sexta-feira, 11 de março de 2022

SURPRESAS ÓBVIAS

O "bom filho" à casa torna: Kevin Magnussen está de volta à Haas na F-1.

            O grid da Fórmula 1 2022 está finalizado! Não que já não estivesse há várias semanas, mas a invasão da Ucrânia pela Rússia fez a situação de Nikita Mazepin ficar russa, sem trocadilho, e com as sansões econômicas ao país euroasiático, era mera questão de tempo até a equipe Haas, bancada literalmente pelo “paitrocínio” da Uralkali, ir para a Sibéria, e sem a aporte financeiro, a escuderia se livrar do piloto russo, cujo único pecado nesta situação é ser filho de um dos vários “magnatas” da Rússia que certamente enriqueceram graças a seus laços com o governo, leia-se Vladimir Putin. E o time acabou optando por trazer de volta Kevin Magnussen, que foi piloto do time por quatro temporadas, até ser sacado no ano passado justamente pela contratação endinheirada de Nikita.

            Em termos técnicos, a contratação de Magnussen faz sentido pelas justificativas de se ter alguém “experiente” para ajudar o time a se desenvolver neste ano de novo regulamento técnico. Acredite se quiser, claro, pois não fosse Mazepin ficar sem o dinheiro russo, dificilmente ele seria rifado pela escuderia, que no ano passado mandou a tal “experiência” às favas e foi o único time a alinhar com dois pilotos totalmente inexperientes na F-1. Mas agora, parece que a “experiência” voltou a ser importante para o time. O mundo dá voltas, não? E talvez a consequência mais importante de Kevin Magnussen é aporte financeiro que ele traz, que se não é recheado com o do russo, certamente é muito mais do que Pietro Fittipaldi, o piloto de testes do time, poderia fornecer. Daí a cara de pau da direção da escuderia ao dizer que o dinheiro não seria problema. Quem eles queriam enganar, afinal?

            Bom, muitos fãs aqui no Brasil até tentaram dar uma forcinha para Pietro, que chegou a ser declarado por Gunther Steiner como o nome principal para a vaga. Mas, sem grana, nada feito. Fosse um time mais estruturado, talvez até rolasse do brasileiro disputar as primeiras corridas para ver se dava conta do recado, enquanto se analisava nomes mais talentosos ou capacitados financeiramente. Mas a Haas tinha pressa, e tudo o que Pietro conseguiu, no fim, foi pilotar o carro no primeiro dia da segunda sessão de testes da pré-temporada, em Sakhir, que aliás, nem foi um dia inteiro aproveitado, já que os equipamentos chegaram ao Bahrein com atraso devido a problemas no avião que levara o material, de modo que isso custou metade do primeiro dia de testes ao time, que já não tinha ido bem na primeira sessão, lá em Barcelona, e agora começa a derradeira sessão de testes da pré-temporada com o pé esquerdo no acelerador.

            Pietro é um bom piloto, tem qualidades, e sabe jogar pelo time. Teria condições de fazer um bom trabalho? Teria, mas o time precisa de mais, e no caso de Magnussen, eles conseguiram não apenas um piloto tão bom quanto, mas melhor, e com grana disponível, o que o time mais precisa no momento. Mas arrisco dizer que, sem a grana, até mesmo as melhores qualidades técnicas de Kevin como piloto teriam ficado em segundo plano. Bom, Fittipaldi levou uma rasteira, e saiu perdendo nessa jogada, mas não foi o único, podem apostar. Na verdade, o brasileiro pode até ter saído no lucro, para dizer a verdade.

            Primeiro, porque o torcedor brasileiro, a grosso modo, não quer apenas ver um piloto conterrâneo no grid da categoria máxima do automobilismo. Ele quer ver um “novo” Ayrton Senna, um “novo” Nélson Piquet, ou um “novo” Émerson Fittipaldi, ou simplificando, um novo fenômeno das pistas, e isso Pietro não é, infelizmente. E, nessa toada, quer um piloto que seja protagonista, não um coadjuvante, o que o neto de Émerson infelizmente seria, mesmo que fosse um piloto muito melhor do que realmente é. E, sem resultados, a torcida não demoraria muito para começar a crucificar o rapaz, como já fez com vários outros brasileiros, ou a ignorá-lo completamente, por não duelar pelas primeiras posições, o que ele estaria muito longe de fazer; Digo isso porque, pelo que a Haas mostrou até agora, diante das dificuldades dos testes da pré-temporada, a escuderia de Gene Haas tem tudo para ser o pior time do grid, podendo ocupar sempre as últimas posições, salvo surpresas na performance do novo carro do time, que se concentrou unicamente no ano passado em desenvolver o novo carro de 2022, sob as novas regras técnicas adotadas pela categoria, como forma de tentar se recuperar. Isso fez com que o time praticamente corresse em 2021 sem fazer nenhum desenvolvimento em seu carro, guardando todos os seus recursos para o projeto do carro de 2022, o que condenou sua dupla de pilotos a sair sempre no fim do grid e lá permanecer, sem chances mínimas de pontuar, salvo se ocorresse um tremendo golpe de sorte. Bom, tal golpe não ocorreu, e a julgar pelo que o novo modelo VF-22 mostrou até agora, os sacrifícios feitos no ano passado podem ter sido completamente em vão. E, a se confirmar, melhor mesmo que Pietro não se desgaste tentando levar uma carroça potencial a resultados impossíveis de se conseguir na prática. Nesse ponto, melhor ficar trabalhando no simulador da equipe para tentar achar soluções que ajudem a resolver o problema do que queimar o que resta de seu prestígio como piloto com um carro pouco competitivo na pista. Para quem queria estar no grid, e duelando nas corridas pelos melhores resultados, não é a realidade que ele poderia desejar melhor, mas poderia ser muito pior.

Magnussen deixou a equipe sonhar com seu melhor tempo do dia nesta sexta-feira, mesmo que seja só "para inglês ver"...

            E esse “pior” agora está nas mãos de Kevin Magnussen, que pode estar mais uma vez jogando sua carreira no lixo, ou na melhor das hipóteses, perdendo apenas a chance de ter um ano melhor em 2022. Afinal, ele deixara a F-1 ao fim de 2020, e apesar de não ter mágoas pela sua dispensa, aquele ano não foi nada proveitoso, pilotando um carro muito pouco competitivo, e que só não foi o pior modelo da Haas porque no ano seguinte o bólido, sem desenvolvimento, saiu-se muito pior. Mas lá foi Kevin buscar oportunidades no automobilismo dos Estados Unidos, e achou o que procurava: contratado pela Ganassi para defender o time no IMSA Wheather Tech Sports Cars, o campeonato de endurance dos EUA, Magnussem foi ser feliz por lá, competindo com chances muito melhores de resultados, e até de título, do que se continuasse na F-1 na raquítica Haas. E ele mantinha esse contrato para 2022, inclusive contratado pela Peugeot para o seu projeto de hipercarro para o Mundial de Endurance (WEC). Mesmo que o projeto da marca francesa tenha tido problemas, a posição de Magnussem para continuar defendendo a Ganassi no Wheather Tech era de fato uma boa posição para o dinamarquês. Retornar para a F-1, e para uma Haas ainda em condição de pouca competitividade potencial pode ter sido um tiro pela culatra, com poucas chances de obter resultados satisfatórios.

            Mas, como explicar o “fascínio” que a F-1 exerce? Por mais otimista que o discurso de Magnussen soe, ainda mais falando que o time lhe ofereceu um contrato com possibilidade de “múltiplos anos”, ele sabe que dificilmente terá condições de obter com a escuderia de Gene Haas o mesmo sucesso que poderia amealhar no IMSA pilotando um dos carros de Chip Ganassi, pelo menos este ano. E ele está plenamente ciente disso. Portanto, foi sua escolha, aceitando o convite que lhe fizeram para retornar, o que não é pouca coisa, em se tratando da F-1, onde a imensa maioria dos pilotos não recebe segundas chances quando são dispensados de seus times, mesmo que o retorno possa soar como loucura, diante das condições inferiores que terá de encarar, se comparada à posição onde estava no automobilismo norte-americano, tendo até declarado que só voltaria se fosse para um “time de ponta”. Bom, a Haas está longe de ser isso, a menos que seja na ponta inversa do grid...

            Em termos práticos, para a Haas, será interessante ver como Mick Schumacher lidará com a pressão de um companheiro de time efetivamente competitivo, algo que não pudemos ver no ano passado, tamanha a disparidade de talento entre a dupla titular da Haas. Mick não teve nenhum problema em superar Nikita Mazepin, em que pese ter tido alguns percalços com o russo, dentro e fora da pista, mas sem que se pudesse fazer uma avaliação real da capacidade do filho de Michael Schumacher, tamanha a falta de competitividade do bólido do time. Se quiser mostrar que é um nome viável para a Ferrari no futuro, Mick precisará superar Kevin com a mesma capacidade com que deixou Mazepin para trás na maioria das etapas de 2021, tarefa que não vai ser tão fácil como se pode imaginar, pois Magnussen sempre foi um piloto rápido e talentoso. Aliás, o fato de justificar a “experiência” do dinamarquês como crucial para as necessidades do time, mesmo que o raciocínio tenha lá sua justificativa lógica, dá uma indicação de que a escuderia não tem confiança no alemão para liderar o time, pelo menos, não totalmente, a despeito da aposta que a Ferrari faz nele, o que não é algo gratuito. Dependerá de Mick se ele aproveitar o momento e a convivência com Magnussen para provar do que realmente é capaz na pista, o que pode ser realmente benéfico ao time, pelo que ele poderá aprender com o dinamarquês, que conhece muito bem a escuderia pelas temporadas em que a defendeu até 2020.

Pietro Fittipaldi vai precisar caprichar mais no sorriso, porque isso infelizmente não está lhe rendendo um cockpit para pilotar...

            Pelo menos hoje, Magnussen conseguiu dar um pouco de moral ao time, obtendo o melhor tempo do dia da sessão de testes. Certo que foi na hora extra que a escuderia ganhou por ter perdido parte do dia de ontem, quando as condições da pista estavam muito melhores do que quando todo mundo treinou, mas serve para o dinamarquês confirmar a que veio, mesmo relativizando a marca alcançada com todos os detalhes do momento. Quanto a Pietro, o piloto confessou o desapontamento, mas ao meu tempo prometeu não se deixar abalar, e continuar trabalhando pela melhora do time, mesmo com todas as limitações que sua função possui atualmente. Mas, com relação à sua carreira como piloto, está mais do que na hora do brasileiro pensar seriamente em outros planos, se não quiser passar o resto de seus dias restrito a testes esporádicos, ou sessões de simulador. Não que exercer tal função seja um erro, mas depende do que ele quer para sua carreira. Se quiser despontar como piloto profissional de fato nas competições, precisa sair a campo para correr, seja lá onde for.

            Sua lealdada à Haas até agora pouco lhe rendeu além de tapinhas nas costas e elogios da cúpula do time que, na prática, não lhe deram projeção nenhuma para conseguir competir em outro lugar. E ficar permanentemente à disposição do time como reserva, em um momento onde a F-1 incha seu calendário, só serve para afastá-lo de outras competições onde ele poderia tentar a sorte. E ele precisa agir, se não quiser cair no esquecimento, algo muito fácil de acontecer com pilotos profissionais, que descartados por times de competição, tem de procurar serviço em funções fora da área do automobilismo esportivo. Se para ele estiver bem fazer isso, é direito dele. Mas, se quer realmente voltar às competições, então ele já deu à Haas o seu melhor, e que procure outros ares para poder se desenvolver como piloto, enquanto ainda tem opções no horizonte. O mundo das competições não se restringe à F-1, e ele poderá ser feliz em outras paragens, onde um piloto como ele poderá dar andamento à sua carreira e construir algo no currículo. Mas, para isso, ele precisará buscar com ênfase estes novos ares, pois no ritmo atual, salvo um grande golpe de sorte, as portas tenderão mais a se fechar do que a abrir...

 

 

A Ferrari continua apresentando bons resultados na segunda sessão coletiva de testes da pré-temporada. Se o time rosso já havia dado uma boa impressão inicial nos testes realizados na pista de Barcelona, Carlos Sainz Jr. e Charles LeClerc continuam a mostrar sinais positivos esta semana no Bahrein, o que indica que a escuderia de Maranello fez um trabalho sério para a nova configuração técnica que a F-1 adota a partir desta temporada. O time tem conseguido andar bastante, e mostrar consistência nas voltas dadas na pista, tanto em condição de classificação como em simulação de corrida, o que enche os fãs de expectativa para a disputa da temporada de 2022. Claro, ainda há afirmações de que Mercedes e Red Bull estariam à frente, mesmo que não tenham feito um trabalho tão impressionante até agora, dando a entender que os dois times estariam escondendo o jogo. Não deixa de ser uma possibilidade, mas tudo indica que a Ferrari virá de fato mais forte este ano. Quão forte ainda é difícil saber, pois mesmo tendo que compreender seus novos carros, concebidos para as novas regras técnicas adotadas a partir deste ano na categoria máxima do automobilismo, as escuderias seguem testando de modo que só elas mesmas sabem com certeza qual o potencial de seus novos bólidos, com poucas confrontações que podem servir de base para medir a relação de forças. Assim, só mesmo na sexta-feira da semana que vem, com o primeiro treino livre oficial para a primeira corrida da temporada, é que teremos enfim uma noção mais realista de como estão os times para 2022. Até lá, ainda podemos sonhar que esta temporada certamente deve nos presentear com muito mais equilíbrio e competição do que vimos nos últimos anos...

 

 

A Mercedes, aliás, foi a sensação, ao menos em termos de novidade, desta segunda sessão coletiva de testes, ao exibir mudanças no seu modelo W13 com quase zero laterais no carro, surpreendendo os demais times, sendo que a Red Bull chegou até a contestar se o carro estaria dentro das regras, sugerindo que o carro poderia estar irregular, o que foi negado pela escuderia alemã, e pelo próprio Ross Brawn, da FIA. Depois, claro, o time dos energéticos voltou atrás em sua declaração, mas certamente essa abordagem feita pela Mercedes, com vista a reduzir a resistência aerodinâmica, ainda vai dar o que falar por mais algum tempo. Por enquanto, o time alemão parece estar tendo problemas para alcançar o limite do novo carro, a ponto de tanto Lewis Hamilton quanto George Russel terem dado declarações de desconforto na condução do carro, sugerindo que ainda não conseguiram atingir o acerto ideal que esperavam do novo modelo. Enquanto isso, o time dos energéticos pareceu não estar preocupado em ir aos limites do novo modelo RB18, apesar de algumas declarações de preocupação a respeito de atingir o peso mínimo do regulamento, que acabou aumentado em mais 3 Kg a pedido de oito times. No ano passado, vimos a Mercedes de fato ter problemas para encontrar um bom equilíbrio em seu carro, e uma Red Bull que foi de fato muito forte na maior parte do ano. Agora, com regras técnicas completamente novas, quem terá feito o melhor serviço entre os dois times antagônicos? Na disputa esportiva, Lewis Hamilton quer vir com tudo para lutar por seu oitavo título mundial, mas Max Verstappen quer partir para o bicampeonato, e fazer todo mundo esquecer a polêmica decisão de título do que vimos nas voltas finais da corrida de Abu Dhabi no ano passado. Quem de fato estará com as melhores armas para o duelo este ano? Tem tudo para ser uma grande revanche, com mais disputas e duelos, e os fãs estão ouriçados para ver essa competição pegar fogo mais uma vez...

A evolução do modelo W13 surpreendeu por eliminar quase totalmente as laterais do carro, atraindo a atenção de todo mundo no paddock de Sakhir.

 

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