sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

O ADEUS DE CHRISTIAN

Último vencedor das 24 Horas de Daytona, em 2018, Christian Fittipaldi faz sua despedida como piloto na edição 2019 da corrida.

           Neste sábado, temos o início do campeonato da IMSA Wheater Tech Sportscar Championship, com a disputa das 24 Horas de Daytona, a prova de Endurance mais famosa do mundo depois das 24 Horas de Le Mans. Na prova, nada menos do que 12 pilotos brasileiros estarão no grid para tentar garantir mais um triunfo de um piloto brasileiro na corrida, e um deles terá um motivo muito especial para buscar a vitória: Christian Fittipaldi despede-se como piloto de corridas profissional após a bandeirada de domingo. Aos 48 anos, o sobrinho do bicampeão de F-1 Émerson Fittipaldi decidiu que é hora de pendurar o capacete. E, dono de três triunfos em Daytona, o último deles no ano passado, Christian quer se despedir com uma 4ª vitória na mais tradicional corrida de longa duração dos Estados Unidos. Caso consiga o feito, estará ao lado dos pilotos com a segunda maior marca de vitórias na corrida. Não terá chance de igualar-se aos maiores vencedores de Daytona, Hurley Haiwood e Scott Pruett, com 5 triunfos, mas não dá para ter tudo.
            E Christian não tem do que reclamar nos últimos anos. É bicampeão do IMSA Weather Tech Sportscar, onde estreou em 2014, tendo sido campeão naquele ano com a Action Express, repetindo a dose no ano seguinte. Em 2016, foi vice-campeão, e em 2017, terminou em 3º lugar. Mas Christian não largará as pistas: seguirá como membro da equipe Action Express, mas na direção esportiva do time, onde já atua desde o ano passado, tendo começado sua despedida das pistas em2018, quando já não participou de todo o certame do IMSA Wheater Tech.
            É o fim de uma carreira de 38 anos de competição, iniciada em 1981, no kart, aos 10 anos. Filho de Wilson Fittipaldi Jr., Christian desde cedo respirava competição, vendo as atividades do pai no comando da Copersucar, e vendo o tio Émerson ao volante. Depois de 6 temporadas no kart, era a hora de partir para os monopostos, e Christian foi vice-campeão da F-Ford brasileira em 1988, aos 17 anos. Em 1989, disputou a F-3 brasileira, conquistando o título. Em 1990, foi campeão da F-3 Sul-Americana, tendo sido, na época, o mais jovem piloto a conquistar a Superlicença, documento para pilotar na F-1. No mesmo ano, ainda foi o 4º colocado na F-3 Inglesa, o mais prestigiado torneio de F-3 do mundo. No ano seguinte, seria campeão da F-3000, categoria logo abaixo daF-1, batendo ninguém menos do que o italiano Alessandro Zanardi na luta pelo título. O caminho para a F-1 estava pavimentado.
O início nos monopostos foi na F-Ford Brasileira (acima). Depois de ser campeão na F-3 Brasileira e Sul-Americana, foi campeão na F-3000 (abaixo) garantindo sua entrada na F-1.
    
        Mas, na categoria máxima do automobilismo, as coisas não correram muito bem. A estréia foi com a modesta Minardi, em 1992, um time pouco competitivo. Seu melhor resultado acabou sendo um 6º lugar no GP do Japão daquele ano, que lhe rendeu seu primeiro ponto na F-1. Mas era um ano de estréia e de aprendizado. Dias melhores haveriam de vir. Mas na temporada seguinte, ainda defendendo a Minardi, que continuou pouco competitiva, ele marcou 5 pontos, e ainda acabou rifado do time nas últimas duas corridas, para ser substituído por pilotos pagantes. Foi o fim da relação com a escuderia italiana. No ano seguinte, ele correria pela Arrows na F-1, que até tinha chance de fazer algo razoável no campeonato, mas com as mudanças de regulamento implantadas após a prova trágica de Ímola de 1994, o time desandou, e Christian marcou apenas 6 pontos, e sem maiores perspectivas na categoria.
            Com o crescimento da F-Indy, e com o sucesso que o tio Émerson fazia por lá, tendo sido campeão, e vencido por duas vezes as 500 Milhas de Indianápolis, Christian rumou para os Estados Unidos, onde encontrou melhores oportunidades de competição, e inclusive, conquistando um excelente 2º lugar na Indy500. Com 54 pontos, ele terminou o ano de estréia em 15º lugar, e só não foi eleito o “rokkie do ano” porque acabou superado por Gil de Ferran na última corrida, em Laguna Seca, vencendo a corrida e passando à sua frente na classificação. Mas isso pouco importava: o talento do jovem Fittipaldi já havia sido reconhecido, e na temporada seguinte, ele defenderia a Newmann-Hass, um dos times de ponta da categoria, onde teria todas as condições para brilhar, e repetir a trilha de sucesso do tio Émerson.
Em 1995, a estréia na F-Indy, e conseguindo um 2º lugar nas 500 Milhas de Indianápolis.
            Só que as coisas não correram tão bem como o esperado. Sua temporada de estréia na Newmann-Hass foi muito boa, e ele terminou o ano de 1996 em 5º lugar, com 110 pontos. Seu companheiro de equipe, Michael Andretti, campeão da categoria em 1991, foi o vice-campeão, com 132 pontos. O único ponto negativo foi não ter conseguido vencer nenhuma corrida, enquanto Michael venceu 5 provas. Mas mostrou consistência e regularidade, características importantes na categoria estadunidense. Mas em 1997, um violento acidente em Surfer’s Paradise arruinou a temporada de Christian, que acabou quebrando as pernas, e ficando fora de 6 corridas. E, ainda por cima, quando retornou, não estava na melhor condição, além de ter enfrentado vários outros problemas menores. Foi uma temporada para esquecer. E em 1998, a situação não melhorou muito, e Christian ainda sofreu outro forte acidente, em Milwaukee, que ajudou a complicar novamente a temporada.
            Em 1999, as coisas melhoraram, e Christian enfim obteve sua primeira vitória na competição, ao vencer a etapa de Road America, e marcou sua primeira pole, na etapa do Rio de Janeiro. Mas, novamente, outro acidente acabou deixando-o de fora de algumas corridas. Terminou o ano em 7º, com 121 pontos, 30 a menos que o parceiro Michael Andretti, o 4º colocado. No ano 2000, veio sua segunda vitória, nas 500 Milhas de Fontana, última prova da temporada. Foi o 12º colocado, com 96 pontos. A temporada de 2001 não foi boa: enquanto Cristiano da Matta, seu novo companheiro de equipe, vencia corridas e até ansiava disputar o título, Christian foi apenas o 15º colocado, sem vencer nenhuma corrida, e tendo apenas um pódio no ano. O ano seguinte seria melhor, com o brasileiro terminando a temporada em 5º lugar, mas sem vencer, enquanto Cristiano foi campeão da temporada, com 7 vitórias. Christian, enfim, viu que era hora de procurar novos ares. Sua participação na categoria terminaria com 135 corridas em 8 temporadas, com 2 vitórias e uma pole, além de 20 pódios.
            Nos anos seguintes, Christian perambulou pelo mundo do automobilismo. Em 2002, já havia disputado algumas provas da Nascar, a Stock Car dos Estados Unidos, mas foi marcar presença mesmo nas 24 Horas de Daytona, onde foi vencedor pela primeira vez em 2004, em sua segunda participação na prova. Correu no campeonato da A1GP, e em algumas temporadas da Stock Car aqui no Brasil, além de estar presente em Daytona desde 2003. Participou também de algumas edições das 24 Horas de Le Mans, e do campeonato da American Le Mans Series. Voltaria a vencer as 24 Horas de Daytona em 2014, e no ano passado, além de terminar a prova em 2º lugar em 2015 e 2017.
Em sete temporadas competindo pela Newmann-Hass, alguns acidentes graves, vários azares, e poucas vitórias, apesar de alguns bons campeonatos.
            Para muitos torcedores brasileiros, contudo, o fato de não ter tido melhores resultados na F-1 o colocam no lugar comum dos “fracassados” na categoria máxima do automobilismo. Infelizmente, apesar de mostrar talento com algumas performances com os carros pouco competitivos que teve à disposição, as opções em times melhores nunca se abriram para ele, apesar do sobrenome famoso. Quando optou por se transferir para a F-Indy em 1995, suas melhores opções na F-1 seria continuar na equipe Arrows, ou ir para a Tyrrel, e ainda por cima, tendo de levar patrocínio. E tanto uma equipe quanto a outra não permitiriam resultados melhores do que ele já havia conseguido até ali. Então, seus números se resumiram a 40 GPs, e 12 pontos marcados. E correr na F-Indy, na época, era muito mais promissor, com melhores oportunidades e condições de competição.
            Mas, novamente, muitos torcedores também manifestaram desapontamento pelo fato de Christian não ter conseguido deslanchar na F-Indy. Mas as temporadas de 1997 e 1998 foram ruins, e o piloto teve muitos problemas nestes dois anos. E mesmo quando tudo correu melhor, ainda assim ele ficou devendo, na opinião de muitos, ainda que tenha andado bem, como em 1996 e 1999. Mas, talvez a pior comparação tenha sido em 2002, quando ele foi totalmente eclipsado pelo compatriota Cristiano da Matta, que foi campeão até com algumas sobras, enquanto ele não conseguiu se destacar. E com Gil de Ferran tendo sido bicampeão da F-Indy, e tendo também Hélio Castro Neves vencendo corridas, a imagem de Christian perante a torcida brasileira já não era mais a mesma. Até Roberto Moreno, que em 2000 e 2001 conseguiu correr com um time competitivo, e vencer algumas corridas, parecia ter melhor performance.
            Não foram momentos fáceis. Felizmente, ele se reencontrou no Endurance dos Estados Unidos, com a vitória nas 24 Horas de Daytona de 2004 mostrando o caminho que ele daria à sua carreira a partir de então, mesmo que tenha andado por vários outros campeonatos, até se dedicar exclusivamente ao novo IMSA Wheater Tech nos últimos anos. Missão mais do que cumprida, ele decidiu que era hora de parar, e encerrar uma carreira que, se não foi tudo o que ele aspirava, também não lhe deu arrependimentos, tendo tido a sorte de pilotar carros dos mais diversos tipos e de vários campeonatos diferentes, honrando o sobrenome Fittipaldi, que segue firme no mundo do esporte a motor, agora com Pietro e Enzo representando a mais nova geração dos Fittipaldi nas pistas. Uma pena que alguns campeonatos, como o IMSA, sejam tão pouco divulgados aqui no Brasil, de modo que muitos fãs da velocidade até ignoram as conquistas de Christian no endurance norte-americano, concentrando unicamente nas provas da Indycar. Não fosse isso, com certeza os feitos de Christian seria muito mais reconhecidos pelos torcedores nacionais, com uma maior exposição de sua carreira nos últimos 16 anos.
            Uma carreira que deve ser respeitada, e honrada, por aqueles que sabem torcer de verdade pelas corridas. Valeu por tudo, Christian. E que tenha a melhor das despedidas possíveis neste domingo em Daytona. Você mais do que mereceu as vitórias e títulos que obteve.


Para os fãs da velocidade, o canal pago Fox Sports 2 transmitirá parte das 24h de Daytona neste fim de semana. No sábado, a transmissão começará após a exibição do ePrix de Santiago da F-E, a partir de 18h30, até por volta das 21h30, com narração de Rodrigo Mattar e Edgard Mello Filho nas análises e comentários. No domingo, a transmissão começará a partir das 15h30, indo até a bandeira quadriculada, com narração de Tiago Alves, e Rodrigo Mattar agora nos comentários e análises. O Brasil terá 12 pilotos na corrida este ano. Confiram nossos representantes: Christian Fittipaldi (Action Express), classe Protótipos DPi; Felipe Nasr (Action Express), classe Protótipos DPi; Pipo Derani (Action Express), classe Protótipos DPi; Hélio Castro Neves (Penske), classe Protótipos DPi; Rubens Barrichello (Jdc-Miller Motorsports), classe Protótipos DPi; Augusto Farfus (BMW), classe GTLM; Chico Longo (Via Italia), classe GTD; Victor Franzoni (Via Italia), classe GTD; Marcos Gomes (Via Italia), classe GTD; Felipe Fraga (Riley Motorsports), classe GTD; Daniel Serra (Spirit of Race), classe GTD; e Bia Figueiredo (Meyer-Shank Racing), classe GTD. O carro de Helinho larga na primeira fila, em 2º lugar; Pipo Derani e Felipe Nasr partem em 5º; Barrichello na 8ª posição; Augusto Farfus em 22º; Franzoni, Gomes e Chico Longo em 24º; Fraga em 25º; Serra em 29º; Bia em 34º; e Christian Fittipaldi em 46º lugar.


Entre os pilotos que estarão no grid, destaque também para Fernando Alonso, que disputará as 24 Horas de Daytona pela equipe Wayne Taylor, ao volante do carro Nº 10. O espanhol terá como companheiros de prova no carro 10 o japonês Kamui Kobayashi, o estadunidense Jordan Taylor, e o holandês Renger Van Der Zande. Com um protótipo Cadillac DPi VR, a Wayne Taylor é um nome forte para a corrida. Depois de vencer as 24 Horas de Le Mans pela Toyota no ano passado, será que Alonso conseguirá triunfar também nas 24 Horas de Daytona? A conferir neste final de semana, onde o carro do asturiano largará na 6ª posição. Mas, diferentemente de Le Mans, onde a Toyota reinou sozinha, a disputa em Daytona promete ser bem mais complicada, e com um maior número de pilotos candidatos à vitória, como a equipe da Mazda, que largará na pole-position da corrida com o carro Nº 77, que com o inglês Oliver Jarvis ao volante, quebrou o recorde da pista, que já durava 26 anos, superando a antiga marca obtida por P.J. Jones, que foi o pole da prova em 1993. Mas estamos falando de uma corrida de 24 horas, e largar na frente, apesar de ser bom, não é garantia de vitória. Vamos ver quem estará na frente depois das 24 horas da competição...


E a Formula-E também vai acelerar fundo neste final de semana. É hora do ePrix de Santiago, terceira prova da 5ª temporada da competição. O palco da corrida, entretanto, é diferente do ano passado, com uma nova pista de 2,348 Km de extensão, e 14 curvas junto ao Parque O'Higgins. No campeonato, o belga Jerôme D’Ambrosio, da Mahindra, lidera a competição com 40 pontos, após ganhar de presente praticamente a vitória na etapa de Marrakesh, após a dupla da BMW Andretti se desentender entre si na parte final da corrida e perder uma vitória em dobradinha praticamente certa. Mesmo com o abandono no Marrocos, o português Antônio Felix da Costa ainda é o vice-líder, com 28 pontos, mas Jean-Éric Vergne, da Techeetah, já está emparelhado com os mesmos 28 pontos, e mostra ter o carro mais rápido do grid neste início de campeonato, só não tendo vencido as duas corridas por problemas alheios na primeira corrida e afobação na segunda. E Andre Lotterer, também da Techeetah, vem logo a seguir, em 4º, com 19 pontos, à frente de Robin Frijins e Sam Bird, a dupla da Virgin, ambos com 18 pontos cada. No campeonato de equipes, a Techeetah lidera com 47 pontos, enquanto Mahindra e BMW Andretti estão empatadas com 40 pontos. Logo a seguir vem a Virgin, com 36 pontos. Lucas Di Grassi é o brasileiro melhor colocado, em 10º, com 9 pontos marcados, enquanto Nelsinho Piquet é o 13º com 1 ponto, e Felipe Massa ainda não conseguiu pontuar. A corrida terá transmissão ao vivo do canal pago Fox Sports 2 a partir das 15:30 Hrs, pelo horário de Brasília. A largada está marcada para as 16:30 Hrs.
O novo traçado do ePrix de Santiago para a Formula-E.

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