sexta-feira, 17 de abril de 2020

BANDEIRADA FINAL PARA MOSS

Stirling Moss, ao lado de Lewis Hamilton. Ex-piloto era reverenciado e respeitado por diversos profissionais da F-1, e lamentaram sua morte.

            Enquanto o mundo continua parado e sem rumo por mais uma semana, ao menos um grande nome do esporte acabou nos deixando no último domingo, justamente no domingo de páscoa. Stirling Moss, um dos grandes mitos da história da Fórmula 1, faleceu aos 90 anos de idade, na Inglaterra. Com ele, foi-se o último grande nome que desbravou as pistas da categoria máxima do automobilismo na sua primeira década de existência ainda vivo, um nome para se reverenciar junto aos gigantes do automobilismo mundial. E, que por injustiça das circunstâncias da vida e do esporte, sem nunca ter sido campeão da F-1.
            Sim, isso mesmo. Stirling Moss até hoje é conhecido como o “maior campeão sem título” da F-1, a grande menção que sempre faltou em sua carreira na categoria máxima do automobilismo. Não foi por falta de tentativa, porém. Seu azar foi ter tido que enfrentar, em sua época, um dos maiores nomes do automobilismo mundial, um certo argentino chamado Juan Manuel Fangio, que naqueles tempos mais do que heróicos que travestiam a aura dos pilotos, conseguiu a façanha de ser pentacampeão mundial, feito que só seria igualado em 2002, por Michael Schumacher, que conseguiria superar a marca de títulos de Fangio, tornando-se heptacampeão ao vencer os campeonatos também de 2003 e 2004.
            Costumou-se dizer, na época, que Moss virara uma “sombra” de Fangio, tal o modo como sempre estava nos calcanhares do piloto argentino. Não é mera força de expressão. Tendo estreado no Grande Prêmio da Suíça de 1951, Moss só foi se fazer notar na categoria máxima do automobilismo quatro anos depois, em 1955, ao ter finalmente um equipamento competitivo que lhe permitisse fazer uso de seu imenso talento ao volante, a Mercedes “Flecha de Prata”. Ganhou seu primeiro GP justamente em seu país, a Inglaterra, naquele ano, quando a prova foi disputada no circuito de Aintree. Marcou 23 pontos, terminando o ano como vice-campeão, atrás de Fangio, que ali conquistava o seu tricampeonato, já tendo sido campeão nas temporadas de 1951 e 1954. Pela capacidade de pilotagem, muitos apostavam que o piloto inglês seria capaz de desbancar o argentino. Ledo engano.
            Não que Moss não tenha tentado. Se em 1955 Fangio venceu com uma relativa folga o campeonato, a disputa foi bem mais renhida em 1956, com o argentino a ter trabalho com o novo rival, derrotando-o pela menor margem até então, de apenas 3 pontos (30 para Fangio, e 27 para Moss), com Stirling conquistando seu segundo vice-campeonato consecutivo. Em 1957, nova derrota para Moss, com Fangio conquistando seu 5º e último título, e dando ao inglês mais um vice-título. Todos se perguntavam se Moss conseguiria desbancar mesmo Fangio. A chance parecia ter chegado em 1958, quando Juan Manuel Fangio anunciou sua retirada da F-1. Sem o argentino pela frente, o caminho estaria aberto para Moss finalmente conquistar um título, não? Nem tanto... em um campeonato equilibrado, o inglês encontrou em um compatriota, Mike Hawthorn, um inesperado novo algoz, perdendo o título para o piloto da Ferrari por apenas 1 ponto, ao fim da temporada. Era o quarto vice-título consecutivo de Moss.
Com a Mercedes, em 1955, no Grande Prêmio da Grã-Bretanha, sua primeira vitória, e o primeiro vice-campeonato na F-1, atrás somente de Juan Manuel Fangio.
            Seria também o último. Dali em diante, por várias circunstâncias, apesar de ainda continuar vencendo na F-1, o inglês acabou as temporadas de 1959, 1960, e 1961, em 3º lugar no campeonato. Uma curiosidade sobre a derrota de 1958 para seu compatriota ganha ares quase incrédulos nos dias atuais: Mike Hawthorn havia sido desclassificado do GP de Portugal daquele ano, antepenúltima corrida da temporada, por ter sido considerado culpado de causar um incidente na prova. Isso o faria perder os pontos daquela prova, e consequentemente, o título ao fim do campeonato. E foi o próprio Moss que tratou de inocentar Mike ao informar aos fiscais que o incidente de que o acusavam ser culpado não fora dele. Seu testemunho, e seu currículo de piloto, fizeram com que os fiscais revertessem a punição, devolvendo os pontos a Hawthorn. Sem eles, Stirling poderia ter comemorado um título, mas nunca se arrependeu do que fez, em um gesto de caráter e honestidade que muitos hoje em dia poderiam criticar, dado alguns vale-tudos que já vimos nas pistas em algumas oportunidades.
            Em 1962, quis o destino que Moss acabasse encerrando sua carreira, aos 32 anos. O piloto sofreu um forte acidente ao volante de um carro Lotus em Goodwood, que o fez ir parar no hospital, onde ficou praticamente um mês em coma, além de ter ficado com parte do corpo semiparalisado por vários meses. Refeito, ele até tentou retomar a carreira, mas viu que não estava mais conseguindo domar o comportamento do carro como conseguia fazer até então, não sendo capaz de andar no mesmo ritmo. Preferiu então aposentar o capacete como piloto profissional, uma vez que não seria justo com os torcedores, por encontrar-se mais lento. Preferiu ser honesto, e leal a si mesmo, sem tentar iludir ninguém.
Moss, pilotando a Maserati, no Grande Prêmio de Mônaco de 1956, ano de seu segundo vice-título na F-1.
            Terminava ali uma carreira relativamente bem-sucedida, iniciada em 1948, na Formula 3 500cc britânica, passando por vários certames e provas diversas, até estrear na F-1, em 1951. De lá até o fim de sua carreira, foram praticamente mais de 520 provas, com cerca de 212 vitórias, 16 delas só na F-1, onde se tornou o maior vencedor inglês da competição, marca que levaria três décadas para ser superada, o que só aconteceu em 1991, quando Nigel Mansell venceu o Grande Prêmio da França, alcançando sua 17ª vitória, e deixando Moss finalmente para trás. Stirling mostrava talento com praticamente todos os carros que pilotava, e entre 1951 e 1961, também disputou as 24 Horas de Le Mans, onde ficou duas vezes em 2º lugar, além das 12h de Sebring e a prova da Mille Miglia, provas em que conseguiu anotar uma vitória em cada pista, entre muitas outras corridas. Sua capacidade de pilotagem era enaltecida pelos rivais, assim como seu caráter e cavalheirismo. Todos sempre foram unânimes em afirmar que, dos pilotos que nunca foram campeões na F-1, Moss era o maior de todos, e seus números, superiores aos de vários pilotos que foram campeões na categoria máxima do automobilismo, atestam isso.
            Encerrada a carreira de piloto profissional, mas com grande respeito de todos nos meios automobilísticos, Moss acabaria se tornando repórter da rede ABC dos Estados Unidos, e nessa função continuou acompanhando a F-1 por mais quase vinte anos, até deixar a função. Mesmo assim, sempre aparecia aqui e ali em diversos GPs, como convidado, além de participar de algumas atividades de promoção do esporte. Em 1990, seu nome foi incluído no Hall da Fama da International Motorsports, um Hall da Fama dedicado a consagrar aqueles que mais contribuíram para os esportes a motor em todo o mundo. E no ano 2000, acabou sendo sagrado “Sir” pela realeza britânica, por seus trabalhados dedicados ao esporte a motor. Por onde quer que passasse, em um fim de semana de corrida, era sempre reverenciado e respeitado por aqueles que tinham chance de conhecê-lo, sendo também entrevistado por muitos profissionais que cobrem o mundo do automobilismo, nas mais diversas oportunidades.
            Em 2016, passou alguns meses internado em um hospital de Singapura, devido a uma infecção pulmonar. Com uma saúde já debilitada, o velho piloto sentiu que era hora de sair de cena, ao menos publicamente. De lá para cá, seu quadro foi aos poucos se debilitando, até o seu passamento, domingo passado, aos 90 anos de idade. Um grande ídolo para muitos fãs do esporte a motor, cuja fama, até hoje na Grã-Bretanha, ainda é imensa, mesmo entre aqueles que nunca o viram pilotar, nem eram nascidos em sua época. E outra mostra de quão respeitado ele era foi o grande número de personalidades do mundo da velocidade que prestaram pêsames ao falecimento do ex-piloto, lamentando o ocorrido, algo que não é pouca coisa.
            Descanse em paz, Stirling Moss, após receber sua derradeira bandeirada de chegada.


Desde a estréia no Grande Prêmio da Suíça, em Brengartem, até seu último GP, nos Estados Unidos, em Watkins Glen, Stirling Crawford Moss disputou 66 corridas, obtendo 24 pódios, dos quais 16 vitórias, marcando 16 pole-positions, e 19 voltas mais rápidas, só na F-1. Levando-se em conta que naqueles anos as temporadas tinham cerca de dez corridas em média, são números muito bem alcançados, ainda mais em uma época onde pilotar era um ato de coragem, com pistas e, por vezes, carros que não ofereciam as melhores condições de segurança, os quais vitimaram vários pilotos. Não por acaso, no acidente que sofreu em Goodwood, em abril de 1962, pode-se dizer que Moss teve muita sorte, uma vez que passou praticamente um mês inconsciente no hospital, antes de recobrar os sentidos. E ainda teve sorte das sequelas não terem sido graves, mesmo tendo ficado com parte do corpo semiparalisado por meses. Ao ver que não conseguia mais lidar com o carro com a mesma capacidade de antes, resolveu parar, já que não conseguia mais ser veloz como era. E seus números na F-1 demoraram muito tempo para serem igualados e superados.
Mesmo sem ganhar um título, Moss foi respeitado e reverenciado por diversos rivais e profissionais da F-1. Caráter, carisma e talento marcaram a carreira do piloto inglês.


Stirling Moss é venerado até hoje pelos ingleses amantes do esporte a motor, como um dois gigantes do automobilismo britânico. E isso não leva em conta os escoceses Jackie Stewart e Jim Clark. Nigel Mansell e Lewis Hamilton, com este último tendo a possibilidade de se tornar o maior vencedor e campeão da história da F-1, fizeram questão de lembrar os feitos de seu compatriota, e prestar-lhe o maior respeito, mesmo que Moss nunca tenha sido campeão da F-1. Apesar de estigmatizado por ser o piloto com maior número de vice-campeonatos na F-1, Stirling nunca deixou de ser respeitado por seus torcedores, que sempre reconheceram seus feitos, e seu talento ao volante. Fico imaginando se Moss tivesse sido brasileiro, como ele seria tratado por aqui no nosso país, onde só os campeões são lembrados, e respeitados. A cultura do “segundo colocado ser o primeiro dos perdedores” certamente teria um prato cheio para esculhambar Moss, justamente por nunca ter chegado a um título. Rubens Barrichello e Felipe Massa, que também foram vice-campeões, viraram motivo de chacota e, para muitos “fãs”, de vergonha nacional do esporte a motor, mesmo tendo números bem respeitáveis na F-1. Curioso que ambos os dois são respeitados lá fora por quem curte o universo das corridas, como bons pilotos que foram. Não se trata de dizer que foram tão bons quanto Moss, mas mesmo assim, ganharam sua parcela de respeito, sendo criticados e até defenestrados apenas aqui no Brasil, no pior sentido da palavra. Por estes critérios, de uma grande massa de “fãs”, Moss poderia ser classificado como o “maior fracassado” da história da F-1, pelos seus quatro vice-títulos. Felizmente, ele não nasceu brasileiro, para sorte dele, e menos vergonha nossa, se recebesse tal tratamento de muitos “entendidos” em competições do esporte a motor deste país...


E a equipe Hass é mais um time a efetuar corte e dispensa de funcionários, em decorrência da paralisação das atividades do meio automobilístico devido à pandemia da Covid-19. Os funcionários da sede britânica do time estadunidense que estão agora de licença irão receber a ajuda emergencial do governo inglês para auxiliar trabalhadores com atividades suspensas. Outro time que também resolveu tomar a mesma medida é a Renault, que possui fábrica na cidade de Enstone. A medida também vale para a fábrica em Viry-Châtillon, na França, onde a Renault produz seus propulsores. As licenças devem valer até o fim do mês de maio, dependendo de como a situação da pandemia progredir nas próximas semanas.


Um time que enfrenta uma situação preocupante é a Williams. O grupo acabou vendendo sua divisão de engenharia avançada no final do ano passado, e agora, teria recebido um financiamento de Michael Latifi, pai de um dos pilotos do time, Nicholas, que faria sua estréia na F-1 este ano. O empréstimo, calculado e cerca de 50 milhões de libras, teria sido avalizado com garantias como hipoteca dos terrenos e edifícios da escuderia, além das instalações e máquinas da fábrica. Também estariam incluídos como segurança no negócio, os chamados "ativos patrimoniais", na forma de mais de 100 carros da Williams produzidos na F1, cobrindo 42 anos de história da equipe, desde os primórdios nos anos 1970. Parte do refinanciamento do time foi feito com o banco HSBC, de Hong Kong, que já chegou a patrocinar a equipe de Jackie Stewart na F-1, em fins dos anos 1990. Decididamente, parece que o time fundado por Frank Williams está cada vez mais andando no fio da navalha para equilibrar suas contas e sua participação na categoria máxima do automobilismo, onde já foi uma das forças dominantes da competição, até a segunda metade dos anos 1990, quando conquistou seu último título, em 1997, com o canadense Jacques Villeneuve. A última vitória veio em 2012, com o venezuelano Pastor Maldonado, na Espanha. A última pole, com Felipe Massa, em 2014. O último pódio, com Lance Stroll, em 2017. A má gestão da escuderia, especialmente nos últimos anos, traça um quadro desanimador para um dos times mais tradicionais da história da F-1 até hoje. Espero sinceramente que essa operação não seja mais um prego em um caixão que ameaça fechar mais dia, menos dia...


Enquanto tudo ainda permanece indefinido quanto ao início do campeonato da F-1 para 2020, outra prova entra em possibilidade de ter de ser adiada: o governo da Bélgica estabeleceu a proibição de eventos no país até o dia 31 de agosto, visando combater a pandemia da Covid-19. A prova de F-1, marcada inicialmente para 30 de agosto, poderia ser afetada pela proibição. Caso aconteça, um adiamento poderá ser a solução, se bem que ainda não dá para fazer a mínima idéia de como serão as datas das corridas, caso a competição possa ser finamente iniciada, muito provavelmente a partir de julho, na hipótese mais otimista...

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