sexta-feira, 13 de setembro de 2013

QUAL O FUTURO DE FELIPE MASSA?



Felipe Massa enfim estará fora da Ferrari em 2014, e talvez até da F-1...

            Acabou-se o suspense e a expectativa: Felipe Massa, após 8 anos como piloto titular da Ferrari, deixa Maranello ao fim da atual temporada. Para 2014, a Ferrari fez o que muitos achavam impossível: vai alinhar com dois campeões do mundo, Fernando Alonso e Kimmi Raikkonem. Desnecessário dizer que o clima no time italiano vai pegar fogo no próximo ano, mas isso é assunto para outra coluna. No texto de hoje, a ordem é considerar a carreira de Massa e especular o que ele poderá fazer para dar continuidade à sua carreira no próximo ano.
            Para seguir na F-1, infelizmente as opções são poucas. O brasileiro, em que pese o currículo de quase uma década pilotando os carros vermelhos, já foi mais atrativo no mercado. Houve um convite da McLaren, que foi devidamente recusado por acreditar que ficar em Maranello era a melhor opção. Era uma época onde Felipe era candidato natural a vitórias, e chegou até a disputar o título, em 2007 e 2008, sendo que neste último ano, perdeu por apenas 1 ponto, e nos metros finais da última volta do último GP do campeonato. Mas, desde a chegada de Fernando Alonso na Ferrari, o brasileiro acabou sendo cilindrado pelo espanhol, e pela política tacanha de Maranello de que um time deve ter apenas 1 piloto como prioridade.
            Pior: se Rubens Barrichello sempre exibiu certo inconformismo e desconforto por vezes público demais com esta política, por mais que soubesse que estava determinado nos contratos que assinara, Felipe Massa assumiu a postura de "subalterno" com uma passividade por vezes desconcertante para um piloto combativo como ele. Se foi profissional ao extremo nisso, como manda o figurino do bom funcionário que obedece ao patrão sem titubear, por outro lado mostrou que nunca se recuperou totalmente do ocorrido no GP da Alemanha de 2010, quando o time ordenou que ele cedesse a liderança, e por conseguinte, a vitória naquela corrida, a Fernando Alonso. De lá para cá, seu percentual de boas apresentações se reduziu sobremaneira, mostrando que o baque foi maior do que ele próprio preferia acreditar, sabendo que isso poderia acontecer, mais cedo ou mais tarde.
            Com Alonso centralizador como é, Felipe precisava achar brechas para buscar recuperar seu espaço. Infelizmente, o espanhol sabe ser muito esperto no jogo dentro dos boxes. Restava a Massa pelo menos ficar o mais próximo possível de Fernando na pista, para abocanhar as oportunidades que aparecessem quando algo desse errado com o asturiano. Mas nem isso foi possível. Além de Alonso ser melhor piloto, Massa nunca conseguiu dar mostras de superar as limitações dos carros que pilotou na categoria, ao contrário de Rubens Barrichello, que volta e meia conseguia surpreender a todos, embora não com a frequência necessária para inverter o jogo a seu favor, como pilotos como Michael Schumacher e Fernando Alonso conseguiam fazer. O único ponto positivo é que Felipe, aceitando praticamente tudo que a Ferrari impunha sem discordar ou manifestar desconforto em público com tal política de gestão esportiva, garantiu do time uma paciência e tolerância sem precedentes para com o brasileiro.
            Mesmo sacrificado ao extremo pela passional mídia italiana, Massa estava garantido em Maranello, pois não incomodava Alonso, e por isso, tinha até no espanhol seu maior defensor de permanência na escuderia. Mas mesmo assim, Felipe ficou na corda bamba em vários momentos, mas conseguiu seguir adiante na Ferrari, até agora. Vendo o panorama das últimas temporadas, a situação parece até a mesma: Alonso disputa o título, enquanto Felipe está praticamente 100 pontos atrás do espanhol na tabela. Com a mudança técnica que haverá em 2014, com os novos motores turbo e regras de construção dos carros, uma mudança de pilotos agora poderia ser contraproducente. Mas a Ferrari o fez, e com o piloto que tem tudo para causar celeuma em sua "prima dona" dentro do time, a menos que Alonso tenha aprendido a conviver com competição interna, o que duvido muito.
            A meu ver, Massa perdeu seu posto não apenas pelos fracos resultados dos últimos anos em um aspecto geral, mas também por causa de Fernando Alonso. O espanhol, sempre defensor da permanência de Felipe no time, por saber que podia dar conta do brasileiro sem maiores problemas, fez a Ferrari perder a paciência com ele, por suas críticas ao desenvolvimento do carro não ser como ele esperava, e ainda ter se oferecido, através de seu empresário, para a Red Bull. Elogiar publicamente o carro do rival também não foi bem digerido por Luca de Montezemolo, que irado, resolveu botar o espanhol em seu devido lugar. Se Alonso sentiu o golpe velado da bronca, e passou a falar pianinho conforme manda o figurino do time italiano, que nestas horas parece até a máfia italiana, sentiu. Mas, como que para dar uma lição em Fernando, o time resolveu lhe dar sarna para se coçar, contratando um piloto que sem dúvida vai dar trabalho na pista em 2014 ao espanhol, que vai deixar de reinar absoluto na escuderia, possivelmente o pior castigo que a Ferrari poderia lhe impôr. Fernando, mais do que nunca, vai ter de provar na pista ser tudo o que alega ser, reputação que sofreu um sério baque quando dividiu a McLaren com Lewis Hamilton, que logo colocou a posição de bicampeão do asturiano em xeque.
            Alguém tinha que dançar nesta equação, e como a Ferrari não seria louca de deixar o espanhol ir embora, com o receio de aparecer um time, mesmo a Lotus, que sob seu comando poderia virar um adversário potencialmente perigoso, foi Massa quem teve de ser sacrificado. Mas sair da Ferrari pode ser o que Felipe necessita para reencontrar a si mesmo definitivamente como piloto, e tentar redescobrir seu verdadeiro potencial de competição em novos ares. Neste ponto, as opções para Massa, entretanto, parecem escassas.
            A Lotus, que muitos falam poderia ficar facilmente com o brasileiro, seria a opção mais agradável. Um time sem a politicagem da escuderia de Maranello, e com potencial de surpreender. Massa seria agora um azarão na luta por vitórias, mas teria muita liberdade para mostrar novamente do que é capaz, podendo novamente surpreender seus adversários. Mas o time de Enstone anda mal das pernas financeiramente, tendo atraso boa parte dos salários devidos a Raikkonem, e mesmo tendo feito algumas parcerias que podem garantir um melhor fluxo de caixa, e alguns dizem, até um retorno da Renault como sócia proprietária do time, é muito certo que o brasileiro precise levantar fundos para melhorar seu cacife de negociação. Mas Massa não tem patrocinadores no momento, e vai precisar achar quem esteja interessado em apoiá-lo na luta por um lugar na F-1. Eric Boullier garantiu que o brasileiro é uma hipótese a ser considerada, mas tem mais gente na parada, como Nico Hulkenberg, que tem como atrativo ser mais jovem que o brasileiro, e ter possibilidade de angariar fundos mais facilmente, embora também esteja precisando arrumar verba para reforçar sua posição à mesa de negociação. Romain Grossjean ainda é uma incógnita, mas tem como padrinhos o próprio Eric Boullier, além do apoio da Total, e isso joga a seu favor, além do fato de estar se metendo em muito menos confusão do que no ano passado. Por outro lado, a longa experiência de quase uma década em Maranello é um handicap considerável a favor de Felipe, que poderia certamente ser muito útil para o desenvolvimento do carro na próxima temporada, cacife que nem Grossjean nem Hulkenberg podem igualar.
            A Sauber, hipótese ventilada por outros, é praticamente carta fora do baralho. O acordo feito com os russos impõe que o jovem piloto Sergey Sirotkim seja piloto titular em 2014, e o outro piloto da escuderia é o jovem Esteban Gutiérrez, que traz um polpudo patrocínio das empresas de Carlos Slim. A Ferrari poderia dar desconto nos motores para o time suíço caso contratasse Massa, mas seria preciso praticamente ceder os motores de graça para contrabalançar a verba de patrocínio trazida por Gutiérrez. E isso a Ferrari não vai fazer. Muito pelo contrário, a Sauber, mesmo com o apoio da verba russa, precisa de reforço financeiro, e o patrocínio que vem junto com Gutiérrez não se pode desprezar, a não ser que o piloto mexicano seja um verdadeiro desastre na pista, tornando sua permanência um problema maior que chegue a inviabilizar o patrocínio que traz.
O ponto alto de Felipe na escuderia italiana: vitória no Brasil em 2006 com direito a macacão personalizado na prova de despedida de Michael Schumacher. Tudo parecia indicar que o brasileiro enfim teria tudo para virar um dos gigantes da F-1, mas...
            Alguém cogitou de uma possibilidade na McLaren, mas é tremendamente remota. O time deve manter Jenson Button, e como fim do patrocínio da Vodafone ao fim deste ano, a presença de Sérgio Perez deve trazer o patrocínio da Telmex para o time de Woking no próximo ano, e mesmo sendo um time de ponta, com maior facilidade de encontrar patrocinadores, não seria bobo de jogar uma verba dessas fora. Perez ainda não desencantou na McLaren, mas parece estar se acertando aos poucos, e já anda com mais consistência e próximo de Jenson. A menos que comece a fazer barbeiragens nas provas que faltam, dificilmente sairá da McLaren em 2014.
            A Williams deve manter sua dupla em 2014, e fora disso, as oportunidades são nos times nanicos da Caterham e Marussia, que certamente não estão nos planos de Felipe nem na mais desesperadora das situações. Mas claro que, apesar de toda a argumentação feita acima, ainda há espaço para surgirem algumas surpresas com relação ao destino de Massa em 2014, ainda na F-1. Pela tranquilidade com que anunciou sua saída de Maranello, com certeza há negociações em andamento, e talvez com boas possibilidades, embora ainda seja totalmente incerto se Felipe estará no grid ou não no próximo ano. Para os fãs do piloto de Botucatu, esta é a única esperança que possuem: que haja algo inesperado que garanta Massa na categoria máxima do automobilismo na próxima temporada. Difícil, mas não impossível.
            Um dado que ajuda o brasileiro é o apoio que tem de Bernie Ecclestone, o manda-chuva da FOM e dono da F-1, que tem muito interesse em que o brasileiro permaneça no grid, pelo fato de o GP do Brasil ser um dos mais populares e rentáveis GPs do calendário. É um apoio moral considerável, resta saber o que vem além disso. E sua tranquilidade também pode significar que o trabalho de obter patrocinadores que ajudem a viabilizar sua contratação pode ser menos trabalhosa do que muitos esperam, e com certeza, se algo já está em vias de ser fechado neste sentido, está sendo muito bem escondido de todos.
            Na pior das hipóteses, se nada der certo, e Felipe tiver de sair da F-1 mesmo em 2014, ele não tem do que se envergonhar: com o encerramento desta temporada, o brasileiro será o segundo piloto com mais provas disputadas pelo time italiano, com 139 GPs ao volante de uma Ferrari, 11 vitórias, e 15 pole-positions, além de um vice-campeonato. Não são números modestos, exceto claro para aquela turma de "torcedores" brasileiros para quem acha que se o brasileiro não conseguiu ser campeão, não serve para nada, além do tradicional chavão de que é uma "vergonha nacional", "mercenário", entre outras coisas. E este povo continua não aprendendo nada mesmo, pois já vi um sem-número de mensagens na internet dizendo que Massa "já ía tarde", entre outras colocações menos educadas. Felipe cumpriu sua obrigação com profissionalismo perante o time que defendeu, e se isso decepcionou quem esperava dele a oportunidade de vermos um novo campeão na F-1, problema dos torcedores, sempre revoltados quando um dos nossos não vence.
            Simplesmente não deu. Felipe teve sua oportunidade, mas como nobremente afirmou na época, "ganhava-se ou perdia-se juntos", ao reconhecer que o mundial de 2008 foi perdido por falhas tanto da Ferrari quanto dele próprio. Um gesto de honestidade e caráter que não se vê todo dia. Àqueles que apregoam sem descanso que Felipe, tal como Rubens Barrichello, só envergonharam nossa nação, respondo com a resposta de sempre: quem envergonha mesmo o Brasil são nossos políticos, cada vez mais irresponsáveis e vigaristas, e que não honram nem por um minuto os votos que recebem dos eleitores, os quais são sumariamente abandonados tão logo eles tomam posse de seus cargos, com raríssimas exceções.
            Se a carreira de Massa na F-1 de fato acabar, há vida fora da categoria máxima do automobilismo, como o DTM, o WEC, a Stock Car, a Indy Racing League, e várias outras categorias de competição onde ele poderia dar seguimento a sua carreira de piloto. E isso é algo que diz respeito apenas a Felipe Massa e ninguém mais. Seus torcedores "reais" irão entender quaisquer decisões que ele tomar a respeito, e respeitar sua escolha. No momento, ficamos apenas com a expectativa de qual será seu destino no próximo ano, se irá conseguir permanecer na F-1, irá para outro certame, ou na mais radical das decisões, encerrará a carreira. Até for divulgado seu destino, aguardemos...

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