sexta-feira, 18 de março de 2022

O QUE ESPERAR DA F-1 2022

Palco da última sessão de testes da pré-temporada, a pista de Sakhir abre a temporada 2022 da Fórmula 1 no Bahrein.

            Chegou a hora. Nesta sexta-feira, iniciam-se os treinos oficias para uma nova era na F-1, esperada para a temporada passada, mas adiada em um ano por causa das consequências geradas pela pandemia da Covid-19, que impactou a vida e a economia mundiais, e obrigou a categoria máxima do automobilismo a dar uma pausa em seu planejamento. Mas agora é pra valer, e com carros que resgatam o antigo efeito-solo, um recurso criado por Jim Hall no início dos anos 1970 com o modelo Chaparral 2J na categoria Can-An nos Estados Unidos, mas popularizado por Colin Chapman na F-1 com o lendário Lotus 78.

            Com os carros agora sendo “presos” ao chão pelo grande downforce gerado por esse recurso, foi possível dar uma “limpa geral” nos apêndices aerodinâmicos no resto do carro, com a adoção de asas dianteiras e traseiras mais simples, e menos afetadas pelo ar turbulento dos carros à frente, cujo fluxo também ficou bem mais limpo e menos sujo, de modo que poderemos ver novamente os pilotos conseguirem “embutir” na traseira dos carros à frente sem perder o controle do seu bólido, e disputarem posições na pista como há muito não se via na F-1.

            Pelo sim, pelo não, a F-1 adotou uma postura de cautela, e ainda manteve a asa móvel, com o sistema do DRS, a fim de fornecer outro recurso aos pilotos para tentarem fazer suas ultrapassagens. E a pista de Sakhir, que abre a temporada com o Grande Prêmio do Bahrein, no Oriente Médio, manterá suas três zonas de ativação do recurso. Se tudo funcionar como na teoria, deveremos ver um festival de duelos na pista barenita. Mas, entre chegar, e passar, tem uma diferença, e os pilotos vão precisar mostrar braço nos duelos, porque quem perder a posição tem tudo para vir atrás e tentar recuperá-la, já que seguir o carro da frente ficará mais fácil. E nos momentos em que puderam andar atrás de outro carro nos testes da pré-temporada, todo mundo concordou que os carros ficaram mais fáceis de controlar, com a perda de pressão aerodinâmica não comprometendo mais a estabilidade como ocorria até o ano passado.

            Os novos pneus de aro de 18 polegadas devem ser mais duráveis, de modo que as estratégias de corrida devem gerar menos pit stops, reduzindo a variedade de estratégias das corridas. Menos pit stops indicam que os pilotos terão de ganhar posição é na pista, e não nos momentos das paradas de box, como muitos preferiam fazer, dependendo da pista. E o público, por sua vez, quer ver mesmo é duelo do lado de fora do pit lane, na pista, com fritadas de pneus, derrapagens em curvas, e o que for preciso para superar o piloto que vai à frente, como era frequente em tempos idos da F-1, saudosos para muitos. Os novos compostos também devem sofrer menos com o superaquecimento por andarem atrás de outro bólido, reduzindo os problemas de perda de performance pela elevação de temperatura.

            O peso maior dos carros, elevado para 798 quilos, tornou a pilotagem um pouco mais difícil, pela necessidade de dominar um bólido muito mais pesado, e com menos pressão aerodinâmica. Não foram poucas as vezes que os pilotos escaparam da pista nos testes de Sakhir, em especial nas curvas de baixa, onde o menor downforce foi mais sentido no equilíbrio dos carros novos. Por outro lado, nas pistas e curvas de altas, os novos F-1 devem continuar a voar sem maiores percalços. As unidades de potência passam a utilizar parte de combustível verde a partir deste ano, com uma adição de cerca de 10% de etanol à gasolina, contribuindo para diminuir a poluição ambiental.

Red Bull (acima) ou Ferrari (abaixo). Quem está de fato à frente na relação de forças da F-1 2022 neste início de temporada?


            Mas, quem irá sair na frente na temporada deste ano? A julgar pelos testes da pré-temporada, apenas Red Bull e Ferrari saíram dos treinos com plena satisfação após encerrarem os trabalhos feitos nas duas sessões de testes, divididas entre as pistas de Barcelona, na Espanha, e em Sakhir, no Bahrein. Todo o restante do grid não conseguiu realizar seus trabalhos de maneira plenamente satisfatória, com todos eles enfrentando altos e baixos, em maior ou menor grau. Até mesmo a campeoníssima Mercedes, vencedora do Campeonato de Construtores dos últimos oito anos, admitiu que não conseguiu ainda compreender todas as nuances de seu novo bólido, a ponto de Lewis Hamilton chegar a afirmar que o time alemão não deve lutar por vitórias no início do campeonato, aviso que muita gente não está levando a sério, pois não se pode menosprezar a capacidade de reação do time germânico, que já teve alguns percalços, mas sempre conseguiu responder à altura dos desafios surgidos.

            Mas, e o resto do grid? Temos pelo menos sete times que parecem mais embolados do que nunca, com resultados variados em termos de performance e confiabilidade, que embora tenham mostrado velocidade animadora em determinados momentos, é preciso ir com cautela na empolgação, pois as condições dos testes, assim como o modo como alguns times ajustaram seus bólidos, podem mascarar o real nível de performance dos carros. Só a partir dos treinos oficiais de hoje é que poderemos ter de fato uma idéia mais realista da relação de forças da F-1, e mesmo assim, essa relação ainda é completamente de momento. Como a maioria dos times não conseguiu trabalhar nos carros novos como gostaria, isso significa que eles não possuem uma compreensão abrangente do potencial de seus bólidos. A cada treino, com mais rodagem, os times devem ir conseguindo descobrir maiores detalhes do comportamento de seus projetos, e trabalhar para melhorar seu acerto, aprimorando sua performance. Só que isso não deve acontecer de maneira igual para todas as escuderias, de modo que é lógico presumir que alguns times podem chegar mais rápido a seus acertos ideais do que os outros, a depender da competência de seus engenheiros. E como teremos dois GPs em dois finais de semana consecutivos, o que veremos neste final de semana em Sakhir pode não se repetir em Jeddah, na semana que vem, onde teremos o Grande Prêmio da Arábia Saudita, a segunda corrida da temporada de 2022.

Mercedes: pode não ter brilhado nos testes, mas não pode ser subestimada.

            O comportamento observado nos carros também deve produzir performances ligeiramente diferentes. A pista de Sakhir, com mais curvas de baixa, mostrou os carros apresentando um comportamento mais arisco nestes setores, com vários pilotos tendo de “segurar” seus carros para não escaparem da pista, o que nem sempre conseguiram. Já em Jeddah, com longos trechos velozes, e menos áreas de baixa, podem ver os carros com mais estabilidade nas retas, e menos dificuldades nos poucos trechos de baixa, ajudando a compensar o desnível visto nos dois tipos de trechos de pista. E também temos outro detalhe importante: o porpoising, ou simplesmente, o efeito “quicada” dos carros, uma consequência do uso do efeito-solo que afetou todos os times, com poucos deles conseguindo lidar com o problema de forma mais eficaz, e mesmo assim, ainda enfrentando problemas por causa disso, que podem interferir, a mais ou menos, no desempenho dos carros e de seus pilotos. Como todos os times trabalham para resolver isso, é possível que o tempo de pista nos treinos livres ofereça a chance de cada um identificar maneiras de ajustar seus carros de forma a minimizar, ou até neutralizar o porpoising, o que lhes permitirá um nível de performance mais alto, já que até o presente momento, a solução mais simples seria elevar a altura dos carros, o que diminui seu desempenho, por menor que seja a elevação do assoalho do bólido.

            Com mais variáveis do que certezas, a F-1 inicia sua nova temporada com boas perspectivas. E essas variáveis devem ajudar a embaralhar as opções e possibilidades, oferecendo uma relação de forças indefinida, até que os times achem as soluções para passar à frente uns dos outros. Então, chegou a hora de descobrir como eles irão desenvolver seus trabalhos, e qual o nível de disputa que poderemos ter na pista com esta geração de carros completamente nova, com novos conceitos e novas idéias, onde cada time seguiu uma solução particular para tentar, como sempre, levar vantagem sobre os rivais, com cada carro refletindo a personalidade de seu projeto. Hora da Fórmula 1 2022 acelerar pra valer! Que venham as corridas da temporada 2022!

 

 

Depois de Daniel Ricciardo ter testado positivo para a Covid-19, e com isso ficado impossibilitado de participar da segunda sessão de testes da pré-temporada da F-1 no Bahrein, agora é a vez do tetracampeão Sebastian Vettel ter de ficar de fora da corrida por causa do coronavírus, também tendo testado positivo. A Aston Martin já escalou Nico Hulkenberg, que é piloto reserva do time, para substituir o alemão na prova de estréia da temporada de 2022, e dependendo da situação, pode ser que Vettel acabe ficando de fora até mesmo da próxima corrida, na Arábia Saudita, que já acontece semana que vem, em Jeddah. Daniel Ricciardo também esteve ameaçado de desfalcar seu time, a McLaren, na corrida barenita neste domingo, mas o australiano conseguiu se recuperar, e já testou negativo para a Covid-19 mais de uma vez, tendo sido então liberado pelos médicos para disputar a corrida de domingo. Em isolamento, conforme os protocolos sanitários do Bahrein, Sebastian também terá que testar negativo na semana que vem para ver se poderá correr na próxima corrida. Caso não consiga, Hulkenberg disputará também a segunda prova. Curiosamente, quanto a Aston Martin ainda se chamada Racing Point, teve três corridas onde o mesmo Nico Hulkenberg precisou substituir um piloto titular. Primeiro foi o mexicano Sergio Pérez, que ficou de fora de duas corridas; e depois teve de substituir Lance Stroll em uma prova, ocasiões em que os pilotos também acabaram diagnosticados com o coronavírus.

 

 

Kevin Magnussen volta á F-1 depois de ficar ausente na temporada passada, para ocupar o lugar de seu substituto Nikita Mazepin na Haas, quando o russo foi contratado em substituição ao dinamarquês por conta do polpudo patrocínio de seu pai, dono da empresa de fertilizantes Uralkali. Como o patrocínio dançou por conta da invasão da Rússia à Ucrânia, Mazepin também dançou no time, que certamente saiu ganhando em termos de talento, já que Nikita infelizmente era muito ruim. Questionado se voltaria a seu antigo time de F-1 se tivesse recebido o convite que foi feito a Magnussen, Romain Grosjean disse que não aceitaria retornar à categoria máxima do automobilismo. Ele ficou feliz por Magnussen ter ganhado uma nova chance de defender a Haas e voltar à F-1, já que nos últimos dois anos não teve como mostrar sua capacidade com o carro limitado da equipe, e elogiou sua capacidade e talento, que certamente serão muito úteis à escuderia. Quanto a ele, a F-1 já faz parte do passado, e ele está feliz em sua nova fase da carreira, competindo na Indycar, categoria onde já está entrosado, e gostando muito do ambiente mais descontraído, e principalmente, das possibilidades de competição, lembrando que no seu ano de estréia na competição, em 2021, mesmo competindo por um time limitado como a Dale Coyne, ele conseguiu chegar ao pódio, e até marcar uma pole-position. Isso lhe rendeu um contrato com um dos melhores times da categoria, a Andretti, onde terá condições de lutar por vitórias, e quem sabe o título da competição, sendo que em sua corrida de estréia no novo time, em São Petesburgo, na Flórida, ele terminou em 5º lugar. Com um ambiente mais acolhedor, e melhores oportunidades de competição, de fato não haveria mesmo por que retornar para a F-1. Quanto a Magnussen, ele tinha contrato para defender a Ganassi no IMSA Wheather Tech Sportscar, o campeonato de endurance dos Estados Unidos, opção que lhe dava boas perspectivas de competição para este ano, mas mesmo assim, resolveu aceitar o desafio de pilotar novamente para a Haas na F-1, em um acordo que teoricamente pode se estender além de 2022. Se foi uma decisão equivocada ou não, só o tempo dirá, especialmente se a Haas conseguir ou não melhorar sua performance na competição, depois de desempenhos pífios nos últimos três campeonatos...

 

 

A Indycar chegou ao Texas Motor Speedway, em Forth Worth, para a disputa da sua segunda corrida na temporada de 2022. A prova marcará a estréia de Jimmie Johnson nos circuitos ovais pilotando um monoposto, já que no ano passado ele ficou de fora das provas neste tipo de circuito, sendo substituído pelo brasileiro Tony Kanaan. Johnson foi sete vezes campeão da Nascar, categoria que corre preferencialmente em circuitos ovais, e espera-se um melhor desempenho do heptacampeão, que até aqui tem sofrido para se adaptar completamente ao desempenho do monoposto Indy, em que pese ter mostrado evolução, mas com resultados ainda longe do esperado. Quem sabe o retorno a um tipo de pista mais conhecido sirva para impulsionar seu desempenho para a temporada deste ano, e lhe proporcionar melhores condições de evolução na competição, onde tem andado sempre na segunda metade de trás do grid até o presente momento. A prova em Forth Worth será disputada no domingo, com transmissão ao vivo da TV Cultura a partir das 13:30 Hrs., na TV aberta. A prova também será veiculada na TV por assinatura, no canal ESPN 4, e na internet, pelo serviço de streaming Star+, tudo ao vivo.

 

 

A Indycar, por outro lado, tem uma grande preocupação com a pista do Texas. Em 2020, o asfalto do circuito recebeu uma substância química chamada PJ1, um composto de resina que foi aplicado no circuito a pedido da Nascar, para melhorar a qualidade do piso do circuito. Só que o produto deixou parte do asfalto extremamente escorregadio para carros monopostos, de forma que nestes trechos, a pista acabou “estrangulada”, com os pilotos tendo de guiar numa linha única do traçado, já que saindo dele, era praticamente ir parar direto no muro, com os carros perdendo a aderência no trecho onde a substância aflorou. O problema ainda se mostrou patente no ano passado, e este ano, os pilotos estão preocupados novamente com a situação, que deve impactar mais uma vez nas possibilidades de disputa de posição da corrida, já que o composto PJ1 ainda está impregnado no asfalto, e com os donos da pista não tendo conseguido eliminar sua presença. O composto fez a parte superior do asfalto em um trecho ficar bem mais escura, e gerando um aquecimento muito maior do que o trecho inferior, além da diferença de aderência no trecho. Tentando evitar acidentes, os pilotos passaram a seguir sempre pela linha inferior, o que eliminou as chances de ultrapassagem e disputas no setor, o que dificultou as disputas de posições por parte dos pilotos. Quem tentou arriscar passar pela parte escura simplesmente perdia o controle do carro, e na alta velocidade de uma pista oval, como a de Forth Worth, isso pode ser preocupante. A direção da Indycar está tentando achar uma solução para o problema, que envolve a possibilidade de fazer uma raspagem na pista com malha de aço, para tentar criar mais aderência no trecho, ou até mesmo uma lavagem química, para tentar neutralizar o efeito escorregadio da superfície do asfalto provocado pelo PJ1. A etapa do Texas era extremamente disputada, mas esse problema do asfalto simplesmente “matou” boa parte da emoção da corrida nos últimos dois anos, e certamente está influenciando na discussão da direção da categoria de continuar a correr em Forth Worth, ou migrar para outras pistas ovais em busca de melhores opções de correr.

Trecho da pista de Forth Worth onde foi colocado o composto PJ1. Quem andou ali foi parar no muro, devido à falta de aderência.

 

 

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