sexta-feira, 27 de maio de 2022

INVERSÃO DE PAPÉIS

Max Verstappen (acima) saiu com o melhor resultado possível em Barcelona: a vitória, e principalmente, ver seu rival Charles LeClerc abandonando a corrida (abaixo) e perdendo a liderança do campeonato para o holandês da Red Bull.


            O Mundial de Fórmula 1 de 2022 tem novo dono. É Max Verstappen, o atual campeão, que agora assume o favoritismo na luta pelo título da temporada, que se conquistada, levará o piloto holandês ao bicampeonato, e a mais um título para seu time, a Red Bull, que pode ainda conseguir este ano aquilo que lhe faltou em 2021, o campeonato de construtores, que acabou ficando com a rival Mercedes.

            Para a Ferrari, que começou o ano confirmando que as boas marcas exibidas na pré-temporada não eram fogo de palha, a situação é a mais desoladora possível. O favoritismo exibido pelo time vermelho nas primeiras corridas, mesmo com a derrota sofrida na segunda prova, em Jeddah, na Arábia Saudita, e que dava muitas esperanças aos tiffosi de ver a escuderia lutar a fundo pelo título mundial, foi para o espaço, passando a frequentar o box do time dos energéticos. E não apenas no mundial de pilotos: o mundial de construtores também passou a ser liderado pelo time rival, e com certa folga até. Como desgraça pouca é bobagem, Charles LeClerc vinha fazendo tudo certinho na prova espanhola, comandando a corrida com segurança e autoridade, fazendo crer que as atualizações promovidas pelo time rosso no modelo SF-75 não só igualavam novamente a disputa com o modelo RB18 da Red Bull, com o qual Verstappen havia vencido, até com alguma facilidade, as duas provas anteriores, como recolocavam o time vermelho na dianteira, mesmo que por pouca margem. Mas quis o destino que o monegasco acabasse sendo vítima de algo que até então a Ferrari nunca havia tido problemas neste ano, e que era o seu principal trunfo frente aos problemas enfrentados pelo time rival: a confiabilidade. A unidade de potência de Charles simplesmente apresentou defeito, sem mais nem menos, surpreendendo não apenas o piloto como a própria escuderia, que nada de anormal havia detectado no equipamento até então, e as esperanças de voltar a abrir vantagem no campeonato acabou se transformando na perda da liderança da competição para o rival holandês, que apesar dos percalços que teve na prova espanhola, correu para a bandeirada e agarrou sua terceira vitória consecutiva, e a quarta no ano, o dobro de triunfos obtidos por LeClerc, que agora tem o dever de correr atrás do prejuízo.

            Um dever que já começa hoje, e no quintal do monegasco, pois começam os treinos oficiais para o GP de Mônaco. Dar o troco passa a ser mais crucial do que nunca para Charles, que infelizmente não tem um bom retrospecto aqui mesmo no circuito de sua casa, onde no ano passado, só para exemplificar, marcou a pole, mas bateu com o carro e ficou sem conseguir largar, devido aos danos causados, e que se manifestaram a poucos momentos da largada, forçando seu abandono da corrida, em um ano onde a Ferrari ainda lutava para se reerguer na competição, depois da péssima temporada de 2020. A pressão agora, com um carro muito mais competitivo, vem com tudo em cima de LeClerc, que já mostrou ter sangue frio e capacidade para ir buscar a meta visada, e tentar devolver o favoritismo do campeonato a si próprio e a seu time.

            Mas tarefa não será fácil. Max Verstappen venceu todas as corridas que terminou este ano, e não cometeu um erro sequer nas corridas até aqui, enquanto LeClerc já teve um revés de pilotagem na prova de Ímola, onde por pouco não abandonou a corrida após sair da pista. Pior ainda que foi na Itália, onde a torcida ferrarista encheu o circuito, ainda mais após a vitória do monegasco na Austrália, onde dominou a corrida de ponta a ponta, e saiu dela com nada menos que 46 pontos de vantagem para o segundo colocado no campeonato. Um campeonato onde agora ele ocupa a segunda posição, com 6 pontos de desvantagem para Verstappen, numa perda de 52 pontos em apenas 3 provas, para se ter idéia de como a situação se inverteu, e de forma assustadora.

            Que em algum momento a Ferrari poderia ter seus problemas, isso não era impossível, pois sempre haverá momentos onde as coisas poderão dar errado. Mas certamente o time italiano não imaginava que a situação escapasse ao seu controle tão rapidamente. O primeiro revés foi ver Carlos Sainz Jr. abandonar na Austrália por erro próprio logo no início da corrida, no primeiro momento de calvário do piloto espanhol no ano, que acabou se repetindo em Ímola, ainda que desta vez sem culpa do piloto. Mas, nova batida na corrida de Miami, mesmo que nos treinos, deixou Sainz devendo na corrida, tendo mais que recuperar sua autoconfiança, abalada pelos acidentes das últimas corridas, do que batalhar pela vitória, que ficou a cargo apenas de LeClerc, que acabou batido por Verstappen, que dominou a corrida até com relativa facilidade. Mesmo com problemas a resolver no quesito confiabilidade, a Red Bull mostrou velocidade, evoluindo a performance do seu modelo RB18, e com direito a Sergio Perez engrossando o cerco contra os ferraristas, ao obter também excelentes resultados, que aliado aos abandonos de Sainz, erodiram a vantagem do time italiano no mundial de construtores, permitindo que a Red Bull encostasse rapidamente, e com o acontecido em Barcelona, assumisse a dianteira na competição.

Largando em último, Fernando Alonso (acima) fez uma corrida combativa para voltar a marcar pontos e espantar um pouco o azar, algo que a Aston Martin ainda está tendo muito trabalho para conseguir se livrar, como se viu em sua atuação na prova espanhola (abaixo).


            A sorte é que nem chegamos à metade do campeonato ainda, de modo que há tempo e oportunidade para a Ferrari recuperar-se, e voltar a comandar a situação. O problema é se irá conseguir fazer isso. Condições ela tem, resta saber se terá a sinergia de coordenar suas ações dentro e fora dos boxes de modo a neutralizar a rival, que já demonstrou ter maior expertise nessa área em tempos recentes. Max Verstappen tem um histórico recente muito melhor do que LeClerc quando o assunto é batalhar por posições na pista, e mesmo Sergio Perez vem se mostrando cada vez mais combativo e decisivo para bons resultados da Red Bull na pista, de modo que Carlos Sainz precisa mais do que nunca voltar à sua melhor forma, como demonstrou em seu primeiro ano no time rosso na temporada passada, se não quiser se tornar o ponto fraco do time italiano, que frente à força dos rivais, precisa usar todos os seus recursos para contra-atacar, e isso inclui que o espanhol esteja andando junto com LeClerc, a fim de poder contrabalançar a maior eficiência da dupla da Red Bull vista nas últimas corridas.

            Sainz já tem plena consciência do que tem que fazer, mas a situação urge, e o tempo está acabando para o espanhol, que se quiser ter o direito de discutir vitórias com seu parceiro de time, e até sonhar em lutar pelo título, precisa andar na frente novamente, e de preferência à frente da dupla rubrotaurina, que já manifestou sua preferência descarada por Verstappen, impedindo Perez de tentar lutar pela vitória na etapa de Barcelona. Do contrário, Carlos também terá de exercer o mesmo papel a que o mexicano já foi relegado no time dos energéticos.

            No retrospecto dos times nos últimos anos, o histórico da Red Bull lhe confere mais credibilidade a manter seu crescimento na competição, enquanto a Ferrari costuma se perder em momentos-chave da disputa, dentro e fora da pista. O time dos energéticos em geral podia até iniciar a temporada em situação de desvantagem, mas conseguia recuperar terreno de forma extremamente competente ao longo do ano. E nesta temporada, o time austríaco de fato começou inferior à Ferrari, mas já passou à frente, ou no mínimo emparelhou. Dispondo novamente de um carro vencedor e capaz de lutar pelo título, Charles LeClerc tem a chance se sua vida de mostrar o seu valor, e conquistar o campeonato, algo que a Ferrari não vê desde 2007, quando foi campeã pela última vez, com Kimi Raikkonen. O monegasco também tem como motivação bater Max Verstappen, com quem já se digladiou nas categorias de base, e quer mostrar que o holandês não é o único supertalento da F-1 atual. E Verstappen, depois de conseguir superar Lewis Hamilton no ano passado, quer dissipar quaisquer dúvidas remanescentes a respeito de seu merecimento do título da temporada de 2021, encerrada com uma manobra questionável na pista de Abu Dhabi que acabou favorecendo o piloto da Red Bull.

            Assim como aconteceu em 2021, o panorama do campeonato, no momento a favor da Red Bull, pode mudar, e a Ferrari retomar a dianteira, com os dois times e seus principais pilotos se intercalando na classificação. Mas nada está garantido, e fica uma dúvida no ar: o teto de gastos para a temporada pode afetar o desenvolvimento dos bólidos dos dois times, de modo que as atualizações dos carros precisarão ser muito bem planejadas, a fim de garantirem a maior vantagem possível. Quem vai ser capaz de gerir melhor esse desafio? Mattia Binotto afirma que a Red Bull já teria “queimado” a maior parte de seu orçamento para a temporada nas atualizações do RB18, e que isso poderá limitar o desenvolvimento de seu carro, enquanto a Ferrari ainda tem mais orçamento para aplicar no desenvolvimento do SF-75. Claro que Christian Horner deu de ombros para a declaração do chefe ferrarista, e nem poderia ser de outra maneira, mas a guerra de palavras pode esconder uma situação real, mas que só ficaremos sabendo de fato muito mais à frente. No cômputo geral, a Ferrari, apesar da quebra de LeClerc em Barcelona, mostrou melhoria em sua performance, a ponto de tranquilizar novamente a escuderia. Só que a corrida deste final de semana é em um local completamente diferente, e ninguém sabe quem poderá levar vantagem aqui em Monte Carlo, em um GP onde largar na frente é vital para se vencer a corrida.

            Portanto, podemos ver um duelo acirrado e aberto entre os times, para ver quem sai na frente na corrida de domingo. E, mais do que nunca, Mônaco é uma pista onde erros não são tolerados. A pista é estreita, e os guard-rails avisam que o limite para abusar é muito restrito. Vai ser uma guerra de nervos entre os dois times e seus pilotos, com a Red Bull querendo manter seu favoritismo, e a Ferrari determinada a “podar” as asas dos rivais para mostrar que pretende retomar o controle da situação. Vejamos quem vai dar as melhores cartas...

 

 

A Mercedes fez um grande progresso na etapa de Barcelona, ao apresentar um grande pacote de atualizações para seu problemático modelo W13, que se não eliminou a grande desvantagem para Red Bull e Ferrari, ao menos reduziu bastante, e também deu ao carro um comportamento mais estável, e sem tanto porpoising, que tanto prejudicava a performance do bólido, a ponto de Lewis Hamilton ter estabelecido a velocidade mais alta da pista em corrida, com cerca de 333 Km/h. George Russell conseguiu seu segundo pódio consecutivo, e Hamilton só não batalhou pela mesma colocação por ter sido tocado por Kevin Magnussen na primeira volta, furando um pneu, e tendo de ir ao box trocar o comporto, caindo lá para trás, e tendo que se recuperar a prova inteira, por pouco não terminando a corrida em 4º lugar. O heptacampeão, contudo, teve um vazamento de água em seu carro, tendo de abrandar o ritmo na volta final, o que o fez perder posição para Carlos Sainz Jr., e recebendo a bandeirada em 5º lugar. Ainda é cedo para dizer que a Mercedes está de volta, pois a diferença de performance, em que pese os duelos travados pela dupla prateada durante a corrida com os rivais na pista, ainda é relevante, mas ao menos parece restabelecer o time germânico como terceira força isolada na competição, e com chances de chegar mais perto nas próximas etapas, se conseguir melhorar a performance do carro. E é preciso conferir também se a melhora de rendimento se deveu mais às condições do circuito da Catalunha do que às evoluções implantadas no carro, que pode voltar a não render tanto em outros circuitos, dependendo do comportamento do carro. Por isso mesmo, a Mercedes não espera apresentar um rendimento no mesmo nível aqui em Mônaco, onde as características da pista são completamente diferentes, até porque o problema do porpoising do carro não foi solucionado em todos os setores da pista, sendo ainda pronunciado nas curvas de baixa, algo que tem de sobra em Monte Carlo, sem mencionar que o circuito de rua do principado sempre foi problemático para a Mercedes nos últimos anos, mesmo tendo um carro dominante na competição.

 

Um toque fez Lewis Hamilton (acima) cair para as últimas posições e fazer uma impressionante prova de recuperação, mostrando a evolução da Mercedes em Barcelona, enquanto George Russell conquistou mais uma pódio, e deu bastante trabalho para a dupla da Red Bull na pista da Catalunha (abaixo).


 

Scott Dixon, da Ganassi, larga na pole-position para as 500 Milhas de Indianápolis neste domingo, com transmissão tanto pela TV Cultura quanto pelo canal ESPN 4, e pelo sistema de streaming Star+, a partir das 12:30 Hrs., pelo horário de Brasília. O hexacampeão anotou sua segunda pole consecutiva na Brickyard Line, a quinta de sua carreira em Indianápolis, e parte como um dos favoritos para vencer a corrida, pela boa forma demonstrada nos treinos de preparação para a prova no oval de Indiana. A Ganassi, aliás, é a grande estrela da classificação do grid, com nada menos que 4 pilotos largando nas 6 primeiras posições. Além do pole Dixon, o time de Chip Ganassi também terá Álex Palou, o atual campeão da categoria, largando em 3º lugar, fechando a 1ª fila; e contará também com mais dois carros na 2º fila: o sueco Marcus Ericsson parte na 4ª posição, e o brasileiro Tony Kanaan, em sua única participação na Indycar este ano, sai em 6º lugar. A escuderia ainda conta com Jimmie Johnson, fazendo sua estréia na Indy500, partindo da 12ª posição do grid. Mas, numa corrida tão longa quanto as 500 milhas, a posição de largada não é tão determinante para o resultado final, contando mais a estratégia de corrida e o desempenho do carro e piloto nos momentos de pista livre e tráfego. E é com isso que Hélio Castro Neves conta para tentar buscar uma inédita 5ª vitória em Indianápolis, onde está largando apenas na 27ª colocação este ano, depois de brilhar no ano passado e ter conquistado uma vitória histórica, igualando-se aos maiores vencedores da história da corrida. Este ano, o desafio de Helinho será mais complicado, já que além da posição de grid pouco inspiradora, o desempenho do piloto nos treinos não foi dos mais destacados, ficando sempre no segundo pelotão de pilotos. Já Kanaan, com uma performance mais sólida, precisará também contar com a sorte, algo que faltou a ele na prova do ano passado, assim como a Dixon, que apesar da excelente performance demonstrada, ficou comprometida pelos acontecimentos que arruinaram suas estratégias de corrida e os tiraram da disputa pela vitória. No duelo contra a Ganassi, quem pode dar trabalho é a Carpenter, com Rinnus Veekay largando em 2º, e Ed Carpenter, sempre forte em ovais, partindo em 5º lugar, ambos também com excelente ritmo de corrida, e dispostos a inscreverem seus nomes na história da Brickyard Line, assim como muitos outros pilotos do grid.

 

 

A MotoGP também está em ação neste final de semana, com a disputa do Grande Prêmio da Itália, na pista de Mugello. Fabio Quartararo defende a liderança do campeonato, e vê os rivais crescendo à sua volta, frente a um desempenho insuficiente da Yamaha para lhe garantir alguma vantagem na disputa. E as maiores ameaças vem da Ducati, tanto de seu time principal, que precisa mostrar serviço mais do que nunca, como de seus times satélites, em especial Enea Bastianini, da Gresini, depois da vitória na última corrida, em Le Mans, superando justamente o time oficial de fábrica em duelo direto na corrida. E ainda temos Aleix Spararó e sua Aprilia, muito entusiasmados com a possibilidade de vencer também. Devemos ter bons pegas na excelente pista de Mugello, com transmissão ao vivo a partir das 9 da manhã pela ESPN 4 e pelo Star+.

 

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