quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

ESPECIAL – FORMULA-E 2025/2026

            E chegou a hora de mais um campeonato da Formula-E, a categoria de carros monopostos totalmente elétricos, que chega para sua 12ª temporada, lembrando que muitos apostavam que seria um campeonato passageiro, mas que vai evoluindo lenta e gradativamente cada vez mais, entrando no segundo ano do modelo Gen3EVO, e já começando a desbravar o futuro com o prometido modelo Gen4, que será utilizado na próxima temporada, no ano que vem... Mas, até lá, ainda teremos muita competição, disputas, e emoções com a temporada 2025/2026, que começa neste fim de semana, aqui mesmo em São Paulo, e claro que, para deixar todo mundo inteirado o máximo possível do que poderemos esperar da nova temporada, eis uma matéria bem completa a respeito da competição, com as expectativas dos duelos, de como cada time está, e do que esperar dos pilotos brasileiros na nova temporada. Uma boa leitura a todos...

FORMULA-E 2025/2026

 

Nova e maior temporada dos carros monopostos elétricos promete muita competitividade e disputas na pista, prometendo manter o bom momento do novo modelo Gen3EVO antes da chegada da nova era Gen4

 

Adriano de Avance Moreno

São Paulo abre novamente a temporada da F-E, e a corrida paulistana sempre vem recheada de fortes emoções e disputas.

 

         A Formula-E prepara-se para voltar a acelerar fundo, e o Brasil, com o ePrix de São Paulo, mais uma vez abre a nova temporada da competição dos carros monopostos 100% elétricos, prometendo muitas disputas e equilíbrio em sua 12ª temporada de existência, que será a maior da categoria até hoje, com nada menos que 17 corridas, com várias delas sendo rodadas duplas, característica que já ficou comum no certame.

         O Brasil abre a competição com o circuito montado junto ao Sambódromo do Anhembi, e as corridas por aqui tem se mostrado bem agitadas, com muitas disputas na pista, e resultados às vezes sendo definidos praticamente na reta de chegada. Depois, a parada seguinte é a Cidade do México, com o traçado montado dentro do Autódromo Hermanos Rodriguez. O mês de janeiro fecha com o ePrix de Miami, em uma nova pista urbana na cidade, em substituição ao traçado usado no complexo de Homestead no ano passado, e que não agradou muito nem a times e pilotos, e menos ainda aos torcedores.

         A parada seguinte é na Arábia Saudita, onde desde a temporada passada a F-E passou a usar a pista de Jeddah, numa versão alternativa à utilizada pela F-1, com muito mais possibilidades de disputas potenciais do que o traçado usado anteriormente em Diriyah, nos subúrbios de Riad, que já estava ficando defasada com a evolução dos carros da competição. Em março, a única prova marcada é o novo ePrix de Madri, que será realizado no circuito de Jarama, que já recebeu testes de pré-temporada da competição, e faz a Espanha entrar no calendário da F-E, enfim. Depois temos uma pausa de mais de um mês, até maio, quando a competição volta a ficar intensa, com duas rodadas duplas, primeiro em Berlim, no antigo aeroporto de Tempelhoff, e depois vamos para a etapa de Mônaco, de novo em rodada dupla. No mês de junho, a F-E vai para o Extremo Oriente, com o retorno de Sanya ao calendário da competição, embora ainda não tenha sido divulgado se será o mesmo traçado do circuito que já sediou a competição antes. A China, aliás, é o país com maior número de provas da categoria neste 12º campeonato, pois terá também a rodada dupla em Shanghai.

Atual campeão da competição, Oliver Rowland inicia busca pelo bicampeonato com a Nissan, mas os rivais tem outras idéias.

         O mês de julho é composto apenas de rodadas duplas, começando por Shanghai, na China, e depois passando pelo Japão, cuja prova foi realocada de março para julho, em pleno verão em Tóquio, na pista montada em Ariake, zona sul da metrópole japonesa. A logística foi otimizada, com o transporte da competição seguindo primeiro para Sanya, e depois para Shanghai, e posteriormente ao Japão, ali ao lado, antes do retorno à Europa para o encerramento da competição.

         O Excel Arena, em Londres, fecha novamente a temporada, agora no mês de agosto, em que pese terem debatido a necessidade de mudança para um novo local, a fim de aproveitar o potencial dos carros da F-E, que deverão ficar ainda mais rápidos com os modelos Gen4. Provavelmente será a despedida do Excel Arena, que ainda comporta, mesmo com seus limites, os atuais carros Gen3EVO do certame, em sua segunda e última temporada de utilização.

O ePrix de Sanya volta ao calendário da F-E.

         E, mais uma vez, as perspectivas é de uma temporada com muitas disputas em potencial, com vários times podendo pintar entre os capazes de vencer, e oferecer um a briga embolada pelo título, potencialmente falando. O balanço da pré-temporada da Fórmula-E 2025/2026 sugere uma disputa extremamente acirrada, com a Jaguar, Mahindra, Porsche e Nissan despontando como as equipes mais rápidas, mas com todo o grid muito próximo. Os testes no Circuito Ricardo Tormo, em Valência, indicaram que a 12ª temporada tem tudo para ser a mais competitiva até agora, com o campo de 20 pilotos separados por menos de um segundo na classificação geral. Entre os destaques, vimos a Mahindra, com Edoardo Mortara e Nyck de Vries, que impressionou ao registrar o melhor tempo geral do teste (1min21s493 de Mortara), mostrando um ritmo forte tanto em voltas rápidas quanto em simulações de corrida. A Nissan, atual campeã, também se destacou, com o campeão Oliver Rowland e Norman Nato consistentemente entre os primeiros colocados, apenas milésimos de segundo atrás dos pilotos da Mahindra.

         Mas outros pilotos e times também andaram fortes e próximos: A DS Penske (com Taylor Barnard e Maximilian Günther) e as equipes clientes e de fábrica da Porsche (Andretti e Porsche AG, respectivamente) mostraram um ritmo muito promissor, frequentemente ocupando posições de destaque nas sessões de treinos. A Jaguar, equipe de fábrica de Mitch Evans e António Félix da Costa, é sempre um competidor a ser observado, apesar de tempos de volta menos expressivos nos testes. Mas a característica mais notável foi o equilíbrio geral. Todos os 20 pilotos estiveram dentro de 0,825 segundos do melhor tempo, indicando que as margens de erro serão mínimas durante a temporada. Isso sugere que o desempenho no dia da corrida, a gestão de energia e a estratégia serão mais do que nunca cruciais para o sucesso, ou o fracasso, mostrando como erros poderão custar caro nas disputas e estratégias de corrida.

Depois de uma temporada irregular no último campeonato, a Jaguar quer voltar a mostrar favoritismo na luta pelo título do campeonato.

         Mas, apesar de tudo, sempre tem aquele lance de a pré-temporada não corresponder totalmente ao que veremos na pista. A máxima de “teste é teste, e corrida é corrida”, continua mais válida do que nunca, e há um detalhe crucial para apontarmos que podem surgir novidades já na primeira corrida, aqui em São Paulo: os testes foram feitos em um circuito permanente, Valência, enquanto a pista que abre a temporada é um circuito de rua, com suas próprias particularidades, de modo que o desempenho pode variar, para melhor, ou pior. Os carros estão mais rápidos, mesmo com a manutenção do atual regulamento técnico na última temporada do modelo Gen3EVO, cujos tempos na pista espanhola foram quase 3s mais rápidos que a última sessão de pré-temporada realizada por lá, há dois anos (a pré-temporada do ano passado foi feita em Jarama), mostrando como os carros evoluíram, em que pese também os novos compostos da Hankook adotados na temporada passada, que revitalizaram o Modo Ataque e promoveram mais disputas com o uso do recurso.

         Por isso mesmo, o citado equilíbrio obtido nos testes é altamente instigador, mas será preciso começar a competição para vermos quem de fato andou a fundo, quem escondeu o jogo, e quem pode ter apenas impressionado nos testes e que não será tão vistoso assim quando a briga começar de fato. Mas não deixa de ser um indicador mais do que positivo de que a Formula-E, ao contrário de outras categorias, continua a se notabilizar por ser muito mais imprevisível e disputada do que outros certames.

         E quando falamos da disputa, não há como ignorar a posição do atual campeão da competição, o inglês Oliver Rowland, que é o piloto a ser batido, e claro, o time da Nissan, em que pese isso ser mais relativo a Rowland do que à escuderia nipônica propriamente dita. A Nissan está em uma posição de força para a nova temporada 2025/2026, vindo de um título de pilotos conquistado, mas também por ter apresentado um desempenho impressionante nos testes de pré-temporada. O forte resultado de Rowland no último campeonato, com a conquista do título, e com a manutenção dos carros e trens de força atuais por mais um campeonato, indica que a relação de forças deve se manter, e neste contexto, a Nissan é obviamente uma das principais candidatas ao título coletivo, após a forte performance de Oliver Rowland na temporada anterior, onde ficou em terceiro lugar no campeonato de equipes. Nos testes da pré-temporada em Valência, a Nissan demonstrou um ritmo excelente. O campeão Oliver Rowland e seu companheiro Norman Nato foram consistentemente rápidos, com ambos os pilotos liderando sessões no último dia e terminando entre os quatro primeiros na classificação geral dos testes, separados por menos de um centésimo de segundo do melhor tempo absoluto obtido no cômputo geral dos testes.

A Nissan manteve a dupla de pilotos para o novo campeonato, apesar dos maus resultados de Norman Nato na última temporada.

        A equipe manteve sua dupla de pilotos, apesar dos resultados decepcionantes de Norman Nato, que raras vezes teve um desempenho próximo ao de Rowland na pista, e não promovendo Sergio Sette Câmara a titular, apesar dos indícios mais promissores do brasileiro em relação a Nato. Ao manter a dupla de pilotos inalterada, o time certamente preferiu proporcionar estabilidade e o conhecimento do carro e do powertrain japonês. O principal foco do time nos testes foi em simulações de corrida e validação das configurações do equipamento, o que indica uma preparação meticulosa para a longa temporada que se inicia.   Vale lembrar que a Nissan foi a primeira fabricante a assinar o compromisso de permanência para a era dos novos carros Gen4, que se estenderá de 2027 até 2030, numa clara intenção de reforçar o seu compromisso com a categoria e o desenvolvimento contínuo de sua tecnologia de veículos elétricos. Na pista, é óbvio que Oliver Rowland é favorito ao bicampeonato, mas não estará sozinho na briga, como vimos na temporada passada, onde o inglês conquistou o título de pilotos de forma dominante, garantindo o campeonato com duas corridas de antecedência, graças aos sete pódios e quatro vitórias obtidas. A consistência e a velocidade demonstradas pelo piloto o colocam no topo da lista de favoritos para defender o título.

         No entanto, o próprio Rowland procurou minimizar o seu favoritismo nos testes de pré-temporada, apontando a concorrência como muito forte. Com o grid tão equilibrado como os testes parecem indicar, a defesa do título tem tudo para ser um desafio ainda mais duro e renhido do que o visto na temporada passada. A concorrência vem forte, com Jaguar, Mahindra, DS Penske e Porsche prometendo vir com tudo, de modo que a disputa deverá ser intensa, mas a Nissan e Rowland certamente têm a experiência e o ritmo para lutar por mais um título mundial, com o objetivo de Rowland repetir o feito de Jean-Éric Vergne, até hoje o único piloto a conquistar mais de um campeonato. Só que a Nissan tem um desafio pela frente: manter a constância de performance, algo que oscilou muito na temporada passada, mas próximo ao fim da competição, quando o título já estava praticamente encaminhado, diante da larga vantagem aberta por Oliver na primeira metade do campeonato, onde teve atuações impecáveis, enquanto a concorrência se enrolava consigo mesma. Se os rivais vierem mais fortes, a Nissan não pode se dar ao luxo de sofrer estas instabilidades, pois corre o risco de comprometer as chances do atual campeão.

         Por isso mesmo, a parada de Rowland rumo a um segundo título precisa combinar a solução desse percalço vivido pela Nissan, e claro, torcer contra a concorrência, e tem muita gente mordida para discordar de oferecer outro campeonato de mão beijada para o piloto inglês nas proporções do que ocorreu na temporada passada. E os desafiantes fazem fila e preparam suas armas para tentar lavar a honra maculada na pista no último certame...

A Porsche quer voltar a brigar firme pelo título, depois de ficar a ver navios no último campeonato, apesar do título de fabricantes conquistado.

         A Porsche, por exemplo, entra na temporada 2025/2026 como a atual campeã de equipes e fabricantes, mostrando que mantém uma grande força, e em tese, a coloca entre as favoritas ao título. Só que a temporada passada mostrou o time alemão batendo cabeça, sem ter conseguido oferecer a resistência necessária para conseguir discutir o campeonato de pilotos a fundo. Para a nova temporada, a equipe enfrenta novos desafios com mudanças em sua dupla titular de pilotos, além de ver uma concorrência extremamente forte, talvez até mais do que a vista no último campeonato. A equipe manteve Pascal Wehrlein, mas preferiu dispensar o português Antonio Felix da Costa, que foi substituído pelo suíço Nico Müller, que veio da equipe cliente Andretti. Confirmando o movimento que já se previa quando Nico deixou a ABT para ir para o time cliente da marca alemã. É bem verdade,  contudo, que Muller não fez a temporada que se esperava, mas com o clima no time de fábrica ficando conturbado com Da Costa, que já estava se estranhando com Wehrlein, com os dois chegando a se tocar na pista, fora outras exigências que o português queria negociar, não foi possível manter a dupla. Em tese, a nova configuração titular da Porsche é potencialmente forte, mas que precisará de tempo para se ajustar completamente e mostrar do que é capaz, e de como Wehrlein e Muller irão se entender se acabarem dividindo curvas nas pistas. O ponto positivo é que Wehrlein elogiou o novo companheiro de time, evidenciando o clima belicoso que havia se instaurado na escuderia com Da Costa, e que provavelmente haverá um clima mais harmonioso no time. Resta saber até quando isso durará, mas de início, Pascal quer mostrar quem dará as cartas na escuderia...

         Nos testes de Valência, a Porsche teve um desempenho sólido. Wehrlein liderou o primeiro dia de testes, e Nico Muller também se mostrou rápido, terminando consistentemente entre os primeiros em diferentes sessões. A equipe relatou conclusões positivas, indicando que o carro é confiável e competitivo. No grid, a marca alemã é a mais presente, já que a Porsche fornece seu powertrain para a Andretti (que terá Jake Dennis e o brasileiro Felipe Drugovich) além da Cupra Kiro. A Andretti utilizará a especificação mais recente do carro, o que amplia a presença da tecnologia Porsche no grid, potencializando a coleta de dados. A Kiro continuará usando a especificação anterior do trem de força alemão, com o qual chegou até a vencer uma corrida na última temporada. Teoricamente, mesmo não tendo conseguido disputar a fundo o título de pilotos no campeonato passado, a Porsche está confiante em seu pacote técnico, mesmo que a concorrência da Nissan e Jaguar possa ser ainda mais intensa nesta nova temporada, confiando na estabilidade do regulamento técnico do carro para favorecer a equipe, que já domina a tecnologia. Contudo, tal panorama também era visível na pré-temporada anterior, o que levava a crer que o time alemão iria ser um dos mais fortes do grid, o que não se confirmou de fato. Será que a história será diferente agora?

         A Jaguar entra na nova temporada da Fórmula-E como uma das favoritas ao título, impulsionada por uma forte campanha anterior, e agora reforçada por uma das duplas de pilotos mais experientes e vencedoras do grid e uma nova liderança, com a saída de James Barclay, sendo substituído por Ian James, que tem no currículo a posição de líder da equipe Mercedes, e da McLaren. Mith Evans foi vice-campeão da temporada retrasada, e agora tem como companheiro de equipe o português Antonio Felix da Costa, campeão da 6ª temporada, configurando uma das duplas mais vitoriosas do grid, somando mais de 270 largadas e 26 vitórias na categoria. A integração de Da Costa foi descrita como "promissora" nos testes de Valência, com o piloto português sentindo-se rapidamente "em casa" no carro, especialmente depois de três anos conturbados na equipe oficial da Porsche. O carro do time demonstrou um potencial imenso no final da temporada anterior, conquistando cinco vitórias nas últimas seis corridas. A equipe confia na estabilidade do pacote técnico para manter sua vantagem competitiva.

Edoardo Mortara fez o melhor tempo da pré-temporada em Valência, mostrando que a Mahindra evoluiu bastante, e quer voltar a vencer na competição.

         Embora os tempos de volta obtidos pela Jaguar nos testes de Valência não tenham sido os mais rápidos, a escuderia completou um programa de testes produtivo e focado, indicando que seu foco estava na preparação para a corrida e gestão de energia, em vez de apenas buscar a volta mais rápida, sendo que a equipe mostrou um bom ritmo de corrida. No cômputo geral a Jaguar possui todos os ingredientes para ser uma das principais candidatas aos títulos de pilotos e equipes. A combinação de um carro competitivo, uma dupla de pilotos de calibre de campeonato e uma gestão experiente posiciona a equipe de forma excelente para a temporada, apesar da concorrência acirrada que se desenha. O problema é que esse também era o panorama no início da temporada passada, mas que, depois da vitória espetacular de Mith Evans em São Paulo, o time desandou pelo restante da competição, recuperando sua forma apenas na parte final da temporada, sem conseguir entrar na luta pelo título, embora tenha recuperado o moral com as vitórias nas provas finais. O cuidado agora é evitar de repetir o mesmo panorama, e manter a constância e os resultados para efetivamente lutar pelo título. Em termos de dupla, Mith Evans e Antonio Felix da Costa se dão muito bem fora da pista, e devem concentrar esforços em recuperar a força da Jaguar dentro da pista, com ambos os pilotos tendo motivos mais do que válidos para ir à forra contra os rivais, procurando reafirmarem suas próprias forças.

         A Mahindra, por sua vez, surpreendeu na pré-temporada com os melhores tempos apresentados em Valência, o que a coloca em uma posição interessante. No entanto, é cedo para considerar o time indiano como favorito inquestionável, pois ainda existe a dúvida se o desempenho dos testes foi efetivamente real ou apenas momentâneo. Edoardo Mortara registrou o melhor tempo absoluto dos testes de pré-temporada, com a marca de 1min21s493, e a equipe consistentemente figurou no topo das tabelas de classificação e mesmo de ritmo de corrida. Isso demonstra pelo menos que o carro tem velocidade pura. A Mahindra é uma das poucas equipes que desenvolve seu próprio powertrain, e o desempenho indica que eles fizeram progressos significativos em sua unidade de potência e software durante o período da intertemporada. A Mahindra já tinha dado sinais de recuperar sua competitividade na temporada passada, depois de dois anos medíocres de resultados quando seu trem de força foi um dos mais fracos do grid, e enfrentando diversos problemas de confiabilidade e de gestão de energia. Foi preciso uma reestruturação interna e um forte trabalho de desenvolvimento do equipamento para recuperar-se daquele momento ruim que a marca viveu. Claro que um salto tão grande de desempenho sempre levanta a questão se a equipe resolveu de fato todos os seus problemas de base, mas parece que a escuderia conseguiu de fato voltar para brigar pela metade de frente do grid. Os cinco pódios obtidos no último campeonato, onde até flertou com a vitória novamente é um indicativo de que o trabalho é confiável, e tem tudo para melhorar neste novo campeonato.

Usando o poderoso trem de força da Porsche, a Andretti quer voltar ao topo, e confia em seu principal piloto, Jake Dennis, que já foi campeão da F-E, e no talento do brasileiro Felipe Drugovich.

         Testes de pré-temporada nem sempre refletem o desempenho real em condições de corrida, especialmente em circuitos de rua onde a Fórmula-E compete, onde a gestão de energia e a confiabilidade são primordiais. Equipes podem ter focado em voltas rápidas com configurações específicas que não se traduzem em consistência de corrida. E Valência é um circuito permanente, com condições e particularidades diferentes dos circuitos urbanos. Mesmo assim, com todas as ressalvas, a Mahindra é, sem dúvida, a grande surpresa da pré-temporada e deve ser considerada uma força a ser observada no início do campeonato. Eles têm o potencial para lutar por pódios e talvez, até por vitórias. Resta saber se a equipe conseguirá demonstrar consistência e confiabilidade necessárias para de fato brigar pelo título da competição. Mas o prognóstico é de que a Mahindra poderá fazer a sua melhor temporada em épocas recentes, ajudando a embolar a disputa pelas primeiras posições nas corridas. Já houve alguns campeonatos onde o time indiano até se insinuou na disputa pelo título inicialmente, mas ia perdendo fôlego conforme a temporada avançava. Como será que isso se dará agora? Nyck de Vries, que já foi campeão da F-E, ainda busca sua reafirmação depois do sonho frustrado da F-1, e Edoardo Mortara, depois de duas temporadas pífias com a Maserati, quer voltar a disputar o título como fez na época da Venturi, então ambos estão mais do que empenhados em voltar a brigar por pódios e vitórias.

         Um novo panorama no grid é a entrada mais firme da Stellantis na competição. Até a última temporada, o grupo mantinha duas marcas no grid, a DS e a Maserati, mas ambas com equipes clientes. A DS Penske mantém-se como time cliente, mas com a Maserati, a Stellantis assumiu a propriedade da escuderia, que era a antiga Venturi, e nos últimos anos, apenas competiu sobre o nome Maserati. Mas as dificuldades financeiras da escuderia promoveram sua absorção pelo grupo Stellantis, que renomeou o time com o nome de Citroen, uma de suas mais proeminentes marcas no mundo do automobilismo, garantindo assim a permanência do time na competição.

         A DS Penske entra na nova temporada com a ambição de ser uma das líderes do campeonato. A equipe contratou Taylor Barnard para ser o parceiro de Maximilian Gunther. Barnard foi a revelação da temporada anterior, tornando-se o piloto mais jovem a pontuar, subir ao pódio e conquistar uma pole position na história da categoria. A expectativa é que essa combinação de experiência de Gunther e o talento jovem e agressivo de Barnard forme uma das duplas mais fortes do grid. A escuderia também trabalhou arduamente no desenvolvimento do software e do carro durante a intertemporada. Com um pacote técnico já sólido no ano anterior, embora sem conseguir desafiar o favoritismo de Nissan e Porsche, e depois, até da Jaguar, o objetivo é garantir mais pódios e quem sabe, vitórias e lutar consistentemente na frente, capitalizando a estabilidade do regulamento do Gen3 Evo.

Berlim (acima) e Jeddah (abaixo) seguem firmes no calendário da F-E, e continuam com rodadas duplas.


         Como mencionado, a nova Citroen Racing substituiu a Maserati como a segunda marca da Stellantis na Fórmula E, herdando a estrutura da equipe MSG (ex-Venturi). O grande trunfo do time é sua dupla de pilotos, com o bicampeão Jean-Éric Vergne, e Nick Cassidy, um dos pilotos mais consistentes e promissores da categoria nas últimas temporadas. A experiência combinada e a qualidade inquestionável desses dois pilotos criam expectativas imediatas de briga por vitórias e pelo título, mesmo sendo o ano de estreia da marca. A equipe técnica, que já vinha evoluindo o carro na temporada anterior sob a bandeira da Maserati, agora se beneficia de um realinhamento estratégico dos interesses da a Stellantis Motorsport no seu projeto de eletrificação elétrica, agora com foco no projeto da nova equipe Citroen. A sinergia entre as equipes da Stellantis e o desenvolvimento contínuo no centro de esporte a motor do grupo sugerem que o carro será competitivo desde a primeira corrida. Resta esperar para vermos como se sairá no confronto com os demais times do grid.

         De forma geral, a percepção é extremamente positiva para ambas as equipes do grupo Stellantis. A DS Penske aposta na evolução orgânica e em uma dupla de pilotos empolgante, enquanto a nova Citroen entra com uma das formações de pilotos mais temidas do grid. Ambas têm as ferramentas para melhorar significativamente seu desempenho em relação ao último campeonato e se estabelecerem como sérias candidatas aos títulos. Mesmo assim, como todo time novo, mesmo sendo uma “continuação” do antigo, espera-se que a Citroen possa demorar um pouco para engrenar em seu primeiro ano de competição, apesar de contar com uma das melhores duplas de pilotos do grid. Precisaremos ver como eles se comportarão na pista e nos boxes, e se pelo menos manterão o nível da antiga Maserati. Ter os recursos é importante, mas saber usá-los é ainda mais. Veremos quem fará melhor uso dos recursos do powertrain da Stellantis sob as novas marcas na competição.

         A reformulada equipe Kiro mostrou a que veio na última temporada, deixando de vez o fundo do grid, e chegando até a vencer uma corrida. E, para a nova temporada, as perspectivas são potencialmente melhores, com a equipe demonstrando um renascimento de performance graças ao powertrain da Porsche, mesmo de especificação antiga em relação ao time oficial da marca, e ao powertrain utilizado pela Andretti. A mudança na linha de pilotos reflete a busca por um desempenho mais consistente e o desenvolvimento do talento jovem. A transição para o powertrain Porsche, abandonando seu próprio powertrain que não vinha demonstrando competitividade, foi um impulso enorme para a equipe, que superou as expectativas, conquistando um pódio com Dan Ticktum, em uma das corridas de Tóquio, além de marcar pontos importantes para a Porsche como fabricante. O chefe da equipe, Alex Hui, notou que o carro era, em algumas ocasiões, tão competitivo quanto o da própria equipe de fábrica da Porsche.

A Kiro (ex-ERT) renasceu na última temporada graças ao trem de força da Porsche, e quer continuar evoluindo no próximo campeonato.

         Nos testes recentes em Valência, a Kiro mostrou um ritmo encorajador. Dan Ticktum e o novato Pepe Martí completaram um grande número de voltas e registraram tempos competitivos, com Martí sendo o novato mais rápido nos testes. David Beckman, acabou dispensado, tendo seu lugar ocupado por Martí, uma mudança mais relacionada à estratégia de desenvolvimento de jovens talentos e parcerias visando o futuro a escuderia. Com a manutenção de Dan Ticktum e a chegada do talentoso Martí, a equipe espera construir boas perspectivas sobre a base sólida do ano anterior. O objetivo é lutar consistentemente por posições no meio do grid e capitalizar em oportunidades para pontos e pódios, e quem sabe, novas vitórias.

         Enquanto isso, para a Envision, que ficou apenas na 8ª colocação entre as equipes na última temporada, as perspectivas na nova temporada são de melhora gradual, embora ainda não se possa afirmar que o time consiga retomar a excelente forma apresentada dois anos atrás, quando disputou o título de pilotos. A equipe busca recuperar a competitividade após uma temporada 2024/2025 decepcionante, onde o único ponto positivo foi a vitória de Sébastien Buemi em uma das corridas da rodada dupla de Mônaco, e nada mais. De positivo temos o fato da escuderia continuar a usar o powertrain da Jaguar, que se provou o mais rápido do final da temporada anterior, vencendo cinco das últimas seis corridas com a equipe de fábrica, o que pelo menos fornece uma base técnica potencialmente sólida e competitiva. Mesmo assim, a Envision teve um desempenho muito abaixo do esperado no último campeonato, terminando a temporada em posições modestas no campeonato de equipes. O diretor da equipe, Sylvain Filippi, atribuiu a queda de desempenho a vários fatores, incluindo a saída de Nick Cassidy e dificuldades de adaptação dos pilotos Sébastien Buemi e Robin Frijns ao estilo de pilotagem exigido pelo carro.

         Para a nova temporada, a equipe dispensou Robin Frijns e trouxe o sueco Joel Eriksson como novo parceiro para Sébastien Buemi. Eriksson, que era piloto de testes e reserva da Jaguar, impressionou a equipe em participações pontuais e durante os testes de pré-temporada, mostrando rápida adaptação ao carro. A expectativa é que essa nova formação traga um novo ímpeto e consistência à escuderia, com os testes em Valência sendo produtivos neste aspecto. Buemi registrou o nono melhor tempo geral, a menos de 0,2s do líder, e Eriksson ficou a menos de um segundo do topo, demonstrando que o ritmo de base do carro é bom e que a equipe está no caminho certo para ser competitiva.

         Porém, apesar da Envision ter potencial para recuperar a excelente forma perdida, uma vez que pois possui um dos melhores powertrains do grid e uma dupla de pilotos capaz, a concorrência está extremamente acirrada, com Mahindra, Nissan, Porsche e as equipes da Stellantis muito fortes, de modo que o objetivo mais realista para a Envision nesta próxima temporada é lutar consistentemente por pódios e, quem sabe, vitórias, com a esperança de se restabelecer mais uma vez como uma das principais equipes. Lutar pelo título, por enquanto, parece uma meta bem mais ambiciosa, e o time parece preferir dar um passo de cada vez.

A Lola Yamaha ABT teve uma temporada de estréia difícil, mas quer evoluir em seu segundo ano de competição, já mirando a nova era dos carros Gen4.

         Outra escuderia que também quer recuperar o brilho perdido é a Andretti, que há dois anos foi campeã com Jake Dennis, no que foi o primeiro título do powertrain da Porsche na F-E, e com um time cliente, não com o time de fábrica. O time americano trabalhou duro para se reestruturar de modo a voltar a ser um forte candidato neste próximo campeonato. O principal ponto positivo é ainda contar com o powertrain da Porsche. Mesmo tendo perdido o campeonato de pilotos, a equipe de fábrica da Porsche venceu o campeonato de equipes e fabricantes na última temporada, provando que seu conjunto ainda é o mais competitivo do grid, e a Andretti, como cliente próxima, se beneficia diretamente dessa tecnologia de ponta desenvolvida pela marca alemã. Além disso, a equipe conta com Jake Dennis, campeão mundial da 9ª temporada, que é um dos pilotos mais rápidos e consistentes da categoria. Ele é capaz de extrair o máximo do carro e lutar por vitórias em qualquer etapa. Diante dos resultados aquém da expectativa obtidos por Nico Muller, o time resolveu ir atrás de um novo parceiro para Dennis, e a contratação do brasileiro Felipe Drugovich tem o objetivo de trazer um novo impulso e talento. O desempenho de Drugovich na pré-temporada foi promissor, e a expectativa é que ele evolua rapidamente para se tornar um piloto pontuador regular, desafiando a concorrência e ajudando a equipe no campeonato de construtores.

         Nos testes de pré-temporada em Valência, a Andretti teve um desempenho sólido. Dennis e Drugovich completaram muitas voltas e demonstraram um ritmo competitivo, indicando que o pacote é confiável e rápido. Sob a liderança de Roger Griffiths, a equipe tem uma estrutura de gestão experiente e focada em resultados. A sinergia entre a equipe e a Porsche Motorsport tem se aprofundado a cada ano, e embora os resultados dos dois últimos certames não tenham sido os esperados, o potencial segue inalterado, basta que a equipe saiba trabalhar melhor com o equipamento que tem em mãos. Mesmo que a concorrência de equipes como Nissan, Porsche, Mahindra e Jaguar seja intensa, a Andretti tem todos os ingredientes para voltar a ser uma protagonista na luta pelo título. A combinação de um powertrain campeão, um piloto de elite como Jake Dennis e o potencial do novato Felipe Drugovich a posiciona como uma das favoritas ao topo da tabela.

         Equipe também reformulada que ficou na lanterna na última temporada, a Lola Yamaha ABT entra em sua segunda temporada com perspectivas de crescimento e consolidação, visando sair da parte de trás para pelo menos se situar no meio do pelotão e lutar por pontos de forma mais consistente, após um ano de estreia desafiador, mas com alguns pontos positivos. A temporada de estreia da equipe, resultado da parceria entre a fabricante britânica Lola, a Yamaha como fornecedora de powertrains, e a equipe de corrida ABT, foi uma curva de aprendizado acentuada, e com alguns trancos e barrancos diante do noviciado do equipamento. Como esperado para um novo fabricante entrando em um campeonato tão competitivo, a equipe de fato enfrentou desafios com o ritmo geral e a consistência e fiabilidade. O ponto alto de destaque foi um surpreendente segundo lugar conquistado pelo veterano brasileiro Lucas di Grassi no E-Prix de Miami, logo na quinta corrida da equipe, em um resultado onde o brasileiro, apesar de ter andado bem, se beneficiou da punição de alguns pilotos que terminaram à sua frente, e não tinham conseguido usar adequadamente a última ativação do Modo Ataque, em uma performance que não se repetiu no restante da temporada. Ao todo, a equipe marcou 32 pontos e teve quatro chegadas na zona de pontuação, enquanto nas demais provas a falta de competitividade foi patente, impossibilitando seus pilotos de obterem melhores resultados.

         Para o novo campeonato, a equipe aposta na estabilidade e no aprendizado com base na experiência do primeiro ano, por isso, a escuderia optou por manter a mesma dupla de pilotos: Lucas di Grassi, o piloto com mais largadas na história da categoria, e Zane Maloney, que mostrou grande potencial em sua temporada de estreia como novato. A equipe acredita que essa combinação de experiência e juventude, com feedback inestimável, é crucial para o desenvolvimento do carro, percepção compartilhada pelo diretor de automobilismo da Lola Cars, Mark Preston, que indicou que a equipe trabalhou extremamente dedicada durante o verão europeu, adicionando reforços para garantir que a segunda temporada seja melhor. O objetivo é aplicar os aprendizados do primeiro ano para melhorar a competitividade neste segundo ano de competição.

         Embora a equipe tenha ambições elevadas a longo prazo, tendo inclusive já se comprometido com a era dos carros Gen4 até 2030, os objetivos imediatos ainda são modestos, focados em evoluir o carro e lutar por mais consistência, de forma a brigar por pontos de forma regular, em vez de vitórias imediatas. A colaboração técnica com a Yamaha no desenvolvimento do powertrain continua a todo vapor, já começando o projeto para o novo trem de força que será implantado junto com os carros Gen4. Enquanto isso, com o segundo ano de homologação do carro Gen3 EVO, a equipe espera extrair mais desempenho do pacote existente, que já se mostrou promissor em algumas ocasiões. Em resumo, a Lola Yamaha ABT está otimista, mas com os pés no chão, evitando prometer vôos mais ousados. A expectativa é de um progresso constante, mirando o meio do grid e aproveitando a experiência de sua dupla de pilotos para capitalizar em oportunidades de pontos.

         A temporada 2025/2026 da Fórmula E apresenta alguns rostos novos e retornos notáveis, com destaque para a chegada de jovens talentos e um piloto brasileiro: Felipe Drugovich, na equipe Andretti, onde o campeão da Fórmula 2 de 2022 e agora ex-piloto reserva da Aston Martin na Fórmula 1 fará sua estreia em tempo integral na Fórmula E. Joel Eriksson, agora como titular na Envision, se junta definitivamente ao grid após algumas participações esporádicas em temporadas anteriores. O único estreante de fato será o espanhol Josep Maria "Pepe" Martí, na equipe Cupra Kiro. O espanhol, que competiu na Fórmula 2 e participou de testes de novatos, foi promovido para uma vaga de piloto titular na equipe Cupra Kiro, substituindo David Beckman na escuderia, após uma temporada de estréia muito abaixo do esperado, sem apresentar resultados visíveis mesmo com um carro razoavelmente competitivo.

         A temporada 2025/2026 da Fórmula E traz alguns ajustes pontuais no regulamento esportivo e financeiro da categoria, focados em aumentar a intensidade da competição e promover a inclusão. Entre as principais novidades, teremos:

- Formato de Classificação Mais Curto: As sessões de grupo na classificação foram reduzidas de 12 para 10 minutos, e o tempo de recuperação entre os duelos do mata-mata foi encurtado, visando um formato mais dinâmico e que dure cerca de uma hora. A exigência de um tempo de volta obrigatório nos primeiros minutos de cada sessão de grupo foi removida.

- Ajustes no Modo Ataque (Attack Mode): Em corridas que incluem a parada obrigatória para o uso do recurso do "Pit Boost" (carregamento rápido), os pilotos terão de ativar o Attack Mode apenas uma vez, em vez das duas habituais como foi feito no ano passado.

- O Pit Boost continuará a ser utilizado apenas em uma das provas das rodadas duplas. Nas provas de rodada simples, está mantido o formato atual, com as duas ativações do Modo Ataque, valendo também a regra para a corrida da rodada dupla sem o Pit Boost.

- Outra novidade foi a mudança na regra de obrigatoriedade de uso integral do Modo Ataque: A obrigação de completar o tempo total alocado para o Attack Mode até o final da corrida foi abolida, o que elimina penalidades para os pilotos que não conseguem usar o tempo total devido a circunstâncias alheias, como a entrada de um safety car ou bandeira vermelha no final da prova, permitindo maior flexibilidade estratégica.

- Inclusão Financeira (Teto de Gastos): Uma mudança histórica no regulamento financeiro exclui os custos com licença-maternidade e paternidade do teto de gastos das equipes. Essa medida visa apoiar os funcionários em momentos importantes de suas vidas sem comprometer o orçamento competitivo da equipe.

         Essas mudanças, aprovadas pelo Conselho Mundial de Automobilismo da FIA, buscam refinar o formato das corridas e a experiência do espectador, mantendo a imprevisibilidade e a competitividade que caracterizam a categoria. Veremos se elas cumprirão com seus objetivos, em especial as alterações no andamento das corridas.

         As perspectivas da Formula-E para a nova era Gen4, cujo visual já foi apresentado à imprensa, e com o início dos primeiros testes, é bem promissor. Além das mudanças técnicas já anunciadas que o novo modelo e os novos trens de força e sistemas de baterias trarão, o grid da categoria volta a ficar plenamente preenchido. Nos últimos anos, o certame perdeu dois times, a Techeetah, que havia sido tricampeã de pilotos, com dois títulos de Jean-Éric Vergne, e um título de Antonio Felix da Costa, que fechou as portas por problemas financeiros; e ao fim do último campeonato, a saída da McLaren, que resolveu direcionar seus recursos para competir no Mundial de Endurance a partir de 2027, de modo que nesta nova temporada que se inicia, temos apenas 20 carros no grid.

         Mas o próximo campeonato, que deverá estrear em dezembro de 2026, contará com dois novos times no grid. A Porsche, que já conta com seu time oficial, e dois times clientes, a Andretti e a Kiro, anunciou que terá um segundo time próprio na competição, e não será a única montadora neste esquema. O Grupo Stellantis, que acabou de incorporar a antiga equipe Maserati, agora renominada como Citroen, também declarou que terá mais um time na competição no próximo campeonato da era Gen4. A Stellantis tem agora um time próprio, a Citroen, e um time cliente, a Penske, usando a marca DS, e para a primeira temporada da era Gen4, a marca mais possível que poderá ser utilizada é da Opel, marca tradicional com participação no automobilismo, como a antiga F-Opel, que possivelmente também irá denominar seu novo time. Isso fará o grid da F-E contar com 12 times e 24 pilotos, o limite permitido pelo regulamento da FIA.

         Isso tornará a Porsche a marca com maior número de times na competição, com duas escuderias próprias e duas clientes, enquanto a Stellantis terá dois times próprios e um cliente, respondendo por pouco mais de metade do grid da competição. A Jaguar seguirá com seu time de fábrica e o time cliente, enquanto Mahindra, Lola Yamaha, e Nissan, se ocuparão de seus times próprios.

         Mas, enquanto a nova era Gen4 ainda não chega, a disputa está para começar, e a sorte está lançada. Quem irá sair na frente na nova temporada? Vamos acompanhar de perto esta disputa...

 

OS TIMES E PILOTOS DA NOVA TEMPORADA

 

EQUIPE

POWERTRAIN

PILOTOS (Número)

Andretti Formula E

Porsche 99X Electric

Jake Dennis (27)

Felipe Drugovich (28)

DS Penske

DS E-Tense FE25

Maxximilian Gunther (7)

Taylor Barnard (77)

Cupra Kiro

Porsche 99X Electric WCG3

Josep Maria Marti (3)

Dan Ticktum (33)

Envision Racing

Jaguar I-Type 7

Joel Ericksson (14)

Sébastien Buemi (16)

Citroen Racing

Citroën ë-CX

Jean-Éric Vergne (25)

Nick Cassidy (37)

Jaguar TCS Racing

Jaguar I-Type 7

Mith Evans (9)

Antonio Félix da Costa (13)

Lola Yamaha ABT Formula E Team

Lola Yamaha T001

Lucas Di Grassi (11)

Zane Maloney (22)

Porsche Formula E Team

Porsche 99X Electric

Nico Muller (51)

Pascal Wehrlein (94)

Mahindra Racing

Mahindra M12Electro

Nyck De Vries (21)

Edoardo Mortara (48)

Nissan Formula E Team

Nissan e-4ORCE 05

Oliver Rowland (1)

Norman Nato (23)

 

CALENDÁRIO DA COMPETIÇÃO

 

DATA

ETAPA

CIRCUITO

06.12.2025

ePrix de São Paulo

Circuito do Anhembi

10.01.2026

ePrix da Cidade do México

Autódromo Hermanos Rodrigues

31.01.2026

Eprix de Miami

Miami International Autodrome

13.02.2026

ePrix de Jeddah

Circuito de rua de Jeddah

14.02.2026

ePrix de Jeddah

Circuito de rua de Jeddah

21.03.2026

ePrix de Madri

Circuito de Jarama

02.05.2026

ePrix de Berlim

Circuito de Tempelhof

03.05.2026

ePrix de Berlim

Circuito de Tempelhof

16.05.2026

ePrix de Mônaco

Circuito de rua de Monte Carlo

17.05.2026

ePrix de Mônaco

Circuito de rua de Monte Carlo

20.06.2026

Eprix de Sanya

Sanya Circuit

04.07.2026

ePrix de Shanghai

Shanghai International Circuit

05.07.2026

ePrix de Shanghai

Shanghai International Circuit

25.07.2026

ePrix de Tóquio

Circuito de rua de Tóquio

26.07.2026

ePrix de Tóquio

Circuito de rua de Tóquio

15.08.2026

ePrix de Londres

Excel Arena Circuit

16.08.2026

ePrix de Londres

Excel Arena Circuit

 

O BRASIL NA NOVA TEMPORADA

 

         O Brasil volta a contar com dois pilotos titulares no grid da Formula-E no novo campeonato. Lucas Di Grassi segue firme na Lola Yamaha ABT, esperando por dias melhores na evolução da equipe, que entra em seu segundo ano com o novo trem de força da associação da Lola com a Yamaha, que fez o brasileiro penar bastante na temporada passada, diante da falta de competitividade do novo equipamento, que entra na nova temporada prometendo alguma evolução, assim como a reformulada escuderia ABT.

Lucas Di Grassi vai para sua 12ª temporada completa na F-E, tentando voltar paulatinamente aos bons tempos com a Lola Yamaha ABT.

         Obviamente, a percepção das chances de Lucas di Grassi para o novo campeonato da Fórmula E é de um misto de cautela e otimismo, com a expectativa de que ele terá oportunidades de lutar por pontos com mais frequência e, quem sabe, brigar por pódios isolados, mas dificilmente por vitórias, e menos ainda pelo título mundial. Di Grassi é o piloto mais experiente do grid da Fórmula E, com o maior número de largadas na história da categoria. Seu conhecimento profundo dos circuitos, das nuances da gestão de energia e da estratégia de corrida é um trunfo inestimável para a equipe Lola Yamaha ABT. Essa experiência foi crucial para conquistar o pódio em Miami na temporada passada, o principal resultado da nova equipe até o momento. Apesar da manutenção do pacote técnico pelo regulamento da competição, ainda assim a Lola Yamaha ABT espera um salto de qualidade em seu segundo ano, após aprenderem com os desafios da estreia. Se o carro evoluir e se tornar mais consistente, as chances de Di Grassi automaticamente aumentam, embora reste saber até que ponto pode ficar em relação à concorrência. O papel de Di Grassi, contudo, vai além de apenas correr; ele é fundamental no desenvolvimento do powertrain Yamaha, e um carro melhor na nova temporada refletirá no seu trabalho de feedback e engenharia.

         Mas, com todos os rivais mostrando evolução em seus desempenhos, o maior obstáculo é o nível de competitividade insano da Fórmula E. Equipes de fábrica como Jaguar, Nissan e Porsche têm pacotes mais desenvolvidos e orçamentos maiores, e lutar pelo campeonato com um time ainda em crescimento é um desafio hercúleo. Há potencial para brilhar em corridas específicas onde a estratégia ou as condições de pista se alinhem perfeitamente, como Lucas fez em Miami. Ele será um piloto de pontuação regular se o carro permitir, mas a briga pelo título parece uma meta distante neste estágio do projeto da Lola Yamaha ABT, que só avançará de fato na nova era dos carros Gen4.

         E temos enfim Felipe Drugovich, que dá continuidade à sua carreira, depois de esperar por uma chance na F-1 que nunca se concretizou, e sem poder ficar adiando mais, aceitou o desafio de competir na categoria de carros monopostos elétricos após conseguir apresentar uma boa performance na rodada dupla que disputou em Berlim na temporada passada, defendendo a Mahindra, substituindo Nyck De Vries. A chance não veio com a Mahindra, que manteve sua dupla titular, mas a Andretti viu o potencial do piloto brasileiro, e buscava um companheiro de equipe mais forte para andar no ritmo de Jake Dennis.

         A Andretti já foi campeã de pilotos com o inglês Jake Dennis, mas nos últimos campeonatos não conseguiu repetir o mesmo ritmo do time de fábrica, mesmo usando o trem de força da Porsche, mas não é um time de fundo de grid propriamente. Como o trem de força alemão continua competitivo, as perspectivas de Felipe poder pontuar com regularidade são altas, mas o próprio piloto diz que precisa se adaptar à categoria, mesmo tendo disputado duas provas na temporada passada pela Mahindra. O estilo de condução, conservação de energia, além do entendimento das regras e procedimentos precisa ser otimizado para se poder maximizar as chances de resultados. Assim, Drugovich prefere manter os pés no chão a estipular uma meta mais fixa de resultados.

Felipe Drugovich faz sua primeira temporada como titular na F-E, pela Andretti.

         As chances de Felipe Drugovich são vistas com grande expectativa, mas com a ressalva natural de ser um ano de estreia. Ele tem potencial para impressionar e conquistar bons resultados, especialmente em uma equipe de potencial forte como a Andretti, que utiliza o powertrain campeão da Porsche. Tanto piloto como time avaliaram os testes de pré-temporada em Valência como muito positivos. O brasileiro completou um alto número de voltas (289), quase o máximo entre todos os pilotos, o que era essencial para sua adaptação a um carro de Fórmula-E, que é significativamente diferente de um Fórmula 1 ou Fórmula 2. O foco inicial foi entender a gestão de energia, os sistemas complexos do carro e a dinâmica específica da categoria. O diretor da equipe Andretti, Roger Griffiths, elogiou a postura e o método de trabalho de Drugovich, notando que o brasileiro não cometeu erros durante os testes e que seu feedback melhorou progressivamente. Embora não tenha liderado a tabela de tempos geral, onde ficou apenas na 15ª colocação, Felipe demonstrou bom ritmo. Em uma das sessões, ele foi o melhor estreante e terminou a apenas 0,3s do tempo do seu companheiro de equipe, o campeão mundial Jake Dennis. O piloto inglês, aliás, é visto por Drugovich referência ideal para aprender e evoluir o mais rápido possível. A equipe Andretti, por sua vez, acredita ter formado uma dupla poderosa que equilibra a experiência de um campeão com o talento e a ambição de um novato campeão da F2.

         Com um carro potencialmente competitivo, Felipe tem melhores chances de bons resultados do que Lucas Di Grassi, uma vez que o carro da Andretti tem chances de pontuar regularmente e lutar por pódios ao longo da temporada. As expectativas internas são de bons resultados, embora a equipe esteja ciente dos desafios de um ano de estreia para seu novo piloto. Em suma, as chances de Drugovich são altas para um novato. A percepção é que ele tem a capacidade, a equipe e o carro certos para ser uma das surpresas da temporada, com potencial para vitórias se conseguir se adaptar rapidamente às complexidades da Fórmula-E.

         A transmissão no Brasil continuará pelo canal pago Bandsports, que já vem anunciando a transmissão da prova brasileira e da nova temporada durante os comerciais da programação. O site Grande Prêmio, através de seu canal de TV por internet, a GPTV, disponível em alguns aparelhos de TV, bem como de seu canal no You Tube, que já vinha transmitindo a competição nos últimos tempos, continuarão a ser os canais oficiais para os fãs da velocidade nacionais acompanharem a nova temporada, tendo confirmado esta semana a renovação do acordo de transmissão, e estando com equipe de reportagem presente in loco no Anhembi para acompanhar com todos os detalhes a estréia da nova temporada.

Nenhum comentário: