sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

HORA DOS NOVOS CARROS

 
            Acabou o marasmo. Depois de dois meses sem atividades aparentes, eis que a F-1 começa enfim a se mexer fora de suas fábricas, e as escuderias preparam-se para a pré-temporada 2011, que começa semana que vem, no circuito Ricardo Tormo, em Valência, onde teremos a primeira sessão coletiva de testes visando o campeonato de 2011. É hora de conferirmos, entre outras coisas, os novos carros das equipes para este ano, algo que sempre é esperado com grande ansiedade e expectativa, tanto por fãs, pilotos, e jornalistas.
            A Ferrari sai na frente na apresentação dos modelos 2011. Hoje, em Maranello, na Itália, estará sendo apresentado o F150, carro com que a escuderia disputará o campeonato. O nome, aliás, é uma homenagem da escuderia aos 150 anos da unificação da península itálica, que até a segunda metade do século XIX, estava fragmentada em diversas regiões autônomas. Um belo gesto por parte da Ferrari à Itália. Creio que nada mais justo em troca da devoção que os italianos tem à escuderia, onde é praticamente considerada uma “instituição” nacional, tamanho o fervor dos tiffosi pelos carros criados por Enzo Ferrari há mais de 60 anos. Aliás, em se tratando de nomes, pode-se dizer que o time rosso nunca teve uma padronização dos nomes de seus modelos, por onde temos visto, em vários anos, diversas denominações para seus monopostos na categoria máxima do automobilismo.
            Na semana que vem, especialmente em Valência, várias das outras escuderias apresentarão oficialmente seus carros. Na segunda feira, quando todos os times já estarão presentes no circuito espanhol, embora os testes só comecem de fato no dia 1° de fevereiro, terça-feira, estão programadas as apresentações oficiais dos novos carros das escuderias Sauber, Lotus e Renault. No dia seguinte, Williams, Red Bull, Toro Rosso e Mercedes lançarão seus novos carros. Um pouco mais à frente, no dia 4 de fevereiro, será a vez da McLaren, no dia 7 a Marussia Virgin mostrará seu carro novo, enquanto a Force Índia programou o lançamento de seu novo carro para o dia 10. A rigor mesmo, apenas a Hispania não irá apresentar um novo carro, prometendo fazê-lo provavelmente no fim de semana do primeiro GP, já no Bahrein, o que não é nenhuma surpresa, dada a forma débil do time espanhol, o qual muita gente já considera muita coisa ainda existir.
            Antigamente, os carros eram lançados com verdadeiros shows pelos times. Em nome da contenção de gastos, isso felizmente acabou, pois cada vez mais estava se desviando o foco da competição para o show em si da apresentação, que muitas vezes chegava a ser faraônico demais, e isso não garantia resultados na pista. Em Valência, os carros de diversos times serão apresentados aos jornalistas quase que em grupo. Seria muito bom se todos os times se juntassem e promovessem uma apresentação conjunta dos novos monopostos, mas a guerra de egos entre as escuderias não permite que isso aconteça, como se vê no caso da apresentação da Ferrari, que sempre se acha dos demais times devido à sua história na categoria. Nada comparado às edições do Spring Training que a antiga F-Indy promovia nos Estados Unidos, onde numa sessão de treinos coletivos de pré-temporada, todas as escuderias e pilotos eram apresentados. Mas, americanos e europeus nunca falaram a mesma língua, e podem falar muita coisa de ruim dos americanos, mas quando se trata de marketing e contato com os fãs das suas categorias, eles dão um verdadeiro banho na F-1, que anda cada vez mais com sua postura de “não-me-toques” e “politicamente correto”...
            Outra coisa meio chata atualmente é que os carros costumam ser todos parecidos, enquanto antigamente, cada time tentava ser mais original do que os outros, na busca por mais performance. Se isso produzia mais performance, era duvidoso, mas as formas diferenciadas de cada carro permitia ao público conhecer de cara qual carro era de cada equipe, mesmo que ele não tivesse pintura nem patrocinadores, algo que hoje em dia é quase impossível para a maior parte dos modelos que são lançados. Mas sempre fica a expectativa de que os designs sejam diferenciados, para ajudar a combater o clima de “padronização” que vem virando praga na categoria nos últimos tempos, em nome da “contenção de gastos” pretendida pelos times, que sempre soa meio artificial e duvidosa, pois os custos continuam nas alturas para se competir adequadamente na F-1, haja visto o aumento do número de pilotos “pagantes”, que só estão lá porque chegaram com polpudos patrocínios os quais os times andam precisando muito. Se a esse dinheiro eles mostrarem que, além de tudo, ainda tem talento para a competição, excelente. Mas infelizmente, não é regra geral.
            A principal novidade no visual dos carros este ano deve vir da Renault, que oficialmente agora só possui o motor da fábrica francesa, sendo o time de propriedade integral do grupo financeiro Geni, que já tinha assumido porção majoritária em 2010, e agora assumiu o controle total. O carro deverá exibir um visual preto e dourado, baseado na lendária Lótus com o patrocínio da John Player Special, que foi pilotada por nomes como Émerson Fittipaldi, Ronnie Petterson, Mario Andretti, e Ayrton Senna. Ainda chamo o time de Renault porque, dado o rolo oportunista da Lótus Cars, que se tornou patrocinadora do time, e resolveu chamá-lo de “Lótus”, quando já temos uma outra “Lótus” no grid, fico com estes últimos, por terem tido o desafio, no ano passado, de trazerem novamente para a categoria o nome que foi para os ingleses o que a Ferrari é para os italianos na F-1. E Tony Fernandes, dono desta nova “Lótus”, está merecendo mais o nome do que a Lótus Cars, que só resolveu entrar na empreitada porque viu que poderia lucrar com ela, oportunidade que havia sido oferecida por Fernandes meses atrás, e que recebeu uma negativa por parte da Próton, que detém o controle da Lótus Cars. Aliás, a justiça inglesa adiou a decisão sobre quem tem direito ao nome “Lótus” para março, em data que teremos, até então, já 2 provas realizadas, onde muito provavelmente veremos 4 carros “Lótus” no grid...durma-se com um barulho desses...
            Os novos carros também serão cruciais para se avaliar o desempenho dos pneus da Pirelli, que está retornando à categoria depois de 20 anos de ausência praticamente. Por solicitação da FIA e da FOM, a marca italiana preparou seus compostos com resistências bem mais acentuadas do que as exibidas pelos compostos da Bridgestone, de modo a forçar mais trocas de pneus, e com isso ajudar as corridas a terem mais emoções, algo que faltou em diversos GPs no ano passado devido às estratégias de corrida terem sido bem menos diferenciadas entre os times, o que gerou alguns protestos por parte dos torcedores. As informações dos novos compostos foram repassados aos times, e com os dados colhidos nos dois dias de testes em Yas Marina, em novembro, foi escolhida a base de projeto dos monopostos. Resta saber se todos os carros apresentarão as reações esperadas aos novos pneus, e se não haverão surpresas inesperadas com os compostos.
            Para os torcedores brasileiros, a expectativa é do que nossos pilotos serão capazes de fazer com os novos carros. Felipe Massa aparentemente se deu bem com os novos pneus da Pirelli. Resta saber se o novo carro estará com um estilo de pilotagem bem a seu gosto, e não desenvolvido apenas para o estilo de pilotagem de Fernando Alonso. Em todo caso, é quase certo de que a Ferrari deverá ter um carro competitivo e vencedor, que dará a Felipe boas condições de brilhar no campeonato de 2011. Para Rubens Barrichello, a Williams precisará mostrar que soube assimilar seus conhecimentos para desenvolver o carro em 2010, e promover a continuação desta evolução no novo modelo 2011. Fica a dúvida se a Cosworth não se tornará o ponto fraco do carro, uma vez que seu motor, apesar da durabilidade demonstrada, mostrou não ter potência para rivalizar com os propulsores da Mercedes e da Ferrari.
            É hora de conferir os novos carros e o que eles poderão ser capazes de fazer. E estamos apenas iniciando a pré-temporada...

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O FUTURO DO BRASIL NA F-1

 
            Salvo imprevistos de última hora, o Brasil terá apenas 2 representantes no grid do campeonato de F-1 deste ano: Rubens Barrichello (Williams) e Felipe Massa (Ferrari). Lucas Di Grassi perdeu a parada na Virgin e Bruno Senna, por sua vez, por não ser o “queridinho” de Colin Kolles, perdeu seu lugar na Hispania. Até o presente momento, ambos ainda estão estudando o que fazer de suas carreiras este ano. E para 2012, as perspectivas não são muito animadoras: Barrichello pode se aposentar, encerrando uma carreira que até o momento é de duração recorde de um piloto na categoria, ou pode continuar, talvez por mais uma temporada, talvez no máximo mais duas. E Felipe Massa? Muitos já dão como certa sua saída da Ferrari ao fim do campeonato deste ano, seja lá qual for a performance do brasileiro na equipe. O motivo seria a falta de espaço e perspectiva com o time italiano, que sofreram um belo baque ano passado. E para onde Massa iria? Teria lugar em outro time? Vai depender unicamente dele. Se fizer um bom campeonato, ainda que não supere Alonso, contará pontos para cavar uma vaga em outro time, mas talvez não uma equipe de ponta, uma vez que, no momento, há nomes mais cotados que poderiam estar disponíveis. Bruno Senna e Lucas Di Grassi sem dúvida tiveram muito para aprender em 2010, apesar dos carros problemáticos que tiveram em suas mãos, mas isso infelizmente não contará muito para ambos em uma possível nova vaga na categoria a curto prazo.
            A tendência então é ficarmos sem um piloto brasileiro no curto prazo na principal categoria mundial do automobilismo, o que poderia ser catastrófico, embora não fosse o fim do mundo, exatamente. Catastrófico porque, desde que passamos a vencer provas na categoria, no início dos anos 1970, com Émerson Fittipaldi, e conquistamos com ele, Nélson Piquet e Ayrton Senna, nada menos do que 8 títulos mundiais, o Brasil passou a ser visto também como país dos pilotos da F-1. Em um momento em que nós, o “país do futebol”, envergava um jejum que durava mais de 20 anos sem título nas Copas do Mundo (fomos tri em 1970, e só em 1994 voltamos a levantar o caneco, coincidentemente depois que perdemos Senna e nosso “favoritismo” na F-1), o automobilismo tornou-se o “segundo” esporte nacional. E como era a F-1, os torcedores passaram a ver meio que somente essa categoria.
            Boa parte dessa visão “monopolista” de uma categoria automobilística tem a ver com a TV Globo, que desde o início da década de 1980, é a retransmissora “oficial” no país da categoria, e sendo a maior rede do país, não foi difícil convergir os fãs do automobilismo para a categoria. Nem mesmo a mais competitiva e equilibrada F-Indy, na qual Émerson fez sua carreira renascer tirou o olho dos brasileiros da F-1. O título de Émerson em 1989, quando ainda ganhou a Indy500, fez balançar um pouco os torcedores, e apesar de mostrar que podíamos brilhar em outras categorias, não abalou o “monopólio” de atenção da F-1 nos fãs. Por essas e outras, mesmo o título de Raul Boesel no Mundial de Marcas em 1987 pouca repercussão teve nos fãs nacionais, com algumas exceções. E porque repercutiria? No mesmo ano, Nélson Piquet tornava-se tricampeão na F-1. Estávamos rumando para o “topo” das estatísticas de vencedores na categoria. Àquela época, apenas Juan Manuel Fangio era mais “campeão”, tendo 5 títulos. Com Piquet e Senna, tudo indicava que a F-1 ficaria dividida entre o Brasil e o “resto do mundo”.
            A década de 1990 tratou de jogar um balde de água fria na torcida nacional. Senna foi tri em 1991, e sem ter o melhor carro, passava dificuldades para novamente ser campeão. Quando pensava ter dado a volta por cima, infelizmente o destino foi cruel com ele. E nossos demais representantes na categoria, apesar do talento, não tinham o aporte necessário para vencer, sem um “padrinho”, as dificuldades que passariam a se acumular a partir dali. De 94 a 99, viramos coadjuvantes. Apenas em 2000, com Barrichello na Ferrari, voltamos a ter esperança, por finalmente termos um piloto em um time campeão. Ledo engano: A Ferrari era dominada por Michael Schumacher, que nunca permitiu sequer haver disputa entre ambos no time. Além do maior talento do alemão, o time jogava contra o brasileiro, que não tinha a desenvoltura de um Piquet ou Senna para reverter a situação. Com Felipe Massa, a situação foi ligeiramente diferente, mas também decepcionante: na única vez que pode efetivamente disputar o título, infelizmente perdeu. Barrichello também não conseguiu aproveitar a chance da BrawnGP, em 2009.
            Os brasileiros, antes disputados pelos times, agora não despertam tanta cobiça. Infelizmente, um ponto no qual nossos pilotos atualmente são muito vulneráveis é o fator financeiro. Com a debandada das montadoras na crise econômica mundial, muitos times perderam seu principal aporte financeiro, e voltou a velha “praga” dos pilotos “pagantes”, que precisam levar um polpudo patrocínio para conseguir uma vaga em algum time. Isso sempre existiu na maior parte da história da categoria, o problema é que agora os custos estão mais altos do que nunca, e quantias que antes davam para conseguir um cockpit mediano, agora nem dá para começar a conversar com o pior time do grid. Di Grassi tinha patrocinadores pessoais, mas não teve como levantar o dinheiro exigido pelo time, que optou pelo belga Jérôme D’Ambrosio, que trouve um patrocínio muito maior, apesar do brasileiro ser um piloto muito mais técnico e talentoso, lapidado pelo programa de pilotos da Renault há pouco tempo atrás. No caso de Bruno Senna a situação a situação é idêntica: os patrocínios do piloto foram considerados insuficientes para garantir seu lugar, e ainda pesou contra ele a atitude cretina de Collin Kolles, que simplesmente não simpatizou com o brasileiro (e para quem se lembra, Kolles foi demitido da Force Índia, onde só sabia tumultuar o ambiente entre os pilotos). A segunda vaga da Hispania está em “leilão”, e quem pagar mais leva. Infelizmente, os brasileiros estão sem cacife financeiro nessa disputa, se bem que no caso desta equipe, o lugar não vale o dinheiro gasto, e não falo da questão da performance ruim, mas da falta de ambiente e organização do time. A Minardi, que sempre foi pobre, tinha paixão pela velocidade e idealismo...
            Em um momento onde nossa economia segue firme, as empresas nacionais que poderiam apoiar pilotos brasileiros até na F-1 simplesmente sumiram do mapa. Senna tinha patrocínio do Banco Nacional, que o acompanhou em todos os seus anos de glória. Barrichello chegou a ter apoio da Arisco e Pepsi. Pedro Paulo Diniz contava com o grupo Pão de Açúcar para facilitar alguns contatos. Eram patrocínios fortes, que hoje praticamente inexistem para nossos pilotos tentarem vaga na F-1, pelo menos na quantia necessária, embora tenhamos empresas, e até estatais, como a Petrobrás, com capacidade para isso. Na Venezuela, terra de um pseuditador, vemos a petrolífera local apoiar um piloto local e até patrocinar um time na F-1, enquanto nós, com uma economia muito mais poderosa, ficamos sem nenhuma atitude similar.
            Sem dúvida alguma, o futuro dos brasileiros na F-1 vai ficar preocupante. E, sem pilotos na categoria, vai ser interessante ver como a Globo cativará os fãs. Nos últimos 10 anos, sempre foi a falsa expectativa de lutar pelo título, com nosso representantes na Ferrari. E depois? Galvão Bueno diz que se aposenta como narrador na próxima Copa, em 2014. Será que ele durará até lá na F-1, se a Globo, por algum imprevisto, desistir da empreitada em virtude de uma possível ausência de representantes nacionais?
            Sem dúvida, algo para ir pensando com calma...

Tudo começa pelo princípio...

Saudações a todos. Escrevendo semanalmente sobre automobilismo há mais de 15 anos, e começando uma nova década, creio que chegou a hora de dar um novo passo, e me abrir também ao mundo virtual que hoje é uma ferramenta indispensável de trabalho em uma infinidade de atividades do mundo atual. Não pretendo aqui esgotar nenhum assunto sobre automobilismo, nem mesmo colocar tópicos sobre todas as categorias existentes do esporte a motor. A princípio, este espaço é para publicação on-line de minhas colunas semanais de automobilismo, que comecei a escrever no já distante ano de 1993, ano em que surgiram também nos jornais de grande circulação, as primeiras colunas do gênero que tenho conhecimento. Inspirado por elas, e já escrevendo notas sobre o automobilismo na época, aderi ao formato que tomava conhecimento logo ali.
Não é preciso nem mencionar o quanto o automobilismo mudou daquela época para os dias atuais, para melhor, e igualmente, para pior em diversos aspectos. No decorrer de minhas postagens posteriores, pretendo, se houver tempo, disponibilizar aqui neste espaço minhas primeiras colunas, a fim de que possam sentir um pouco como foi a coisa naqueles tempos, para quem nunca assistiu, e para reviver algumas ocasiões, para quem for mais velho. De início, este espaço ainda está meio "básico", de modo que espero ir "aparando as arestas" com o passar dos dias e postagens.
Bem-vindo a todos os leitores, e que possam desfrutar de meus textos e opiniões de forma culta e educada.

Adriano de Avance Moreno