sexta-feira, 2 de junho de 2023

PROJETO A LONGO PRAZO

A Aston Martin fez bonito nos testes da pré-temporada no Bahrein, e mostrou que os bons tempos não eram fogo de palha, como muitos imaginavam.

            Sensação da temporada 2023, a Aston Martin vem confirmando seus planos de se tornar um time vencedor na Fórmula 1, e com pretensões de ser campeão um dia. Um objetivo que se mostrou muito mais difícil na categoria máxima do automobilismo nas últimas duas décadas, onde o número de times capazes de vencer corridas regularmente diminuiu consideravelmente, e o de ser campeão, menor ainda. Não é impossível, mas é difícil. E a F-1 já viu vários projetos de times que almejavam o mesmo ideal, mas fracassaram de forma contundente, ou não obtiveram os resultados à altura do esforço. É preciso combinar vários fatores, sendo dois deles recursos financeiros, e competência.

            Dois exemplos recentes de times que chegaram na F-1, prometeram muito, e não entregaram quase nada, foram os casos da BAR e da Toyota. A primeira, que estreou em 1999, surgira dos espólios da finada Tyrrel, e prometia vencer corridas, e até disputar o título. Dinheiro não faltava, em uma época onde o gasto não tinha limites regulamentares. Mas faltou competência, tanto que a temporada de estréia a escuderia ficou sem marcar um único ponto. Alguns anos depois, com muito esforço, e menos falação, o time até engrenou alguns bons resultados, obtendo até pódios, mas foram resultados esporádicos, culminando com a venda do time para a Honda, que também fracassou de forma monumental. Vendido o time para Ross Brawn, o inglês, com muita competência, e aproveitando-se de particularidades do regulamento, levou seu time a vencer corrida e o título em 2009. O time acabou comprado pela Mercedes, que a partir de 2014, até 2021, ganhou quase tudo na F-1.

            Já a Toyota, fez uma estréia de time grande, construindo tanto carro quanto motor. A marca nipônica até tinha feito uma temporada “paralela” no ano anterior à estréia, correndo com um carro de testes nas pistas da temporada, a fim de se preparar adequadamente. Mas, quando estreou, os resultados não apareceram. O time, apesar da gigantesca estrutura montada, não conseguiu nenhuma vitória, e o máximo que conseguiu foram 13 pódios, 3 poles, e 3 melhores voltas. Com a crise econômica de 2008, o time nipônico praticamente puxou o carro, e desistiu da F-1. O time se perdeu no gerenciamento da escuderia, e mesmo contando com pilotos de quilate, como Cristiano da Matta, não chegou aonde pretendia. Lição aprendida, a marca japonesa foi se reencontrar no Mundial de Endurance (WEC) alguns anos depois, sendo atualmente o time a ser batido na classe dos Hypercars.

            E agora, o lance da vez é a Aston Martin, egressa da antiga Force India, que projeta grandes expectativas para o futuro próximo, do qual o mais novo passo é a associação com a Honda para fornecimento de propulsores a partir de 2026, sendo o novo time oficial da marca nipônica, atualmente associada de forma semi-oficial à Red Bull, mas com o time dos energéticos já tendo firmado acordo para o retorno da Ford a partir de 2026 na construção de suas unidades de potência. Com recursos, e uma montadora por trás, estão montados dois pilares básicos para um projeto vencedor na categoria máxima do automobilismo. Sonhos nada modestos, como Stroll faz questão de lembrar sempre que pode.

            Desde que anunciou a compra da equipe Force India na década passada, o bilionário canadense Lawrence Stroll sempre declarou que sua meta era que seu time se tornasse uma potência na F-1, além de, claramente, dar lugar ao filho para fazer sua carreira decolar na categoria. Uma reorganização e reestruturação começou a ser feita, com vistas a dar resultados justamente a partir do ano passado, quando estrou o novo regulamento técnico da competição. Ressuscitou o nome Aston Martin, uma marca icônica, que já esteve presente em um breve momento na F-1 décadas atrás. O primeiro ano do novo regulamento foi claudicante para a Aston Martin, mas o processo de evolução estava em curso. Uma nova e mais moderna fábrica, ao lado do autódromo de Silverstone, com um novo túnel de vento em construção, que deverá ser um dos mais modernos entre as instalações de times de competição automobilística, são instrumentos vitais para o desenvolvimento do projeto.

            Então, uma hora, com a devida competência, as peças se encaixariam. E calhou de acontecer este ano. Por mais que tal posição se deva às trapalhadas de rivais como Mercedes e Ferrari, e até de Alpine e McLaren, que ao invés de evoluir, regrediram em relação ao ano passado, a melhora da escuderia britânica é real, e só não obtém maior destaque porque a hegemonia da Red Bull, ainda mais patente do que em 2022, está ofuscando toda a concorrência. E o time ainda fez um movimento certeiro, ao contratar Fernando Alonso para ocupar o lugar do agora aposentado Sebastian Vettel, que resolveu pendurar o capacete ao fim do ano passado. Por mais competente que o alemão pudesse ser, é inegável que o piloto espanhol, que ainda demonstra uma velocidade impressionante para a idade, não perdeu os dotes que o levaram a ser apontado em diversas temporadas como o mais completo piloto do grid. E é Alonso quem está impulsionando a Aston Martin a um novo patamar, tendo obtido até agora nada menos que 5 pódios em 6 corridas, colocando-se como “melhor do resto” do grid, e credenciando-se a uma vitória caso a favorita Red Bull acabe sofrendo reveses inesperados.

O grande duelo da temporada: Aston Martin X Mercedes X Ferrari. Apesar da Aston Martin estar à frente, o time não pode subestimar os adversários.

            Em Mônaco, Alonso esteve soberbo. Quase arrebatou a pole-position, não fosse uma volta alucinante de Verstappen quando todos já davam por certa a primeira posição para o espanhol no grid, da mesma maneira quando Ayrton Senna arrancava uma volta demolidora nos momentos finais dos treinos. Questiona-se o primeiro pit stop do espanhol, colocando pneus slicks, quando a grande maioria já esperava pela chuva chegando ali pelos arredores, o que motivou uma segunda ida de Fernando aos boxes para colocar pneus intermediários, podendo ter jogado fora ali as chances reais de vitória. Precaução exagerada da Aston Martin? Talvez. Em uma temporada que vem se mostrando acima das expectativas para o time, graças ao bom trabalho do bicampeão, talvez a postura da escuderia tenha sido garantir o resultado do que arriscar tentar a vitória. As chances podiam ser diminutas, mas existindo, deveria ter sido tentada, mesmo que não desse nada diferente do resultado final, e Alonso terminasse do mesmo modo em 2º lugar. Mas um time que quer ser vencedor tem de aprender a arriscar nos momentos cruciais. É um tipo de procedimento ao qual a Aston Martin tem de aprender a lidar melhor.

            Até aqui, todos os movimentos são calculados, e pautados pelo planejamento de longo prazo. Os resultados dos novos recursos disponibilizados com a nova fábrica em Silverstone começam a dar frutos, e o time confessa que os resultados atuais só eram esperados mesmo para 2024, o que significa que eles conseguiram, mesmo com uma postura prudente de um passo por vez, adiantar o cronograma. Com o novo túnel de vento, e maior entrosamento dos profissionais oriundos de outros times, é esperada uma melhor sintonia dos setores da fábrica, e promover um desenvolvimento ainda melhor do carro. Este, aliás, será um assunto a ser conferido a fundo nesta temporada, com os times trazendo várias inovações para seus carros no GP da Espanha, em Barcelona. Por mais que ocupe a vice-liderança do campeonato, a diferença para a toda-poderosa Red Bull é enorme, e impossível de ser reduzida, enquanto a diferença para Ferrari e Mercedes é bem mais estreita, podendo ser neutralizada, a depender das evoluções de performance dos dois rivais. Nos construtores, a Mercedes já está prestes a superar a Aston Martin, ainda que isso se deva mais ao time de Brackley contar com uma dupla mais forte de pilotos do que a escuderia britânica.

            Sabe-se que a Red Bull é extremamente eficiente em desenvolver seu carro durante a temporada. O corpo técnico comandado por Adrian Newey sempre encontra formas de evoluir o desempenho do projeto, mesmo quando ele começava o ano de forma não tão positiva como o esperado. Quando o projeto já começa dando tudo certo, então... A Ferrari, por outro lado, padece de altos e baixos, e no ano passado, tinha o carro a ser batido, mas perdeu o rumo conforme a temporada avançava, tropeçando em erros também dos pilotos, e da estratégia de corridas. Mas, especificamente na evolução do carro, eles tomaram um baile da Red Bull, e em determinados momentos, se viram ameaçados até pela Mercedes, que mesmo com um carro problemático como foi o W13, quase colocou o vice-campeonato ferrarista em risco. No caso da Mercedes, o carro de 2022 começou problemático, e terminou como 3ª força, porém sem conseguir efetivamente comprometer as posições de Ferrari e Red Bull no final das contas. No momento atual, o máximo que se pode esperar é diminuir a distância para a Red Bull. Alcançar o time rubro-taurino já seria um resultado otimista demais. Mas a obrigação é não se deixar ser superada por Ferrari e Mercedes, e aí, a disputa é bem mais apertada, porém realista, e possível.

Mostrando novamente toda a sua capacidade de pilotagem com um carro competitivo, Fernando Alonso tem sido presença frequente nos pódios da temporada, perdendo apenas para os pilotos da Red Bull.

            A Ferrari tem um carro competitivo, mas tem se perdido em aproveitar todo o seu potencial, cometendo erros a torto e a direito, seja com seus pilotos, com a estratégia de corrida, e demais fatores. Mas não se pode contar com o azar eterno do time de Maranello, e se ele conseguir colocar ordem na casa, a tendência é vir para cima da Aston Martin, talvez com mais força do que o time inglês possa lidar. No caso da Mercedes, a escuderia acaba de colocar em ação o seu novo W14 “B”, e se ele se mostrar pelo menos funcional, o objetivo da equipe alemã é colocar o time na direção certa. E, se desafiar a Red Bull é um objetivo por demais ambicioso no presente momento, deixar a Aston Martin para trás já não é, sendo obrigação moral. E o único modo de neutralizar essas ameaças diretas é simplesmente fazer o dever de casa, e promover atualizações que façam o modelo AMR23 evoluir de forma eficiente, otimizando sua performance. Na pista, Fernando Alonso já mostrou que se garante, enquanto Lance Stroll é a grande dúvida, e neste momento, o grande ponto fraco da escuderia, que só não está melhor nos resultados devido aos fracos resultados do piloto canadense. Lance já mostrou ser capaz de melhores performances, e precisa recuperar-se na pista se não quiser perder prestígio junto ao novo parceiro de time, e voltar a ser visto apenas como um piloto que só garante lugar no grid graças ao “paitrocínio” que possui.

            A associação com a Honda é outro ponto-chave certeiro no processo, e este, não dá para antecipar os resultados. Os japoneses compreenderam que tomaram a decisão errada ao anunciar sua saída ao fim de 2021, e resolveram retornar. Na verdade, a marca nipônica ainda está presente no grid, de forma semioficial, nos carros da Red Bull e Apha Tauri, já que suas unidades de potência, rebatizadas de Red Bull Powertrains, ainda são as unidades concebidas pela Honda, que apesar de serem construídas agora pela nova empresa do time dos energéticos criada especialmente para isso, ainda possuem assistência dos japoneses, de quem os taurinos compraram os direitos do projeto do propulsor. Isso indica que a pesquisa e desenvolvimento das novas unidades da Honda já partem de uma base bem competitiva, prenúncio de boas perspectivas para o início da nova relação com a Aston Martin, ao contrário do que aconteceu na recente nova relação com a McLaren na década passada. Por mais que a parceria com a Mercedes seja positiva no atual momento, a Aston Martin quer mais, e a Honda lhes configurará o status de time de fábrica, algo que conta muitos pontos a favor, como ter acesso total aos detalhes técnicos do equipamento que será fornecido, e sua integração com o chassi, em um projeto de desenvolvimento conjunto que tende a otimizar sua eficiência.

            Desde a primeira temporada com o time sob propriedade de Lawrence Stroll, em 2020, já estamos no quarto ano do projeto. Cada detalhe planejado até aqui vem sendo cumprido, com boa eficiência, mais fora da pista do que dentro, até o fim do ano passado. O início promissor de 2023 é encorajador, por chegar antes do esperado, e que só não brilha mais porque a Red Bull está eclipsando todo o resto da concorrência. Mas, mais importante do que mostrar estar chegando lá na frente, é manter essa evolução, e chegar cada vez mais perto. Os passos mais difíceis ainda estão para ser dados, que é conseguir vencer, sem depender de problemas dos adversários. E vencer com regularidade, e não de forma esporádica, como tem ocorrido mais recentemente com escuderias fora do trinômio Red Bull/Ferrari/Mercedes.

            A torcida é para que eles cheguem lá, e ajudem a agitar as disputas na F-1. Quanto mais times vencerem, e disputarem o título efetivamente, melhor para o espetáculo, e a categoria máxima do automobilismo vem precisando muito disso, sem começar a inventar palhaçadas na tentativa de melhorar a competição como tem ocorrido recentemente. Força, Aston Martin!

 

 

Hoje começam os treinos oficiais para o Grande Prêmio da Espanha, e vários times estão trazendo atualizações para seus carros, conforme seus cronogramas. A etapa espanhola, no mais do que já conhecido circuito de Barcelona, na Catalunha, tem uma novidade: a volta do traçado original no trecho final da pista, que dá acesso à reta principal, que anos atrás havia sido “quebrado” com a introdução de uma curva mais apertada com o objetivo de baixar a velocidade na entrada da grande reta, e aumentar a segurança no trecho, após alguns acidentes ocorridos naquele setor da pista. Devido ao grande conhecimento que os times possuem do circuito, normalmente utilizado nos testes da pré-temporada em quase todos os anos recentes, são poucas as surpresas que os times podem proporcionar, e as ultrapassagens também são muito complicadas. O trecho “quebrado” da aproximação da reta dos boxes ajudava a dificultar as ultrapassagens, com os carros não conseguindo entrar muito próximos na reta, o que deve ser facilitado com o retorno da configuração antiga da pista, com os carros entrando mais a fundo no retão, ajudando a tornar as disputas mais possíveis no trecho. Claro que, em teoria, o raciocínio parece óbvio, mas vamos ver se a realidade se confirma.

Os carros da F-1 voltarão a fazer o trecho final da pista de Barcelona como era antigamente (seguindo o traçado com a beirada verde), não mais usando a chicane interna que só complicava as disputas de posição na entrada da reta.

 

 

Terminadas as 500 Milhas de Indianápolis, o pessoal da Indycar não tem tempo para descansar, e hoje já começam os treinos livres para o GP de Detroit, com uma importante novidade: o evento não será mais realizado no traçado montado no Belle Isle Park, mas em um novo circuito de rua no centro da cidade, próximo ao local onde era montado o traçado original da corrida, que estreou nos anos 1980 como etapa do campeonato da F-1, e depois fazendo parte do calendário da antiga F-Indy, até que então, devido às queixas de pilotos e equipes, a prova mudou-se para o parque do Belle Isle Park, no meio do Rio Detroit. Desde 2012 a corrida tem permanecido firme no calendário da Indycar, e agora, a prova será novamente realizada no centro da cidade, junto ao Renaissense Center, em um traçado com cerca de 2,736 Km de extensão, com 9 curvas. A prova será disputada em 100 voltas, com largada para a tarde de domingo, às 16:00 Hrs., pelo horário de Brasília. Um detalhe interessante é que a largada e a chegada estão posicionados em pontos opostos do traçado. A largada será realizada na Avenida East Jefferson, o maior trecho de reta do traçado, e a chegada está localizada na Rua Franklin, onde estão localizados também os boxes e paddock do circuito. Vamos ver como a nova pista se sai em sua estréia, neste que será a única novidade em termos de circuito na temporada 2023 da Indycar.

O novo local e traçado do GP de Detroit da Indycar em 2023.

Nenhum comentário: