quarta-feira, 10 de junho de 2020

ARQUIVO PISTA & BOX – FEVEREIRO DE 1999 – 12.02.1999

            Depois de algum tempo, eis que trago novamente uma de minhas antigas colunas, e esta foi publicada no dia 12 de fevereiro de 1999, há mais de vinte anos. E o assunto, para mim, é um dos motivos cruciais que acabaram fazendo a Fórmula 1 se tornar uma categoria mais inacessível do que nunca, até os dias atuais, correndo o risco de desabar sobre si mesma, devido ao gigantismo que assumiu, onde a regra criada naquele início de 1999 viria a se tornar um verdadeiro cadafalso para novos aventureiros que quisessem competir na categoria: a instituição de um limite de participantes na competição para um máximo de 12 times e 24 pilotos. À época, eu já criticava duramente esta medida, como uma maneira de Bernie Ecclestone e Max Mosley, respectivamente os mandatários da FOA e FIA, respectivamente, de “dourar” a F-1, visto o interesse que várias montadoras tinham na época pela categoria máxima do automobilismo. Quem quisesse entrar na F-1, a partir dali, teria de comprar um dos times já existentes, ou associar-se a eles, visto que todas as vagas já estavam “ocupadas”.

            Nem é preciso dizer que o tiro saiu pela culatra. Pode até ter funcionado de início, uma vez que a Ford, BMW, Renault, Toyota, e até a Honda, resolveram investir pesado para competir na categoria. Mas os custos de competição explodiram, e não bastava apenas ter recursos para ter sucesso. E, quando a crise econômica de 2008 chegou, o estrago foi grande. A F-1 não acabou, mas ficaram as consequências, com os times tendo de manter estruturas enormes, só para conseguirem competir. A categoria ficou tão cara e complexa, que muitos grupos passaram a evitar a F-1, que não conseguia mais seduzir participantes, situação que perdura até os dias atuais, com expectativa de só melhorar a partir de 2022, com a adoção de novas regras técnicas, e com o limite orçamentário, já em vigor a partir de 2021.

            Fiquem com o texto, e boa leitura a todos...

 

24 CARROS

 

            A Federação Internacional de Automobilismo tem lançado inúmeras regras novas, na tentativa de aumentar a competitividade da Fórmula 1. É bem verdade que, teoricamente, a maior parte da intenção é boa, mas os resultados obtidos nem sempre são os pretendidos também. E uma das regras mais estúpidas que a entidade já estabeleceu nos últimos tempos é a limitação do número de participantes do campeonato de F-1. A partir de agora, somente 12 escuderias, ou 24 carros, poderão participar da categoria máxima do automobilismo.

            A lógica desta proibição de se ter mais participantes, segundo a FIA, é resguardar a imagem do esporte e da F-1, impedindo a entrada de “aventureiros” na categoria, que poderiam, na sua opinião, denegrir a imagem e o respeito da F-1. Isso até tem uma certa lógica e fundamentação, pois boa parte dos times estreantes na F-1 nos últimos 10 anos invariavelmente apresentaram resultados medíocres.

            A lista dos fracassados mais óbvios inclui equipes como a Eurobrun, Coloni, Life, Pacific, Lambo, e o maior mico, a Andrea Moda. Outros times, mais experientes e profissionais, até que mostraram um bom começo, apenas para naufragarem pouco tempo depois, caso das equipes Ônix, Scuderia Itália, Forti Corse, e Simtek.

            A lista acima não é completa, pois deixei de fora alguns outros nomes, mas ilustra a realidade de que a F-1 é mesmo uma categoria para poucos. Os gastos são exorbitantes, e o nível técnico é altíssimo, onde as chances de fracassar são infinitamente superiores às de se obter sucesso. A própria FIA uma vez declarou que, se os times não tinham condições de encarar a F-1, que disputassem a F-3000 ou a F-3, categorias de acesso que exigem bem menos investimento e estrutura técnica. Mas, se a F-1 é tão complexa e difícil, porque atrai tanta gente?

            A resposta é simples: é a categoria automobilística mais divulgada e assistida em todo o planeta. O desafio, representado pela mais avançada tecnologia disponível em carros monopostos, os melhores pilotos e as melhores escuderias (teoricamente), tudo isso sendo assistido por uma platéia televisiva que, somadas as audiências de todos os GPs, chegaram perto de 50 bilhões de pessoas em 1998 (quase 10 vezes a população de todo o planeta). Quem não quer brilhar na F-1 e ver seu time aparecer na mídia de uma maneira quase avassaladora? Muita gente quer, mas isso, como já foi dito, não é para qualquer um...

            Mas a FIA tomou a decisão mais radical: a partir de agora, não serão mais aceitos novos participantes na F-1, a menos que um dos times atuais desista de competir. Atualmente são 11 escuderias e 22 carros, mas a FIA já reservou a 12ª vaga para a nova equipe Honda que estréia no ano que vem, o que irá totalizar 24 carros. Mas, e a Toyota, que pretende seguir o exemplo da Honda e quer estrear em 2003? Isso faria o número de carros subir para 26, número que vigorava no grid da categoria até alguns anos atrás. Mas, e agora? A FIA não vai deixar a Toyota entrar na F-1, ou a fábrica japonesa terá de “comprar” um time já existente para poder competir?

            Essa limitação imposta pela FIA esconde uma atitude hipócrita e monopolista dos cartolas da F-1. Não é segredo que a categoria máxima do automobilismo mundial movimenta somas astronômicas de dinheiro. Os times da F-1, por exemplo, possuem franquias de transporte bancadas pela FOA (antiga FOCA), e recebem participações na divisão das rendas oriundas da venda dos direitos de transmissão pela TV para o mundo inteiro. Só com esta participação, estima-se que cada escuderia receba algo em torno de US$ 25 milhões, no mínimo, uma quantia considerável. E os dirigentes atuais não querem dividir esta bolada com novos participantes, pois quanto mais equipes, menor ficaria o quinhão de cada uma delas, que seria proporcionalmente menor e menos ainda do que recebem atualmente, e olha que eles acham que o que ganham nisso ainda é muito pouco.

            Esse tipo de atitude também cria outro problema grave: a supervalorização das equipes atuais. Quem quiser entrar na F-1 só terá esta opção: adquirir um time já existente. Foi o que aconteceu com a Tyrrel, que foi adquirida pelo novo grupo British American Racing para criar a estreante equipe BAR. Isso deve inflacionar de maneira explosiva o valor das escuderias. Já os donos destas equipes, cujos egos já são enormes, irão com certeza para o espaço, certos de que agora têm um poder extraordinário de negociação em suas mãos, para quem quiser entrar na F-1. Mal, muito mal, especialmente para a imagem do esporte a motor.

            Só espero que a FIA crie vergonha na cara e revogue esta regra absurda e arbitrária, na minha opinião. Por mim, seria bom mesmo limitar o número de participantes na F-1, mas estipulando um limite de pelo menos 15 escuderias, com 30 carros. Para um grid de no máximo 26 participantes por prova, teríamos 4 excluídos em cada classificação. E sem mudar os critérios de classificação para as corridas, poderíamos ter ainda mais competição, porque ninguém iria querer falhar de se classificar para uma prova. E de uma maneira saudável, e sem politicagens...

Escrever sobre automobilismo às vezes nos prega algumas peças. Em outras ocasiões, somos pegos totalmente desprevenidos por um furo no meio, ou algo completamente inesperado. Foi o que aconteceu semana passada. Depois de fechar a coluna, como faço tradicionalmente, chegou às minhas mãos a notícia de que André Ribeiro estava abandonando a carreira de piloto. Lamento a informação que havia posto na coluna, dizendo que a situação estava indefinida. Mas lamento ainda mais por André ter dito adeus à vida de piloto. Depois de todas as agruras que ele sofreu em sua carreira, eu tinha esperanças de que ele finalmente pudesse mostrar todo o seu talento com um equipamento à altura que lhe permitisse disputar o título na F-CART, ainda mais que a Penske é o maior time da categoria, e uma hora o azar do time deveria terminar, e André voltar a vencer corridas. De qualquer forma, desejo a ele boa sorte em seus novos planos de vida, mas a torcida, em boa parte, vai ficar com saudade.

O novo chassi MP4/14 da McLaren, apresentado em Barcelona na última segunda-feira, ainda não deu mostras de elevada competitividade, como muita gente vinha esperando. Mas a forma do MP4/13B nos testes até aqui está sendo tão boa que o time já estaria cogitando disputar as primeiras corridas do ano com o carro do ano passado, que até agora está se mostrando mais veloz do que os carros de 99.

Já voltaram a correr boatos de que Goodyear deverá levar nova surra da Firestone na F-CART. No Spring Training, em Homestead, só Gil de Ferran, da turma da Goodyear, andou na frente, entre os primeiros colocados, que eram todos equipados com os pneus da Firestone. Se a fábrica norte-americana não conseguir reequilibrar a situação até o início do campeonato, sua reputação vai ficar muito ruim. Todos os times abastecidos pela Goodyear ano passado não pouparam críticas em relação aos pneus, que tirou as chances de competir a sério de vários pilotos, por causa da performance superior dos Firestone. A Goodyear só conseguiu manter seus times porque, com sua saída da F-1, prometeu empenho total no desenvolvimento dos pneus para esta temporada na F-CART. Pelo jeito, a coisa não parece ter começado muito bem...

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