sexta-feira, 5 de agosto de 2022

ACABOU O CAMPEONATO?

Max Verstappen venceu pela oitava vez na temporada, e está cada vez mais inalcansável. Bi é questão de tempo?

            A Fórmula 1 vai para as férias de agosto com a sensação de que o campeonato já acabou, não obstante ainda reste nove etapas para fechar o calendário de 2022. Mas, depois de Max Verstappen obter domingo passado na Hungria a sua oitava vitória do ano, e abrir nada menos do que 80 pontos de vantagem para o rival mais próximo, no caso, Charles LeClerc, como contestar a sensação de que tudo já está mais do que encaminhado na direção do bicampeonato do holandês?

            O que era para ser uma prova de redenção da Ferrari, depois do que vimos em Paul Ricard, acabou se transformando em mais uma derrota fragorosa para a Red Bull, que só não foi pior porque a dupla ferrarista ainda marcou pontos, minimizando o prejuízo. Mas, como se pode falar em minimizar um prejuízo, quando na disputa de pilotos, LeClerc ficou 80 pontos atrás de Verstappen, e a Ferrari, por sua vez, despencou 97 pontos atrás da Red Bull? Certo, tivessem abandonado, como ocorreu em Baku, o baque seria ainda pior, mas mesmo assim, não houve como deixar de sentir uma frustração retumbante pelo resultado visto em Hungaroring.

            A Ferrari, que começou o ano dando pinta de grande favorita, com uma Red Bull posando de desafiante com problemas, agora se vê como a maior inimiga de si mesma, ora na pista, ora dentro dos boxes. E, como desgraça pouca é bobagem, o time de Maranello está agora apenas 30 pontos à frente da Mercedes, que começou o ano em sua pior forma em uma década, mas vem paulatinamente se recuperando na competição. No campeonato de pilotos, LeClerc ainda é o vice-líder, mas com apenas 5 pontos de vantagem para Sergio Perez, que nem vem andando muito bem nas últimas corridas, só para exemplificar como a situação do time italiano está. E George Russell, com uma temporada impressionante, vem chegando rápido, e Lewis Hamilton vem a reboque, diminuindo a diferença a cada GP, com Carlos Sainz Jr. a ser engolido pela dupla ferrarista no ritmo em que as coisas andam.

            O pior é que o time ferrarista vem tropeçando em si mesmo, com erros tanto de seus pilotos quanto da escuderia em si. Se na França foi Charles LeClerc quem entregou uma corrida que tinha grandes chances de vencer por um erro seu, na Hungria foi o time quem fez uma aposta equivocada de pneus no carro do monegasco, além do momento errado de parada do mesmo na prova, o que o tirou de um pódio aparentemente garantido para terminar numa 6ª posição pouco condizente com quem precisa tirar a diferença para Max Verstappen. Mattia Binotto prometeu que a Ferrari teria condições de vencer todas as corridas restantes da temporada, mostrando que a desvantagem na pontuação para os rivais não é intransponível. O problema é que, pelo andar da carruagem, vai ser muito difícil vencer todas as provas. E a promessa já foi quebrada justamente na Hungria, já que havia sido feita depois da prova da França. Então...

Além de colocar os pneus menos recomendados, Ferrari ainda chamou Charles LeClerc prematuramente aos boxes, deixando o monegasco contrariado.

            Verstappen pode se dar ao luxo de apenas administrar a vantagem daqui por diante, mas quem conhece o holandês sabe que isso é mera ilusão. Max parte sempre para o ataque, e se tiver chance de vitória, ele irá para cima, até mesmo quando a situação parecer não tão propícia assim, como ocorreu na Hungria. Largando em 10º, devido a um problema no motor, e com a Ferrari largando na frente, apesar da surpreendente pole de George Russell, todos viam a chance perfeita da Ferrari e seus pilotos saírem de Hungaroring com menos desvantagem na classificação do campeonato. Mas, nada saiu como se esperava. E agora, na melhor das hipóteses, o time ferrarista precisaria que Verstappen abandonasse as próximas três corridas, e que LeClerc vencesse todas, e mesmo assim, ainda ficaria atrás do piloto holandês, algo muito difícil de ocorrer. Mesmo que ocorra algum abandono do atual campeão do mundo, a falha capital já foi cometida, deixando que o rival abrisse vantagem tão grande na pontuação, o que lhe dá ampla tranquilidade para relevar reveses de um ou dois abandonos. E nisso, ainda é preciso ver se a Ferrari e seus pilotos se acertam na pista e nos boxes.

            No caso da Hungria, Binotto fala que o tempo frio no domingo provocou mudanças na performance dos carros, deixando-os menos competitivos do que se esperava. Tem sua lógica, afinal, Carlos Sainz acabou poupado do erro dos pneus mais duros, mas mesmo assim o espanhol ficou de fora do pódio, atropelado por Lewis Hamilton na parte final da corrida, quando ambos usavam o mesmo tipo de composto, o macio. No caso de LeClerc, o time deveria ter visto o comportamento dos pilotos da Alpine, que largando com os pneus duros, não conseguiram avançar na corrida, e visto que estes pneus não iriam dar certo, afinal, se eles vissem que mesmo com os compostos macios o carro não rendia a mesma coisa, o que os fez imaginar que com pneus mais duros a situação seria melhor? Nem LeClerc entendeu o motivo de se usar os compostos duros, e aqui o piloto também se mostrou passivo demais perante o time, quando poderia ter se imposto, mostrando que ainda tinha performance com os pneus macios, e continuado na pista, tentando abrir vantagem, o que vinha conseguindo paulatinamente, e insistir também em não usar este tipo de pneus. Não havia necessidade de parar naquele momento, com a Ferrari preocupada em demasia com Verstappen e sua parada, temendo o undercut. O tiro acabou saindo completamente pela culatra. Pode ser fácil afirmar que LeClerc deveria ter se imposto mais e recusado a proposta da Ferrari de parar naquele momento, e do tipo de composto de pneus, como convém a um piloto forte e candidato ao título, mas depois do erro crasso do monegasco em Paul Ricard, a confiança do time no piloto poderia não ser lá essas coisas para lhe dar moral de peitar a estratégia do time, para não mencionar que o próprio Charles crucificou a si mesmo pelo erro, ao afirmar que, se continuasse errando daquele jeito, não tinha direito de ser campeão. Resumindo, tanto piloto quanto time precisam afinar sua sintonia, para evitarem cometer erros que poderiam facilmente ser evitados.

Lewis Hamilton (acima) fez uma prova combativa para terminar em 2º lugar pela segunda corrida consecutiva. George Russell (abaixo) conseguiu uma surpreendente pole-position, e deu trabalho para ser superado na pista.


            No cômputo geral da temporada, entre erros e acertos, é a Ferrari quem tem maior culpa no cartório até aqui, pois LeClerc teve dois erros no ano: em Ímola, quando rodou na caça a Sergio Perez; e em Paul Ricard, quando bateu sozinho na liderança da corrida. Já a Ferrari se embananou na estratégia prejudicando Charles em Mônaco e na Inglaterra, além agora da Hungria. Some-se a isso duas quebras de motor, em Barcelona e em Baku, onde a responsabilidade do time é relativa, já que Verstappen também teve dois abandonos por problemas de motor no ano, e mesmo assim, depois de ficar muito atrás de LeClerc após a prova da Austrália, não apenas reagiu como já conseguiu aplicar praticamente um nocaute fulminante nos rivais.

            A Ferrari também parece se complicar nas prioridades dos pilotos. Carlos Sainz acabou favorecido pelo time com as trapalhadas de Mônaco e Silverstone, e até o presente momento, o time italiano não tem dado preferência explícita a nenhum dos dois pilotos. Se por um lado é louvável, depois dos anos de política de “um piloto, dois carros”, onde o primeiro piloto tinha tudo, e o segundo ficava com as sobras, não deixa de ser positivo o time italiano oferecer condições realmente iguais à sua dupla de pilotos. O problema é que, nesse intento, a escuderia acaba por prejudicar a ambos nas corridas quando bate cabeça na estratégia de corrida, de modo que nem Carlos Sainz Jr. ou Charles LeClerc conseguem tirar tudo o que poderiam render. O pior de tudo é que a performance está lá, e o carro, apesar dos problemas de confiabilidade apresentados, é veloz, e o departamento técnico tem conseguido apresentar evoluções no SF-75 que realmente melhoram seu desempenho, mas boa parte destes avanços tem sido comprometido pela falta de coordenação estratégica, quando não por erros dos pilotos.

            Ainda há tempo para reagir, mas a cada GP que passa, o tempo se esgota, e a vantagem de Max Verstappen e da Red Bull já lhes permite jogar com segurança na administração de resultados, embora seja difícil imaginar que farão isso, quando tiverem chance de vencer, mas para a Ferrari, passa a ser um tudo ou nada, e as chances de darem em nada crescem cada vez mais. E ainda que o desenvolvimento da Mercedes possa parecer insuficiente para desafiar os ferraristas de fato, a verdade é que, a persistir o panorama das últimas corridas, a Ferrari corre de fato sério risco de acabar superada no final pela Mercedes e seus pilotos, um cenário de tragédia para quem começou o ano mostrando um favoritismo que não se via no time vermelho há muito, muito tempo.

            Pior é que Maranello já tem um histórico de se perder em duelos pelo título. Mattia Binotto nunca foi tão contestado no time como seus antecessores, mas a paciência com o diretor pode estar se acabando. Estas vão ser férias tensas em Maranello...

 

 

Max Verstappen declarou recentemente que, entre o duelo de 2021 e o deste ano, prefere o da atual temporada, indicando que a disputa atual se dá em nível muito mais “civilizado” do que o visto no ano passado contra a Mercedes e Lewis Hamilton, alegando também que, por conhecer melhor Charles LeClerc, sabe muito bem o que esperar do seu atual rival na disputa. Poderia se entender que ele está gostando mais da disputa deste ano porque a Ferrari e LeClerc tem conseguido a proeza de facilitar as coisas para ele e a Red Bull, tropeçando em si mesmos na disputa, o que permitiu ao holandês abrir uma vantagem nunca vista antes em sua carreira. Já no ano passado, a Mercedes e Hamilton conseguiram reagir e endurecer a disputa na reta final, para não mencionar a questionável decisão de Michael Masi a respeito dos retardatários no final da corrida em Abu Dhabi, que acabou influindo na disputa, e ajudando Verstappen a conquistar um título que já parecia ir para Hamilton no andar normal da corrida. Se LeClerc conseguir efetuar a mesma reação, o que parece bem mais difícil, dada a vantagem de Max na pontuação, muito provavelmente ele não terá a mesma opinião... Aguardemos para ver o que vai acontecer se a disputa ficar de fato mais renhida, e o que o holandês e a Red Bull vão achar disso...

 

 

A Aston Martin não perdeu muito tempo para escolher o substituto de Sebastian Vettel, que anunciou às vésperas do GP da Hungria que vai pendurar o capacete ao fim da atual temporada. Enquanto muitos especulavam quem poderia ocupar o cockpit do carro verde, com nomes como Oscar Piastri, Daniel Ricciardo, Nyck De Vries, etc, o time sediado ao lado do autódromo de Silverstone anunciou a contratação de Fernando Alonso, atualmente na Alpine/Renault, para o lugar do tetracampeão. Uma escolha que faz sentido diante das necessidades do time, de um piloto forte, experiente, e acima de tudo, vencedor. E Alonso não escondeu um dos motivos para se transferir para o time inglês, que é a vontade de vencer. Claro que houve também outras questões, como a duração do contrato, uma vez que, se renovasse com o time francês, a proposta era de apenas uma temporada, enquanto na Aston Martin, Alonso acertou por dois anos, com opção de renovação para um terceiro, e certamente um salário generoso também. O problema, em teoria, é que a Aston Martin no momento esbanja recursos e falta competência. No ano passado, o time não soube desenvolver a contento seu carro, derivado do da Mercedes, e esperava-se que, com as novas regras técnicas deste ano, a equipe evoluísse, mas que acabou ocorrendo exatamente o contrário. Agora, a promessa é de crescer, mais uma vez, no próximo ano. A sede em Silverstone foi completamente reformada e ampliada, e passado o período de reformulação da escuderia, é de se esperar que as coisas entrem mais nos eixos, até porque o projeto de Lawrence Stroll é fazer o time ser de fato uma escuderia vencedora na categoria máxima do automobilismo, e a vontade de vencer é inequívoca, precisando apenas acertar o projeto do carro para o time evoluir. Fernando Alonso mostrou que mesmo depois de ter passado dois anos fora da F-1 que ainda está em plena forma aos 41 anos, e pilotando em alto nível, e já demonstrou nas poucas vezes em que o carro da Alpine foi mais competitivo, que pode sonhar novamente com vitórias na categoria, se o bólido lhe der chances disso. E, diga-se de passagem, enquanto Sebastian Vettel raras vezes se mostrou competitivo como antigamente nos últimos tempos, o asturiano continua com todo o gás, e pode render mais na Aston Martin do que o tetracampeão alemão, se este continuasse no time. Claro que, se o time não errar no projeto do carro novamente, podemos até ver Fernando voltar a incomodar os ponteiros do grid, e quem sabe, voltar a vencer na F-1, lembrando que seu último triunfo data de 2013, quando venceu o GP da Espanha, em Barcelona.

 

 

A ida de Alonso para a Aston Martin deveria facilitar as coisas para a Alpine promover Oscar Piastri a titular do time em 2023, fazendo parceira com Estéban Ocon, que passaria a ser o líder da equipe nas pistas, e mentor do jovem australiano, que temia ficar “encalhado” pela falta de opções na F-1, após ter sido campeão da F-2 no ano passado. E assim o time o fez, mas para surpresa da escuderia francesa, Piastri declarou que não vai correr pela Alpine no ano que vem, complicando a situação, de maneira semelhante ao caso de Álex Palou na Chip Ganassi na Indycar, quando o time anunciou a permanência do espanhol, apenas para ser desautorizada momentos depois pelo seu piloto, que anunciou que iria para a McLaren. O caso de Palou foi parar na justiça dos Estados Unidos, com Chip Ganassi processando o piloto, e a situação segue indefinida até o presente momento. Oscar Piastri, em movimento similar, também já teria carta assinada com outro time, no caso, também a McLaren, que poderia “rifar” Daniel Ricciardo, uma vez que o australiano até hoje não rendeu o que se esperava no time de Woking. E, apesar de ter contrato garantido para o próximo ano, o fato de ter sua posição em perigo no time inglês já fez Ricciardo iniciar contatos com a própria Alpine, por onde correu em 2019 e 2020, quando o time se chamava Renault, que por sua vez, não vê problemas em contar novamente com seu ex-piloto. Quando se imaginava um burburinho para se ver quem iria ocupar o lugar de Sebastian Vettel na Aston Martin, isso acabou acontecendo justamente na Alpine, já que o time de Silverstone agiu rápido junto com Fernando Alonso para resolver sua situação. Agora é a Alpine quem tem que desenrolar o nó que se formou com seu piloto...

 

 

A Mercedes conseguiu em Hungaroring seu segundo pódio duplo da temporada, repetindo resultado visto na prova de Paul Ricard, com Lewis Hamilton ficando em 2º lugar, e George Russell fechando o pódio em 3º. É verdade que a Mercedes ainda está devendo em performance a ponto de poder efetivamente desafiar Red Bull e Ferrari, mas estão começando a chegar mais perto, e aproveitando-se dos problemas alheios, vai subindo cada vez mais, a ponto de não ser nada impossível ainda vencerem alguma corrida este ano. Vai ser difícil, sim, mas pode acontecer... Os rivais que fiquem atentos.

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