quarta-feira, 1 de abril de 2020

FLYING LAPS – MARÇO DE 2020


            E chegamos ao mês de abril, com o primeiro trimestre de 2020 já tendo ficado para trás. E, infelizmente, este mês de março não trouxe as emoções do mundo da velocidade que todos esperavam. A pandemia do coronavírus covid-19 infelizmente fez o mundo entrar em prafuso, e com ele, praticamente todos os campeonatos do mundo do esporte a motor, em que pese a Indycar e a F-1 quase terem realizado suas primeiras corridas, que acabaram canceladas em cima da hora. A Moto 2 e a Moto3 até disputaram a etapa do Catar, uma vez que já estavam por lá, mas a MotoGP, a classe rainha, ficou de fora, uma vez que tinham voltado para a Europa para finalizarem suas preparações, e tudo virou de pernas pra o ar no Velho Continente, e em outras parte do mundo, com a situação completamente indefinida até o presente momento. Enquanto seguimos neste balé doido da covid-19, vamos lembrar nesta sessão Flying Laps alguns acontecimentos do mundo da velocidade que ainda tivemos neste mês de março, com alguns comentários rápidos, como é de praxe. Uma boa leitura, e esperemos ter notícias muito melhores até a próxima sessão, no mês que vem, com a possibilidade do mundo entrar nos eixos novamente... Até breve, então...


Após a disputa de eprix de Marrakesh, a Formula-E reservou o domingo seguinte à corrida para o seu teste de novatos no circuito marroquino, e dois brasileiros estiveram presentes nos treinos: Sérgio Sette Câmara, e Pipo Derani. Sérgio entrou n pista com a o carro da Dragon, equipe da qual é piloto reserva e de testes, que hoje em dia parece mais figura decorativa, uma vez que os testes, como este que ocorreu, são extremamente raros. Mas Sérgio, apesar do carro do time de Jay Penske não ter mostrado muita coisa na atual temporada da F-E, mostrou serviço, terminando a sessão de testes com o segundo melhor tempo, 0s463 atrás do neozelandês Nick Cassidy, que ao volante do carro da Virgin, anotou o melhor tempo do dia, com a marca de 1min16s467. Para efeito de comparação, a pole-position da corrida foi de 1min17s158, obtida por Antonio Félix da Costa, com a Techeetah. Aliás, os quatro pilotos mais rápidos do teste conseguiram marcar tempos mais rápidos que a pole do piloto português. Além de Sérgio Sette Câmara, o também português Felipe Albuquerque, com o carro da Techeetah; e o francês Nicolas Lapierre, com o outro carro da Techeetah. Albuquerque, que não pilotava um monoposto desde 2009, não fez feio no teste. Já Pipo Derani, em sua segunda experiência com um bólido da categoria, achou o teste muito produtivo, defendendo o time da Mahindra, declarando que a categoria de carros elétricos é uma opção interessante para o futuro profissional. Mas, ao menos para o momento, Derani está focado em sua participação no campeonato de endurance dos Estados Unidos, o IMSA Wheater Tech Sportscar, onde vem fazendo boas participações.


Devido ao surto do coronavírus Covid-19, a Formula-E literalmente paralisou o seu campeonato, após a disputa da etapa de Marrakesh. As corridas no sudeste asiático já estavam praticamente riscadas do mapa, com a categoria pensando em retomar as atividades no mês de maio. Mas, com o alastramento da pandemia justo na Europa, o jeito foi praticamente colocar tudo em pausa, esperando a situação se normalizar, o que em tese só deve começar a acontecer a partir do mês de junho. Basicamente, a direção da F-E espera para ver se conseguirá realizar as corridas finais da competição, em Berlim, Nova Iorque, e a rodada dupla em Londres. Mas tudo será muito complicado, no panorama atual. Se a situação na Alemanha não é alarmante, e os casos do Covid-19 por lá seguem razoavelmente controlados, a pandemia tomou de assalto a “Big Apple” nos Estados Unidos, onde estão localizados a grande maioria dos casos no país. Pela data distante, em julho, a etapa de Londres ainda tem chances de acontecer, dependendo de como a doença de mostrar até lá. Enquanto isso, o Excel London, local que serviria de palco para a rodada dupla dos carros elétricos na capital britânica está sendo usado para acomodar um hospital improvisado para tratar os doentes da Covid-19, com aproximadamente 4 mil leitos.


Wilsinho Fittipaldi, irmão mais velho do bicampeão de F-1 e campeão da F-Indy, Émerson Fittipaldi, teve um momento complicado neste mês de março. Após sofrer uma queda, o ex-piloto começou a apresentar problemas, exigindo sua internação em um hospital, onde foi constatada a ocorrência de uma hemorragia cerebral, tendo de passar por uma cirurgia de emergência para debelar o problema. Felizmente, a cirurgia foi um sucesso, e Wilsinho, aos 76 anos de idade, pode comemorar sua alta alguns dias depois, podendo deixar o hospital Sancta Maggiore, em São Paulo, onde havia sido internado. Tal como seu irmão mais novo, Wilson também chegou a disputar a F-1, onde correu por três temporadas, antes de se dedicar ao projeto da equipe Fittipaldi, a partir de 1975, único time brasileiro a competir na F-1 até hoje. Ao contrário do irmão, Wilson infelizmente teve passagem pífia pela F-1, e após o fim da escuderia nacional, competiu por vários anos na Stock Car aqui no Brasil, até que passou a dedicar-se à carreira do filho Christian. Um grande susto para a família, mas que terminou bem.


Sérgio Sette Câmara anunciou neste mês de março o seu desligamento da equipe McLaren, onde foi piloto de simulador do time de Woking durante a temporada de 2019, quando também competiu na F-2. O piloto garantiu que o fim da permanência no time inglês nada teve a ver com rompimento intempestivo do contrato de patrocínio e parceria técnica da Petrobrás com a McLaren, provocada pelo governo brasileiro em novembro do ano passado. E pouco depois, o brasileiro anunciou que será piloto de testes e reserva oficial da Red Bull e da Alpha Tauri, voltando a ser membro do grupo de pilotos da Red Bull, após ter saído do programa de formação de pilotos da marca de energéticos alguns anos atrás. Mas, se a notícia parece boa, é necessário não se empolgar tanto, pois Sérgio, no curto prazo, só terá chances de ocupar um monoposto caso um dos pilotos titulares faça uma besteira daquelas. E, só para exemplificar, a Red Bull ainda mantém o suíço Sébastien Buemi na mesma função de piloto reserva e de testes, e alguém por aí viu Buemi pilotar um F-1 nestes últimos anos? O que Câmara tem a seu favor são os pontos que conferem a ela a Superlicença, o documento necessário para ser piloto de F-1, algo que os jovens pupilos que restaram no antes afamado programa de formação de pilotos da Red Bull ainda não tem. E com Buemi se concentrando nos campeonatos da F-E, com o time da e.dams, e do WEC, onde defende a Toyota, Sérgio pode ter até melhores chances teóricas de ocupar um dos carros dos times dos energéticos, dependendo do que acontecer. Resta esperarmos para ver se surgirá alguma chance, e se o brasileiro conseguirá aproveitar ela a contento, quando esta se apresentar, pois as chances de sair queimado da oportunidade são muito maiores do que as de se dar bem. E olhem que tem vários pilotos para servirem de exemplo de quão fácil isso pode acontecer...


Dizem que vida de piloto é uma grande correria, e ao menos para Felipe Nasr, neste mês de março, isso foi algo praticamente literal. O piloto estava em Brasília, curtindo um belo churrasco entre os familiares, quando recebeu um telefonema dos Estados Unidos. Era da Carlin, time da Indycar, convocando o brasileiro para uma sessão de testes em Sebring, na Flórida, nos Estados Unidos, logo no dia seguinte, uma segunda-feira. A partir dali, foi literalmente uma correria louca para Felipe, tendo de aprontar sua mala e correr para o aeroporto, e só conseguir fazer vôos intercalados para chegar aos EUA, indo primeiro de Brasília para Fortaleza, e de lá pegando um vôo para Miami. Nasr chegou à cidade americana na manhã de segunda, quando os times já estavam iniciando os treinos no autódromo de Sebring. O piloto ainda teve de passar na sua casa, para pegar o seu carro, e ainda demorar cerca de duas horas e meia de estrada até chegar ao seu destino, por volta do meio dia e meia. E se acham que isso foi tudo, Felipe ainda conseguiu a proeza de marcar o melhor tempo da segunda-feira no teste, ao volante do carro da Carlin, um time de pouca expressão na categoria da Indycar, conseguindo superar ninguém menos do que Scott Dixon, pentacampeão mundial da categoria, o que não é pouca coisa. O bom desempenho fez a Carlin escalar Nasr para disputar a corrida de estréia do campeonato da Indycar, nas ruas de São Petesburgo, ali mesmo na Flórida, mas infelizmente, a chance do brasileiro de estrear no campeonato de monopostos dos Estados Unidos acabou adiada pelo surto da pandemia do coronavírus Covid-19, que acabou provocando o cancelamento da prova, na sua véspera. O acordo da Carlin com o brasileiro era válido apenas para aquela corrida, que a direção da Indycar espera realocar no segundo semestre, quando a situação nos Estados Unidos já estiver mais normalizada, e quem sabe Felipe ainda volte ao cockpit da escuderia nesta prova? Nasr compete atualmente no campeonato de endurance dos Estados Unidos, o IMSA Wheater Tech Sportscar.


Não tendo conseguido dar início ao seu campeonato de 2020, a MotoGP aguarda a situação se estabilizar para começar a programar o que poderá fazer efetivamente com o calendário da competição deste ano. Nas hipóteses mais otimistas, o certame pode começar em junho, com a disputa da etapa da Catalunha, na pista de Barcelona. Mas, devido à longa pausa de atividades dos pilotos, que não puderam nem correr a primeira prova no Catar (onde só a Moto 2 e a Moto3 puderam correr, por já estarem por lá), a Dorna confirmou que deverá realizar uma sessão de teste antes de iniciar o campeonato. A ideia é, tão logo consiga ter segurança de definir uma prova para dar início à competição, estabelecer uma sessão de testes coletivos neste circuito que irá abrir a temporada, como forma dos pilotos voltarem a ter intimidade com suas máquinas de competição. A idéia me parece bem razoável, uma vez que os pilotos estão praticamente sem treinar, podendo apenas se exercitar em simuladores que, por mais avançados e precisos que sejam, não podem substituir integralmente o prazer que os pilotos sentem quando estão em cima de uma moto. E seria bom também para os times verem como estão seus equipamentos, depois de tanto tempo, uma vez que até mesmo parte das atividades das escuderias em suas fábricas segue parada, necessitando de um “aquecimento” para voltarem com tudo para a competição de verdade.


O adiamento da competição da MotoGP trouxe alguns problemas e complicações inesperados. Valentino Rossi, que já sabe que este será seu último ano competindo pelo time oficial da Yamaha, uma vez que a escuderia dos três diapasões contratou a jovem promessa Fábio Quartararo para o seu lugar, ao lado de Maverick Viñales, iria aproveitar o desenrolar da temporada para ver o desempenho do equipamento do time japonês e decidir se aceitaria a proposta que lhe foi feita para 2021, de permanecer na classe rainha do motociclismo, defendendo o time satélite da marca, a SRT, onde Quartararo está oficialmente. Entre as benesses, Rossi continuaria ganhando um alto salário, e teria uma moto oficial de fábrica, e todo o apoio técnico de fábrica também para competir. Valentino esperava fazer uma avaliação da performance do equipamento da Yamaha, além de sua própria performance, para decidir se aposentaria o capacete, ou continuaria a competir. Ocorre que ele esperava ter uma base até julho, para poder decidir o que fazer, e no atual momento, onde pandemia do coronavírus continua deixando tudo incerto no que tange às competições esportivas pelos próximos meses, o “Doutor” se vê perdendo as oportunidades que o ajudariam a definir seu futuro, uma vez que, quando tudo começar de fato, ele terá muito menos tempo para conseguir analisar as possibilidades e tomar uma decisão. Depois de dois anos sem conseguir vencer na Yamaha, Rossi quer ver se ainda pode ser competitivo, com mais de 40 anos, para calcular se vale a pena seguir um pouco mais na carreira. Mas o “Doutor” não é o único que está enrolado com isso: a Ducati, que tem sido a principal adversária da Honda e de Marc Márquez nos últimos anos, também enfrenta um dilema: sua atual dupla de pilotos, Andrea Dovizioso, vice-campeão nos últimos três anos consecutivos, e Danilo Petrucci, que foi promovido ao time de fábrica no ano passado, só tem contrato até o fim da atual temporada, de modo que o time de Bolonha praticamente não tem pilotos para competir na temporada de 2021. E isso vai pesar muito para seus pilotos, quando a temporada deste ano começar, pois a escuderia vai querer saber o quanto eles podem render, antes de saber se manterá a dupla para o próximo ano, ou apenas um deles. Dovizioso e Petrucci começarão a temporada, seja lá em que momento do ano ano, pressionados a darem o máximo de si, visando garantir seus lugares para 2021, e isso pode causar alguns problemas, se as cobranças de performance não forem correspondidas. Por outro lado, a Ducatti também se verá em problemas, caso resolva contratar outro piloto, uma vez que a grande maioria também estará em indefinição parecida com seus atuai times...
 



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