sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

UM BALANÇO DA F-1 2015


Lewis Hamilton chegou ao tricampeonato com o modelo W06 da Mercedes, que foi ainda mais eficiente do que o velho W05 de 2014.

            Findo o campeonato da Fórmula 1 de 2015, podemos concluir que foi um ano em que a Mercedes, mais ainda do que em 2014, dominou amplamente o campeonato. Quem esperava um ano com um pouco mais de disputa teve que tirar o cavalo da chuva logo na etapa inicial, na Austrália, onde os carros prateados fizeram sua primeira dobradinha na temporada. Todo mundo ficou empolgado quando Sebastian Vettel venceu a prova seguinte, na Malásia, dando a impressão de que a Ferrari, depois de um ano complicado em 2014, voltaria a pelo menos incomodar os carros alemães. Infelizmente, foi uma meia verdade: a Ferrari de fato se recuperou exemplarmente do péssimo campeonato do ano passado, mas sua evolução foi insuficiente para fazer frente à Mercedes, que evoluiu o que já era bom no campeonato de 2014 e tratou de corrigir eventuais pontos-fracos que o projeto de seu bólido pudesse ter, na concepção do modelo WO6.
            Assim, não foi surpresa o time germânico fechar o ano com mais um título de construtores, e marcar nada menos do que 703 pontos nesta temporada. Em 2014, foram 701 pontos, mas é preciso considerar que o time obteve pontuação dobrada em Abu Dhabi pela vitória de Lewis Hamilton, artifício que felizmente não foi mais adotado esse ano. Assim, podemos dizer que a Mercedes foi de fato bem mais eficiente nesta temporada. Apenas em uma corrida, Cingapura, seus carros enfrentaram problemas reais de competitividade, com o único abandono de Hamilton em todo o ano, e com Nico Rosberg terminando em 4° lugar. Em termos de vitórias, o panorama de 2015 foi idêntico ao de 2014: foram 16 vitórias da Mercedes, enquanto o restante foi obtido por apenas outro time. Se a Red Bull conseguiu surpreender no ano passado e angariar as vitórias restantes, esse mérito ficou com a Ferrari nesta temporada, com seu renovado modelo SF15T..
            O time de Maranello, aliás, conseguiu exibir uma faceta muito mais relaxada e aberta, ao contrário do clima tenso e sério que apresentava nos últimos anos. Foi uma mudança extremamente positiva para a escuderia, que encontrou o clima de paz e tranquilidade que precisava para reencontrar o seu rumo e foco na competição. E se Vettel conseguiu se aclimatar na escuderia italiana em tempo recorde e fazer todos esquecerem o espanhol Fernando Alonso, Kimi Raikkonem infelizmente não teve a temporada redentora que esperava, o que impediu que o time obtivesse todo o potencial de sua melhora. Ainda assim, o finlandês ganhou uma nova chance, e permanecerá no time em 2016, no que deve ser possivelmente sua última temporada na categoria. Seria muito triste que ele encerrasse sua participação com uma participação apenas mediana. A reorganização diretiva e estrutural do time italiano mostrou seus frutos, e é consenso geral de que só não foram mesmo melhores porque a Mercedes estava mesmo em ponto de bala, e com um Lewis Hamilton dominante como há muito não se via, seria mesmo difícil tirar o título da equipe de Brackley. Por isso, todo mundo encara a Ferrari como a campeã "moral" de 2015. Talvez em 2016 eles consigam de fato destronar a Mercedes, mas neste ano, conseguiram cumprir todos os objetivos propostos, e ir até um pouco além.
            Hamilton, aliás, estava tão relaxado e competitivo este ano que sua primeira derrota pra valer na pista foi na prova da Áustria. Até então, Nico Rosberg havia vencido na Espanha e em Mônaco, mas na pista catalã foi nítido ver que Hamilton procurou não arriscar numa disputa acirrada pela vitória, e contentou-se com o 2° lugar, enquanto em Mônaco, erros tanto do piloto quanto da escuderia jogaram o triunfo na pista monegasca no colo de Rosberg. O alemão estava numa temporada apagada, até que em Zeltweg finalmente venceu com méritos para se impôr frente ao companheiro de equipe como um adversário de fato, sem depender de erros alheios. Infelizmente, o vice-campeão de 2014 só voltaria a mostrar performance similar nas últimas corridas do campeonato, com o título já decidido a favor de Hamilton, que fechara a conquista nos Estados Unidos, na prova que foi considerada a melhor do ano, graças especialmente à chuva que mais uma vez bagunçou as estratégias de equipes e pilotos no piso molhado e seco. Restou a Nico Rosberg, batido por Hamilton pelo segundo ano consecutivo dentro do time alemão, terminar o ano com a moral em alta para tentar novamente a sorte em 2016.
A Williams esperava andar mais próxima da Mercedes, mas se viu atropela por uma renascida Ferrari com Sebastian Vettel ao volante.
            A Williams terminou 2015 com um misto de satisfação e decepção. Se, ao fim de 2014 a escuderia inglesa comemorava sua ressurreição na categoria, com a melhor classificação em mais de uma década, onde só faltou mesmo vencer uma corrida, todos apostavam que neste ano eles teriam mais condições de alcançar novamente esse feito, até porque o time só engrenou mesmo quase a meio do ano, tendo enfrentado vários percalços nas provas iniciais. A satisfação foi ver que a Williams continuou andando bem este ano, mas a decepção foi que não foi além disso, como todos esperavam. O time provou ser incapaz de andar mais próximo das imbatíveis Mercedes, como se planejava, mas esse não foi o problema, e sim ter sido atropelado pela melhora da Ferrari, que contra todas as expectativas, não apenas voltou a vencer corridas, mesmo que ocasionalmente, mas a se mostrar como a mais próxima adversária de Rosberg e Hamilton durante todo o campeonato.
            Pior foi ver a Red Bull, que teve um início de ano desastroso devido aos problemas das unidades de potência da Renault evoluir em performance de forma a colocar até mesmo em perigo a posição do time de Frank, se este já não tivesse garantido grande folga na pontuação do campeonato, o que demonstra que a escuderia não conseguiu resolver todos os problemas de performance do modelo FW37, que mostrou ser particularmente deficiente em pistas travadas e de baixa velocidade, o que denotou uma crucial falta de capacidade de geração de downforce do monoposto. Assim, não foi agradável ver o time sair praticamente zerado nas provas de Mônaco e Hungria. Mas foi também complicado ver o time conseguir render menos este ano em determinadas provas em pistas de alta velocidade, como a Bélgica, onde no ano passado subiram até o pódio. Para 2016, a ordem é renovar a base para o FW38, mostrando que o potencial do FW37 se esgotou antes do que todos imaginavam. Nesse ponto, a Williams ainda deu sorte da Red Bull ter caído de performance pelos problemas de motor enfrentados no ano. Do contrário, manter o 3° lugar na competição teria sido tarefa bem mais árdua.
            Como a Renault conseguiu produzir uma atualização de sua unidade de potência com desempenho inferior à de 2014, ninguém se espantou com a queda de performance da Red Bull, que havia sido a vice-campeã do ano passado. Mas, infelizmente para a competição, a escuderia gastou boa parte de suas energias no primeiro semestre malhando publicamente a parceria francesa, culpando-a por todos os desaires que estava sofrendo, no que virou um dos bate-bocas mais acalorados dos últimos tempos. Passada a saraivada de críticas, a escuderia de Milton Keynes esfriou um pouco os ânimos e começou a trabalhar melhor no desenvolvimento do modelo RB11, que ganhou uma melhoria de andamento notável em várias pistas, mesmo com a unidade deficiente de potência da Renault. Tivessem se concentrado mais em melhorar o seu carro a princípio, poderiam certamente ter fechado o ano com resultados melhores do que os apresentados, e quem sabe, talvez até ter desbancado a Williams da 3ª colocação. A escuderia austríaca também se atrapalhou toda nas negociações de motor para 2016, a ponto de ficar praticamente órfã de motor oficialmente. A truculência de Christian Horner, Helmut Marko, e de Dietrich Mateschitz provocaram o rompimento do contrato com a Renault, válido ainda para o próximo ano, e negativas de acordos por parte de Mercedes e Ferrari, além de verem fechadas portas com a Honda, e assistirem à implosão de um acordo plausível com a Volkswagen, em decorrência de um escândalo de manipulação de dados veiculares por parte da montadora alemã.
            Restou ao time austríaco um acordo em que continuará utilizando as unidades da Renault em 2016, mas arcando com um desenvolvimento autônomo que será coordenado pela Ilmor, com patrocínio da TAG-Heuer, ex-parceira da McLaren. Mas o rescaldo da luta por um motor já garantiu sequelas no desenvolvimento do novo RB12, que segundo algumas informações de bastidores, está bem atrasado, e vai exigir trabalho em tempo integral na fábrica para se recuperar o tempo perdido até o início da pré-temporada de 2016. E pensar que até alguns anos atrás a Red Bull era a escuderia mais arejada e descontraída de todo o grid... O sucesso sem dúvida fez mal ao time, que não soube mais sorrir e competir como fazia antes de começar a vencer na F-1.
            Apesar de estar em sua melhor classificação no mundial de construtores, com a 5ª posição, a Force India marcou menos pontos em 2015 do que em 2014. Foram 136 pontos nesta temporada, frente aos 155 conquistados no ano passado. Mas não se pode negar que, quando estreou finalmente o seu modelo 2015, o chassi VJM-08, somente a meio da temporada, é que a escuderia enfim engrenou na competição, marcando pontos regularmente deste a etapa da Bélgica, e conseguindo até um pódio. Um grande mérito para a escuderia, que praticamente iniciou os testes da pré-temporada com apenas um carro, e sem ser o modelo definitivo desta temporada, devido à falta de recursos, o que comprometeu a primeira metade da temporada. Não fosse este problema, a escuderia de Vijay Mallya certamente poderia ter conseguido melhores resultados. Mesmo assim, o time termina o ano sem folga financeira para 2016, e vai precisar continuar sabendo usar bem seus recursos para manter-se firme no pelotão intermediário.
            A Lotus teve um ano de altos e baixos, e se não foi mais longe, foi pelas indefinições e incertezas que rondaram o futuro do time a partir do meio da temporada para o seu final, quando se tornou público o rompimento da Renault com a Red Bull, e cresceram os rumores de que a fábrica francesa recompraria seu antigo time para voltar a atuar como escuderia oficial. Isso só veio a ser formalizado após o fim da temporada, e enquanto o acordo não saía, as finanças combalidas fizeram o time dar várias reviravoltas dentro e fora da pista, tendo seus integrantes até de comerem de favor no box de outros times, e precisando de alguns favores de Bernie Ecclestone para chegarem a alguns lugares para poderem disputar as corridas. E o time ainda conseguiu pontuar regularmente nas últimas corridas, ainda que de maneira fraca, mas o suficiente para se manterem à frente da Toro Rosso, que exibia desempenho muito melhor, mas também se viu tolhida em vários momentos pelos problemas oriundos do motor Renault. Assistiremos então em 2016 ao retorno da velha equipe Renault, e damos novamente adeus a uma Lotus que nuna foi a original, mas tal como a escuderia de Colin Chapman, desaparece tragada pelas dificuldades financeiras impostas pela realidade econômica da F-1.
            A Toro Rosso recebeu grandes investimentos da Red Bull, e disputou uma temporada que pode ser considerada excelente, e assim como seu time matriz, só não foi mais além pelas dificuldades de performance das unidades de potência da Renault, mas em várias provas conseguiu andar melhor até do que o time principal, mostrando que está pronto para vôos mais altos em 2016, onde manterá sua atual dupla de pilotos, e terá pelo menos as boas unidades de força da Ferrari deste ano, que certamente serão um belo incremento de performance.
            Pelo seu lado, a Sauber teve um ano apenas razoável em 2015, mas positivo se levarmos em conta que a escuderia precisou liquidar várias dívidas contraídas em 2014 pela péssima performance naquela temporada, onde praticamente não conseguiu marcar pontos. Isso comprometeu o desenvolvimento do carro desta temporada, que até começou razoavelmente competitivo, mas que foi perdendo rendimento a cada corrida, conforme a concorrência avançava. O orçamento do time suíço infelizmente continuará apertado no próximo ano, com uma folga apenas um pouco maior do que a deste ano. Mas os tempos vindouros certamente serão mais complicados, uma vez que outros concorrentes deverão passar à sua frente em 2016, com uma McLaren teoricamente mais competitiva, e uma estreante Hass que promete fazer bonito em sua estréia.
            Nem é preciso dizer que a grande decepção do ano é a McLaren, que na retomada de sua parceria com a Honda, teve o pior ano de que há memória desde que passou a ser administrada por Ron Dennis, no início dos anos 1980. Os japoneses superestimaram sua capacidade, e quando viram o tamanho da encrenca, já era tarde para corrigir o rumo, algo que só poderia ser feito para 2016. A unidade de potência nipônica falhou em praticamente todos os seus quesitos, não apresentando nem potência nem confiabilidade. O desempenho foi tão sofrível que nem mesmo foi possível avaliar adequadamente o chassi MP4/30 produzido por Peter Prodromou, mas deu para ver que não foram apenas os japoneses que tiveram expectativas por demais otimistas sobre seu trabalho. O grande mérito da escuderia foi conseguir pôr panos quentes na crise o suficiente para evitar uma tempestade logo em seu primeiro ano da renovada parceria, e garantir uma cooperação e fluxo de trabalho constante para tentar uma recuperação na próxima temporada. McLaren e Honda terão a chance de mostrar o que poderão fazer em 2016, mas se os resultados não aparecerem, a paciência de alguém será realmente colocada à prova, e aí a crise poderá se instalar definitivamente em Woking.
            Com relação à Manor, para um time que estava praticamente morto e enterrado, e que tinha até vendido sua sede, conseguir chegar ao final do ano, mesmo que sempre andando em último, e com um carro que já não era grande coisa, pode ser considerado um grande feito. Pelo menos sempre tentaram andar com dignidade, e sem atrapalhar os demais. Resta saber o que poderão conseguir fazer no próximo ano, além de andarem nas últimas posições.
            E assim foi o panorama das escuderias da F-1 em 2015. Na semana que vem, veremos um pouco mais sobre os pilotos, na última coluna deste ano. Até lá.

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