sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

CAMPEÃO MERECIDO EM UM CAMPEONATO MAL GERENCIADO

Quando tudo parecia perdido, tudo mudou, e Max Verstappen sagrou-se campeão da temporada 2021 da F-1.

            E a F-1 tem um novo campeão! Max Verstappen é o primeiro piloto holandês a conquistar um título na categoria máxima do automobilismo, e marca a redenção não apenas da Red Bull, que volta a conquistar um campeonato de pilotos pela primeira vez desde 2013, com Sebastian Vettel, como também da Honda, em sua despedida da competição, após os japoneses terem sido campeões pela última vez em 1991, com ninguém menos do que Ayrton Senna. Com o triunfo em Abu Dhabi, Verstappen terminou o ano com 10 vitórias, número mais do que impressionante para o jovem piloto, que liderou sozinho mais da metade das voltas de todo o campeonato, numa amostra de como foi dominador em 2021, apesar da oposição de Lewis Hamilton.

            O inglês, aliás, foi um grande alvo este ano, com muitos de seus “haters” acusando o heptacampeão de ser uma grande fraude como campeão, por ter conquistado seus títulos na maior era de hegemonia de um time na F-1, ao mesmo tempo em que exaltaram Verstappen como um “campeão de verdade” por correr com um equipamento “inferior” e vencer o título. Incrível como tem gente retardada neste mundo, e isso não diz respeito apenas à disputa da F-1, mas a uma miríade de assuntos variados que me levam a questionar se o homem é de fato um ser “inteligente”, haja visto a idiotice de parte da humanidade estar atingindo níveis cada vez mais alarmantes.

            Verstappen conquistou seu título com todos os méritos, e não se pode negar o seu talento, ainda que sua postura na luta por posições por vezes seja temerária, e até desleal ou suja, adjetivos que ele poderia minimizar se tivesse um pouco mais de tato. E Lewis Hamilton, que muitos disseram que seria “desmascarado” quando tivesse um adversário “de verdade” na pista, calou a boca de muita gente, mostrando uma pilotagem aguerrida e determinada, mais do que à altura do desafio que lhe foi imposto. Dadas as circunstâncias da prova em Abu Dhabi, tudo indicava que o inglês conquistaria o seu oitavo título, marca que faria dele o maior recordista do quesito na história da F-1. Infelizmente, não deu, mas dizer que ele foi derrotado como se isso fosse uma farsa vindo à tona é completamente descabido. Vimos uma disputa em alto nível, que pendeu para o lado de ambos os pilotos em momentos distintos do ano, sem que pudéssemos apontar qual deles seria o maior favorito ao título. E devemos lembrar que, tivesse vencido em Yas Marina, Hamilton teria faturado 9 vitórias no ano, o que o deixaria empatado com Verstappen neste quesito na temporada. Uma amostra da grande disputa que vimos entre dois gênios da velocidade, um ainda escrevendo sua história de sucesso na F-1, e outro com um currículo invejável que já o coloca como um dos gigantes de todos os tempos na competição do esporte a motor.

            Claro, houve momentos controversos durante o ano, como seria normal de se esperar em um duelo tão acirrado quanto o que pudemos presenciar. E com a troca de farpas não apenas entre os pilotos como também entre seus times. Quem queria um duelo de gladiadores não pode reclamar do que vimos em 2021, apesar de que muitos também reclamaram do mesmo jeito, a maior parte deles puxando sardinha para o seu lado, dependendo de para quem eles torciam, obviamente.

Lewis Hamilton (acima) conseguiu assumir a liderança e vinha conseguindo controlar a corrida e rumar para mais um título certo, até que Nicholas Latifi (abaixo) bateu a poucas voltas do fim e complicou tudo com a entrada do Safety Car.


            Mas a temporada teve algumas máculas, e boa parte delas acabou perpetrada pela FIA, que não soube gerenciar direito seus próprios regulamentos, além de não saber o que fazer em determinadas situações. O ponto mais baixo disso foi a corrida que não houve, na Bélgica, onde a chuva torrencial não permitiu que os pilotos lutassem na pista, e após um par de voltas atrás do Safety Car, tivemos a declaração da corrida cumprida, com “vitória” de Verstappen, que nem precisou se esforçar para merecê-la. Mais justo seria terem cancelado a corrida, diante das interpéries e circunstâncias completamente adversas, uma vez que a corrida não tinha como ocorrer em data posterior devido ao calendário da categoria, longo e extenso ao ponto de a temporada ter sido encerrada somente domingo passado.

            E, claro, não poderíamos deixar de questionar a maneira como foi feito o gerenciamento do Safety Car em Yas Marina, criando uma situação de duelo que acabou sendo completamente injusta para com os contendores da luta pelo título, pela forma como se deu. Se lembrarmos que em Baku a corrida recebeu bandeira vermelha, e os pilotos partiram para a disputa de apenas duas voltas depois, muito mais prático e correto seria se tivessem feito o mesmo em Abu Dhabi, com o ponto positivo de que teríamos então cinco voltas onde poderíamos ver Hamilton e Verstappen darem tudo por tudo em condições mais justas para ambos os pilotos. Verstappen certamente terá esse questionamento na conquista de seu primeiro título mundial, que lança uma sombra de dúvida sobre a lisura de como foi feita essa conquista, mesmo que ele não tenha culpa alguma sobre o que ocorreu. Da mesma maneira, muitos consideração uma injustiça o que ocorreu com Hamilton, que numa arrancada fulminante na reta final da temporada, emparelhou-se com o rival e teria tido a conquista mais apoteótica desde que sagrou-se campeão em 2008, tendo dominado a prova final, e perdido pela maneira duvidosa como foi feito o gerenciamento do Safety Car. No cômputo geral, tanto Max Verstappen quanto Lewis Hamilton saem mais gigantes do que nunca do duelo que travaram este ano, que proporcionou aos fãs do esporte a motor um dos duelos mais espetaculares dos anos recentes da F-1. Ambos saem como vencedores, um de fato, e o outro moral, e prontos para repetirem a dose em 2022, quando certamente se encontrarão novamente nas pistas em novos embates, seja por vitórias, seja por nova disputa pelo título..

            Se houve um perdedor este ano, foi a FIA. Michael Masi, escolhido para suceder Charlie Whiting como diretor de provas, não soube ter a mão certa em determinados momentos, e deixou a desejar nas tomadas de decisão que teve de assumir. Sem ter a experiência de Whiting, precisava ser melhor assessorado na função, a fim de que não acumulasse erros e não ficasse tão exposto quanto acabou sendo. Ainda que tentasse fazer a coisa certa, ele acabou interferindo além do que seria aceitável no duelo na pista, e conseguiu desagradar a gregos e troianos. Para 2022, é o principal nome a ser rejeitado pelos fãs da F-1. Em um ano onde a categoria máxima do automobilismo viu um dos melhores campeonatos de todos os tempos na luta pelo título, com o campeonato se recuperando depois de uma temporada remendada em 2020, devido à pandemia da Covid-19, que também afetou esta temporada, poderíamos passar sem essa.

Michael Masi (acima) acabou se tornando uma figura controversa como diretor de prova da FIA, que entre outras besteiras, apresentou uma não-corrida na Bélgica este ano (abaixo), num dos pontos negativos do campeonato, já que ninguém pode batalhar por posições na forte chuva em Spa-Francorchamps.


            Ainda assim, saímos muito no lucro em 2021. Apesar das incertezas provocadas pela pandemia, o calendário pode ser cumprido quase na íntegra em relação ao que fora proposto inicialmente. A vacinação nos diversos países permitiu um deslocamento a um maior número de países, e se ainda houve alguns lugares onde a F-1 não teve como regressar, como as corridas na Ásia e Oceania, por outro lado, ela conseguiu retornar às Américas, mesmo que parcialmente. O público voltou em várias corridas, e agora, com seu encerramento, espera-se que as providências que se tomam contra as novas variantes da Covid-19, que ainda assustam o mundo, e causam diversos problemas, possam ser contornados, e a temporada do próximo ano possa ocorrer sem maiores problemas.

            Em termos de campeonato, a Red Bull teve o melhor carro do ano na média geral, superando o carro da Mercedes. Mas não foi um domínio como se imaginava após os testes da pré-temporada, quando o modelo RB16B dominaria a temporada. A Mercedes, com muito trabalho, conseguiu evoluir o seu modelo W12, que esteve longe de ser um carro mau nascido. Fosse em outras temporadas, talvez a Mercedes ainda levasse os títulos de construtores e de pilotos com alguma facilidade, pelo que vimos de sua vantagem técnica sobre o resto do grid. Mas aconteceu da Red Bull acertar logo de cara o seu carro para 2021, de modo que a Mercedes ficou sem folga como nos demais anos. Mesmo assim, houve alguns momentos em que o time alemão pareceu ter recuperado terreno, e até aberto alguma vantagem. Porém, tais momentos foram efêmeros, de modo que nas corridas seguintes o panorama que se alinhava favorável à Mercedes voltava a ser favorável à Red Bull, que em determinados momentos parecia desembestar na liderança do campeonato. E, mesmo com a Mercedes recuperando terreno na reta final da competição, a ponto de Hamilton ter reequilibrado a disputa, mesmo assim Verstappen e a Red Bull estavam ali bem próximos, não se podendo baixar a guarda por nenhum momento. Essa indefinição durou todo o campeonato, não se podendo dizer quem estava abrindo ou perdendo vantagem. E apesar de alguns incidentes, chegamos à prova final com Verstappen e Hamilton empatados nos pontos, fazendo com que a corrida de Abu Dhabi fosse um tira-teima de todo o ano, onde quem chegasse na frente do outro simplesmente levaria o título. E, graças à ação estabanada de Michael Masi, tivemos um final que foi eletrizante, mas também não correto do ponto de vista do regulamento em seus detalhes mais exatos, o que tirou parte do brilho da conquista do piloto da Red Bull, que não tinha nada a ver com a aplicação incorreta do regulamento, a ponto de motivar até um protesto e apelação por parte da Mercedes, querendo que o resultado fosse revisto, algo que outros pilotos entenderam ser procedente, diante de como tudo ocorreu. Mas, reverter a situação dessa maneira também não seria a melhor forma de se coroar um campeão, e Hamilton também não mereceria levar o título desta maneira, como também não ficou exatamente com Verstappen, apesar do holandês não estar muito preocupado com isso. Ele é o campeão, e não está aí com isso, embora tenha declarado entender o sentimento de frustração do rival.

            Felizmente, a Mercedes retirou sua apelação para rever os acontecimentos de Yas Marina no que tange ao Safety Car nas voltas finais. Mesmo tendo ficado ausente da festa oficial dos campeões da FIA, ainda reforçando a impressão de má perdedora, apesar de ter parabenizado Verstappen e a Red Bull pelo excelente campeonato realizado, ainda que soe como algo apenas protocolar, a equipe alemã ao menos marca uma importante posição sobre uma necessidade premente de se revisar e estudar os regulamentos da F-1, que há muito precisam ser rediscutidos, tornados mais simples e transparentes, sujeitos a menos interpretações que possam ter entendimentos variados, de forma a penalizarem menos as disputas na pista, com parâmetros claros e objetivos. A incerteza de certas regras, cujo entendimento fica mais afeito à percepção dos comissários, é algo que precisa ser minimizado. Com regras mais objetivas e menos subjetivas, todos tem a ganhar, por saberem melhor o que pode e o que não pode ser feito.

            O ano de 2021, a bem ou mal, foi muito, muito bom. Que 2022 possa nos brindar com disputas ainda melhores. Até lá...

 

 

Parar ou não parar para trocar os pneus no Safety Car? Essa foi a questão crucial que definiu o resultado do GP de Abu Dhabi domingo passado, e todos criticam a Mercedes por não ter chamado seu piloto ao box para efetuar a troca de compostos, o que deixou Lewis Hamilton totalmente vulnerável na relargada da volta final com seus pneus já desgastados perante um Max Verstappen com pneus macios novinhos em folha. Só que é preciso vislumbrar o panorama oposto: se Hamilton parasse, muito provavelmente Verstappen não teria parado para trocar seus pneus, pois já tinha feito isso várias voltas antes, e ali ele e a Red Bull certamente arriscariam para assumir a liderança e vencer a corrida. Mas, podem perguntar: Hamilton não teria então condições de fazer com o holandês o mesmo que este fez com ele na volta final? Talvez sim, mas talvez não. O ponto crucial é que Hamilton tinha pneus duros já extremamente desgastados, da única troca que fez, já com mais de 40 voltas de uso, enquanto Verstappen já tinha feito uma segunda troca, e seus compostos, mesmo sendo do mesmo tipo, tinham menos da metade das voltas de uso, de modo que ele, sim, poderia ter melhores condições de segurar Hamilton atrás de si do que o inglês teve. E, em caso de tentativa de ultrapassagem, Max poderia até fechar o inglês, podendo causar uma colisão, risco temerário que não era impossível de acontecer, no pior dos cenários. Ou, ao contrário do que aconteceu, a corrida poderia terminar atrás do Safety Car, e Verstappen ganharia a corrida de presente, com Hamilton tendo feito a escolha errada de ter parado no box. À luz das evidências do momento, a Mercedes não errou propriamente, enquanto a Red Bull nada tinha a perder fazendo ou não a troca àquele momento. De uma forma ou de outra, o Safety Car simplesmente ferrou com todo o esforço de Lewis Hamilton e da Mercedes na corrida inteira, mesmo se levarmos em consideração que o time alemão pudesse ter reagido como muitos dizem que deveriam ter feito. Foi injusto? Foi, mas a F-1 tem dessas mazelas, e não é de hoje. Agora, é bola pra frente, e concentrar-se no mundial de 2022...

 

 

Pietro Fittipaldi continua como piloto de testes e piloto reserva da equipe Haas em 2022. O trabalho do brasileiro tem sido elogiado pela escuderia norte-americana, que foi o pior time do grid este ano, terminando quase sempre nas últimas posições, e não conseguindo marcar nenhum ponto, como se imaginava, depois de resolver fazer desta temporada apenas uma “transição”, economizando recursos para produzir um carro mais competitivo para o próximo ano, e rendendo-se aos rublos trazidos pelo pai de Nikita Mazepin. O time, aliás, continuará com a mesma dupla de titulares, que em tese terá a chance de mostrar o que vale, ou o que não vale, ao volante de um carro teoricamente mais competitivo em 2022. Para Pietro, contudo, a opção parece revelar não ter conseguido melhores opções para competir em outras paragens, em especial na Indycar, já que o calendário inchado da F-1 inviabilizaria sua participação em escala maior no certame de monopostos dos Estados Unidos, já que tem de estar presente às provas da F-1 como piloto reserva do time de Gene Haas. Com isso, salvo surpresas inesperadas, é mais um ano sem brasileiros no grid, e com perspectivas muito limitadas a curto prazo. E também um nome de potencial a menos na Indycar, cuja presença brasileira no próximo ano ficará restrita, até o presente momento, a Hélio Castro Neves, já garantido para todas as provas.

 

 

A FIA confirmou que as novas unidades de potência a serem desenvolvidas para 2026 serão mais simples, com o descarte do MGU-H, o sistema que gerava energia a partir do calor dos escapamentos, algo que sempre foi muito caro e de uso discutível na categoria, além de completamente dispensável em carros de rua. Ao menos, um passo na direção certa para simplificar algumas coisas e baratear custos. E tentar atrair novos fornecedores também...

 

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