sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

LARGADA PARA A FORMULA-E



O campeonato da F-E inicia sua quarta temporada neste final de semana, em Hong Kong.

            O mundo do automobilismo não para. Encerrada a temporada da Fórmula 1, com a corrida insossa de Yas Marina, no fim de semana passado, eis que neste final de semana temos o início de outro campeonato: é a vez da Fórmula-E acelerar seus propulsores elétricos, dando início à quarta temporada do certame, e tendo o brasileiro Lucas Di Grassi como atual campeão, tentando ser o primeiro a conquistar um segundo título. Mas a disputa promete ser acirrada pela taça, pois Sébastien Buemi, vice-campeão no último ano, também quer o bi, e tem tudo para infernizar a vida de Lucas no duelo.
            Antes de tudo, uma péssima notícia a relatar: o ePrix de São Paulo, que deveria ocorrer em março do ano que vem, teve a tomada puxada! O desejo de privatizar a torto e a direito do prefeito de São Paulo, capital, simplesmente melou tudo, porque o complexo do Anhembi, onde a corrida seria realizada, inclusive até aproveitando parte do desenho da pista montada para receber a Indycar há alguns anos, é um dos ativos que o prefeito quer passar à iniciativa privada. O problema é que o processo para isso, tocado da forma destrambelhada que os órgãos públicos costumam fazer nesse país, deixou a prova sem garantias de ser realizada. A SPTuris, que administra o Anhembi, inclusive nem tinha data confirmada para a prova da F-E. Lembrando das palhaçadas que ocorreram em Brasília para tentar receber a Indycar, desta vez pelo menos o prejuízo será menor, já que praticamente nada foi feito no Anhembi, enquanto em nossa “distinta” capital federal, colocaram o autódromo abaixo para reformar tudo, e jogou-se muito dinheiro fora nesta brincadeira que não teve graça nenhuma. A única coisa a se perder é a credibilidade de nosso país para receber eventos esportivos. Aliás, depois das maracutaias ocorridas na Copa do Mundo e nas Olimpíadas, melhor que o Brasil não receba nada mesmo...
            Voltando ao que interessa, que é a competição na F-E, a categoria começa acelerando com tudo já em uma rodada dupla nas ruas de Hong Kong, com uma corrida no sábado, e outra no domingo. Serão as únicas provas da quarta temporada neste ano, ficando todas as demais corridas para 2018. Teríamos 14 corridas, mas com o cancelamento da prova brasileira, temos então 13 provas no calendário da competição. Mas ainda há esperança de que os organizadores consigam uma prova substituta para o lugar da finada corrida tupiniquim, em que pese o retrospecto da categoria pesar contra: quando a Bélgica teve sua etapa de Bruxelas cancelada, não conseguiram arrumar nenhuma outra corrida para substituí-la.
Pista da etapa de Hong Kong. Corridas terão 45 voltas no traçado de apenas 1,89 Km de extensão. 
            A competição dos carros elétricos vem atraindo as atenções das grandes fábricas, e elas estão entrando na categoria. Se já tínhamos o envolvimento firme da Renault, com o time da e.dams, e também da Citroen, através da DS, em parceria com a Virgin, no ano passado vimos a estréia da Jaguar, como time oficial de fábrica. Ao lado destas importantes marcas, temos a presença da Mahindra, construtora de carros e caminhões indiana, e da Penske, um dos maiores conglomerados dos Estados Unidos na área de transportes e competição esportiva. E nesta temporada, já temos a presença oficial da Audi, que assumiu de vez sua operação com a equipe Abt. Para a próxima temporada, a BMW também virá para o grid, o que já está fazendo de forma mais incisiva em sua cooperação com o time da Andretti. A Renault deverá sair de cena, mas terá seu lugar ocupado pela Nissan, e outras duas gigantes alemãs, Porsche e Mercedes, também já estão fazendo seus planos para o certame.
            Todos temem, contudo, que a chegada de tantas fábricas acabe promovendo uma explosão de custos na categoria, o que poderia comprometer sua atratividade como um campeonato equilibrado e acessível. Caberá à organização tomar as devidas medidas para impedir que isso aconteça, estabelecendo critérios e parâmetros claros de modo a limitar o poderio financeiro destas fábricas no desenvolvimento dos equipamentos de competição, hoje restritos aos trens de força e conjuntos de câmbios. Só o desenvolvimento autônomo do sistema de baterias, por exemplo, já faria o custo das mesmas mais do que dobrarem. Por isso, os setores que poderão continuar sendo trabalhados nos carros em busca de maior performance deverão continuar limitados. A idéia é estabelecer limites claros, e os times e fábricas que deem o seu melhor nestes setores designados. Para acomodar tanta gente, o número de equipes no grid deverá ser ampliado, para pelo menos 13 escuderias e 26 pilotos, o que deverá aumentar a emoção das disputas, com mais competidores ralando nas pistas por seu espaço.
A Audi é o novo reforço oficial na categoria, como time de fábrica. E pretende lutar novamente pelo título, com o atual campeão, o brasileiro Lucas Di Grassi (abaixo).
            Esta nova temporada tem tudo para ser bem disputada. O regulamento técnico quase não sofreu mudanças, então, a expectativa é que os times apresentem performances mais parelhas. Logicamente, a e.dams deve continuar tendo o melhor carro, mas a Audi Abt deve continuar a ser a maior adversária. O know-how desenvolvido pela Renault a credencia a ter o equipamento mais competitivo do grid, enquanto todos se perguntam como a Audi, agora como um time oficial de fábrica, e não apenas parceira, terá incrementado o desempenho de seu time, para desafiar a mais bem-sucedida escuderia do certame nestes primeiros três campeonatos disputados. Mas Virgin e Mahindra tem tudo para incomodarem estes dois times, se não por todo o campeonato, pelo menos em várias provas, e quem sabe até aprontando algumas surpresas. Pelos tempos dos testes da pré-temporada, a Nio (ex-China e NexTev) parece ter encontrado o rumo do crescimento. No meio do pelotão, a Jaguar, última colocada do campeonato passado, está pronta para aplicar os conhecimentos adquiridos na pista e conta agora com Nelsinho Piquet, o primeiro campeão da categoria, para ajudar a chegar às primeiras colocações o quanto antes. A Techeetah, por usar o mesmo equipamento da Renault, não pode ser subestimada, apesar de não ter impressionado como se esperava nos testes. Mas seu principal nome, Jean-Éric Vergne, é um piloto muito rápido, e certamente vai incomodar a concorrência. Ele só precisa dosar um pouco seu ímpeto para evitar que seu arrojo seja seu maior inimigo. No que tange aos pilotos, o grande mote deve ser novamente o duelo Di Grassi-Buemi. Quem será o primeiro bicampeão da categoria dos carros elétricos? Ninguém pode descartar nenhum deles da luta pelo título nesta nova temporada. A dúvida é se teremos mais alguém para se intrometer neste duelo a dois. Na Audi Abt, apesar de algumas boas corridas, Daniel Abt não assusta ninguém, e não é um nome cotado para sequer vencer corridas. Na e.dams, Nicolas Prost já conseguiu vencer algumas etapas, mas na comparação com seu companheiro Buemi, o filho de Alain Prost até agora não conseguiu incomodar o piloto suíço. Na Virgin, Sam Bird é o nome mais forte, e pode surpreender se o carro colaborar, uma vez que ele raramente desperdiça oportunidades quando elas aparecem; e na Mahindra, Felix Rosenqvist chegou como quem não queria nada, e foi logo surpreendendo os concorrentes, chegando até a ganhar corrida, terminando a temporada passada em 3º lugar. E prometendo mais para esse ano, sem medo de tentar vôos mais altos em sua segunda temporada completa na competição.
            Andretti, Dragon e Venturi ainda não mostraram a que vieram, apesar de alguns brilharecos aqui e ali, e pelo que se viu nos testes da pré-temporada, ainda não será desta vez que elas conseguirão o destaque que procuram, apesar do maior envolvimento de seus parceiros técnicos. A maior atração da Andretti é a contratação do japonês Kamui Kobayashi, que durante sua estada na F-1, fez a festa dos torcedores com suas performances inspiradas. Pode até faltar carro para Koba, mas entusiasmo ele nunca ficou devendo, e o nipônico deverá ser uma das atrações neste fim de semana de estréia da nova temporada, em Hong Kong, na China, que também foi palco da primeira corrida da temporada passada.
            Esta deverá ser a última temporada em que haverá a troca de carros durante as corridas. Trata-se do último ano em que os times correrão com o sistema de baterias desenvolvido pela área de tecnologia da Williams, time que compete na F-1. Para a quinta temporada, todos utilizarão um novo conjunto, produzido pela McLaren, com muito mais potência, e que deve permitir aos pilotos disputar as corridas sem necessidade de mudar de carro. Neste ano, os pilotos poderão utilizar 10 Kw de força a mais durante as corridas e classificações, o que irá tornar as provas mais rápidas, mas também aumentará as dificuldades para os pilotos e as equipes, já que a carga das baterias continua igual à da última temporada. Portanto, os pilotos precisarão ser velozes, e ao mesmo tempo, saber dosar o consumo de energia, do contrário, poderão ficar pelo meio do caminho, caso gastem mais do que devem. Para tanto, os times e fabricantes também fizeram mudanças em suas caixas de câmbio, tentando otimizar o desempenho, e ganhar performance sem comprometer a autonomia e desempenho do equipamento, de acordo com suas necessidades e possibilidades.
Terceiro colocado no último campeonato, Felix Rosenqvist quer dar vôos mais altos, e incomodar os favoritos Lucas Di Grassi e Sébastien Buemi.
            O equipamento básico dos carros continua a ser o mesmo: chassis fabricados pela Sparks, com pneus fornecidos pela Michelin. No campo comercial, a F-E atraiu mais um parceiro: a grife de roupas da Hugo Boss, que vem se juntar a outros nomes já estabelecidos na categoria, como a TAG Heuer, Allianz, Qualcomm, Julius Bar e DHL, entre outras. E a Fox Sports também continua firme na categoria, sendo responsável pela sua transmissão para inúmeros países no mundo inteiro, entre eles o Brasil, verá todas as provas ao vivo nos dois canais do grupo nas operadoras de TV paga nacionais.
            Confesso que sentirei falta das trocas de carros: era um diferencial da categoria, mais por necessidade, óbvio. Mas poderia ser mantido, e ao invés disso, resolvessem correr em pistas maiores, mesmo que ainda nas ruas, mas com extensões decentes, que permitissem mais duelos e opções de ultrapassagens, aumentando a emoção das corridas. Algumas pistas são curtas demais, e possuem trechos tremendamente complicados, dificultando sobremaneira as lutas por posições. Por enquanto, o único autódromo de fato a fazer parte do calendário é o da Cidade do México, onde usam o pequeno oval do Circuito Hermanos Rodriguez, com algumas variantes. E, claro, o circuito de rua de Marrakesh, capital do Marrocos, já usado em outras competições automobilísticas, que já é normalmente curto.
            A pista do traçado do ePrix de Hong Kong tem apenas 1,86 Km de extensão, com 10 curvas, sendo duas delas em grampos de baixa velocidade. A reta oposta é o único ponto favorável para ultrapassagens, que serão bem complicadas, portanto, largar bem é crucial para se obter um bom resultado. No ano passado, a vitória foi de Sébastien Buemi, com uma recuperação impressionante de Lucas Di Grassi, que terminou em 2º lugar. O pódio foi completado por Nick Heidfeld, da Mahindra, com o time indiano começando bem aquela temporada. O grid de largada, contudo, apresentou surpresas, com a primeira fila sendo ocupada pelos pilotos da NexTev, atual Nio, com Nelsinho Piquet inclusive largando na pole. Mas, durante a prova, o ritmo de corrida da equipe chinesa não era das melhores, e Piquet e seu companheiro, Oliver Turvey, caíram lá para trás, terminando em 11º e 8º, respectivamente. Buemi, que largara em 5º, não teve dificuldades para vencer a corrida e largar na frente no início do terceiro campeonato da categoria.
            Estaremos novamente representados no grid por Lucas Di Grassi, o atual campeão, firme no time da Audi Abt; e Nelsinho Piquet, primeiro campeão da categoria, agora competindo pela Jaguar. São dois nomes de muito respeito dentro da F-E. Nelsinho esteve alijado da disputa pelo título nas duas últimas temporadas, devido à aposta equivocada de seu antigo time nos equipamentos utilizados, e espera voltar paulatinamente às primeiras posições nas corridas ajudando no desenvolvimento do time da Jaguar. O time da fábrica inglesa ainda está aprendendo as particularidades da competição, mas não veio para ser uma figurante. Até a disputa das primeiras etapas, não dá para aferir a evolução alcançada para esta segunda temporada. Mas, por mais que tenha crescido, os rivais também se aprimoraram. Resta saber quem fez o melhor trabalho de desenvolvimento.
            Ambas as corridas serão transmitidas ao vivo pelo canal pago Fox Sports, nas madrugadas, no horário das 5 horas. Portanto, preparem suas torcidas, que a disputa vai começar, e em alta tensão...


Robert Kubica concentrou as atenções da imprensa no teste realizado esta semana no circuito de Yas Marina, em Abu Dhabi, na última atividade oficial das escuderias da F-1 este ano. O polonês cumpriu o programa de testes estipulado pela Williams, que se furtou de declarar maiores informações a respeito da performance de Robert. Disse de forma sucinta que ele deu conta das tarefas, e que era complicado fazer uma avaliação correta a respeito da situação. Obviamente, pelo fato de Kubica ainda não ter sido anunciado oficialmente como piloto do time, fica tudo na condicional. Aparentemente, Robert está sem problemas com relação à resistência física para guiar os atuais carros da F-1, o que é muito bom. Mas fica a dúvida sobre sua performance, se será tão boa como muitos esperam. Uma dúvida que não deve ser pequena, caso contrário, a Renault, onde ele fez testes há alguns meses, poderia ter cogitado seu nome por mais tempo, antes de ir atrás de Carlos Sainz Jr. De qualquer forma, o retorno do piloto polonês à F-1, depois do violento acidente de rali onde quase perdeu a vida, será algo a ser muito comemorado...

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