sexta-feira, 30 de junho de 2017

AGORA É GUERRA!


Lewis Hamilton lidera Sebastian Vettel durante a corrida em Baku. Prova foi tremendamente movimentada, tendo como ponto alto o toque entre os dois, que parece ter finalmente deflagrado guerra entre ambos os pilotos.

            Se alguém dizia que o campeonato da Fórmula 1 este ano estava mostrando enfim uma disputa homem a homem mais emocionante pelo título da temporada, a etapa do Azerbaijão, disputada domingo passado em Baku, tratou de apimentar ainda mais as coisas. Sebastian Vettel e Lewis Hamilton, os protagonistas do duelo, até que estavam se mostrando comportados, elegantes e educados nas corridas até aqui, mesmo depois da luta renhida que travaram pelo vitória no Grande Prêmio da Espanha, onde chegaram a se tocar levemente em disputa de posição. Se a luta das últimas três temporadas, que ficara restrita a Hamilton e seu então colega de equipe Nico Rosberg, era considerada meio sem sal, e até com prazo de validade, visto que o time poderia censurar um dos seus pilotos se este se exaltasse demais na pista, o que poderia “broxar” a competição, este ano, com os dois contendores da luta pertencendo a times diferentes, seria um duelo muito mais mano a mano, sem limites impostos por ambas as escuderias.
            Mas o clima andava até calmo demais. Lógico que as corridas, com Vettel ganhando uma prova aqui, Hamilton outra ali, e o alemão da Ferrari liderando por uma margem de pontos razoável, mas tênue, com a balança da competição podendo mudar de um lado para o outro dependendo da corrida, estava deixando o campeonato interessante. Mas, será que o clima de cordialidade entre os dois pilotos se manteria firme até o fim do campeonato? Muita gente estava esperando para ver quando o caldo entre eles entornaria. Em 2014, no seu primeiro ano de supremacia, a Mercedes viu a rivalidade entre Hamilton e Rosberg pegar fogo com o toque do alemão no inglês na etapa da Bélgica, que obrigou a direção do time a ter uma conversa para “acalmar” os ânimos entre a dupla, que era amiga de longa data, tendo competido juntos em categorias de acesso. Até então, Lewis e Nico se davam muito bem. Bom, a partir dali, uma amizade se foi, e uma rivalidade nasceu, embora não tão raivosa como muitos pudessem desejar, afinal, ambos tinham que dividir os boxes e trabalhar juntos, em prol da escuderia. Portanto, o clima nunca pegou fogo além de certo ponto.
            Em Baku, ao acabar atingindo a traseira do carro de Lewis Hamilton durante o período do Safety Car na pista, Sebastian Vettel perdeu a cabeça pelo que considerou uma manobra suja de “brake test” com o intuito de prejudicá-lo. Seu bico ficou avariado, e furioso, ele acabou investindo contra o carro de Lewis, dando um pequeno chega-pra-lá entre os pneus que só não teve consequências sérias por ambos estarem em baixa velocidade. Faltou pouco para o alemão da Ferrari não ir até o box da Mercedes pouco depois para entrar em um pugilato com Hamilton no pit line. As informações da telemetria desmentiram a afirmação de Vettel de que Hamilton teria feito um “brake test” na sua frente, que seria uma freada súbita sem dar chance do piloto que vem atrás se desviar. O gráfico da prova indica que houve mesmo um uso do freio por parte do piloto da Mercedes, porém em grau não tão forte para indicar uma freada tão forte como alegado. Houve sim uma diminuição de velocidade, mas será que Hamilton seria tão idiota a ponto de colocar sua corrida em risco com uma manobra destas?
O toque polêmico. Vettel atinge a traseira da Mercedes e fica histérico pela manobra, mas o alemão vinha muito perto de Hamilton na pista naquele momento.
            Não se trata de dizer que Lewis é santo. Ele já teve sua cota de enroscos na pista, e já chegou a arrumar intriga com outros pilotos ao longo de sua carreira. Mas em Baku, ele liderava a prova, e provocar uma batida deliberada de Vettel na sua traseira seria extremamente arriscado pelos danos que seu carro poderia sofrer. Ele poderia ter um ou até mesmo os dois pneus furados no toque, além de problemas na suspensão traseira que arruinariam sua corrida. E, se Sebastian conseguisse abrandar os danos do toque na sua asa dianteira, ele sairia ganhando na manobra. Em poucas palavras, os riscos de uma quebra no carro eram potencialmente maiores para Hamilton do que para Vettel. Haveria também a possibilidade de, num toque mais forte, o carro do inglês perder o rumo e acertar o guard-rail, encerrando ali mesmo naquele momento sua corrida, enquanto o piloto da Ferrari poderia ter a chance de chegar ao box e consertar as avarias na dianteira do carro.
            Há outro lance interessante sobre este episódio: no período da primeira intervenção do Safety Car, Vettel ficou a uma distância razoável de Hamilton durante as voltas, e na hora de reacelerar com a liberação da pista, essa distância permitiu permitiu ao tricampeão sair muito bem, sem dar chance alguma do alemão grudar e tentar surpreendê-lo na relargada. Tanto que os carros passaram pela reta quando o Safety Car mal entrara nos boxes, o que poderia ter sido perigoso pelo arranque vertiginoso de Lewis. Alertado pelo time para tomar mais cuidado com esta manobra, o inglês abrandou seu ritmo na intervenção seguinte do Safety Car, durante a volta imediata antes dele se recolher aos boxes. Daí a diminuição de velocidade do inglês, poderíamos dizer. Mas Vettel, tencionando aproveitar a relargada para um ataque a Hamilton pela disputa da liderança da corrida, efetuou essa volta anterior à saída do Safety Car muito mais próximo do que antes, e essa maior proximidade ao carro de Hamilton teria contribuído sobremaneira para o toque sofrido entre ambos.
            Pelo ocorrido, Vettel não pode reclamar muito. Se ele perdeu a vitória em Baku, foi por culpa própria, por ter ficado de cabeça quente e dado aquele toque, proposital ou não, em Lewis, como se viu na imagem do alto. Numa temporada onde até então a FIA e a Liberty Media estavam deixando os pilotos muito mais à vontade na pista, sem aquele festival de punições a torto e a direito que víamos nas últimas temporadas, tanto é que os enroscos de Valtteri Bottas e Kimi Raikkonem e Esteban Ocon e Sérgio Perez ficaram por sem punições, por serem situações de corrida, um toque deliberado como aquele já era outra história. Fosse em alta velocidade, poderia ter consequências imprevisíveis. O alemão ainda teve duas ajudas involuntária: a direção de prova interrompeu a corrida para limpar a pista dos destroços dos toques de vários carros, e com isso, a Ferrari pode trocar o bico avariado do carro de Sebastian durante a interrupção; e com a corrida retomada, o protetor de cabeça do cockpit do carro de Hamilton começou a se soltar, e isso obrigou o inglês a uma parada inesperada para reafixar a peça, e isso o fez voltar, acreditem, atrás de Vettel, já punido, na prova. E acabou terminando a corrida logo atrás do alemão. Sebastian viu sua vantagem na classificação subir de 12 para 14 pontos, então, não pode reclamar exatamente de ter sido prejudicado tanto assim. A Hamilton, entretanto, veio o desprazer de perder uma vitória certa por um erro cometido pelo seu time, que não afixou direito o protetor de cabeça. Não fosse por aquilo, e Hamilton tivesse ganho a prova, com Vettel ficando em 5º lugar, o piloto da Mercedes teria assumido a liderança do campeonato, deixando o ferrarista em 2ª na classificação.
            A punição a Vettel foi branda? Em teoria, não, mas como Lewis teve seu problema com o protetor de cabeça, o que o fez cair na corrida, e ficando atrás do seu rival da Ferrari, ficou sim a sensação de que o alemão não foi punido pelo que fez. Muitos falaram que ele deveria ser desclassificado da prova, enquanto outros defendem que ele seja suspenso de um GP por isso. A grosso modo, e por pior que seja, prefiro que se deixem as coisas como estão no momento. A corrida já terminou, e ficar consertando um erro que pode ter interpretações meio subjetivas não fica legal. A FIA, inclusive, já determinou que fará uma investigação sobre o caso, avisando que poderá tomar novas ações sobre o caso. Se isso levar a uma nova punição de Vettel, já começarão a falar que o campeonato está viciado, entre outras conversas que a F-1 bem que poderia passar sem ter. Todo mundo quer ver disputas na pista, sem rescaldos de bastidores sendo anunciados tempos depois, sem mencionar que Vettel já tem com o que se preocupar.
            O alemão, com o incidente de Baku, acumula 9 pontos na “carteira” de advertências da FIA, que serve para disciplinar os pilotos. Se ele chegar a 12 pontos no período de um ano, toma uma corrida de suspensão automática como punição. Sebastian tem de se manter sob controle até a etapa da Inglaterra, daqui a duas corridas, quando vencerá parte dos pontos que tem acumulado. Se acabar se metendo em confusão, poderá tomar novas advertências, e ganhar mais pontos, o que o conduzirá ao”gancho” indesejado. O momento exaltado visto em Baku também faz lembrar que na etapa do México, no ano passado, o alemão chegou a insultar a direção de prova, com palavras diretas contra Charlie Whiting, por uma punição recebida. E não é de hoje que insultar a direção de prova e o pessoal da FIA pega bem... Lembram-se de Ayrton Senna após o GP do Japão de 1989...? É meio que por aí... Na época, após ser desclassificado da etapa japonesa por ter cortado uma chicane após uma batida com Alain Prost, Senna desandou a falar mal dos comissários de corrida, que ele foi prejudicado em favor de Prost, e que o presidente da então FISA, Jean-Marie Balestre, tinha mexido os pauzinhos para dar o título a seu compatriota Prost. Balestre, que não era de levar desaforo pra casa, impôs pesada multa ao brasileiro, e ameaçou excluí-lo da F-1, e também à McLaren, o time campeão. Exigiu desculpas públicas e retração incondicional do brasileiro. Ayrton teve de ceder e engolir a seco, retratando-se e desculpando-se pelas ofensas. Só então lhe foi permitido correr em 1990, com a devolução de sua superlicença, assim como a liberação da McLaren para competir normalmente. O clima de fato pesou bastante...
GP do Japão de 1989: Senna e Prost batem, e o brasileiro acaba desclassificado por cortar a chicane para voltar à corrida. Ayrton desandou a falar mal da FIA, que por pouco não baniu o brasileiro da F-1, obrigando-o a se desculpar e se retratar...
            Fora da pista, Hamilton não perdeu a chance de alfinetar Vettel, dizendo que se ele quer mostrar que é “macho”, que o faça fora do carro. O alemão, por sua vez, afirmou que a F-1 é lugar de”adultos” e não de moleques. Mas Vettel, nas entrevistas, procurava sempre desconversar sobre a punição recebida, em sinal de que sentiu o golpe recebido. Para o público, ver o clima de cordialidade e respeito entre ambos os pilotos ir para o espaço só ajuda a deixar o campeonato ainda mais interessante: todo mundo quer ver como se dará os próximos rounds dessa briga, e quanto mais faíscas rolarem, melhor ainda. Nos últimos tempos, Vettel tem ganhado a fama de reclamão, soltando os cachorros sempre que alguma situação na pista lhe pareça prejudicial. Já chegou a acusar Felipe Massa de interferir na luta entre ele e Lewis em pelo menos duas oportunidades, sendo que ocorreu apenas do alemão dar azar de encontrá-lo como retardatário em pontos não favoráveis na pista para uma rápida ultrapassagem. Hamilton, por sua vez, também costuma ter alguns chiliques quando as coisas não vão bem como ele espera, em que pese ter dado menos farol neste sentido nos últimos tempos.
            Em uma época recente onde o público cansou da atitude “politicamente correta” dos pilotos, com declarações padronizadas e press-release e entrevistas educadas e calmas, vem bem a calhar vermos os pilotos soltando o palavrão e falando o que pensam abertamente. Pode parecer ofensivo e até deixar alguns pilotos com fama de intratável ou arrogante, como é o caso de rotular Vettel de “reclamão”, como mencionado acima, mas convenhamos: não é muito mais humana e sincera estas posições? Sabemos que os pilotos não são necessariamente amigos, ainda mais se estão em luta direta por um título em alguma categoria, portanto, nada de ficar parecendo que todo mundo é amiguinho, e que as coisas correrão bem. Os torcedores querem ver mesmo é os pilotos se pegarem, guardados os limites do bom senso, óbvio.
            O perigo é que a recente liberdade dada aos pilotos possa deixá-los exaltados em demasia, e com isso, causarem alguma confusão grave e perigosa, pondo a perder os passos necessários, e corretos, para deixar que a disputa role solta dentro da pista, como sempre deveria ter sido, sem as frescuras de punições que por vários anos tolheram as disputas entre os pilotos e nos ofereceram corridas sem graça e sem emoção. Que a FIA saiba agir dentro do bom senso, e consiga evitar que os pilotos tomem atitudes demasiado extremas neste clima de guerra que acabou deflagrado entre Lewis Hamilton e Sebastian Vettel na etapa do Azerbaijão.
            E que os torcedores se preparem para escolher seus lados nesta disputa. Lewis Hamilton ou Sebastian Vettel? Agora é guerra, e que venha a guerra! Sem exageros, claro...


Qual foi a última vez que a F-1 viveu um clima de guerra declarada entre dois pilotos? Muito provavelmente, todos dirão que foi em 2007, quando o próprio Lewis Hamilton, então estreando na categoria, bateu de frente com Fernando Alonso na equipe McLaren. Lewis botou as asinhas de fora e deixou o asturiano, recém-coroado bicampeão do mundo, completamente desnorteado a meio da temporada, criando uma cisão dentro do time inglês, que acabou resultado na perda do título daquele ano para a Ferrari, que levou o caneco com Kimi Raikkonem, no último título que a escuderia italiana conquistou até hoje. E como desgraça pouca é bobagem, além do clima fraticida entre seus pilotos na pista, a McLaren ainda enfrentou o escândalo da espionagem de projetos da Ferrari, o "Stepneygate", que resultou na exclusão da escuderia inglesa do campeonato de construtores, permitindo contudo, que Hamilton e Alonso conservassem suas conquistas de pista. A McLaren ainda foi multada em US$ 100 milhões, e Alonso, desgastado com a rixa com Hamilton, pulou fora da escuderia, voltando a seu antigo time, a Renault, no que foi prontamente aceito por Ron Dennis, que fez uma rescisão amigável do contrato com Alonso. De lá para cá, nunca vimos uma disputa com esse nível de ferocidade na pista e nos bastidores. Houve rixas e brigas, mas localizadas e ocasionais, mais ligadas ao momento da competição, mas não englobando todo um campeonato e além dele... Hora de matar as saudades de um duelo pra valer, com direito a declarações e alfinetadas de bastidores... Se preparem...
Tão amigos que nós eramos: Na apresentação da dupla da McLaren, no início de 2007, Fernando Alonso e Lewis Hamilton eram só sorrisos... Alguns meses depois, ambos estavam se pegando na pista e cheios de picuinhas nos boxes do time inglês...

quarta-feira, 28 de junho de 2017

COTAÇÃO AUTOMOBILÍSTICA – JUNHO DE 2017



            Pois é, o mês de junho está chegando ao fim, e isso significa que metade do ano de 2017 já foi embora. Tivemos um mês cheio de provas, com muitas disputas no mundo do esporte a motor pelo mundo agora. Portanto, é hora de mais uma edição da Cotação Automobilística, fazendo uma avaliação do que aconteceu no mundo da velocidade neste mês de junho, com minhas impressões e visão sobre os acontecimentos em algumas das categorias de competições. Espero que possam apreciar o texto, que segue abaixo no esquema tradicional de sempre das avaliações: EM ALTA (caixa na cor verde); NA MESMA (caixa na cor azul); e EM BAIXA (caixa na cor vermelho-claro). Uma boa leitura a todos, concordando ou não com minhas opiniões, e até a cotação do mês que vem...



EM ALTA:

Scott Dixon: O piloto neozelandês é considerado por muitos o melhor piloto da Indycar, e ele vem fazendo questão de mostrar que isso não é mera força de expressão. Mesmo sofrendo um acidente espetacular durante as 500 Milhas de Indianápolis, onde felizmente saiu ileso, Dixon já estava em ação no fim de semana seguinte, em Detroit, para terminar uma das etapas no pódio, e pontuar firme na outra. Regular e constante, ele consegue ser rápido e poupar combustível como poucos na categoria, e em Road America, aproveitou as oportunidades para superar a quadra da Penske e vencer pela primeira vez na temporada, e de quebra, assumindo a liderança da competição, com 34 pontos de vantagem sobre o mais próximo adversário. Tetracampeão da categoria, Dixon é um dos favoritos na luta pelo título, o que o levaria ao inédito pentacampeonato, o piloto mais bem-sucedido da história da IRL, e com um currículo que o aproximaria das lendas das categorias Indy, como A. J. Foyt. Se não prestarem atenção nele, podem ser pegos de calças curtas.

Andrea Dovizioso: O piloto italiano da Ducati vem sendo um dos destaques da temporada, ao se meter no duelo entre os pilotos dos times oficiais da Honda e da Yamaha, e conseguindo a façanha de levar a Ducati de volta à liderança do campeonato, com duas vitórias irrepreensíveis em Mugello e Barcelona, além de um 5º lugar em Assen. Com uma moto que claramente ainda perde no combate direto com as duas maiores escuderias da categoria, Dovizioso tem aproveitado todas as oportunidades que apareceram e se mantém firme na disputa pela ponta, mesmo que sua vantagem para os rivais seja pequena em número de pontos, o que coloca sua posição de liderança em extrema fragilidade. Mas, como a temporada da MotoGP vem apresentando algumas surpresas interessantes, ser constante e veloz são ferramentas importantes, e enquanto houver chances, Andrea vem aproveitando todas as oportunidades, e quem sabe, até dispute efetivamente o título da temporada a fundo, o que não acontece no time italiano desde os tempos de Casey Stoner.

Duelo pelo título na F-1: O campeonato da F-1 está sendo bem disputado nesta temporada, e para apimentar ainda mais a situação, o clima agora é praticamente de guerra declarada entre Lewis Hamilton e Sebastian Vettel, depois do toque ocorrido entre ambos na etapa do Azerbaijão, com o piloto da Ferrari acusando o inglês da Mercedes de frear de propósito para prejudicá-lo durante um período de Safety Car. Nervosinho, Sebastian deu uma pancada proposital no carro do rival, o que o levou a tomar uma punição de 10s no box. Como desgraça pouca é bobagem, Hamilton também teve de parar uma vez a mais para recolocar a proteção de cabeça do cockpit, que estava se soltando em seu carro. Vettel ainda deu sorte de chegar na frente de Hamilton, abrindo 14 pontos de vantagem na classificação, mas a troca de farpas nos boxes depois da prova mostra que o clima de respeito e camaradagem entre ambos os pilotos foi para o vinagre, e a partir de agora, a disputa, que já era acirrada, vai ser ainda mais ferrenha. É tudo o que o público queria: uma rivalidade pegando fogo de verdade na pista, pelo título da temporada... E que promete muitos lances ainda pela frente...

Mais uma vitória da Porsche nas 24 Horas de Le Mans: Maior e mais famosa prova de endurance do mundo, as 24 Horas de Le Mans assistiram a um drama praticamente épico este ano, em meio a disputas acirradas e duelos por toda a duração da corrida. Inicialmente fora de combate no duelo com a Toyota, a Porsche acabou bafejada pela sorte com os problemas enfrentados pelos japoneses, mas a equipe alemã também acabou indo a nocaute quando viu um de seus carros, que liderava com 10 voltas de vantagem, e vinha sem forçar o ritmo, abandonar a corrida. Sobrou para o segundo carro do time, que havia perdido pouco mais de uma hora nos boxes efetuando reparos, e jogando-o para praticamente a última posição na pista. Mas, de volta à corrida, o trio remanescente acelerou firme o modelo 919, e conforme a prova progredia, eles iam recuperando posições, até que, com o abandono de seu carro irmão, viram-se entre os primeiros colocados, e com chances de vitória, num duelo que a princípio parecia distante, com os times da classe LMP2. Com determinação, esforço na pista e nos boxes, com todo mundo dando o melhor de si, eis que o que parecia impossível aconteceu, e o carro LMP1 da marca alemã assumiu a liderança na última hora de prova, para garantir à Porsche sua 19ª vitória nas 24 Horas de Le Mans, quando nem eles mesmos acreditavam poder realizar tal feito. A Porsche amplia sua marca recordista de triunfos em Sarthe, e confirma que Le Mans tem sua própria lógica e mística, onde nem sempre o mais veloz e bem preparado vence, mas aqueles que carregam a determinação e esperança em seus corações. E, claro, com uma dose de sorte, também. Mas não há vencedores sem sorte, como nem todos os derrotados o são apenas pelo azar. Os rivais ainda terão muito o que fazer pela frente para destronar a Porsche em Le Mans...

Daniel Ricciardo: O simpático piloto australiano atravessa uma fase onde tem mostrado eficiência e consistência. Se perde no quesito velocidade pura, onde seu parceiro mais jovem tem dado respostas contundentes de seu arrojo ao volante, Daniel compensa com experiência, calma, e visão de corrida, além de uma boa dose de sorte, para ter vencido a prova em Baku, e ter subido ao pódio nas últimas quatro etapas, sendo sempre o melhor piloto depois dos postulantes ao título, e ocupando no momento a 4ª posição no campeonato, em que pese o carro da Red Bull ainda estar recuperando parte da competitividade que muitos esperavam possuir desde o início do ano. Seu bom humor e simpatia são sempre bem-vindos, e ele sabe corresponder, atendendo a todos com muita dedicação e humildade, algo necessário quando Valtteri Bottas nem sempre empolga no trato com a imprensa, um pouco a exemplo de Kimi Raikkonem. E agora que o clima de guerra está instalado entre Lewis Hamilton e Sebastian Vettel, Ricciardo é uma presença sempre refrescante no ambiente cada vez mais carregado da disputa pelo título...



NA MESMA:

Hélio Castro Neves: O piloto brasileiro da equipe Penske segue andando forte na atual temporada da Indycar, mas ainda não conseguiu acabar com o jejum de vitórias na categoria, que já dura 3 anos. Em Road America, Helinho anotou sua 50ª pole nas categorias Indy, mas ainda não foi dessa vez que veio a 30ª vitória. Problemas de estratégia, quando não azares alheios a seu controle, e um ou outro erro, tem impedido que Hélio amplie sua marca de vitórias. Sua longevidade na maior equipe da categoria, a Penske, contudo, é um sinal de que ele ainda é um piloto combativo e eficiente. Mas, quando as diferenças são mínimas entre os competidores, qualquer detalhe, por menor que seja, pode mudar tudo numa corrida, e ultimamente, o brasileiro não tem conseguido capitalizar a contento todas as oportunidades na pista. A constância o coloca como candidato ao título, mas é preciso voltar a vencer para reforçar sua posição na busca pelo troféu do campeonato. Uma hora o jejum tem de acabar, mas por enquanto, parece que está difícil...

Toyota em Le Mans: Ainda não foi dessa vez que o time nipônico conquistou as 24 Horas de Le Mans. A esquadra japonesa pulverizou o recorda da pista que já durava mais de 3 décadas, com a performance arrasadora de Kamui Kobayashi, conquistando uma pole-position categórica com o modelo TS050. Na corrida, apesar de alguma resistência da Porsche, a única rival que sobrou, a marca japonesa parecia ter tudo garantido para enfim vencer, já que seu carroNº 7 estava inalcançável na pista. Mas, Le Mans tem seus caprichos, e a exemplo do ano passado, mais uma vez os carros do time não aguentaram as 24 horas da corrida, indo a nocaute por problemas técnicos na parte noturna da prova. Sobrou apenas um dos três carros, mas que ficou sem chances de vencer, ou pelo menos de chegar entre os primeiros, depois de perder mais de duas horas com consertos no box após problemas mecânicos. A derrota não foi tão amarga quanto a de 2016, mas, ainda assim, foi uma derrota, ainda mais pelo fato de a Porsche não ter ritmo para derrotá-los na pista de Le Sarthe. Mas, para chegar em primeiro, primeiro é preciso chegar... O sonho dos japoneses fica adiado para 2018... E se os rivais assim o permitirem...


Fernando Alonso: O piloto espanhol vem tirando leite de pedra ao volante do pífio carro que tem em mãos, e está conseguindo até ser um dos nomes mais comentados da temporada, mas mais pelo desafio de fazer andar o carro do que pelos resultados propriamente ditos. Com o carro quebrando quase em toda corrida, o espanhol ainda tomaria a punição de 40 posições no grid, se a F-1 tivesse tantas posições assim em um grid de GP, na etapa de Baku, onde Alonso conseguiu por pouco marcar seus primeiros pontos do ano, ao chegar em 9º lugar, mesmo com o carro rateando, mais uma vez, nas voltas finais. Fernando já deu seu ultimato: ou a McLaren vence alguma prova, ou ele estará fora do time em 2018. Como vencer está fora de possibilidade, o time só pode jogar com a possibilidade de voltar a usar um motor decente para que o asturiano permaneça no time na próxima temporada, o que significa voltar a usar o motor da Mercedes, que mesmo em versão cliente, ainda impõe respeito no grid, e poderia fazer do espanhol novamente protagonista nas corridas, e não retardatário e foco central de uma via-crucis que já dura alguns anos para aquele que é considerado por muitos o melhor piloto do grid atual...

Sébastien Buemi: O piloto da e.dams continua liderando firme o campeonato da F-E, tendo vencido uma das etapas de Berlim, e compensando a desclassificação sofrida na outra etapa. Com isso, o suíço ainda mantém confortáveis 32 pontos de vantagem na classificação, que podem ser vitais para a sua ausência na rodada dupla de Nova Iorque, uma vez que terá de defender a equipe Toyota no Mundial de Endurance, na etapa das 6 Horas de Nurburgring, em julho. Com seis triunfos na temporada, e dado o nível de performance que vem apresentando, é pouco provável que Buemi perca a liderança da competição, mas a ausência não deixa de ser um tremendo revés que pode ser aproveitado por seus adversários na competição dos carros elétricos, especialmente por Lucas Di Grassi, seu principal rival na luta pelo título.

Jorge Lorenzo e provas instáveis na MotoGP: Tricampeão da MotoGP, o espanhol Jorge Lorenzo já deu mostras de que não costuma se entender direito com a pista quando começa a chover e as condições do asfalto ficam instáveis. E isso acabou se reafirmando na etapa da Holanda, em Assen, quando um chuvisqueiro apareceu na segunda metade da corrida, e alguns pilotos foram aos boxes para trocar de equipamento e tentar melhor sorte. Mas muitos ficaram na pista, e enquanto Valentino Rossi, Danilo Petrucci, Marc Márquez e Carl Crutchlow se mantiveram firmes na luta pelas primeiras posições, Lorenzo caiu para o fim das posições, terminando em um melancólico 15º posto. Lorenzo admite que este é um ponto fraco de sua pilotagem, o que é significativo para tentar corrigir esta deficiência. O problema é que no momento Jorge ainda está tendo de se entender com sua nova moto, a Ducati, e isso certamente complica sua situação. E, nesse esforço para compreender melhor a máquina de Borgo Panigale, o tricampeão tem visto algumas oportunidades se perderem quando aparecem, como as que possibilitaram a seu companheiro de equipe Andrea Dovizioso vencer duas corridas e assumir a liderança da competição. Lorenzo não está morto, mas precisa encaixar os fatores do fim de semana de GP para conseguir aproveitar melhor seu equipamento, o que até agora só ocorreu em Jerez de La Fronteira.



EM BAIXA:

Felipe Massa: O piloto brasileiro parece estar novamente naquela fase onde o azar está presente com mais força do que nunca, não importa muito o que Felipe faça para afastar a uruca. Em duas etapas onde o carro da Williams poderia render bem, Massa acumulou dois abandonos, e perdeu a chance de bons resultados, e talvez até de uma vitória. No Canadá, acabou torpedeado por Carlos Sainz ainda na primeira volta, sem chances de evitar qualquer coisa. Já em Baku, a corrida foi tão maluca que Felipe, exibindo uma pilotagem firme e precisa, tinha tudo para terminar no pódio, e até mais do que isso, conquistar talvez seu primeiro triunfo em GP em uma década. Mas, quis o destino que o azar novamente marcasse presença, e um problema na suspensão traseira jogou sua corrida no brejo. E, com seu parceiro Lance Stroll marcando pontos, e até indo ao pódio no Azerbaijão, Massa que se cuide se não quiser cair ainda mais na classificação do campeonato...

Max Verstappen: Vale a pergunta: O carro vai quebrar por que ele é rápido, ou ele é rápido por que o carro vai quebrar? Duvido que o arrojado piloto holandês ache graça na questão, após acumular quatro abandonos na temporada até aqui, em muitas delas lutando pelas primeiras posições logo após o renhido duelo Hamilton-Vettel. Mostrando uma velocidade impressionante nos treinos de classificação, quase sempre deixando seu parceiro Daniel Ricciardo para trás com folga, Verstappen não vem dando sorte nas corridas, e o mau humor decorrente disso já se manifesta claramente: o holandês sequer parabenizou Ricciardo pela vitória em Baku, e vem dando reclamações contundentes sobre as quebras que vem sofrendo. Para alguém que é considerado potencialmente um futuro campeão do mundo, Max vem dando mostras de impaciência, e esquecendo que está em um dos melhores times da F-1. Mais dia, menos dia, os resultados aparecerão, e se ele acha que a situação está ruim, que experimente viver então o drama de Fernando Alonso na McLaren, onde o carro costuma enguiçar dia sim, dia sim, e quebrar o motor idem, para não mencionar que nem performance o bólido consegue apresentar decentemente. Não que Fernando esteja sendo paciente, mas ele já está vivendo esse calvário há 3 temporadas. Verstappen, há apenas algumas corridas... Ele que aprenda a sossegar um pouco, e veja que os resultados podem aparecer, e não fique apenas cuspindo marimbondos a cada fim de semana ruim...

Fim da F-Truck?: Quando a F-Truck recebeu a notícia da debandada da maioria dos times existentes, que pretendiam criar o seu próprio campeonato, muitos já diziam que a categoria havia dado o seu primeiro passo rumo ao fim. Era preciso tentar conversar com o pessoal e trazer estes times de volta, mas o que se viu foi a direção da categoria simplesmente ignorar a oportunidade de tentar uma reconciliação e partir para iniciar o seu campeonato mesmo com pouco competidores no grid, o que se viu na primeira etapa. Mas, com o lançamento da Copa Truck pelos times dissidentes, a situação piorou, e a segunda etapa da competição, que deveria ocorrer em Cascavel, acabou cancelada, e ao que parece, deve selar o fim da primeira categoria de competição de caminhões do país, já que os poucos pilotos que haviam alinhado na primeira corrida, no Velopark, resolveram engrossar o grid da Copa Truck. Um fim melancólico para aquela que já foi o mais forte campeonato de competição de esporte a motor do país, mas que se perdeu nos últimos tempos pela teimosia e soberba de quem deveria zelar pela administração do certame, não conseguindo unir seus integrantes numa única força a impulsionar a competição, muito pelo contrário...

Parceria McLaren-Honda: Em sua terceira temporada, a parceria entre a McLaren e a Honda parece fadada ao fracasso. Sem perspectivas de melhora, e ao invés disso, acumulando quebras e falta de performance, a direção do time inglês já está jogando a toalha, e firmando negociações para ter um propulsor que pelo menos não quebre feito macarrão seco a todo instante, e gere uma performance decente, que ao que tudo indica deverá ser o Mercedes. A fábrica alemã não confirma, mas é inegável que o sonho de reviver a parceria vitoriosa de décadas atrás fracassou miseravelmente, e pior, os japoneses se confessam completamente perdidos no projeto, sem conseguir entender por que as tentativas de evolução da unidade de potência não conseguem dar os resultados esperados. Como a McLaren não pode mais esperar, tudo indica que em 2018 a parceria não será mantida, e os japoneses terão de consolo o fato de terem firmado parceria com a Sauber, o menor time do grid atualmente, para quem em tese será uma dádiva poder receber motores de graça e ainda contar com o investimento dos japoneses, aliviando o caixa financeiro do time, bem debilitado nos últimos anos. Para a McLaren, trocar de motor será a única esperança de ver melhorar sua performance, além de não perder o seu maior trunfo, o talento de Fernando Alonso.

Harmonia na dupla da Force India: Enquanto o time de Vijay Mallya perde tempo pensando em adotar um novo nome para se tornar comercialmente mais “atraente” na F-1, sua dupla de pilotos anda se pegando no pior sentido da palavra nas pistas. A relação entre Sérgio Perez e Esteban Ocon sofreu um abalo no Canadá, onde o mexicano recusou-se a ceder posição ao francês, que ficou relativamente nervosinho com a negativa do parceiro de equipe. E em Baku, assim que viu uma oportunidade, Ocon partiu para cima de Perez, com o agravante de tê-lo prensado contra o muro, sem ter para onde ir. Os dois carros se tocaram e, pior para Perez, que acabou abandonando a corrida mais tarde, depois de perder completamente as chances de um bom resultado. Ocon ainda deu sorte e chegou em 6º, numa prova onde, pelos demais acontecimentos, poderia ter resultado até numa possibilidade de vitória para a escuderia, ou pelo menos um pódio, simples ou duplo. A direção da escuderia vai precisar sentar com os dois e acalmar os ânimos para evitar novas tempestades nas próximas corridas. A disputa pode ser ferrenha, mas baterem um no outro é justamente o que não devem fazer, em hipótese alguma...