sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

ARQUIVO PISTA & BOX – AGOSTO DE 1999 – 27.08.1999

            Fechando o ano de 2021, trago mais um de meus antigos textos, este publicado no dia 27 de agosto de 1999, já há mais de 22 anos atrás. O assunto do texto principal era o possível cancelamento do GP da Bélgica para a temporada de 2000, uma vez que o país havia proibido a publicidade de cigarros, como já era praticado em outros países, o que deixou Bernie Ecclestone meio bravo, por não ter conseguido abrir exceções na legislação do país que beneficiassem a F-1. Anos depois, a publicidade de cigarro seria banida em definitivo não apenas do automobilismo, mas dos demais esportes, e ao contrário do que se apregoava, isso não causou nenhuma hecatombe financeira no esporte, com todo mundo se adaptando, e encontrando patrocínios oriundos de outros ramos econômicos. E felizmente Spa-Francorchamps continuou presente no calendário da F-1 até os dias atuais, com um ano ou outro ficando de fora, mas ausências pontuais. De resto, alguns tópicos rápidos com comentários a respeito de alguns outros acontecimentos no mundo da velocidade.

            Espero que apreciem o texto, e que tenhamos um ano de 2022 muito melhor do que este de 2021, que foi muito complicado, não apenas em termos profissionais, como pessoais também, e que não me farão ter saudades de muita coisa vivenciada nos últimos meses. Então, rumemos para o próximo ano, tentando manter as expectativas as mais positivas possíveis, apesar das dificuldades de muitos em tentar manter um espírito mais otimista em um ano que já nos antecipa momentos complicados em muitos aspectos, os quais espero que não se tornem tão problemáticos quanto se espera. Cuidem-se todos, e até o próximo ano...

 

A BELEZA DE SPA

 

            Mais uma vez, a Fórmula 1 chega ao circuito preferido de equipes e pilotos no calendário atual: o circuito de Spa-Francorchamps. Das pistas atuais, este é o meu favorito, não só pelo belíssimo visual da região das Ardenhas, como pelo desenho desafiador do circuito, que tem como ponto alto a veloz da Curva da Água Vermelha, ou como chamam os belgas, Eau Rouge.

            Este ano, porém, as coisas podem se tornar ainda mais atrativas para se acompanhar o GP de F-1 neste lugar: pode ser a última corrida de F-1 na Bélgica. O dilema se resume a uma questão: a propaganda de cigarros, que a partir deste ano tornou-se proibida também na Bélgica, a exemplo do que já ocorre na Inglaterra, França, e Alemanha.

            Principal fonte de recursos da maioria das escuderias da F-1, a publicidade de cigarros já tem data certa para ser banida em definitivo da F-1, em 2006, mas até lá, muita gente esperava uma maior flexibilidade na propaganda para se ter uma evolução gradual. Mas bastou as negociações emperrarem para se liberar a publicidade tabagista no GP belga para Bernie Ecclestone começar a soltar seus cachorros, ameaçando a prova de cancelamento já para o ano que vem. Se isso se confirmar, será uma tremenda perda para a F-1.

            Spa é praticamente o último remanescente dos circuitos clássicos que a F-1 já teve em toda a sua história. Salvo exceções como Mônaco, que permanece no calendário pela sua tradição e glamour; e Monza, que ainda sobrevive à evolução da categoria; e Hockenhein, na Alemanha, todos os demais traçados já usados pela F-1 perderam boa parte de seu charme e atrativos. É uma lista vasta, e que só faz ter mais saudades de como era a antiga F-1, em uma época que praticamente não tem mais volta.

            O circuito original de Spa-Francorchamps tinha aproximadamente 15 quilômetros, sendo um dos mais extensos da F-1, ao lado de Nurburgring (o antigo) e Pescara. Quando retornou à F-1, no início dos anos 1980, muitos imaginavam que o velho circuito belga nunca teria o mesmo charme, carisma e desafio de antigamente, mas estavam enganados: o novo traçado, apesar de mais curto, praticamente a metade da extensão do original, preservou não só o desafio de antigamente, como as novas curvas introduzidas aumentaram ainda mais o seu carisma. Um dos motivos para Spa ter ficado incólume à mudança recente em diversas pistas reside no fato de que este não é um circuito permanente, mas um aglomerado de auto-estradas que, uma vez por ano, são fechadas ao tráfego normal para dar lugar ao belo circuito belga, que liga as cidades de Spa e Francorchamps, daí o seu nome.

            Em 1994, fizeram a única alteração no seu traçado após a redução da pista, ao eliminarem a curva Eau Rouge com a introdução de uma chicane artificial. Felizmente, foi uma mudança provisória, e em 1995, lá estava ela novamente, a Eau Rouge, em todo o seu esplendor, para desafiar os pilotos. E só os grandes pilotos costumam vencer aqui; o traçado é muito técnico e exige um bom ajuste do carro. Trechos como a reta Kemmel, as curvas Malmedy, Stavelot, Bus Stop, entre outras, são de dar água na boca aos pilotos, e em especial a Eau Rouge-Raidillon, cujo feito supremo é serem feitas de pé embaixo. Não é qualquer piloto que consegue isso, e por isso mesmo, este circuito costuma privilegiar e mostrar a mais fina arte da pilotagem. Ayrton Senna venceu aqui 5 vezes. Dos pilotos atuais, apenas 2 venceram em Spa: Michael Schumacher, com 4 vitórias; e Damon Hill, com 3 triunfos, sendo a última no ano passado, debaixo de muita chuva.

            A chuva, aliás, é outro componente surpresa nesta prova. Sempre está por perto, ameaçando cair, nesta época do ano. Quando vem, garante emoção extra à corrida, proporcionando espetáculos de pilotagem. E sua inconstância é outro ingrediente que ajuda a aumentar as emoções, embaralhando as estratégias de pilotos e equipes. Um jogo que, às vezes, nem mesmo os melhores pilotos e escuderias conseguem vencer a contento.

            É por estes e outros motivos que eu espero que as ameaças de Ecclestone não se concretizem. Tirar Spa da F-1 vai privar a categoria de uma de suas maiores preciosidades. Um ponto de sua história que merece ser vivido a cada campeonato atual, para que se mantenha um mínimo de respeito à sua história, e à esportividade que move os grandes pilotos, sempre atrás de grandes desafios de pilotagem. E Spa, sem dúvida alguma, é um diamante muito bem lapidado que nos encanta toda vez que é visto novamente.

 

 

E Michael Schumacher só deve retornar mesmo em Monza. O bicampeão alemão não foi liberado para correr em Spa, justamente uma de suas pistas favoritas. Isso o tira definitivamente da luta pelo título, uma vez que, ao voltar apenas na Itália, terá somente 4 etapas para tentar descontar toda a desvantagem acumulada até aqui em relação aos seus principais rivais, Mika Hakkinem, e Eddie Irvinne. E, para piorar a situação, Schumacher já foi superado na classificação por David Coulthard e Heinz-Harald Frentzen. O piloto alemão é agora o 5º colocado no campeonato. Tudo o que rolou em torno de Michael na semana passada está cheirando a propaganda da Ferrari, que pode ter tentado dar uma cartada psicológica nos rivais. Vai saber a verdade...

 

 

Rubens Barrichello está próximo de ser anunciado como piloto oficial da Ferrari para o ano 2000, ao lado de Michael Schumacher. O anúncio, alguns dizem, pode vir já na próxima semana, ou no mais tardar, às vésperas do GP da Itália, em Monza. Tudo indica que a Ferrari deverá mudar sua mentalidade para o próximo campeonato. A alta cúpula de Maranello, especialmente Lucca de Montezemolo, quer a Ferrari disputando o título e as vitórias como um todo, e não apenas para que um só de seus pilotos ganhe corridas. Resta saber como Michael Schumacher vai ser portar com esta nova política do time. Para Rubinho, é lucro, pois ele quer ter a chance de andar na frente, sem ter de obedecer cegamente ao alemão. Isso não quer dizer não aceitar fazer jogo de equipe. Tudo vai depender da situação das corridas e do campeonato em si.

 

A Sauber fechou sua dupla de pilotos para a próxima temporada: Pedro Paulo Diniz vai ser o primeiro piloto do time, e terá como companheiro o finlandês Mika Salo. Juntos, os dois reeditarão a parceria do ano passado, quando competiram pela Arrows. A confirmação de Salo na Sauber é mais um indício de que Rubens Barrichello deve mesmo ir para a Ferrari.

 

 

Com a retirada da Ford no fornecimento de motores a terceiros em 2000 (só o time de fábrica, a Stewart, terá os motores da montadora), os motores Supertech devem ser a tábua de salvação de times como a Minardi e a Arrows. Mas será uma tábua cara: US$ 18 milhões por temporada. A Ford tem muito mais eficiência com os motores de 98 a um preço bem mais acessível. Seria bom que a Ford revesse sua política, pelo menos na opinião dos times pequenos...

 

 

Juan Pablo Montoya reassumiu a liderança da F-CART ao vencer o GP de Chicago domingo passado. Dario Franchiti ficou em 3º lugar, atrás de seu colega de equipe Paul Tracy. Ao que tudo indica, agora a disputa do título deve ficar restrita ao colombiano e ao escocês. Que venha a próxima etapa, em Vancouver, na semana que vem...

 

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

ARQUIVO PISTA & BOX – AGOSTO DE 1999 – 20.08.1999

            Trazendo mais um antigo texto neste fim de ano de 2021, trago hoje a coluna publicada no dia 20 de agosto de 1999, e o assunto era sobre o possível retorno de Michael Schumacher à competição na temporada daquele ano, após o acidente onde fraturou a perna em Silverstone, ficando de fora do campeonato, e da briga pelo título, forçando a Ferrari, a contragosto, a ter de apoiar Eddie Irvinne na luta pelo título, e se o alemão iria de fato ajudar o irlandês na empreitada, já que até então tudo na equipe italiana era feito em seu proveito, mesmo com prejuízo ao companheiro de equipe. Bom, de fato, Michael retornou, mas somente nas duas corridas finais da temporada, e até ajudou Irvinne em uma delas, cedendo-lhe a vitória, mas na derradeira etapa, no Japão, Eddie não conseguiu se colocar na posição necessária para receber a ajuda de Schumacher, e o título acabou ficando para Mika Hakkinen, que conquistaria o bicampeonato. O irlandês sairia em baixa do time, substituído por Rubens Barrichello, mesmo como vice-campeão, por ter se rebelado contra a política do time, onde tudo era feito para Schumacher, e apenas para ele, num claro sinal de desprezo ao piloto, que merecia ter sido melhor apoiado pela Ferrari, diante da política cretina da escuderia, mas que infelizmente negou fogo no momento crucial para ser campeão.

            De quebra, mais alguns tópicos rápidos sobre outros acontecimentos no mundo da velocidade naquela semana, com rápidos comentários. Uma boa leitura a todos, e boas festas para 2022...

 

O DIA “D” DE SCHUMACHER

            Hoje é o dia “D” para o piloto alemão Michael Schumacher. É o dia do seu retorno às pistas, depois do acidente sofrido em Silverstone, em julho, há cerca de 40 dias atrás. Ontem, os médicos deram o aval para Michael voltar a pilotar. O teste será feito no circuito de Mugello, uma das pistas particulares da Ferrari na Itália. Será um teste fechado à imprensa e só o pessoal da escuderia poderá entrar no circuito.

            Michael Schumacher com certeza tem andado remoído de frustração todos estes últimos dias. Quem conhece o alemão e sua ambição, não duvida que, depois de ver Eddie Irvinne vencer duas corridas seguidas após o seu acidente, deve ter xingado e amaldiçoado um monte de coisas, pois estaria perdendo sua melhor chance de chegar ao tricampeonato. Tanto que, alguns apostam, ele teria ficado até contente com a derrota do irlandês na Hungria, pois assim a Ferrari poderia continuar dependendo dele, se quisesse realmente ser campeã.

            Exagero? Nem tanto assim. Como Irvinne já cansou de bradar aos quatro ventos recentemente, tudo na Ferrari é feito em virtude unicamente de Michael Schumacher, enquanto ao segundo piloto ficam apenas as sobras. Imaginem se, agora, com o acidente, e Irvinne liderando o mundial, o piloto irlandês acabasse campeão do mundo pela Ferrari? Seria a desgraça e a pior das humilhações para Michael Schumacher. Irvinne roubaria o cartaz do alemão, e perante a torcida italiana, poderia virar Deus, mesmo porque os tiffosi nunca foram muito com a cara e a arrogância de Schumacher, além de sua frieza germânica, e só o suportam porque ele, até recentemente, era a única esperança de fazer a Ferrari voltar a ser campeã do mundo.

            A esta altura do campeonato, Irvinne tem 24 pontos de vantagem sobre Schumacher, enquanto Mika Hakkinen tem 22 pontos. Mesmo se Michael voltar na Bélgica, e comece a vencer as corridas que faltam, tanto Hakkinem como Irvinne poderiam correr apenas por resultados e não por vitórias. A ânsia de Schumacher em voltar é grande, e ele quer estar de volta o quanto antes para ele mesmo correr pelo título. Apesar de ter declarado que iria ajudar Irvinne, eu não acredito muito que tenha realmente essa intenção, que seria a correta para ajudar a escuderia a ser campeã novamente. E basta lembrar que o campeonato do ano passado, quando o piloto alemão ficou 22 pontos atrás de Hakkinen na classificação, ele quase conseguiu o título, recuperando a desvantagem que possuía em poucas corridas. Sem dúvida, deve ser essa a intenção do bicampeão alemão em querer voltar tão já.

            Fica a dúvida de como Schumacher voltará. Irvinne andou falando muito sobre Michael voltar 100% depois do acidente tão já como algo meio duvidoso, mas o irlandês deve tomar cuidado com a boca. Apesar de todos os gestos de arrogância, Schumacher é o melhor piloto da F-1 ainda, e tem um talento incontestável. Quem não se lembra das férias de Ayrton Senna durante as temporadas de 89 a 92? Ayrton voltava tão descansado e em ponto de bala que bastava um treino para todo mundo ficar espantado e assombrado com seu ritmo de readaptação. Com Schumacher pode ser a mesma coisa, e se isso se confirmar, é bom que Irvinne comece a planejar a sua estratégia para ser campeão, pois seu colega de equipe não vai dar folga, sem falar na dupla da McLaren, que são fortíssimos adversários, especialmente Hakkinen, que tem tudo para ser bicampeão este ano.

            E a Ferrari? Bem, a Ferrari, especialmente Jean Todt, quer o alemão de volta o quanto antes. Apesar de tudo o que Irvinne fez na Áustria e na Alemanha, bastou perder a corrida na Hungria para que a equipe voltasse a apostar suas melhores fichas apenas em Schumacher. Se bem que Todt está brigado com Irvinne, e se o irlandês for campeão, o baixinho francês que dirige a escuderia italiana teria de engolir as reclamações de Eddie, e a pressão e cobrança da torcida italiana, que pode começar a duvidar da competência do francês para dirigir o time. Afinal, ele sempre concordou com as exigências de Schumacher, embora no atual momento ele não pareça mais tão obediente ao alemão, pois é o principal articulador na equipe para a contratação de Rubens Barrichello. Resta saber se Schumacher está pensando mais é em suas possibilidades de ser campeão ainda neste ano. Uma atitude compreensível até, de nunca abandonar a luta enquanto ainda estiver no páreo. Resta saber como ele irá se comportar no jogo de equipe, caso a Ferrari resolva que Irvinne terá a preferência, pelo momento atual do campeonato. Acho que pode vir um racha na Ferrari por aí...

 

 

A F-CART inaugura mais uma etapa neste fim de semana: é o GP de Chicago, a ser disputado no novíssimo Chicago Motor Speedway, um belo circuito oval de 1 milha situado em um dos subúrbios da metrópole americana. De propriedade de Chip Ganassi, o circuito tem belas instalações, e custou cerca de US$ 70 milhões. Ontem, nos primeiros treinos livres de reconhecimento, houve algumas surpresas, com a dupla da Forsythe, Patrick Carpentier e Greg Moore, a andar na frente, seguidos de Roberto Moreno, que em uma pista oval, deu um verdadeiro baile em Michael Andretti. Hélio Castro Neves também foi muito bem no treino livre, mas é a partir de hoje, com os primeiros treinos visando à classificação que as coisas devem começar a esquentar. Está previsto mais um round na briga entre Dario Franchiti e Juan Pablo Montoya pela liderança do campeonato.

 

 

Raul Boesel também vai disputar o GP de Chicago. Raul irá correr pela All American Racers, que dispensou Guálter Salles depois de o piloto ter se desentendido com o time. Mas vai ser a única corrida de Boesel pela equipe. Na próxima etapa, em Vancouver, irá assumir o carro de Dan Gurney o piloto italiano Andrea Montermini.

 

 

Frank Williams está em Chicago, a convite de Chip Ganassi, para conhecer as instalações do novo circuito e tratar de negócios. Foi ele quem indicou Montoya para a Ganassi levar em troca de Alessandro Zanardi no ano passado, em uma competição que também teve a participação do brasileiro Max Wilson pelo segundo carro da Ganassi na categoria. Wilson acabou sobrando, e Montoya ganhou a chance de brilhar na F-CART como está fazendo. Mas há quem diga que o real motivo da vinda de Frank Williams a Chicago é se ele quer devolver Zanardi para a Ganassi já na próxima temporada. Pelo sim, pelo não, a concorrência treme só de pensar na possibilidade de Chip Ganassi correr com Montoya e Zanardi em sua equipe no ano que vem. O massacre imposto pelo italiano nos últimos dois anos ainda não foi facilmente digerido...

 

 

O tempo fechou na equipe Sauber de F-1 após o GP da Hungria. Tanto Jean Alesi quanto Pedro Paulo Diniz saíram muito irritados com suas atuações na prova húngara e de como as coisas andaram no time. A Sauber deve trocar totalmente seus pilotos para o próximo ano. Diniz tem convite da Benetton, enquanto Alesi pode ir para a Prost.

 

 

Falando em Alain Prost, o tetracampeão mundial de F-1 pode estar cortejando a Mercedes para receber os motores alemães para o seu time na próxima temporada. Corre o forte boato de que Peugeot, desgostosa com os resultados do time de Prost, estaria pensando em pular fora da F-1, e possivelmente já no fim deste ano...