sexta-feira, 6 de setembro de 2013

MCLAREN: 50 ANOS



A DHL divulgou esta bela imagem comemorando os 50 anos da McLaren, com alguns de seus carros e pilotos mais célebres, além, claro, da figura de seu fundador, Bruce McLaren.

            O circo da Fórmula 1 prepara-se para disputar a última corrida em solo europeu, e num dos circuitos mais idolatrados pelos fãs: Monza. Aqui, sente-se mais do que nunca, ao lado de Silverstone e de Mônaco, a alegria contagiante dos fãs pelo automobilismo, como já não se sente tanto em outras etapas mundo afora. Mas, enquanto aguardo o início dos treinos oficiais, é preciso comemorar uma data nesta semana, e que tem importância para muitos dos fãs do esporte a motor: há exatos 50 anos, no último dia 2 de setembro, um jovem neozelandês chamado Bruce Leslie McLaren fundava a equipe de competições que levaria seu sobrenome, e que segue firme até hoje na F-1, tendo se transformado também em um grande centro de produção de tecnologia, e uma das equipes mais vitoriosas de toda a história da categoria máxima do automobilismo.
            Fundada inicialmente com o nome de "Bruce McLaren Motor Racing Limited", a nova equipe de competição foi criada por Bruce McLaren em parceria com Teddy Mayer em setembro de 1963, e sua primeira competição foi o Torneio da Tasmânia de 1964, tendo disputado sua primeira corrida em 4 de janeiro daquele ano, na pista de Levin, na Nova Zelândia. E fizeram bonito na primeira prova, ao conquistarem o 2° e 3° lugares, perdendo apenas para Dennis Hulme, pilotando um Brabham. O início foi coroado pelo título ganho já no primeiro torneio disputado pela equipe, mas não foi uma comemoração completa: Timmy Mayer, irmão mais novo de Teddy, e piloto do time, morreu em um acidente sofrido nos treinos da última corrida do torneio.
            Com Bruce McLaren ainda pilotando para a equipe Cooper na F-1, os dois primeiros anos de vida da escuderia foram devotados à criação e preparação de carros para outras categorias, mas em fins de 1965, Bruce deixou a Cooper e em 1966, alinharia no grid da F-1 com seu próprio carro, seguindo o exemplo de Jack Brabham, que de piloto também havia se tornado construtor. Enquanto o time iniciava sua jornada para marcar posição na categoria máxima do automobilismo, o carro projetado para o campeonato Can-Am nos Estados Unidos redimia o time de seus parcos resultados na F-1: foram campeões por 5 anos consecutivos, de 1966 a 1970.
            Aos poucos, a McLaren ia se estabelecendo na F-1, e em 1968, Bruce venceu sua primeira - e única, corrida pilotando seu próprio carro. Foi em Spa-Francorchamps, na Bélgica. Dennis Hulme ainda venceria mais duas provas naquele ano, e a McLaren seria vice-campeã de construtores, com 51 pontos, perdendo apenas para a Lotus. O time seguia no rumo certo para se tornar um nome forte na categoria, mesmo tendo ficado apenas em 4° no ano seguinte, com 40 pontos, perdendo para a Matra, Brabham e Lotus, mas superando nomes como Ferrari e BRM. Em 1970, porém, um golpe terrível quase acabou com o time: a morte de Bruce McLaren nos testes de um protótipo M8D para a Can-Am em Goodwood em um violento acidente. Com apenas 32 anos de idade, Bruce deixou a vida e a F-1 ostentando 100 provas disputadas na F-1, com 196,5 pontos conquistados, com 4 vitórias e 27 pódios no currículo. Se seus números foram modestos na categoria, a equipe que criou seria seu maior legado para a história do esporte a motor. Mas foi um caminho difícil a ser percorrido após sua morte.
            Teddy Mayer, que já tivera o desprazer de ver seu próprio irmão morrer, agora havia perdido o seu melhor amigo. E como co-fundador da escuderia, cabia a ele manter o time de pé, e ele o fez. Foi um período de mudanças na F-1: os times começavam a estampar patrocínios nos carros, uma nova fonte de recursos, e a McLaren também se iniciava nesta nova era, a princípio ostentando a marca Yardley em seus carros. Em 1973, a McLaren angariava dois grandes trunfos para 1974: o patrocínio da Phillip Morris, e os serviços de Émerson Fittipaldi, que com o abandono de Jackie Stewart, tornava-se o maior astro da F-1. A parceria daria à McLaren seu primeiro título de construtores e de pilotos, com Émerson a faturar o bicampeonato em 1974. O brasileiro ainda seria vice-campeão em 1975, e no ano seguinte passaria a defender a Copersucar, tendo seu lugar no time inglês ocupado por James Hunt. E Hunt mostrou-se naquele ano um sucessor à altura de Fittipaldi, conquistando o título de pilotos. Ao mesmo tempo, os modelos McLaren venceram as 500 Milhas de Indianápolis em 1974, 1975, e 1976, um feito invejável, sem sombra de dúvidas.
            Passada a bonança, entretanto, a McLaren iniciaria um período de ostracismo, com poucos resultados de monta nos anos seguintes. A situação só mudaria a partir de 1980, quando o time de F-1 se fundiria com a Projetc Four, de um inglês determinado chamado Ron Dennis. A fusão deu início à McLaren International, que foi sendo totalmente reestruturada. Com a chegada de Mansour Ojeh e o grupo TAG, Teddy Mayer decidiu sair, ficando Ron Dennis a partir de então no comando da escuderia, que aos poucos foi reescalando o pelotão, com a contratação da Porshe para a criação de um motor turbo, e trazendo Niki Lauda de volta à F-1, ao lado de Alain Prost. Com os novos modelos MP4, projetados pelo novo mago das pranchetas, John Barnard, a McLaren venceu os campeonatos de 1984 (tricampeonato de Niki Lauda), e 1985 e 1986 (bicampeonato de Alain Prost.
            A chegada de Ron Dennis transformou completamente a McLaren, e não apenas no nome. Obcecado pelo sucesso, Ron impôs novas normas de trabalho na escuderia, além de reformular todo o modus operandi da escuderia. A parceria com o grupo TAG providenciou os recursos necessários para tanto, e o sucesso dos novos chassis MP4, projetados por John Barnard, se tornaram os modelos a serem seguidos pela categoria. Tudo isso e um motor turbo competitivo trazendo o logo da Porshe, e os 3 títulos consecutivos ganhos de 84 a 86 mostravam a McLaren mais forte do que nunca, para desespero dos concorrentes, mas eles nem imaginavam o que ainda viria pela frente.
            Em 1988, na nova parceria com a Honda, e a nova estrela Ayrton Senna, a McLaren continuaria esmagando a concorrência, sendo campeã em 1988, 1990, e 1991, com o brasileiro; e em 1989 com Prost, em um ritmo ainda mais implacável do que o visto na primeira metade da década de 1980. Mas a concorrência se acirrava, e a Williams, que já havia vencido o campeonato em 1987, voltava a dominar em 1992 e 1993. A equipe de Woking passou a perder seus principais trunfos: saiu a Honda ao fim de 92, e Senna foi-se embora a partir de 1994. Uma nova associação com a Peugeot para fornecimento de motores foi interrompida por impaciência de Ron Dennis com os resultados, e a partir de 1995, o time passou a competir com motores da Mercedes, marca que equipa os monopostos do time até hoje, e garantidos para 2014, que resultará em 20 anos usando a mesma fornecedora, uma marca para se respeitar.
            Depois de enfrentar poucos resultados em 1994, 1995, e 1996, o time voltou a vencer em 1997, e em 1998, voltaria a ser campeão do mundo, com o finlandês Mika Hakkinem, que conquistaria o bicampeonato em 1999. De 2000 a 2004, a McLaren, apesar de resistir, sucumbiu à hegemonia de Michael Schumacher e a Ferrari. Apenas em 2007 a escuderia seria o time a ser batido, mas a disputa interna entre Fernando Alonso e a nova estrela do time, Lewis Hamilton, acabaram por entregar o título à Ferrari com Kimmi Raikkonem. Outro ponto extremamente negativo nesta temporada foi o escândalo de espionagem descoberto por parte da Ferrari, que teve dados confidenciais repassados por um de seus funcionários ao time inglês. A McLaren tomou a maior multa da história, US$ 100 milhões, além de ter sido excluída do mundial de construtores. Algo para se envergonhar realmente.
            Em 2008, o time conquistaria o campeonato com Lewis Hamilton, naquele que foi a última conquista da equipe em um campeonato de pilotos. O título de construtores ficou com a Ferrari. De lá para cá, a McLaren continuou mostrando excelentes resultados, mas sem chegar à decidir mais um título. A Red Bull passou a ser a força dominante na categoria, e o melhor resultado foi o vice-campeonato de Jenson Button em 2011, num ano em que o time dos energéticos arrasou a concorrência com Sebastian Vettel.
            É verdade que a McLaren nos últimos anos não conseguir se firmar a fundo na luta pelo título, mas a escuderia continuou produzindo carros vencedores. À exceção desde ano, quando o time produziu um carro ruim, que se mostrou incapaz até de lutar por posições no pódio, a escuderia sediada em Woking sempre foi um padrão de excelência ímpar na F-1. Ron Dennis, hoje afastado da direção do time, cuidando dos negócios do grupo McLaren, transformou o que era apenas um time de F-1 em uma potência tecnológica, tendo até produzido carros esporte na década retrasada, em uma parceria com a BMW, quando visava tornar-se uma rival para a Ferrari no segmento de carros esportivos. O centro tecnológico construído em Woking, ao lado da sede da escuderia de F-1, é impressionante, e a busca pela excelência de qualidade em todos os aspectos está presente em todos os cantos.
            Na competição, a McLaren também ofereceu aos fãs da velocidade alguns belos e disputados duelos entre seus pilotos na F-1. O primeiro embate titânico ocorreu entre Niki Lauda e Alain Prost pelo título de 1984, ganho pelo austríaco. Nova batalha seria vista em 1988 e 1989, quando Alain Prost e Ayrton Senna digladiaram-se por todo o campeonato, com um título para cada um, em uma disputa que viraria guerra declarada entre ambos os pilotos, não apenas dentro mas também fora da pista. E ainda apresentaria mais um duelo, em 2007, entre a estrela Fernando Alonso e o novato sensação Lewis Hamilton, que incendiou o campeonato daquele ano como há tempos não se via. Poucos times de ponta permitiram duelos tão abertos entre seus pilotos na luta pelo título. Sorte dos fãs da velocidade, que respeitam esse imenso desafio que a McLaren permitiu existir, mesmo que tenha colhido dissabores em muitos momentos por causa disso.
            Para os brasileiros, a McLaren colheu 4 títulos com nossos pilotos: o tricampeonato de Ayrton Senna, e o segundo título de Émerson Fittipaldi, nossos únicos pilotos a guiarem para a escuderia, e que com isso criou grande legião de torcedores no Brasil inteiro, que até hoje cultuam a imagem de Senna ao carro vermelho e branco que na época tinha as cores da Marlboro, parceria que também havia na época de Émerson Fittipaldi. Aliás, a parceria McLaren/Marlboro durou nada menos do que 23 anos, de 1974 a 1996, um dos mais longevos patrocínios da história do esporte a motor.
            Hoje, a McLaren segue forte como escuderia, mesmo com os fracos resultados, e pilotos que não ostentam o mesmo nível das maiores estrelas de sua história. E mira firme o futuro: em 2014, espera reerguer-se com o novo regulamento técnico e a adoção dos novos motores turbo. E para 2015, iniciará uma nova parceria com a Honda, que espera-se, seja tão produtiva quanto a primeira, de 1988 a 1992.
            Estivesse vivo, Bruce McLaren poderia ter orgulho do que sua pequena escuderia de competição se tornou. Todos os torcedores da equipe que levam seu nome certamente têm. E certamente, até muitos torcedores rivais, em respeito às conquistas que a McLaren tem em sua história de completos 50 anos de existência.

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