sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

O QUE ESPERAR DA MCLAREN-RENAULT?



A associação da McLaren com a Honda não produziu os resultados esperados, agora a esperança está com os propulsores da Renault.

            O ano de 2017 já está chegando ao fim, e muitos já estão com o pensamento firme em 2018. A temporada da F-1 já ficou para trás, mas o ritmo segue frenético nas fábricas e sedes das escuderias, visando o próximo campeonato. Muitos esperam que a temporada do ano que vem seja melhor do que a deste ano, que até começou com boas perspectivas de um duelo firme entre Ferrari e Mercedes, mas que acabou vendo mais uma vez um triunfo dos alemães, em que pese o time de Maranello ter feito bonito boa parte do ano, e perdido terreno justo na reta final, devido a azares e alguns percalços, que foram devidamente aproveitados por Lewis Hamilton e a turma de Brackley para manterem o domínio do time prateado que vem desde 2014. Um duelo que todos esperam, repita-se em 2018, com uma Red Bull mais forte, com direito a bons duelos na pista. Mas, há também a forte expectativa do que poderá render a nova e inédita associação McLaren-Renault, cujas partes estão correndo em ritmo mais do que acelerado para otimizarem seus recursos a fim de mostrarem tudo o que podem no próximo ano.
            A expectativa é mais do que justificada. Os últimos três anos do time de Woking, em parceria com a Honda, foram um desastre quase completo em termos de resultados. Aclamada por todos, a expectativa era que ambos voltassem a ter glórias como nos velhos anos 1980 e 1990. Mas os nipônicos não conseguiram apresentar uma unidade de potência nem competitiva, e muito menos fiável. Depois de um ano encorajador em 2016, este ano, onde se pelo menos esperava poder voltar a pontuar com regularidade, e quem sabe disputar alguns pódios, o que se viu foi um retrocesso brutal, com o novo motor parecendo voltar à estaca zero, o que motivou o rompimento da parceria entre ambos. Restou à McLaren as únicas unidades disponíveis na praça, as da Renault. A Honda, por sua vez, irá respirar ares menos exigentes na Toro Rosso.
            Mais uma vez, todos começam a nutrir altas esperanças de que a nova aliança dê frutos e o time de Woking, assim como a marca francesa, voltem a fazer sucesso e serem o destaque. Poderíamos dizer que já vimos esse filme antes, mas há alguns bons presságios que o colocam em nível diferente do que vimos na associação com os japoneses. O primeiro deles é que a Renault tem um conhecimento muito melhor da tecnologia das unidades híbridas, e embora seus propulsores ainda não se equivalam às unidades produzidas pela Mercedes ou pela Ferrari, ainda são muito superiores às da Honda. Portanto, seu ritmo de desenvolvimento para 2018 já parte de um patamar bem mais elevado, enquanto os japoneses terão que recuperar muito terreno para atingirem o mesmo nível. Parte disso já foi visto neste ano, mas mesmo assim, o ano começou tão mal que isso não serviu de consolo.
            A Renault quer voltar a ser campeã novamente, mas mantém os pés no chão, embora tenha sofrido recentemente para equilibrar performance e confiabilidade. Com a ajuda da Ilmor, os franceses conseguiram sanar parte de seus problemas, e conseguiram uma notável evolução de seu projeto. Só não foram melhores porque Mercedes e Ferrari não ficaram parados. Embora a parceria com a Ilmor não esteja mais ativa, os franceses tiveram um ano bem razoável: seu melhor time, a Red Bull, venceu três corridas e foi 3ª colocada no mundial de construtores. E seu time de fábrica foi 6º colocado, mostrando evolução bem satisfatória. Em 2018, além de continuar a contar com a Red Bull, terá outro time de alto nível técnico, a McLaren, a unir forças, e essa nova associação é que está dando ainda mais entusiasmo para os franceses mostrarem do que são capazes. As críticas recentes feitas pela Red Bull à montadora francesa ainda estão frescas na memória, e o time austríaco só voltou atrás porque não teria motores para competir, já que as rivais Ferrari e Mercedes recusaram-se a fornecer suas unidades. Pesou na decisão de ambos, além do risco de fortalecer um adversário potencialmente perigoso, o modo pouco educado e extremamente agressivo de Helmut Marko nas críticas ao equipamento, até certo ponto justificáveis, mas não toleradas a tal nível público, que serviu para denegrir a imagem da marca. Tendo agora outro time capacitado para equipar, a Renault quer ver a McLaren andar de novo na frente, se não de Mercedes e Ferrari, pelo menos da Red Bull, para calar a boca de seus dirigentes.
            O time dos energéticos pode até reclamar novamente dos propulsores Renault, que por mais um ano, estiveram devendo frente a Mercedes e Ferrari, mas ninguém pode negar que a Red Bull também não teve aquele carro competitivo que esperava. Precisou que Adrian Newey intervisse no projeto do RB13 para que ele ficasse bem mais competitivo. Outro problema foi que o carro quebrou demais, primeiro com Max Verstappen, e depois com Daniel Ricciardo, e muitas vezes, por problemas completamente alheios à unidade de potência, de modo que a conta da temporada não ter sido tudo o que esperavam tem de ser dividida entre ambos, e não apenas jogada na conta na Renault. Mas com um bom chassi, os resultados aparecem, e todo mundo viu que a McLaren parece ter produzido um excelente carro nesta temporada.
            O modelo MCL32 até começou claudicante, tamanhas eram as falhas e quebras da Honda, mas assim que o propulsor nipônico passou a apresentar um mínimo de performance, as qualidades do chassi projetado por Peter Prodromou começaram a ser notadas. E, na reta final da temporada, a McLaren tinha mais performance do que a Williams, por exemplo, mesmo com o time de Grove usando o motor da Mercedes, o melhor da categoria. Eis a diferença que um bom projeto pode fazer. E tudo dá a entender que a linha de desenvolvimento do chassi da McLaren deve seguir em ascenção em 2018, agora com um propulsor bem mais confiável. Para tanto, a área de engenharia em Woking está trabalhando em ritmo alucinante, procurando descontar o tempo perdido com a assinatura tardia do acordo, realizada apenas em outubro. Eric Bouiller declarou que este atraso está quase recuperado, e os prognósticos na escuderia são os melhores possíveis.
Um carro com aerodinâmica refinada, o chassi MCL32 só não mostrou todo o seu potencial porque a unidade de potência da Honda era muito inferior às concorrentes. Nem o talento de Fernando Alonso conseguia salvar o dia...
            Todos estão entusiasmados em poder dar a volta por cima, e se colocar o time inglês como candidato às vitórias ainda seja esperar demais, imaginar a McLaren em um nível de competitividade parelho ao que a Red Bull mostrou este ano não seria impossível. Prodromou trabalhou com Newey na Red Bull, e parece que aprendeu bem com Adrian, e terá enfim a chance de mostrar sua capacidade frente a seu velho mestre. Com a mesma unidade de potência em seus bólidos, fará a diferença a qualidade do chassi. A nível de pilotos, é consenso que a Red Bull tem a dupla mais forte do grid, mas a McLaren tem Fernando Alonso, e o espanhol está andando mais do que nunca. Só o fato de ter tido que arrancar leite de pedra com o carro inglês nestes últimos três anos evidencia o quanto ele precisou melhorar sua pilotagem, para extrair tudo e mais um pouco do que o carro tem a oferecer. Stoffel Vandoorne ainda precisa mostrar a que veio, mas já deu mostras de conseguir andar bem próximo de Alonso, e até na frente. Com um equipamento mais constante e confiável, e um ânimo completamente renovado, a dupla da McLaren vai querer mostrar sua velocidade.
            Teria sido esse ânimo a fonte da nota recente em que Lewis Hamilton estaria vetando a contratação de Fernando Alonso pela Mercedes? A lógica faz sentido: se Fernando disputar as primeiras colocações, superando outros pilotos mais bem equipados, seu nome, que estará livre ao fim de 2018, seria bem disputado no mercado, em tese. E se a Mercedes não ficar satisfeita com Valtteri Bottas, será que o espanhol seria o seu substituto? Hamilton, feliz com o novo parceiro finlandês, obviamente não gostaria nem um pouco de dividir os boxes com o asturiano novamente. Fernando, por sua vez, com um equipamento competitivo, pode virar um pesadelo para os rivais na pista. E em termos de chamar atenção, ninguém pode ignorar que Alonso se reinventou nestes últimos anos, sempre conseguindo chamar a atenção, mesmo com seus fracos resultados. Sua disputa das 500 Milhas de Indianápolis este ano o colocou em outro patamar no esporte, e ele se prepara para reafirmar isso ainda mais em 2018, com a disputa das 24 Horas de Daytona e das 24 Horas de Le Mans. Um piloto em alta evidência, e extremamente competitivo e motivado. Segurem o espanhol!
            Curiosamente, a McLaren nunca competiu com as unidades da Renault. Mesmo na época em que os franceses dominaram a F-1 nos anos 1990, na época o time de Woking encarou os rivais com motores da Honda (1991 a 1992), Ford (1993), Peugeot (1994) e Mercedes (1994 a 1997). Tradicional rival da Renault, a Peugeot iniciou sua participação em 1994 com a McLaren como time oficial, e até que não fizeram feio, dada o noviciado do projeto. Mas Ron Dennis, impaciente, querendo um retorno às vitórias o mais rápido possível, deu um pé na bunda dos franceses, e trouxe os propulsores da Mercedes, que só começaram a mostrar serviço a partir de 1997. O bom do atual momento é que Ron Dennis não está mais na McLaren, e depois do período de vacas magérrimas dos últimos três anos, a paciência com a Renault será muito substancial, e muito mais parcimoniosa do que a da Red Bull, que certamente pretende observar a evolução da Honda na Toro Rosso para ver se valerá a pena usar os propulsores nipônicos em 2019, quando a Renault fala que pretende deixar de equipar o time dos energéticos, cansada das críticas que andou recebendo deles.
            Pelo sim, pelo não, o empenho tanto de Renault quanto da McLaren é significativo. Tanto que a Renault resolveu encerrar sua participação “formal” na Formula-E, deixando a competição a cargo de sua subsidiária, a Nissan, que continuará desenvolvendo o seu projeto atual, só para centrar suas forças na F-1. Vencer com a McLaren terá um significado importante para os franceses, e isso trará benefícios também a seu time de fábrica, que deve se fortalecer ainda mais. Na McLaren, o carro deverá ficar ainda melhor na aerodinâmica, pois as unidades de potência da Renault já chegaram com algumas vantagens bem significativas, entre elas a necessidade muito menor de refrigeração, o que demandará radiadores menores nas laterais, permitindo trabalhar melhor na aerodinâmica deste setor, além do fato de serem mais econômicas que as nipônicas, permitindo um consumo menor com mais potência disponível. Mesmo com o consumo obedecendo a limites pelo novo regulamento, os propulsores da Honda, por consumirem mais, tinham que ser dosados, de forma a seus pilotos não sofrerem uma pane seca, o que diminuía ainda mais a potência. São pontos em que o carro já está ganhando vantagem em relação a esta temporada.
Fernando Alonso tem cartaz na Renault: foi o único piloto a ser campeão pelo time da fábrica francesa, em 2005 e 2006. O espanhol conta com o propulsor francês para pelo menos voltar a vencer na F-1, e os franceses também estão esperançosos com ele.
            Pelo lado da Renault, o ganho de potência verificado no México, visto como um teste para o limite do novo propulsor, foi bem apreciado, em que pese a confiabilidade ter sido comprometida, um aspecto que certamente está sendo trabalhado no projeto da nova unidade de potência. Se conseguirem promover este incremento de performance e manter a confiabilidade, se não vai igualar a força de Mercedes e Ferrari, irá diminuir consideravelmente a diferença para elas. Mas, calma aí: os alemães e os italianos também estão trabalhando com afinco para deixarem seus propulsores ainda melhores do que já são, portanto, nada de comemorações antecipadas. Teremos de esperar até os testes da pré-temporada para vermos em que patamar todos estarão.
            Há outro fator importante, que é o histórico: Fernando Alonso foi bicampeão pela Renault, em 2005 e 2006, e voltar a trabalhar com o asturiano, o único a ser campeão pelo time da fábrica, é outro grande incentivo para todos na parceria darem o máximo de si. Claro que história não vence corrida, como a própria associação com a Honda demonstrou, mas não deixa de ser um fator emocional e afetivo importante. Fernando terá a chance de fazer a Renault voltar a ser vencedora, mesmo que seja pela McLaren. A torcida é grande para que consiga, e com isso, aumentar a disputa nas corridas da F-1.
            Um ponto que muitos se perguntam é se a McLaren terá recursos financeiros para custear todo esse desenvolvimento, de forma a voltar a ser competitiva na F-1. É uma preocupação lógica, afinal, o Grupo McLaren dispendeu uma soma vultuosa para comprar a parte que pertencia a Ron Dennis. O acordo com a Honda também provia a escuderia de F-1 de um grande aporte de recursos, além do pagamento do salário de Fernando Alonso, que continuou ganhando seu salário astronômico, como se ainda estivesse disputando vitórias e títulos, um dinheiro que não será reposto no novo acordo feito junto à Renault. Junte a isso o fato do time não possuir um patrocinador principal desde 2014, e dado os gastos realizados pelo Grupo McLaren como um todo, é mais do que lógico supor que os recursos de competição não serão tão fartos como nos últimos anos. Mas Eric Bouiller e Zak Brown garantem que o novo acordo de competição com os propulsores da Renault já tem um grande orçamento reservado para manter no mais alto nível o desenvolvimento do futuro MCL33, e que com as expectativas mais otimistas de resultados decorrentes do uso da unidade de potência francesa, vários patrocínios em potencial estão perto de serem fechados, de modo a garantir que haverá recursos mais do que suficientes para a empreitada correr em boas mãos.
Fim da temporada 2017: sorrisos no time da McLaren, mais pelo fim da parceria fracassada com a Honda, e pelas possibilidades que a nova empreitada com a Renault poderá render em 2018. Todos querem ver o time inglês disputar novamente as primeiras colocações.
            Realmente, pelo seu histórico e importância na F-1, todos esperam que a McLaren renasça em 2018, e volte a disputar as primeiras posições. Apesar de algumas decisões equivocadas, e de alguns projetos não terem dado os resultados esperados, a mentalidade do time, de voltar a vencer, continua firme, e com passos decisivos nesta direção. Algo bem diferente do que temos visto, por exemplo, na Williams nos últimos anos, onde o conservadorismo do time, e a falta de um foco claro sobre sua dupla de pilotos, além de pensamentos equivocados, parecem minar completamente as expectativas de a escuderia voltar a disputar as vitórias. Um exemplo é a novela em que se transformou a escolha de seu segundo piloto para 2018, até o fechamento deste texto, ainda não definido de fato. E é por essa diferença de atitude e de pensamento, que eu acredito muito mais no renascimento da McLaren do que em um retorno da Williams aos bons resultados na F-1. Uma opinião que muitos compartilham, e que não é difícil entender o porquê... Que venha 2018, e possamos confirmar na prática as expectativas de competição desta nova associação inédita na história da F-1! Até o ano que vem!


Esta é a última coluna de 2018. Depois de um ano cansativo, acompanhando vários campeonatos, corridas e disputas, hora de dar uma pausa, e retornar com tudo em janeiro para o início de um novo ano cheio de competições e pegas no mundo da alta velocidade mundo afora. Um bom Natal e um Feliz Ano Novo a todos. E que venha 2018! Até mais!

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