sexta-feira, 12 de agosto de 2022

DECISÃO EM SEUL

Despedindo-se da competição de carros elétricos, a Mercedes é a favorita para conquistar os títulos de pilotos (com Stoffel Vandoorne, acima) e de equipes pelo segundo ano consecutivo.

            A temporada 2022 da Formula-E chega ao seu final neste fim de semana, com a rodada dupla que será realizada na cidade de Seul, capital da Coréia do Sul. Mais do que a estréia de uma nova cidade e pista no calendário da competição do certame de carros monopostos 100% elétricos, teremos também a decisão do título, já que matematicamente, ainda temos quatro pilotos na disputa, mas que na prática, ficamos reduzidos mesmo a três postulantes.

            A bem da verdade, o título já está quase nas mãos de Stoffel Vandoorne. O piloto belga da equipe Mercedes entra na pista com 36 pontos de vantagem para o neozelandês Mitch Evans, da equipe Jaguar; e 41 pontos para o suíço Edoardo Mortara, da Venturi. Distando 57 pontos atrás, temos o francês Jean-Éric Vergne, da Techeetah, que na prática, não tem mais chances de título, uma vez apesar de que ainda temos 58 pontos em disputa na rodada dupla, é impossível a combinação de resultados permitir ao único bicampeão da categoria chegar ao seu terceiro título. Vergne precisaria marcar a pole-position nas duas corridas, vencer ambas, e ainda marcar o ponto extra da melhor volta, e ainda assim, precisaria torcer para um desastre completo não apenas de Vandoorne como de Evans e Mortara.

            Para Vandoorne, é a coroação de uma temporada onde o piloto conseguiu manter-se mais constante nos resultados do que seus adversários, apesar de ter menos vitórias. Foi apenas um triunfo, contra três de Evans e de Mortara. Abandonos e resultados ruins destes dois, contudo, os deixaram em posição desvantajosa na tabela de pontos. Até então favorito para o título, Mortara zerou na rodada dupla de Londres, ficando sem marcar pontos, enquanto Evans marcou apenas 10 pontos na primeira prova e zerou na segunda. Em contrapartida, Vandoorne subiu ao pódio na primeira prova, e foi 4º colocado na segunda corrida, marcando 30 pontos que o fizeram disparar na pontuação. O belga pode administrar os resultados nas corridas deste sábado e domingo, enquanto seus adversários precisam partir para o ataque se quiserem reverter a situação, não só para tentar superar Stoffel, mas um ao outro, afinal Evans e Mortara estão separados por apenas 5 pontos, e apenas um deles será vice-campeão. Quem vai ficar na lanterna do TOP-3? Pode até ser que ambos entrem em luta direta por posição, e quem vai rir por último nessa disputa será Vandoorne, que muito provavelmente pode tentar evitar duelar com ambos, se isso não colocar em risco sua conquista do título. E, graças à vantagem acumulada até aqui, ele pode se permitir isso, para desespero dos rivais.

            Vandoorne faz uma temporada de resultados. Em 14 provas disputadas, subiu ao pódio na metade delas, e ficou apenas uma corrida sem pontuar, quando foi o 11º colocado na etapa da Cidade do México. Mas o belga se notabilizou não apenas pela competência em buscar resultados na pista, mas também pela sorte de não se envolver em confusões, algo pelo qual seus rivais não conseguiram evitar de sofrer em algum momento, e com frequência maior do que seria desejável. E agora, Stoffel está perto de conquistar o título, e como foi dito, podendo dispor de uma tranquilidade que seus rivais não terão nesta rodada dupla final.

Mitch Evans, da Jaguar (acima), e Edoardo Mortara, da Venturi (abaixo) tem uma grande desvantagem na pontuação para reverter se quiserem tirar o título de Vandoorne, o que vai ser difícil de ser conseguido, mas as corridas na F-E podem ser muitas vezes imprevisíveis, então...


            Seria uma situação de júbilo: pelo segundo ano consecutivo, a Mercedes conquistará o título de pilotos na F-E, assim como fez em 2021, com Nyck De Vries, que este ano faz uma temporada apagada. Mas, mesmo assim, a marca das três pontas está deixando a competição, conforme anunciou ainda no ano passado, já tendo repassado a escuderia para outro proprietário, que assumirá as operações do time na próxima temporada. A McLaren comprou o time alemão, e fará sua estréia na categoria de carros elétricos em 2023, utilizando o trem de força da Nissan. Havia certa expectativa sobre o que seria feito do time, e temia-se que a categoria ficasse com uma equipe a menos, o que não irá acontecer. Medida oportuna para a McLaren, que já havia anunciado há algum tempo que tinha intenção de ingressar no campeonato dos carros monopostos elétricos, e que agora pega um time praticamente já montado, com experiência na categoria.

            Mas, mesmo com o título estando bem perto, Vandoorne não pode baixar a guarda. A F-E se caracteriza por ter corridas bem improváveis e inusitadas, e o piloto da Mercedes, apesar de ter conseguido escapar de maiores percalços até aqui, ainda pode sofrê-los, dependendo de como a situação se mostrar na pista de Seul. O circuito montado nas ruas da capital sul-coreana tem 2,618 Km de extensão, e conta com 22 curvas, tendo uma parte de alta velocidade com poucas curvas, e um trecho bem mais tortuoso, que passará por dentro do estádio do Complexo Esportivo Jamsil, construído para os Jogos Asiáticos de 1986 e para as Olimpíadas de 1988. Pelo desenho do traçado, ultrapassar não deverá ser um grande problema na pista, nos seus trechos de retas, mas claro que da teoria à prática, muita coisa pode mudar, e não há como comemorar antecipadamente.

            E parece que nem vai haver jogo de equipe também. Nyck de Vries recusou ceder sua posição para Vandoorne na segunda corrida de Londres, alegando que o belga tinha pontos suficientes para não precisar disso. De Vries acabou em 3º, e Vandoorne em 4º. De fato, não era mesmo necessário, e mesmo que o fizesse, isso não encerraria a disputa pelo título matematicamente. Que tudo se resolva na pista mesmo, e que a competição pura e simples prevaleça, sem estas ordens de troca de posição, que só denigrem o esporte.

            Na disputa por equipes, a Mercedes deve conquistar também o título pelo segundo ano consecutivo. A escuderia alemã tem 291 pontos, contra 255 da Venturi, uma diferença de 36 pontos. A Techeetah vem em 3º lugar, com 244 pontos, lutando por no máximo o 2º lugar, já que a diferença para a Mercedes é muito grande para ser descontada em condições normais. Aliás, a Mercedes poderia até dizer que está fazendo um 1-2 no campeonato de equipes, já que a Venturi é seu time cliente, utilizando os trens de força da marca germânica. E a Techeetah, mesmo com uma temporada complicada, mostra sua qualidade ao provavelmente garantir a 3ª posição, já que a Jaguar está 44 pontos atrás do time da DS/Citroen, e dificilmente conseguirá superar o time de Jean-Éric Vergne e Antonio Félix da Costa.

            O encerramento da temporada 2022 também fecha um ciclo na Formula-E. Sairão de cena os carros da segunda geração, para a entrada dos novos modelos Gen3 a partir de 2023. Assim como tivemos os primeiros quatro anos com uma especificação de carro, a adoção dos modelos Gen2 apresentaram um panorama novo na competição, e agora, o mesmo irá ocorrer na utilização dos novos carros, que serão ainda mais potentes e velozes, com trens de força e sistemas de baterias inteiramente novos. Alguns nomes, como a Mercedes, estão saindo, mas outros chegam, como a Maseratti, mostrando uma renovação no certame, que deve continuar crescendo, voltando a ter um grid de 24 carros.

Lucas Di Grassi (acima) venceu a segunda corrida em Londres e despede-se da Venturi em Seul, rumo à Mahindra no próximo ano. Sergio Sette Câmara (abaixo) marcou seus primeiros pontos no ano na última prova, e também se despede de seu atual time, a Dragon, ainda buscando um lugar para 2023.

     

                A temporada 2023 também será a maior da categoria até aqui, com 18 provas, cinco delas em rodadas duplas, e com o Brasil finalmente entrando no calendário, com uma corrida em São Paulo, desejo que já vinha de longa data, mas que só agora está se concretizando, marcada para 25 de março, em um traçado que será montado junto ao Pavilhão do Anhembi, na Zona Norte da capital paulista. Outra estréia confirmada é da Índia, com uma prova na cidade de Hyderabad. Ainda há outras 3 datas em aberto, e por enquanto, ainda não se tem uma definição oficial de quais poderão ser estas provas, mas muito provavelmente Vancouver, no Canadá; e Cidade do Cabo, na África do Sul, deverão entrar para o calendário. Um retorno à China, onde a F-E já competiu em algumas temporadas, está descartado, em virtude das políticas restritivas de Covid Zero implantadas pelo governo de Pequim no momento.

            E esperemos poder contar com nossos pilotos no grid na corrida em casa. Sergio Sette Câmara ainda não tem sua permanência confirmada para 2023, mas está em negociação no mercado, buscando time para competir no próximo ano. Já Lucas Di Grassi acabou de ser anunciado na equipe Mahindra como piloto para a próxima temporada, e manterá a presença brasileira na competição, que vem desde a primeira corrida da F-E, que teve justamente Di Grassi como o primeiro vencedor da competição, em 2014.

Traçado do ePrix de Seul (acima), que terá um trecho dentro do estádio de Jamsil (abaixo).


            A corrida na capital sul-coreana também tem um marco de grande significado para a F-E. Com a realização da rodada dupla, a categoria chegará à marca de 100 provas disputadas, desde que foi realizado o seu primeiro ePrix, há quase oito anos atrás. Muitos diziam que a categoria de carros elétricos seria apenas mais uma aventura de curta duração, como foram outros campeonatos como a GP Masters, ou a A1GP. Mas, eis que aqui estamos para acompanhar o encerramento da oitava temporada da série, que teve seus altos e baixos ao longo destes anos todos, mas seguiu firme em frente, e com uma relação de nomes de peso para se fazer inveja até mesmo na toda-poderosa F-1. Apesar do sucesso alcançado até aqui, a F-E ainda é vista como algo excêntrico, e para muitos, não é automobilismo de verdade, com muitos fãs que ainda torcem o nariz para o barulho (ou falta dele) dos carros, ainda criticando veemente sua baixa velocidade de ponta, se comparada a outros certames. Mas a F-E sempre teve como objetivo ser diferente, e neste ponto, o mais importante é que tem conseguido entregar na maioria das vezes boas e emocionantes corridas, com disputas ferrenhas entre vários de seus pilotos. E esta temporada teve boas doses de emoção nas 14 provas disputas até aqui, e a rodada final tem tudo para continuar nessa toada. E disputa na pista é o que deve ser mais importante para o fã do automobilismo, algo que a F-E não tem negado até aqui. Então, é hora de aproveitar para torcer e ver quem será o campeão da temporada 2022. A TV Cultura e o SporTV 3 exibem as duas corridas ao vivo, a partir das 3:30 Hrs. da madrugada, tanto deste sábado quanto no domingo. E que possamos ver boas disputas na pista.

 

 

A rodada dupla de Seul também marca a despedida definitiva de outras duas marcas presentes na competição. Audi e BMW deixaram oficialmente a F-E ao fim da temporada passada, mas continuaram presentes na temporada deste ano equipando seus times. A Andretti seguiu usando o trem de força da marca bávara, de quem era o time oficial na competição, e conseguiu até uma vitória no ano, com Jake Dennis na primeira corrida da rodada dupla de Londres. Já a Audi, que fechou seu time de fábrica, manteve o fornecimento do seu trem de força para a Envision, que também conquistou uma vitória, com Nick Cassidy, na primeira corrida da rodada dupla de Nova Iorque. Os dois times usarão novos trens de força em 2023, de outros fornecedores. O time de Michael Andretti irá utilizar o trem de força da Porsche, enquanto a Envision será equipada pelo trem de força da Jaguar. Tanto Jaguar quanto Porsche até agora equipavam unicamente seus times de fábrica na competição.

 

 

Ex-parceira da Audi em sua participação na F-E, a ABT retorna ao grid da competição na próxima temporada, agora como time cliente da Mahindra, que passará a fornecer o trem de força para a escuderia. E já garantiu um de seus pilotos para 2023: Robin Frijns, que se despede da Envision neste final de semana. A escuderia ainda não definiu seu outro piloto.

 

 

Sergio Sette Câmara faz suas últimas corridas pela Dragon/Penske neste fim de semana, já sabendo que está fora do time para 2023, e pelo menos, terá a satisfação de não ter ficado zerado na temporada, após marcar seus primeiros pontos com o 9º lugar na segunda corrida em Londres, um grande feito considerando a falta de ritmo que o carro tem enfrentando este ano, com um trem de força muito pouco eficiente produzido pela Penske. Um esforço que será abandonado, já que o time passará a usar no próximo ano o trem de força da DS/Citroen, com quem firmou uma nova parceria, e irá contar com Stoffel Vandoorne e Jean-Éric Vergne como dupla titular. Enquanto o piloto brasileiro ainda busca um novo time para competir na F-E no próximo ano, Antonio Giovinazzi não deve continuar na categoria, já tendo declarado que não se adaptou ao estilo de competição da F-E.

 

 

Sam Bird não estará presente ao volante do carro da Jaguar em Seul. O piloto inglês fraturou a mão em uma batida com Edoardo Mortara na primeira corrida de Londres. A fratura não havia sido diagnosticada a princípio, de modo que Bird participou da segunda corrida, mas um novo exame constatou a lesão, que exigirá uma cirurgia para correção, e o time e o piloto optaram pela ausência de Bird na rodada dupla final, a fim de que o inglês possa ter uma recuperação adequada para estar pronto para os testes da próxima temporada, quando estreará no novo modelo Gen3. A Jaguar escalou Norman Nato, seu piloto reserva, para ocupar o carro de Bird nestas duas corridas finais. Nato, por sinal, vai aproveitar a rodada dupla para reforçar sua posição no mercado, buscando um time para competir na temporada 2023 da F-E.

 

 

Na F-1, o período de férias de meio de ano da categoria máxima do automobilismo continua atribulado em termos de notícias no caso de Oscar Piastri e seu destino de competição em 2023. A Alpine, time que pretendia promover o piloto no próximo ano ao perder Fernando Alonso para a Aston Martin, pretende ir aos tribunais para fazer valer sua posição nos serviços do australiano, que anunciou um acordo com a McLaren, que por sua vez, já se movimenta para dispensar Daniel Ricciardo para o próximo ano. Ricciardo, por sua vez, já antevendo que poderia dançar neste rolo de cadeiras, já teria entrado em contato com a Alpine, que declarou não ver problema algum em contar novamente com seu ex-piloto. Mas Daniel não pretende deixar a McLaren de mãos vazias, e estaria fazendo questão de receber a multa contratual prevista em seu contrato com a equipe de Woking, que envolve o pagamento de US$ 21 milhões em caso de rescisão antecipada de seu acordo, algo que certamente não está sendo visto sem ressalvas pela direção da McLaren. Vale lembrar que a equipe de Woking já está com outro rolo envolvendo o espanhol Álex Palou, atual campeão da Indycar, que ao ter anunciada sua permanência no time da Chip Ganassi para 2023, também desautorizou a escuderia, declarando ter firmado contrato com a equipe inglesa, que tinha claras pretensões de colocá-lo no lugar de Daniel, posição que agora deve ser de Piastri, o que deixaria Palou sem a sonhada vaga na equipe de F-1. A disputa de Palou já foi parar na justiça federal dos Estados Unidos. Aguardemos desdobramentos dos casos nas próximas semanas...

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