mas os turcos puxaram o carro devido aos prejuízos acumulados. Abu Dhabi segue porque os árabes têm dinheiro para jogar fora, mas o circuito tem um traçado horroroso, e o GP vale mais pelo visual da noite no deserto do que pela emoção da corrida. Mas os malaios viram que o custo já não compensa, e por isso, esta é a última prova. Nesse meio tempo, quem também veio e se foi foram Índia e Coréia do Sul, cujas pistas não empolgaram ninguém.
            Com fartas áreas de escape, que oferecem muito mais segurança que as antigas pistas, um dos destaques da arquitetura do autódromo é a cobertura das arquibancadas na reta oposta e reta dos boxes, oferecendo ampla cobertura a quem se senta ali, oferecendo uma bela e ampla vista das duas retas, separadas por uma curva em grampo, onde os pilotos sempre tentam ultrapassar seus adversários, ou no fim da reta dos boxes, onde há uma forte freada com curva bem mais aberta. Dependendo da largada, os pilotos costumam entrara fundo nesta primeira curva, onde podem construir uma ultrapassagem se conseguirem se manter nas tangências corretas. E sem errar na manobra, ou as vastas caixas de brita podem receber sem nenhuma cerimônia os pilotos mais afoitos nas manobras, e terminarem por lá mesmo sua corrida.
Praticamente junto à linha do Equador, as tradicionais chuvas tropicais costumam aparecer na corrida malaia. E há precisão de chuva novamente para o fim de semana de despedida do GP de F-1.
            Na maioria das vezes, é sempre triste quando um GP deixa o calendário da F-1. Claro, depende também do carisma da pista. Todo mundo sentiu a falta do GP da França, ausente há uma década no calendário da categoria máxima do automobilismo, mas ninguém sentiu saudades de Magny-Cours, pista travada e onde, fora do autódromo, não havia praticamente nada de atrativo ou relevante. Sepang certamente deixará saudades para vários fãs, pelo carisma que a pista possui, oriunda de um momento onde os circuitos da F-1 ainda não eram “pasteurizados” com características que na maioria das vezes castigam as provas, impedindo-as de atingirem potencial maior de disputa. Que possa retornar no futuro, um dia.


Com quatro vitórias, Sebastian Vettel é o piloto que mais venceu neste circuito de Kuala Lumpur, nas temporadas de 2010, 2011 e 2013 (competindo pela Red Bull), e em 2015 (defendendo aFerrari). Empatados na segunda posição, com três triunfos, estão Michael Schumacher, que venceu em 2000, 2001 e 2004 (sempre pela Ferrari) e Fernando Alonso, que chegou na frente em 2005 (competindo pela Renault), 2007 (defendendo a McLaren), e 2012 (guiando a Ferrari). Kimi Raikkonem venceu esta corrida em duas ocasiões: a primeira vitória veio em 2003, com a McLaren, e a segunda em 2008, agora na Ferrari. Os demais pilotos obtiveram apenas uma vitória, a saber: Eddie Irvinne (1999, Ferrari), Ralf Schumacher (2002, Williams), Giancarlo Fisichella (2006, Renault), Jenson Button (2009, Brawn), Lewis Hamilton (2014, Mercedes), e Daniel Ricciardo (2016, Red Bull). Michael Schumacher é o piloto que mais vezes largou na frente aqui, em 5 ocasiões (1999, 2000, 2001, 2002, e 2004), seguido por Lewis Hamilton, com 4 poles (2012, 2014, 2015, e 2016), vindo a seguir, empatados com duas poles cada um, Fernando Alonso (2003 e 2005), Sebastian Vettel (2011 e 2013), e Felipe Massa (2007 e 2008). Jenson Button (2009), Giancarlo Fisichella (2006), e Mark Webber (2010) completam a lista dos pole-positions desta prova.


No último GP em território malaio, o grid terá um nome nome: o francês Pierre Gasly ocupará um dos carros da Toro Rosso, sendo o novo companheiro de Carlos Sainz Jr. no time sediado em Faenza. A direção da escuderia retirou Daniil Kvyat da parada devido à falta de resultados do russo, e aos seus acidentes sofridos na temporada. Em Singapura, Daniil bateu sozinho, enquanto Sainz Jr. fazia sua melhor corrida na F-1 e terminava a corrida em um esplendoroso 4º lugar. Muitos davam como certa sua saída ao fim da temporada, mas ficavam as dúvidas sobre quem colocar no lugar, já que Gasly no momento é o único nome disponível que restou no programa de formação de pilotos da Red Bull, e em 2018, com os motores da Honda, em tese, ter dois pilotos completamente “virgens” no grid não seria uma boa idéia, haja a necessidade de desenvolver o propulsor nipônico. Pelo visto, a paciência com Kvyat acabou de vez, e Gasly terá as provas restantes do ano para mostrar do que é capaz e garantir a vaga na Toro Rosso em 2018... Ou ser mais um rifado na “queima” de pilotos que os austríacos tem promovido nos últimos anos. Gasly que se prepare para segurar um rojão bem complicado pela frente...

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

COTAÇÃO AUTOMOBILÍSTICA – SETEMBRO DE 2017



            Pois é, o mês de setembro já está indo embora, e em outubro, iniciamos o último trimestre do ano. A Indycar encerrou sua temporada, enquanto outros campeonatos, como a F-1 e a MotoGP seguem firmes em suas disputas, com força total às corridas, com suas disputas pelo mundo afora, entre outras várias categorias. E todo fazemos todo fim de mês, é o momento de mais uma edição da Cotação Automobilística, fazendo uma avaliação do panorama geral de alguns dos últimos acontecimentos do mundo da velocidade, com minhas impressões e visão sobre os assuntos enfocados. Espero que todos possam apreciar o texto, que segue abaixo no esquema tradicional de sempre das avaliações: EM ALTA (caixa na cor verde); NA MESMA (caixa na cor azul); e EM BAIXA (caixa na cor vermelho-claro). Uma boa leitura a todos, concordando ou não com minhas opiniões, e até a cotação do mês que vem...



EM ALTA:

Josef Newgarden: O piloto norte-americano já havia deixado sua marca na Indycar em 2016 ao ser um dos destaques do campeonato, mesmo competindo pelo time modesto de Ed Carpenter. Contratado por Roger Penske para substituir Juan Pablo Montoya, Josef vinha fazendo uma temporada bem satisfatória na primeira metade do campeonato, até vencer a prova de Toronto, e simplesmente desembestar com mais uma vitória em Mid-Ohio, e vencer outra corrida em Gateway, assumindo o status de favorito na luta pelo título. Uma pisada de bola em Watkins Glen encheu as esperanças dos concorrentes, mas em Sonoma, na prova final da competição, Newgarden foi logo marcando a pole, e mostrando que não ia deixar barato a luta pelo título, que conquistou com um segundo lugar porque o time o convenceu de que não precisava arriscar uma nova vitória na pista em um duelo potencialmente perigoso com Simon Pagenaud. E o americano chegou ao título com méritos: foi o piloto que mais venceu na temporada, com 4 triunfos, e ao contrário de Pagenaud, não precisou de um tempo de acomodação ao time da Penske, e foi logo campeão, e desde já, é o homem a ser batido na temporada de 2018. Os rivais que se preparem, porque o homem é decidido mesmo... Que o diga Pagenaud...

Equipe Penske: O time de Roger venceu mais um campeonato, e em 17 corridas, venceu nada menos do que 10. Josef Newgarden, o campeão, faturou 4 provas; Will Power venceu 3 corridas, enquanto Simon Pagenaud venceu outras duas, e Hélio Castro Neves faturou a corrida de Iowa. Apesar de no início da competição haver um certo favoritismo do pessoal da Honda, a Penske, principal time da Chevrolet, mostrou porque é a melhor escuderia da categoria, colocando todos os seus quatro pilotos nas primeiras cinco posições do campeonato, tendo apenas um piloto da Honda, Scott Dixon, para furar esse domínio. E a Chevrolet deve muito à Penske: foi o único time da marca a vencer corridas, enquanto todas as demais 7 provas, que acabaram vencidas pelo pessoal equipado pela Honda, diluiu-se em outros cinco times, sem que nenhum deles conseguisse mostrar domínio na competição. Para 2018, a adoção do novo kit universal promete emparelhar um pouco mais a disputa, mas falta alguém combinar com a Penske se isso vai se tornar realidade... E Roger não tem perspectiva alguma de deitar sobre os louros de mais uma vitória na competição...

Lewis Hamilton: O piloto inglês segue firme na luta pelo tetracampeonato, e conseguiu na pista de Singapura sua terceira vitória consecutiva no mundial de F-1. Por mais méritos que tenha tido nas vitórias na Bélgica e na Itália, Lewis acabou bafejado pela sorte na corrida noturna disputada nas ruas da cidade-estado do sudeste asiático, é verdade, mas aproveitou a chance e ampliou como nunca sua vantagem no campeonato, em uma prova onde ele tinha tudo para perder para Sebastian Vettel a liderança da competição, obtida em Monza. Mas o inglês, merecidamente, não está cantando vitória antes do tempo, e sabe que a vitória era algo que nem ele esperava, e por isso mesmo, precisa se dedicar com afinco para manter a dianteira nas corridas que faltam, e trabalhar para evitar sofrer um revés parecido, até pelo histórico de Sebastian Vettel em situações semelhantes quando estava na Red Bull e conseguiu reverter sua desvantagem. Mas fica cada vez mais forte a sensação de que teremos um novo tetracampeão na F-1 este ano, do que um novo pentacampeão...

Carlos Sainz Jr.: O piloto espanhol conseguiu o que desejava: irá pilotar para o time oficial da Renault em 2018, em um empréstimo ao time oficial francês. E ele comemorou em grande estilo em Singapura, fazendo sua melhor corrida até então naF-1, e terminando a prova em Marina Bay em 4º lugar, deixando Nico Hulkenberg bem para trás na classificação do campeonato, e se aproximando do francês Steban Ocon. Mas a liberação do espanhol só ocorreu devido à intrincada rodada de negociações para a Renault equipar a McLaren no próximo ano, ficando a Toro Rosso com os propulsores da Honda, que muito provavelmente poderão equipar a Red Bull em 2019. Mas, com perspectivas de um ano crítico da Toro Rosso em 2018, liberá-lo por empréstimo à Renault, um time maior e mais competitivo, deverá ser uma boa chance para Sainz mostrar efetivamente do que é capaz, e poder chamá-lo de volta em 2019, para o time principal da Red Bull, no caso da saída de Max Verstappen ou Daniel Ricciardo. E Carlos está mais do que fazendo por merecer a chance de poder guiar para um time teoricamente mais competitivo, enquanto no momento não há chance da Red Bull aproveitá-lo como se deve.

Marc Márquez: O tricampeão da equipe oficial da Honda partiu para o ataque nas duas últimas provas da MotoGp e conseguiu duas vitórias muito importantes em sua luta pelo tetracampeonato, desbancando o italiano Andrea Dovizioso, da Ducati, da liderança do campeonato, após este fazer duas provas conservadoras nos mesmos GPs. Márquez admitiu que correu riscos ao pilotar de forma agressiva nas duas etapas, mas valeu a pena, e apesar de ter tomado um tombo na classificação da corrida em Aragão, a “Formiga Atômica” fez uma corrida impecável para liderar uma dobradinha da escuderia nipônica e abrir vantagem na classificação em um momento decisivo da competição, restando apenas 4 provas para encerrar o mundial. É a volta do “velho” Marc Márquez, que detonava a tudo e a todos na pista? Os triunfos em Misano e Aragão foram suados, sem aquele domínio arrasador, mas igualmente válidos, e que mostram a força de Marc, cada vez mais favorito na luta pelo título da temporada. Resta saber de Andrea Dovizioso terá força para brecar o piloto espanhol, uma vez que a Yamaha parece estar fora de combate para se intrometer na disputa...



NA MESMA:

Hélio Castro Neves: O piloto brasileiro da equipe Penske fez uma boa temporada na Indycar em 2016, mas continua batendo na trave, e mais uma vez, ficou sem o tão sonhado título em sua 20ª temporada nas categorias Indy. Pior ainda foi ver outro companheiro de equipe, desta vez o novato no time, Josef Newgarden, ser campeão. Há18 anos competindo sob o comando de Roger Penske, Helinho já viu Gil de Ferran, Sam Horsnish Jr., Will Power, e Simon Pagenaud vencerem campeonatos com a Penske, enquanto ele tem no máximo vice-campeonatos. E este ano, sua atuação na prova de encerramento em Sonoma foi burocrática e conservadora demais para alguém que lutava pelo título, ao contrário de seu companheiro Pagenaud, que arriscou na estratégia e venceu a corrida, mesmo que isso não impedisse o título de Newgarden, mas que pelo menos fez o francês terminar o ano como vice-campeão. A se confirmar o boato de que Penske pretende remanejar o brasileiro para o seu time de endurance, Helinho deixará a Indy com o desgosto de nunca ter conseguido ser campeão mesmo competindo pelo melhor time da categoria, sempre dispondo na maior parte do tempo de um carro vencedor. Seu consolo é ter no currículo três triunfos na Indy500, o que não é pouca coisa, e poder sonhar em vencer novas edições da prova, uma vez que deverá continuar participando da corrida. Mas ficará uma sensação de serviço incompleto...

Max Verstappen: O piloto holandês vem tendo uma temporada abaixo da crítica, em termos de resultados. Se ele mostrou que continua extremamente veloz, por outro lado, andou se metendo em confusões, e sofrendo com problemas em seu carro, que por mais que o time jure que não se deve ao seu estilo de pilotagem, ainda dá o que pensar. Max tinha tudo para conseguir um bom resultado em Singapura, e por pouco não foi o pole-position, num claro sinal de superar a má fase que vem tendo na competição. Mas Verstappen, quando não corre atrás de alguma zica, parece que é a zica que corre atrás dele: o holandês da Red Bull acabou tocando em Kimi Raikkonem na largada, ao se ver fechado por Sebastian Vettel, e acabou dando origem a um incidente que acabou por tirar a ele e a dupla ferrarista da corrida. Claro que houve novamente aqueles que o acusaram pelo ocorrido, mas dessa vez ninguém fez besteira propriamente, tendo sido um incidente de corrida normal. Tanto que a FIA não puniu ninguém. Mas deve ter sido novamente um golpe duro para o jovem holandês ver novamente seu parceiro de equipe Daniel Ricciardo subir novamente ao pódio, em 2º lugar, e acabar empatado em pontos com Sérgio Perez na classificação, podendo ser superado pelo mexicano na próxima corrida, se esta fase permanecer. E Verstappen ainda ajuda a tumultuar um pouco o ambiente, que já não anda bom exatamente, ao afirmar que pode deixar a Red Bull em 2019, como se o time estivesse fazendo corpo mole em relação a melhorar o seu equipamento na competição...

Michael Schumacher: O estado de saúde do heptacampeão continua um mistério, e quase nada se sabe a respeito. O fato de ter surgido a notícia de sua possível transferência da Suíça para os Estados Unidos, onde passaria a se tratar com um especialista em lesões cerebrais, só indica que o estado do ex-piloto alemão teoricamente estancou, sem perspectivas de melhoras, e que suas condições infelizmente não são as mais encorajadoras. Só não dá para mensurar quão incapacitado Michael se encontra atualmente, e esta situação certamente é um martírio para sua legião de fãs, que com o passar do tempo terá de se dar conta de que seu ídolo, a grosso modo, se foi, e nunca mais voltará, mesmo que ele não tenha “morrido” oficialmente, porque na prática, é o que ocorreu de fato. Um dilema que deve estar sendo tremendamente pesaroso para sua família...

Disputa dos times LMP1 no Mundial de Endurance: Prestes a se despedir da categoria LMP1 do WEC, a Porsche está perto de conquistar mais um título na competição, após as vitórias do trio Brendon Hartley/Earl Bamber/Timo Bernhard, que venceram as etapas do México e dos Estados Unidos, abrindo 51 pontos de vantagem para os concorrentes mais próximos da Toyota, que parecem incapazes de dar luta ao time de Sttutgart em suas últimas provas no certame. Com apenas 3 provas ainda para fechar a competição, só um milagre pode fazer da Toyota campeã no único duelo que lhe interessa, pois competir em 2018, sem enfrentar outro time de fábrica à altura, não parece muito o gosto dos japoneses, que não conseguiram vencer em Le Mans, e caminham para ficarem como prêmio de consolação terem sido campeões apenas uma vez, em 2014, no WEC.

Valentino Rossi: O “Doutor” pode ter ficado de fora da disputa pelo título da MotoGP na prática em 2017, dada a sua desvantagem na pontuação para o líder Marc Márquez, e certamente, a fratura que sofreu na perna e o fez perder a etapa de San Marino foi decisiva para que piloto italiano da Yamaha tenha que adiar por mais um ano o sonho de voltar a ser novamente campeão da classe rainha do motociclismo. Mas quem é rei nunca perde a majestade, e mesmo forçando o seu retorno já na prova de Aragão, Rossi mostrou porque é um monstro do motociclismo, ao classificar-se na primeira fila, em 3º lugar, e duelando boa parte da corrida pela vitória, mesmo com as fortes dores na perna ainda em recuperação (tanto que usava uma muleta para andar nos boxes). No final, o desempenho levemente superior do time oficial da Honda foi mais forte que a determinação do piloto de Tavulia, que começou a perder rendimento pelo desgaste dos pneus, e também pelas dores na perna, finalizando a corrida em 5º lugar, um resultado assombroso para quem havia se acidentado apenas 23 dias antes. Com três semanas até a prova do Japão, Rossi deverá estar plenamente recuperado até lá, e com certeza mostrando na pista novamente o talento que o tornou um ícone mundial do motociclismo.



EM BAIXA:

Jolyon Palmer: O que muitos esperavam se concretizou: o piloto inglês foi dispensado pela Renault para a temporada de 2018. Curiosamente, a redenção na pista veio tarde, com Palmer marcando seus primeiros pontos em Singapura, quando já havia sido comunicado que não teria lugar no time francês na próxima temporada. Sua meta agora é tentar arrumar um lugar no grid para 2018, mas a situação vai ser meio complicada, e não é sua bela atuação em Marina Bay que irá convencer os donos das equipes que ainda possuem vagas em aberto para o próximo ano. Mas, como desgraça pouca é bobagem, ainda correm rumores de que Jolyon pode ficar a pé ainda este ano, podendo ser substituído por Carlos Sainz Jr. a partir de alguma prova entre as restantes do calendário da F-1.

Tony Kanaan: O piloto baiano deixa a Chip Ganassi com um quê de decepção, sem conseguir mostrar os resultados que esperava. Em quatro anos competindo pelo time do velho Chip, Tony sempre acabou ficando bem para trás em relação a Scott Dixon, que inclusive ganhou o campeonato de 2015 enquanto o brasileiro foi o 8º colocado na classificação naquele ano. Seu melhor campeonato no time foi em 2016, onde terminou em 7º no campeonato, mas apenas 16 pontos atrás de Dixon, que foi o 6º colocado. Neste ano, enquanto Scott foi o 3º colocado, com 621 pontos, Tony terminou em 10º lugar, com 403 pontos. O clima infelizmente azedou com o time, e Kanaan buscará sua recuperação em 2018 no time da Foyt, que este ano teve uma performance bem fraca. Depois de brilhar na KV após sair do time da Andretti, esperava-se que Tony voltasse com tudo à disputa do título, mas o melhor que conseguiu foi uma única vitória em Fontana em 2014, muito pouco para suas pretensões de melhores resultados.

Felipe Massa: O piloto brasileiro tem enfrentado problemas com a queda de performance acentuada da Williams nas últimas corridas, mas infelizmente Felipe também não tem ajudado muito nas oportunidades que surgiram recentemente de obter melhores resultados. Como consequência disso, Massa terminou atrás de seu parceiro Lance Stroll na Itália, e cometeu um dos erros mais crassos da temporada quando insistiu em se manter na pista em Singapura com pneus de chuva forte quando todos os demais pilotos já utilizavam compostos intermediários. A falta de tato com os pneus comprometeu qualquer possibilidade de pontuar, o que Stroll conseguiu, e agora se encontra bem próximo do brasileiro na pontuação do campeonato. Com interesse em permanecer na Williams para a próxima temporada, Felipe tem de evitar estes erros e mostrar ser de importância fundamental para a escuderia inglesa, o que desempenhou bem no início do ano, mas depois, com a queda de performance, começou também a não conseguir mais mostrar o mesmo desempenho frente a seu companheiro de equipe, que vem crescendo de produção, enquanto o brasileiro parece ter estagnado. Nesse ritmo, só o conservadorismo da Williams e sua intimidade para com o brasileiro garantirão sua permanência em 2018, o que pode ser muito pouco...

Daniil Kvyat: Depois de ser “rebaixado” para a Toro Rosso no ano passado, o piloto russo não foi mais o mesmo na F-1, e este ano continuava a fazer uma temporada apagada na escuderia B dos energéticos, sem conseguir incomodar Carlos Sainz Jr., ou obter resultados mais vistosos como os do espanhol. E o calvário finalmente se completou esta semana, com o anúncio de sua substituição pelo francês Pierre Gasly, que já assume o seu cockpit na próxima corrida, na Malásia. A esperança de Daniil era que, com a parceria da Toro Rosso com a Honda em 2018 poderia acabar impondo um piloto oriental na escuderia, para evitar perder as referências, eles teriam, em tese, de manter Kvyat como titular, não podendo correr o risco de terem uma dupla completamente “virgem” na F-1, ainda mais competindo com um motor que ainda não mostrou a que veio na F-1. Infelizmente a paciência da escuderia chegou ao fim antes que o russo esperava, e até mesmo com justa causa, em virtude não apenas de sua falta de resultados, como também dos acidentes em que se envolveu durante este ano nas corridas......

Honda na F-1: A montadora japonesa conseguiu se manter na F-1 em 2018, mas às custas de uma negociação complicada, e sendo empurrada praticamente goela abaixo para equipar um time com vistas a ser unicamente “bucha de canhão” para o desenvolvimento durante o campeonato do próximo ano da unidade de potência nipônica. O ponto positivo é que, sem a pressão de um time grande, o trabalho de desenvolvimento deve fluir melhor na Toro Rosso. O ponto negativo é que o bólido do time italiano não deve permitir vôos muito altos para a escuderia, portanto, os japoneses que não tenham expectativas demasiado elevadas para o próximo campeonato. Por outro lado, se tudo correr bem, e o desenvolvimento vier de fato, os propulsores da Honda poderão equipar a Red Bull em 2019, fazendo os nipônicos ganharem outro time de ponta para tentarem enfim voltar a brilhar na F-1. A teoria parece boa, mas é a prática que está deixando todo mundo preocupado. Caso contrário, a Toro Rosso teria aceitado receber as unidades japonesas de braços abertos, e não por imposição de sua proprietária, a Red Bull. E pensar que há pouco mais de 25 anos atrás, todo mundo queria ter os motores da Honda...