sexta-feira, 2 de março de 2018

PRÉ-TEMPORADA: 1ª SEMANA


A pista de Barcelona na última quarta-feira: neve,  muito frio, e um dia da pré-temporada que foi para o brejo...

            As equipes terminaram ontem a primeira parte da pré-temporada da Fórmula 1 em 2018, e infelizmente, pudemos ver como a categoria consegue continuar sendo idiota, egocêntrica, e mesquinha. Basicamente, metade do tempo disponível para treinos foi para o brejo por causa da onda de frio que se abate sobre o continente europeu no momento. Tivemos um dia completamente inutilizado, enquanto outro foi bem prejudicado pelas interpéries. E, mesmo assim, as equipes não chegaram a acordo para estender a sessão de testes até hoje, sexta-feira, onde poderiam pelo menos compensar o tempo perdido durante os demais dias. Para prorrogar os testes, era necessário ter concordância unânime dos times, mas Force India e Williams melaram tudo. A regra de concordância geral foi uma idéia aventada para proteger os times mais fracos de decisões que fossem tomadas pela maioria das escuderias, que poderiam impor seu ponto de vista a todo o grid. Só que, com o passar do tempo, essa regra virou completamente pela culatra, passando a servir para atravancar a tomada de decisões que possam resolver certas situações. E nem falei de outra regra besta, que é a de permitir apenas um carro na pista por vez de cada time, restringindo ainda mais os trabalhos, que poderiam ser acelerados se as escuderias pudessem contar com sua dupla de pilotos ao mesmo tempo dando voltas, permitindo obter e analisar mais dados simultaneamente.
            Com o tempo melhorando significativamente desde ontem, as possibilidades de os times trabalharem forte e bem na pista da Catalunha hoje eram excelentes, e isso certamente lhes propiciaria desenvolver seus carros bem mais a contento, minimizando possíveis prejuízos que o tempo ruim impôs a seus cronogramas. Infelizmente, alguns times pensam mais em seus umbigos do que no panorama geral da F-1. O duro é que não dá nem para crucifica-los tanto assim, pois foram acostumados, após décadas de experiência, a pensarem somente neles mesmos, com raros momentos de exceção. Bernie Ecclestone foi um dos que incentivou tal tipo de atitude. Como então presidente da FOCA, e depois FOM, não era interessante para ele que os times se unissem, de forma que poderiam ter força para se oporem às suas decisões administrativas, e derrubarem suas diretrizes. Assim, cada escuderia se acostumou a defender seus próprios interesses, pois os outros não o fariam. E deu no que deu.
            Mas há outros males dos quais a F-1 continua teimando em não corrigir. A restrição de testes, adotada como forma de conter os gastos das escuderias, virou uma praga que parece de difícil solução. O tempo ruim na Espanha, e na Europa em geral, evidencia a necessidade de se trabalhar em locais onde o clima esteja mais quente. Cogitou-se de fazer parte da pré-temporada no Bahrein, que nem fica assim tão longe da Europa, mas teve times que rejeitaram a idéia, alegando custos. Ficar testando só em Barcelona também já encheu. Por mais que o circuito espanhol tenha curvas variadas, achar que só ele pode servir já soa como birra. Uma categoria que se diz tão “profissional” como a F-1, ficar refém deste tipo de comportamento... É complicado mesmo... E depois quando se fala que eles precisam mudar de atitude, muita gente chia... Ainda há muito o que fazer, para corrigir certas imbecilidades. É preciso haver um melhor planejamento, e alternativas caso sejam necessárias.
            Novo dono da categoria máxima do automobilismo, o Liberty Media tem feito algumas boas iniciativas para tentar tornar a F-1 menos engessada e mais flexível. Tomara que tomem logo atitudes para corrigir certos aspectos também quanto à programação, local e duração das próximas pré-temporadas. Do jeito que está, vai muito mal. E os times, em parte culpados por isso, também são os maiores prejudicados. Se o tempo ruim persistisse até a semana que vem, as escuderias teriam de embarcar para a Austrália praticamente sem saber o que esperar de seus novos projetos, uma vez que não tivessem tido tempo de testar adequadamente. E aí, como ficariam eles, nessa situação? A corrida australiana viraria uma bela loteria, completamente imprevisível, que até poderia ser boa para os fãs, mas também poderia ter o efeito contrário, e prejudicar a competição pela falta de preparo hábil dos times. Falando curto e grosso, as escuderias tiveram de certo modo apenas o equivalente a um dia ideal de condição de pista para desenvolver seus trabalhos. Algumas pistas podem ser dadas do que esperar dos novos times para esta temporada, mas as condições climáticas bagunçaram tanto o cronograma das escuderias, que não dá para levar estes indícios com muita certeza.
No último dia, enfim tempo bom, e todos na pista. E Hamilton na frente, dando um susto nos concorrentes com o melhor tempo da semana.
            Se não, vejamos: pelo que vimos esta semana, com base apenas nos trabalhos de ontem, a Mercedes dá pinta de que vai sobrar este ano. Lewis Hamilton marcou o melhor tempo, deixando todos os outros times e pilotos para trás. A McLaren enfim está podendo trabalhar decentemente numa pré-temporada, o que não conseguiu nos últimos três anos. O time enfrentou alguns problemas, e descobriu alguns outros, mas nada que seja motivo de preocupação, comparado com o que sofreram na pré-temporada do ano passado, muito pelo contrário... O novo carro já está mostrando ser bem mais rápido do que o de 2017, o que é muito bom, mas quanto mais rápido, levando-se em conta como o carro anterior não era competitivo, devido ao retrocesso do propulsor da Honda exibido naquele momento? Isso depende muito dos concorrentes, e da posição em que eles se encontram, e o quanto também melhoraram para esta temporada. E, neste ponto, a Red Bull fica com uma certa interrogação. Daniel Ricciardo marcou o melhor tempo na segunda-feira, mostrando que o carro é rápido, mas Max Verstappen teve vários problemas a serem solucionados, e seus tempos de volta não pareceram muito promissores, além de ter perdido um bom tempo nos boxes esperando os mecânicos resolverem a situação. Será que o otimismo do time austríaco foi exagerado, ao afirmar que poderia ter enfim um início de temporada mais em pé de igualdade com a Mercedes e a Ferrari, já que o carro agora seria desenvolvido por Adrian Newey desde o princípio do projeto? Ainda é cedo para afirmar. Enquanto isso, a Ferrari parece relativamente bem com o desempenho de seu novo SF71-H. Os tempos, contudo, andaram um pouco altos, mas o time italiano rodou bastante, aproveitando o tempo disponível quando foi possível. O carro parece bem confiável, e não é bom subestimar os italianos, que até estiveram bem calmos durante a semana. Mesmo assim, não dá para deixar de sentir certa preocupação com a melhor marca obtida por Hamilton, com pneus médios, enquanto Sebastian Vettel, com a Ferrari equipada com pneus macios, foi cerca de 0s9 mais lento. Uma diferença a ser considerada, dependendo das condições de cada carro no momento das respectivas voltas. Mas o próprio Vettel afirma que a Mercedes realmente sai na frente, mais uma vez. Mas... seria um blefe para jogar a pressão nos rivais? Não parece muito... No ano passado, a Ferrari se mostrou muito forte nos testes, e depois comprovou no início do campeonato que não estava brincando... Dificilmente resolveriam esconder tanto o jogo agora... Outro dado que preocupa são os pneus, uma vez que os médios em tese são menos rápidos que os macios, sugerindo que a Mercedes pode ser ainda mais veloz...
Depois de três anos tendo só problemas nas pré-temporadas, a McLaren enfim voltou a andar bastante, e foi quem mais voltas deu na quinta-feira.
            A Honda parece ter enfim conseguido mostrar confiabilidade no seu equipamento, a ponto de a Toro Rosso ser o time com mais quilometragem obtida em Barcelona, algo que sem dúvida chegou a impressionar todo mundo no pit line, uma vez que nos anos anteriores, era quase certo propulsor nipônico ou estourar, ou ter de andar abaixo do limite possível, sacrificando potência, para evitar novas quebras. Fica a dúvida quanto à potência da nova unidade, se ainda estará muito atrás dos outros propulsores. Mas, se levarmos em conta o tempo frio na Catalunha, cabe também outra dúvida, se a unidade de potência se comportou assim tão bem por causa do frio, evitando esquentar demais. Lembrando que as corridas serão disputadas em temperaturas bem mais altas, espera-se que a Honda não tenha tido sua fiabilidade camuflada pelo frio. E a Red Bull estará de olho firme no desempenho da Honda, que se estiver sendo enfim bem-sucedida no desenvolvimento de sua unidade de potência, poderá equipar o time matriz dos energéticos em 2019. Christian Horner e Helmut Marko adorariam dar um chute na Renault, que tantas críticas já sofreu por parte de ambos, várias delas até merecidas, mas outras nem tanto. Vai ser um ano decisivo para a marca nipônica provar que ainda pode ser competitiva na F-1.
Surpresa: a Toro Rosso foi o time que mais andou. O motor Honda parece até confiável agora. Resta ver a potência e velocidade...
            A Renault parece ter conseguido, contra todas as expectativas, dar um bom salto de competitividade em relação ao ano passado, como escuderia de fábrica. Nico Hulkenberg e Carlos Sainz Jr. mostraram-se entusiasmados com os tempos obtidos, mas ainda assim mantém os pés no chão, sem criar falsas ilusões. O novo modelo RS18 realmente parece ter sido um grande passo em frente no projeto da marca de voltar a lutar pelo título, ainda que isso permaneça um pouco distante. Na melhor das hipóteses, poderemos ter um bom duelo pela posição de 4ª força na categoria. Se Mercedes, Ferrari e Red Bull mantiverem suas posições, a grande incógnita é quem virá logo a seguir. E a Renaul parece se credenciar a essa posição, inclusive com o potencial de sua nova unidade de potência, que ainda não parece ter mostrado tudo do que é capaz.
            A Force India ocupou essa posição em 2017, mas até o presente momento, o time de Vijay Mallya não parece estar tão bem como seria de se esperar, apresentando resultados não tão animadores. Talvez o fato de o novo carro não estar completamente pronto seja o grande problema. Aliás, em tempos não tão distantes, o time teve a péssima idéia de testar na primeira semana da pré-temporada com o carro do ano anterior, enquanto finalizava o novo, com a finalização atrasada em virtude de falta de recursos para pagar alguns fornecedores. O time até conseguiu se recuperar no campeonato, mas não houve como negar que esse detalhe prejudicou a escuderia. Depois da excelente temporada do ano passado, será que eles cometeriam o mesmo erro?
            Hass, Williams e Alfa Romeo Sauber ainda ficam com certos altos e baixos. Um destes times pode ser a lanterna do grid este ano, mas não dá para apontar quem seria, até porque em determinados momentos, todos eles andaram melhor do que alguém. Na Williams, foi interessante ver Robert Kubica, o piloto reserva e de testes do time, andar mais rápido que Sergey Sirotkin, um dos titulares, que tanta presença tinha que teria sido até confundido por Frank Williams como um dos mecânicos do time, ao invés de ser reconhecido como piloto. Some-se a isso a notícia de que a escuderia perderá o polpudo patrocínio da Martini para 2019, e poderemos dizer que a escuderia de Grove já tem com o que se preocupar a longo prazo, e olha que ainda nem deu para avaliar se o novo FW41 tem algum potencial de fato ou não, mas se levarmos a sério as marcas alcançadas nesta semana, o ano poderá ser mesmo um complicado para a escuderia inglesa, como muitos esperavam que fosse...
Max Verstappen não teve uma semana muito produtiva, tendo problemas com o carro em suas sessões, ao contrário de Daniel Ricciardo.
            Na Hass, o fato da escuderia estadunidense pegar da Ferrari todas as partes prontas possíveis, ajuda a dar ao novo VF18 um certo potencial, permitindo que eles se beneficiem de certas conquistas obtidas com o modelo SF70-H do ano passado, conforme Kevin Magnussen demonstrou, ao obter uma boa quilometragem ontem, e um tempo muito satisfatório. O otimismo só não é maior porque McLaren e Renault realmente parecem estar muito melhores do que eles, e a se confirmar uma boa performance por parte da Force India, a disputa deles deve ficar pela 7ª posição no campeonato de construtores, em duelo direto com a Toro Rosso e a Williams. E o potencial da Alfa Romeo Sauber ainda precisa ficar bem claro.
            A segunda sessão de testes será decisiva para termos uma visão melhor da relação de forças da F-1 para a temporada deste ano, se o clima não atrapalhar: há previsão de chuva para os próximos dias na Catalunha, e isso poderia complicar também os trabalhos das escuderias, que tentarão tirar todo o atraso possível dos trabalhos desta semana. Tomara que não aconteça. Mas, seria até bom acontecer, para ver se a F-1 muda seu modo tacanho de realizar os testes de pré-temporada, e fosse mais flexível e menos engessada, permitindo-se mais tempo de pista. Seria bom voltarmos a ter 12, ou quem sabe até 15 dias de testes futuramente. Que o bom senso prevaleça...


A Formula-E chegou à Cidade do México para mais uma etapa do campeonato de carros monopostos elétricos. E o fim de semana já começou complicado para Lucas Di Grassi, uma vez que seu time, a Audi ABT, precisou efetuar nova troca do inversor de seu trem de força para tentar solucionar o problema que fez o brasileiro abandonar as últimas etapas e seguir zerado até agora na classificação da nova temporada da competição. Com isso, Lucas perderá novamente 10 posições no grid da corrida mexicana, que será realizada em um traçado montado dentro do circuito Hermanos Rodriguez. Mas apesar do clima de preocupação no time, que acredita ter encontrado a raiz do problema de confiabilidade no carro de Di Grassi, mas só poderá implantar a correção para a corrida seguinte, por causa do prazo estipulado pelo regulamento, as possibilidades de se obter um bom resultado na Cidade do México não são ruins, se levarmos pelo retrospecto de Lucas nesta corrida: em 2016, ele venceu a corrida, mas acabou desclassificado devido a um problema técnico que fez com que seu carro estivesse abaixo do peso mínimo; e no ano passado, devido a um toque na asa, o brasileiro chegou a cair para o último lugar, e conseguiu fazer uma recuperação incrível, e ainda vencer a corrida, contra todas as previsões. Se o carro não deixar Lucas novamente pelo meio do caminho, quem sabe ele consegue desencantar finalmente na atual temporada? A corrida terá transmissão ao vivo pelo canal pago Fox Sports 2 neste sábado a partir das 19 horas (horário de Brasília).

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