sexta-feira, 6 de maio de 2022

TERCEIRA GERAÇÃO DA F-E CHEGANDO

A Formula-E mostrou em Mônaco o novo carro da categoria para a próxima temporada, batizado de Gen3.

             A Formula-E deu a largada para a nova geração de carros da categoria ao mostrar, semana passada, em Mônaco, o seu modelo Gen3, com o qual as corridas passarão a ser disputadas a partir da próxima temporada. E a meta de evolução, presente desde o primeiro campeonato, segue firme, e tal qual quando foi adotado o modelo atual, o Gen2, o objetivo é tornar a categoria a mais ecológica e sustentável possível. Muitos ainda torcem o nariz para a F-E, achando o campeonato de carros monopostos totalmente elétricos mais uma brincadeira excêntrica motivada pelo ecologicamente correto do que uma competição automobilística a sério. De certo modo, no quesito esportivo, é inegável que a F-E derrapou, e ainda derrapa, em alguns aspectos de seu regulamento esportivo, em especial no que tange a punições nas corridas, precisando evoluir seu regulamento neste aspecto. Mas, no quesito tecnológico, isso está longe de ser uma brincadeira, e modismos ambientais à parte, a verdade é que a evolução dos carros trará benefícios claros ao nosso meio ambiente, em um momento onde se necessita recuperar a degradação ambiental promovida por mais de um século justamente pelos veículos que vomitaram fumaça e poluição em nossa atmosfera como nunca. Está chegando a hora de dar marcha a ré nesse processo, e isso não é mero jogo de palavras ecológico. Precisamos começar a limpar um pouco da sujeira que já causamos em nosso mundo, e não dá para continuar fingindo que nosso planeta aguenta tudo isso sem sofrermos as consequências. E, gostem ou não, a F-E, com suas virtudes e defeitos, desempenha um papel importante nesse processo.

            A próxima geração de carros da Formula-E, que entrará em ação na próxima temporada da competição, desperta curiosidades a respeito do aumento do potencial de performance dos bólidos monopostos totalmente elétricos. Um novo visual, um carro ligeiramente menor, mais curto na distância entre-eixos, e que deve ser muito mais rápido que os atuais carros da segunda geração, o Gen2, de acordo com as promessas da direção da categoria. Afinal, o objetivo da categoria é obviamente evoluir, e de certa forma, tem sido bem-sucedida desde que foi realizado o primeiro campeonato da categoria, lá em 2014, e que muitos diziam ser apenas uma aventura de curta duração no mundo do automobilismo, como haviam sido outros campeonatos.

            Bem, a “aventura” segue firme e avante, com alguns percalços, mas seguindo em frente. E de fato, os novos carros Gen3 tem tudo para promover um novo status na F-E, assim como os carros Gen2 significaram uma evolução à frente dos primeiros bólidos utilizados nas primeiras temporadas. E, tal qual aconteceu na transição do modelo Gen1 para o Gen2, o novo visual dos carros é bem particular, mostrando claras diferenças visuais, e dependendo do ângulo a ser observado, dá até a impressão de que os novos carros da F-E parecem brinquedos em tamanho real, dadas as novas formas dos bólidos, que continuam a ser produzidos pela Spark, e que serão padrão para todos os times.

            Os novos carros passarão a dispor de muito mais potência. Hoje, eles atuam com cerca de 220 Kw de força nas corridas, chegando aos 250 Kw no modo de classificação, e quando usam o modo ataque durante as provas. Mas os novos trens de força dos carros Gen3 passarão a contar com 350 Kw de potência, um aumento nada desprezível, e isso contando apenas com o eixo traseiro. Na verdade, os novos carros contarão também com sistemas de regeneração de energia no eixo dianteiro, com potência de até 250 Kw, o que significa que os novos bólidos poderão contar com uma força de cerca de 600 Kw. Mas, esse novo sistema dianteiro não terá função propulsora: seu objetivo é ajudar a recarregar os sistemas de baterias do carro, enquanto a tração será desempenhada inteiramente pelo eixo traseiro. Mas a adoção do sistema abre caminho para termos, no futuro, carros com tração dianteira também, um avanço que certamente não é adotado agora por questões de controle de custos, já que um dos principais objetivos da categoria é manter um desenvolvimento contínuo, sem provocar uma escalada de gastos para todos os competidores.

O visual do novo bólido é bem diferente da aparência dos carros atuais, que por sinal, já eram bem diferentes dos primeiros carros da competição.


            Aliás, outra novidade importante é que os novos bólidos não terão mais freios propriamente ditos no eixo traseiro. O controle de velocidade do carro será feito exclusivamente pelo pedal do acelerador, onde qualquer aliviada fará com que os trens de força ajam como freio-motor, diminuindo a velocidade, e recuperando energia com o procedimento. Isso deverá providenciar um novo desafio para os pilotos quanto à pilotagem, já que este novo sistema altera a dinâmica de frenagem do monoposto. E uma preocupação surge com o potencial aumento da performance esperado dos carros: os circuitos estão preparados para toda essa evolução? Talvez sim, mas talvez não, e de fato, a direção da F-E também já anda estudando o que pode, e o que precisará ser feito, ou não, nos circuitos por onde a categoria passa, a fim de revisar, e se necessário, ampliar os traçados dos ePrixs.

            Prometendo que os carros Gen3 serão os mais rápidos da até então breve história da F-E, é claro que isso se traduzirá em carros bem mais velozes do que os atuais, não apenas pela maior potência que será disponibilizada, mas pela própria evolução dos novos chassis, inteiramente diferentes dos modelos utilizados nesta temporada, que pesarão cerca de 60 Kg a menos no seu peso total, uma redução que será alcançada não apenas pelas menores dimensões dos monopostos, mais compactos, mas também pelo novo sistema de baterias, bem mais eficiente e leve que os conjuntos atuais E é esperada uma eficiência energética de cerca de 95% nos novos trens de força. Jamie Reigle, CEO da F-E, explicou que, numa pista como a de Mônaco, onde a categoria correu pela segunda vez este ano no circuito completo, utilizado pelas outras categorias, como a F-1, o incremento de performance dos novos carros deve ficar na faixa de 6 a 7 segundos no tempo de volta. Ainda está longe da performance dos carros da F-1, mas a preocupação não é gratuita, afinal, a imensa maioria dos traçados utilizados pela F-E foram concebidos exclusivamente para a competição de seus bólidos, e de como era sua performance inicialmente.

            Com os carros se tornando muito mais rápidos, as pistas das etapas certamente precisarão passar por algumas mudanças. E, muito provavelmente, serem ampliadas. Com carros mais rápidos, os trechos de retas das pistas, como já mencionei em ocasiões anteriores, serão vencidos muito mais rapidamente, e com menos tempo para se tentar potenciais ultrapassagens, já que o tempo na reta ficará menor. Os novos carros deverão ser capazes de atingir cerca de 325 Km/h, conforme as estimativas, o que não é pouca coisa. E há outro detalhe que deve reforçar ainda mais a melhoria de performance: os novos carros poderão voltar a fazer paradas nos boxes, utilizando um novo sistema de carregamento rápido que lhes permitirá recuperar parte da energia das baterias. Esse recurso, que ainda não foi confirmado oficialmente, mas já está sendo desenvolvido, e muito provavelmente será implantado, deve inclusive mudar o formato das corridas, que atualmente é por tempo, e fazer com que as provas voltem a ser por número de voltas. Mas a maior quantidade de energia não significa que o gerenciamento de força deixará de ser importante, pois com número de voltas, a demanda necessária para concluir uma corrida aumentará, e os pilotos perderão posições se tiverem que fazer várias paradas no box para repor energia das baterias, frente a rivais que pararem menos vezes. Mas este gerenciamento de força também pode limitar um pouco o acréscimo de performance, com os pilotos tentando completar a corrida com menos paradas de box. As variáveis continuarão muito interessantes na estratégia de corrida, já que o sistema do Modo Ataque deve continuar a ser mantido também. E é claro que, apesar de eficiente, o sistema de carregamento rápido não irá repor uma quantidade significativa de energia nos carros, mas pode fazer a diferença, dependendo da estratégia, ritmo, e claro, relação custo-benefício do tempo de parada. Serão desafios interessantes para as equipes e pilotos.

            E o estudo para tentar aprimorar os circuitos é mais do que válido, até para se corrigir detalhes das pistas de que todo mundo reclama, em especial os trechos muito estreitos dos traçados, que muitas vezes “estrangulam” o fluxo dos carros e se tornam locais potenciais para acidentes e enroscos entre os competidores mais abusados. Aumentar a largura da pista também será útil para se promover mais disputas entre os pilotos. E, com a maior potência, retas e/ou traçados maiores certamente serão necessários, para que os pilotos possam extrair de seus novos carros toda a performance que eles podem oferecer. Então, a necessidade de revisar e adaptar os circuitos, para que eles continuem a oferecer as condições necessárias para propiciar uma boa corrida com os novos carros da terceira geração.

A parte traseira ´continua sem uma asa central (acima). Com mais potência, os carros devem ser muito mais velozes, e em Mônaco, estimam uma melhora de até 7s nos tempos de volta sobre as marcas obtidas este ano (abaixo).


           
Para Lucas Di Grassi, os novos carros continuarão sendo “para pistas de rua e não para circuitos” como os da F-1, e no entender do brasileiro, as pistas não precisarão passar por mudanças tão grandes para continuarem recebendo a F-E. Não está errado, mas cada pista é um caso diferente dos outros, e certamente haverá mudanças. Contudo, não será algo muito fácil de se fazer, dependendo do local, já que as corridas são disputadas em pistas montadas nas ruas das cidades, e para se efetuar mudanças, é preciso ver quais opções de alterações podem ser realizadas, já que as ruas não podem ser modificadas como se faria em um autódromo. Mas, com estudos, bom senso, e iniciativa, pode-se obter excelentes resultados, com melhoria considerável tanto na qualidade da pista, como na obtenção de boas corridas. Um exemplo pôde ser visto nas últimas edições do ePrix de Santiago, a capital do Chile: na sua última edição, o circuito montado em um parque na cidade chilena teve algumas curvas alteradas, bem como a remoção de chicanes onde os carros se aglomeravam demais nas freadas. A maior parte da pista continuou igual, mas a corrida melhorou muito, oferecendo muito mais disputas e duelos do que na corrida no antigo formato do circuito. Com um pouco de criatividade, e dependendo dos elementos à disposição, pode-se obter resultados semelhantes nos outros circuitos utilizados pela F-E. E, quando se fala em aumentar as pistas, também não é questão de se imaginar uma ampliação muito grande dos traçados, embora Jamie Reigle tenha falado em ampliar em até 2 Km alguns circuitos, sem especificar quais seriam.

            E, falando pessoalmente, circuitos um pouco maiores seriam muito bem-vindos, pois as pistas que temos até aqui são em sua maioria muito pequenas, embora sejam coerentes com as necessidades iniciais da F-E em termos de performance dos carros, o que gerou inúmeras críticas de que a categoria seria muito lenta, em comparação com outros certames, o que não era mentira. Mas agora, com o salto de performance proporcionado pelos novos carros Gen3, a F-E começa a ganhar maior velocidade, e crescendo sempre, logo poderá mostrar um desempenho comparável às demais categorias mais velozes do mundo do automobilismo. O torque e capacidade de aceleração dos carros elétricos é muito maior e efetivo do que os carros “convencionais”, e isso só não foi mostrado a fundo até agora por uma questão de finalidade, e cumprimento de metas em cronogramas de custos acessíveis para todos os participantes. E olhe que temos por enquanto apenas os prognósticos das expectativas do início da utilização dos novos carros, lembrando que a performance deverá continuar crescendo nos anos seguintes.

            Um crescimento que nunca parou, desde a primeira geração de carros. No ePrix de Mônaco, a pole-position deste ano foi obtida com um tempo cerca de 1s6 mais rápido do que na prova do ano passado, e a melhor volta da corrida foi quase 2s mais veloz em comparação com 2021. E com a mesma geração dos carros, o Gen2, evoluindo gradualmente de um ano para o outro. Deveremos ter o salto maior em 2023, mas em um nível que seguirá crescendo nos anos seguintes.

            E uma novidade interessante é que os torcedores brasileiros terão a oportunidade de conferir em pessoa a nova geração de carros elétricos da F-E. Foi anunciado enfim o acordo para São Paulo ter o seu ePrix, que estreará em 2023, e deve ser realizado no mês de março, conforme o calendário oficial for anunciado. O palco será a área do Sambódromo e do Complexo do Anhembi, na Zona Norte da capital paulista, onde anos atrás foi realizada algumas edições da etapa brasileira do campeonato da Indycar. Ainda não foi definido como será o traçado, mas não deixa de ser algo para comemorar o fato do nosso país finalmente sediar um ePrix, tendo flertado com a categoria de carros monopostos elétricos em algumas oportunidades, sem ter tido sucesso, com propostas de uma pista que seria inicialmente montada no Parque do Ibirapuera, na Zona Sul da capital paulista, ou até mesmo na cidade do Rio de Janeiro, no Aterro do Flamengo. Nenhuma das propostas prosperou, mas agora tudo está acertado, e deveremos ter os carros da F-E acelerando forte na cidade de São Paulo, enfim, com os fãs da velocidade podendo ver de perto os bólidos elétricos, e torcendo pelos pilotos da competição. Lucas di Grassi deve permanecer na Venturi para o próximo ano, e Sérgio Sette Câmara já está em tratativas com outros times para arrumar um lugar melhor para correr, já que seu time, a Dragon Penske, tem planos de substituir sua dupla de pilotos em sua nova parceria com o grupo DS.

            A F-E ainda tem seus desafios a superar, mas segue firme em sua proposta de servir de laboratório primordial para o desenvolvimento da tecnologia elétrica e de sustentabilidade para o setor automotivo, com vários fabricantes interessados em desenvolverem-se neste objetivo. Algumas fábricas, como Audi, BMW, e agora a Mercedes, podem ter deixado ou deixarão a competição, mas outras marcas permanecem, e algumas novas chegam, como a Maserati, que pretende focar seus esforços na categoria dos carros elétricos. E a vida segue, como deve ser o caminho a ser trilhado. O futuro do potencial dos novos carros Gen3 é empolgante, e vamos ver até onde eles conseguirão se desenvolver, de preferência nos oferecendo um campeonato empolgante, e com corridas para lá de disputadas, cada vez mais...

 

 

E chegou a hora da mais nova corrida da F-1 nos Estados Unidos, na cidade de Miami, na Flórida, em um traçado urbano inédito que promete dar o que falar, dentro, e fora da pista. E com mais um round na luta entre Ferrari e Red Bull pelo título da temporada. O time italiano quer mostrar que o ocorrido na última prova, em Ímola, foi apenas um azar ocasional, enquanto a equipe austríaca vai em busca de provar que resolveu seus problemas de confiabilidade, e que está pronta para desafiar os ferraristas e defender o título de Max Verstappen, que quer o bicampeonato. Fora isso, a quantas andará a Mercedes neste GP? A escuderia garante que achou caminhos para resolver os problemas do modelo W13, mas achar, e conseguir consertar o problema são coisas diferentes. Vamos conferir como eles se comportarão nesta prova. A corrida terá transmissão ao vivo neste domingo a partir das 16:30 Hrs., pelo horário de Brasília, na TV Bandeirantes, e o fato de ser uma corrida inteiramente nova no calendário deixa tudo ainda mais incerto sobre quem se dará bem neste novo circuito da competição.

Nenhum comentário: