sexta-feira, 30 de março de 2018

BALANÇO DA AUSTRÁLIA

A Ferrari aproveitou bem o momento do Safety Car e devolveu Sebastian Vettel à pista na frente de Lewis Hamilton, garantindo a vitória para o alemão e para o time de Maranello no Albert Park.

            E deu vitória da Ferrari e de Sebastian Vettel no Grande Prêmio da Austrália, na abertura do campeonato 2018 da Fórmula 1. E o time de Maranello mostrou força, com a presença de Kimi Raikkonen em 3º, em uma boa exibição do piloto finlandês. E, no meio da dupla ferrarista, talvez o maior derrotado do fim de semana: Lewis Hamilton, que de favorito quase disparado à vitória, viu o triunfo escapar de suas mãos em um golpe de sorte do time rosso, que aproveitou a oportunidade tão logo ela surgiu, e lançou mão de efetuar o pit stop de Vettel, e conseguir devolvê-lo à pista ainda na liderança. E, por mais que tenha sido um golpe de sorte da Ferrari, seria injusto desconsiderar a performance de Sebastian na liderança, não permitindo cometer nenhum erro que pudesse dar chance ao rival da Mercedes de retomar a liderança perdida da prova. Portanto, méritos também para ele, com muita justiça.
            À Mercedes, cabe agora simplesmente estudar o que aconteceu, e se precaver para tentar não ser pega novamente com a guarda baixa, em que pese o fato de que, quando houve a intervenção do regime do Safety Car Virtual, não havia praticamente o que fazer: obrigado a manter a velocidade na pista até certo limite, Hamilton não pode acelerar para tentar tirar a diferença que o separava de Vettel, enquanto este, ao entrar no box, pode acelerar fundo por um curto espaço, até atingir a área de limite dos boxes, e aí, com a velocidade reduzida, fazer sua parada e conseguir voltar ainda na frente na pista. E ponto final. Hamilton até tentou recuperar a liderança, mas o circuito do Albert Park não ajuda muito, e com a atual configuração aerodinâmica atual dos F-1, aumentada no ano passado, isso ficou quase impossível. Com 20 corridas pela frente, o inglês pesou os prós e contras, e sabia que era melhor garantir o 2º lugar, do que forçar a barra e, caso desse errado, ficasse sem nada. E ele sabe que em outras pistas, como no Bahrein, próxima etapa, as chances de disputa devem ficar mais a seu favor.
            Para a Ferrari, um grande alívio. Ciente de que, apesar deter feito um bom carro, a Mercedes ainda estaria à frente, o maior temor dos italianos era com o poderio da Red Bull, que traria muitos problemas se confirmasse de fato estar mais forte do que se imaginava. Mas, como os taurinos ficaram presos atrás dos carros da Hass, que fizeram uma largada primorosa depois de uma excelente classificação, os ferraristas puderam se focar unicamente em Lewis Hamilton. Daniel Ricciardo, punido com a perda de 3 posições no grid por não diminuir a velocidade em uma área de bandeira amarela nos treinos, só não infernizou a dupla ferrarista por ter perdido muito tempo para livrar-se dos concorrentes à sua frente. Assim que estabeleceu-se em 4º lugar, partiu à caça de Raikkonen, sendo uma ameaça real ao finlandês da Ferrari. Max Verstappen, que também ficou preso atrás de um carro da Hass, acabou rodando e danificando de leve o carro, e na parte final da prova, ficou “trancado” atrás de um inspirado Fernando Alonso e uma renovada McLaren.
            Só para constar, a corrida de 2017 também não foi lá nenhuma maravilha, sendo bem chata, e só se salvando pela Ferrari confirmando sua força e assumindo ares de favorita no campeonato, frente à poderosa Mercedes. E os italianos deram trabalho: Hamilton só foi assumir a liderança do campeonato na Itália, decorridos praticamente dois terços da competição. Será que vai rolar a mesma dificuldade este ano, todos perguntam?
            Pode até ser. Enquanto esteve na liderança, Hamilton não deu chances de ser ameaçado, mas também não despachou seus adversários como seria de se esperar. Kimi Raikkonen, que era o 2º colocado, nunca ficou a mais de 3s de diferença do inglês. E Lewis confirmou depois da corrida que não estava segurando seu ritmo. Então podemos deduzir que o trem de corrida de Kimi era pouca coisa mais lento que o de Lewis. O problema é que a pista australiana não pode ser levada como parâmetro para todo o campeonato. No Bahrein, um autódromo, poderemos ter uma idéia mais aproximada de como anda a relação de forças da F-1 este ano. E, quem sabe, ter a esperança de que a velocidade assombrosa com a que Hamilton marcou a pole não seja assim tão escancarada frente aos concorrentes.
A Hass foi uma grata surpresa em Melbourne. Pena que a equipe acabou se embananando nos pit stops e acabou com a bela prova de sua dupla de pilotos.
            Outra das expectativas era ver quem seria o melhor do resto do grid, e pelo menos na Austrália, a Hass fez um trabalho de encher os olhos, e poderia ter tido o seu melhor resultado na F-1, não fosse o desastre na hora dos pit stops de ambos os pilotos, que acabaram com a corrida de ambos, e fez cair sobre todos uma sensação de impotência raras vezes vista em um paddock da categoria nos últimos tempos. Impossível não se solidarizar com o desepero do time ao ver sua boa apresentação ir para o brejo. Por isso mesmo, fica ainda mais sem pé nem cabeça a “teoria da conspiração” que surgiu depois insinuando que a Hass forjou seu abandono para provocar o safety car e favorecer a Ferrari e Sebastian Vettel, que ainda não havia parado nos boxes para trocar seus pneus e estava liderando a corrida momentaneamente, uma vez que Hamilton e Raikkonen já haviam parado. Gene Hass é um sujeito extremamente bem-sucedido e rico nos Estados Unidos, e não precisa se submeter a patifarias combinadas deste tipo para ganhar “favores” na F-1. Gene também tem um time na Nascar, e poderia facilmente ter montado um time na Indycar, a exemplo dos rivais Ganassi e Penske, mas ele preferiu um desafio muito maior: competir na F-1. E uma maracutaia como que foi insinuada poderia colocar tudo a perder, se fosse descoberta, fora o estrago que Hass teria em sua reputação. E, por mais que falem que ricaços não estão nem aí para os outros, naquele preconceito doentio de luta de classes, Hass não jogaria sua reputação no lixo, mesmo que suas empresas faturem mais de um bilhão de dólares por ano. Muita gente leva a sério o papel da ética e da honestidade.
            O time oficial da Renault, candidato à 4ª força, até confirmou a sua evolução e boa forma, mas acabou atropelada pela Hass. Mesmo assim, Nico Hulkenberg fez uma corrida firme nos pontos, e Carlos Sainz Jr. só não foi melhor porque passou mal durante a corrida e se aguentou no carro do jeito que pôde. E a equipe de Enstone precisa ficar atenta, porque o perigo da concorrência está bem mais próximo do que se imagina. No grid, a diferença de tempo para a McLaren não foi muito folgada como se imaginava.
Mesmo enfrentando ainda alguns problemas e um ritmo fora do ideal, a McLaren teve um bom início de temporada na Austrália, com seus dois pilotos marcando pontos e dando esperanças de um ano bem mais positivo para a equipe.
            Aliás, na torcida “do contra”, era incrível a quantidade de haters que pregavam que a Toro Rosso iria andar na frente da McLaren, que a Honda iria se vingar, e principalmente, que Fernando Alonso iria se danar mais uma vez. Se rogaram alguma praga, o tirou saiu completamente pela culatra: a McLaren teve muitos problemas no primeiro treino livre de sexta-feira, andando muito pouco, e o desempenho, por isso mesmo, não era lá tão entusiasmante como seria de se esperar, mostrando que ainda teriam muito a fazer para solucionar os percalços exibidos na pré-temporada. Mas, apesar disso, eles quase chegaram ao Q3 logo na primeira corrida, mesmo sabendo que ainda têm muito o que trabalhar no novo MCL-33, e tanto Alonso quanto Stofell Vandoorne fizeram corridas honestas, aproveitando as oportunidades, e mostrando um desempenho promissor para uma corrida onde não esperavam ir tão bem. Lógico que Alonso se aproveitou também da situação do Safety Car provocada pela Hass, mas o espanhol conseguiu manter-se firme na frente de Max Verstappen durante muitas voltas, e mesmo que o holandês estivesse com o carro meio baqueado, Alonso não permitiu que ele vislumbrasse nenhuma brecha para tentar superá-lo na pista, que também ajudou o piloto da McLaren a se manter firme na posição. E com isso, a McLaren marcou pontos com seus dois pilotos, em 5º e 9º lugares, e largando na 4ª posição no Mundial de Construtores.
            Muitos dirão que foi apenas por sorte que Alonso e Vandoorne terminaram assim, e eles não estão errados: até a McLaren e seus pilotos sabem que tiveram sorte. Mas a questão é que, até o ano passado, mesmo alcançar o resultado visto na Austrália era praticamente a exceção, e largar a meio do grid era quase o limite máximo que o time poderia almejar. Agora, há toda uma expectativa de evolução. Eles sabem que tem muito trabalho pela frente, mas enxergam uma luz no fim do túnel, o que não estava acontecendo com a Honda. E, cientes do que tem de fazer, é aguardar para vermos a evolução que a McLaren poderá atingir. Na classificação, eles foram o pior time da Renault no grid, mas ao final da corrida, foram o 2º melhor time da marca francesa. Alcançar o nível da Red Bull será complicado, mas superar o time oficial da Renault não parece assim tão difícil. E eles estão motivados e determinados. Será algo interessante de acompanhar.
A "turma do fundão" em Melbourne teve Sauber, Williams, e Toro Rosso, com esta cruzando em último na bandeirada. Até a Sauber conseguiu andar melhor do que a Williams.
            Enquanto isso, a Honda... Bem, a Toro Rosso, depois de alegrar a todo mundo na pré-temporada, com performances constantes e encorajadoras, já teve em Melbourne sua primeira quebra de motor do ano, no carro de Pierre Gasly, com apenas 13 voltas. Mas não foi só isso: os dois carros do time de Faenza nem conseguiram passar para o Q2 na classificação, e Brendon Hartley foi o último colocado a cruzar a linha de chegada, em 15º. Se muitos condenaram a atitude da McLaren em rescindir sua associação com a Honda, se tomarmos apenas o exemplo da Austrália, nem há como discutir com o time de Woking, que sabe que nem todos os problemas que tinham era culpa da Honda, mas pelo menos livraram-se dos problemas “externos”... Todos torcem para que o visto em Melbourne tenha sido uma exceção, e o time melhore nas próximas corridas, mas já dá para ficar com o pé atrás novamente em relação às expectativas de melhora dos japoneses, que ao que parece, não conseguiram exorcizar todos os seus percalços como se imaginava...
            De quem não se esperava muita coisa, Sauber e Williams confirmaram que estão mal das pernas. No grid, se Lance Stroll ainda conseguiu largar em 13º, por outro lado Sergey Sirotkin foi o 19º, e a corrida do russo acabou cedo, por ter ficado sem freios, e o canadense só não terminou em último na linha de chegada porque a Toro Rosso/Honda de Hartley estava ainda pior. Só que o novato Charles LeClerc, da Sauber, terminou à frente do piloto da Williams, que saiu disparando contra o FW41 depois da prova, inconformado com a péssima performance do carro, que segundo ele, não rendia absolutamente nada. Para ele começar a dizer isso logo na primeira corrida... A Sauber também não passou do Q1, e parece que vai fazer figuração no grid mais uma vez, dependendo de um milagre para pontuar. A sorte do time suíço é que a Williams parece ter começado pior do que todos esperavam, e não há como negar o alívio por não ver Felipe Massa ao volante do atual carro de Grove. Seria vergonhoso ver o brasileiro se arrastar na pista daquele jeito. E olha que o time já pode estar com saudades dele. Mas agora é tarde, e eles que se virem com as escolhas feitas.
            Enquanto isso, a Force India realmente confirmou que está abaixo da posição demonstrada no ano passado, e que vai ter trabalho para recuperar o terreno perdido, uma vez que a concorrência está bem mais preparada e forte. O time indiano terá de mostrar mais capacidade do que nunca para ser eficiente com seus poucos recursos na evolução do seu carro. Pilotos e motor não lhes faltam. Só precisam mesmo é de um carro competitivo.
Com um carro pouco competitivo no presente momento, o ano da Force India promete ser complicado. Rosa mesmo, só na pintura dos carros...
            E carro competitivo não faltou a Valtteri Bottas, que infelizmente começou mal seu segundo ano como piloto titular da Mercedes. O finlandês bateu forte no Q3, e teve de largar em 15º por conta de trocar o câmbio. E acabou chegando em 8º lugar, mesmo tendo carro para muito mais do que demonstrou na pista. Mesmo ciente de que ultrapassar seria difícil, foram poucos os momentos onde Bottas realmente mostrou a performance que o modelo W09 é capaz de produzir. O pior de tudo é que a Ferrari subiu com seus dois pilotos ao pódio, largando já com uma boa vantagem na classificação de construtores (40 a 22, a favor dos italianos), um ponto que a Mercedes certamente não digeriu muito bem. Sabendo que precisa mostrar serviço, Bottas acabou sucumbindo à pressão, e não foi bem. Ele ainda terá tempo para se recuperar no campeonato, mas terá de correr atrás do prejuízo desde já, o que não é muito inspirador no que tange à confiança que a direção do time pode depositar nele.
            Em teoria, as disputas e duelos devem melhorar nas próximas etapas, em pistas que favorecem mais as disputas de posições. O caso da Austrália terá que ser repensado, pois nem com três zonas do DRS a corrida mostrou mais alternativas do que em 2017, e isso é preocupante. Como também preocupa o fato de todos terem necessitado novamente de apenas um pit stop para rodar a corrida inteira sem problemas de performance, quando muitos esperavam uma maior variação nas estratégias de equipes e pilotos, devido aos novos compostos da Pirelli, que nesta prova não fizeram nada de relevante para melhorar a disputa na pista.
            Para finalizar, todo mundo detestou o halo, ainda mais na transmissão da TV pelas câmeras onboard dos carros. Essa trapizonga que a FIA enfiou goela abaixo conseguiu quase unanimidade total no quesito feiura e falta de harmonia do visual dos carros. E podem apostar que a FIA vai bater o pé firme e manter essa geringonça nos carros, cuja eficácia na proteção dos pilotos é mais do que relativa. Deveriam ter sido feitos mais testes com outros sistemas, como o aeroscreen, mas a entidade que comanda o automobilismo, na pressa de querer dar satisfações em relação à segurança dos bólidos, parece ter metido novamente os pés pelas mãos, o que não seria novidade.
            Ah, e gostei muito da nova abertura das transmissões da categoria, que procura dar um tom épico e glorioso à F-1 e às disputas que se travam nela. Pena que, no atual momento, as disputas não são tão épicas, e a categoria ainda tem que mostrar em recuperar a glória de tempos passados. Quem sabe o Liberty Media ainda consiga fazer com que a F-1 volte a ser tudo isso...? Bom, Melbourne já ficou para trás. Agora é olhar para a próxima prova, e nos vemos no Bahrein na próxima semana. Até lá...

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