quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

ARQUIVO PISTA & BOX – MAIO DE 1995

            Seguindo com minhas antigas colunas, esta foi escrita em maio de 1995. O tema desta vez foi a não-classificação da equipe Penske para as 500 Milhas de Indianápolis daquele ano, o que foi um verdadeiro desastre para o time, considerada a sua capacidade, e sua história vencedora na F-Indy. Foi também o último ano em que a Indy500 fez parte da F-Indy, passando no ano seguinte a integrar o calendário da Indy Racing League, categoria dissidente criada por Tony George, proprietário do circuito de Indianápolis, que queria ter mais poder na categoria, pelo fato de possuir a corrida mais famosa do calendário. Fiquem agora com o texto, e boa leitura...


INFERNO ASTRAL NA PENSKE

 Adriano de Avance Moreno

Um desastre! Esta é a expressão da participação da equipe Penske nas 500 Milhas de Indianápolis este ano. O ambiente na equipe, que vinha proqredindo depois das vitorias e Al Unser Jr. e Émerson Fittipaldi nas etapas de Long Beach e Nazareth, desabou de uma só vez depois dos primeiros treinos livres no oval mais famoso do mundo. Tanto Emerson Fittipaldi quanto AI Unser Jr. não conseguiram passar de 354 Em/h com os carros da Penske chassi PC 25. Para a equipe que venceu as duas últimas edições das 500 Milhas, a situação foi humilhante, pois agora está tendo o desprazer de ficar de fora da mais importante corrida do calendário da F-Indy, e que em termos promocionais, vale mais até do que o próprio título da categoria.
O pior foi constatar, que o erro estava no projeto do carro e que já vinha desde o ano passado, o que dá uma idéia não muito agradável. Em 1994, a Penske massacrou a concorrência em Indianápolis, mesmo com o tal defeito conceitual nos seus carros. A razão de tal domínio, mesmo com o problema foi o fato de a Penske ter usado um motor especial da Mercedes, construído em tempo recorde e aproveitando-se de uma brecha no regulamento das 500 Milhas, que permitia a participação de motores especiais com tecnologia mais ultrapassada com mais liberação de pressão nas válvulas do turbo. Com esta oportunidade a Mercedes construiu um propulsor V-8 com potência de cerca de 1.000 HPs, cerca de 200 HPs a mais do que os motores adversários. Com tamanha potência a mais, o excessivo down force provocado pelo fundo do carro não era notado, a não ser um pouco nas curvas, onde os carros tinham estabilidade em excesso, mas em compensação, nas retas, o motor especial da Mercedes levava os carros a quase 400 Km/h e recuperavam todo o tempo perdido nas curvas e ate ganhavam mais algum. Como as demais equipes chiaram a respeito do uso daquele propulsor, os organizadores eliminaram a brecha do regulamento, o que tornou inviável a utilização daquele motor este ano. Com isso, a Penske teve de usar os motores Mercedes normais, o que tornou evidente o problema dos carros.
Nos circuitos mistos e ovais curtos, a ordem é ter o máximo de estabilidade sem prejudicar o carro nas retas. Em Indianápolis entretanto, isto tornou-se um problema, porque o arrasto demasiado impedia simplesmente o carro de atingir velocidade nas retas, já que eles correm praticamente sem asa, utilizando um minímo para ter estabilidade nas curvas. Nos demais circuitos, o arrasto em excesso era compensado com um ajuste aerodinâmico com menos asa, o que permitia encontrar um equilíbrio entre estabilidade e velocidade de ponta em reta. Tal acerto não funciona no Indianápolis Motor Speedway em razão de suas grandes retas, onde os carros podem chegar a quase 400 Km/hi em reta. Um exemplo foi o americano Scott Brayton, o pole-position deste ano, ter ficado com a média em torno de 372 Km/h, abocanhando a pole. O holandês Arie Luyendick chegou a atingir 376 Km/h nos treinos livres para a corrida.
Sem poder classificar seus carros, Roger Penske mostrou o seu poderio econômico e tentou conseguir a classificação de sua equipe usando carros rivais Sem perda de tempo, comprou chassis Reynard 94 e até trouxe o modelo Penske 94 para tentar a classificação. Não deu certo. O Penske 94 andou ainda pior que o modelo 95, e AI Unser Jr. não conseguiu sentir-se à vontade com os Reynards. A última cartada foi o aluguel dos carros Lola reservas da equipe Rahal/Hoogan, onde Bobby Rahal e Raul Boesei já haviam conseguido classificação. Émerson andou até melhor do que Rahal e Boesel nos treinos livres. No último sábado de classíficação o brasileiro ia indo bem, mas Roger Penske ordenou que fosse abortada a tentativa de classificação do brasileiro, achando que o seu tempo poderia ser melhor no fim da tarde e talvez, no domingo. Não deu certo; no domingo o calor mais forte fez os carros renderem menos e Émerson acabou excluído da prova a 4 minutos do fim do treino. Seu lugar foi ocupado pelo sueco Stefan Johansson. O companheiro de Émerson na Penske, o atual campeão, AI Unser Jr., não conseguiu nem chegar perto de Emerson; foi 5 Km/h mais lento que o brasileiro.
A Penske é a equipe com mais vitórias em Indianápolis nos ultimos anos. Foram praticamente quase uma dezena de vitórias na pista mais famosa do mundo. Émerson e AI Unser Jr., pilotos atuais da Penske, contabilizam 4 vitórias em Indianápolis além de 2 poles-positions. Em 94 a vitória foi de Al Unser.Jr., enquanto Émerson dominou a prova completamente até bater a poucas voltas do fim da corrida. Em 93, Émerson conquistou pela 2ª vez a vitória nas 500 Milhas.
A não-classificação para Indianápolis gerou um clima pesado na Penske, que terá de ser resolvido logo, pois o campeonato da Indy prevê provas nos dois domingos consecutivos de Indianápolis: as 200 Milhas de Milwaukee e o GP de Detroit.
Os ânimos estão exaltados também na equipe. Al Unser Jr. e Émerson não conseguiam disfarçar a irritação com a desclassificação. Émerson terminou a classificação furioso com os erros da equipe, que lhe roubaram as possibilidades de alinhar no grid da corrida, e Al Jr. não estava com um humor melhor. A equipe agora vai ter sérios contratempos técnicos pela frente. Apesar de o carro se mostrar competitivo nos circuitos mistos, os demais ovais do campeonato são todos mais rápidos que os de Phoenix e Nazareth. O fundo dos carros está sendo retrabalhado para sanar os problemas do excesso de down force, mas os resultados nao devem sair facilmente.
Pela primeira vez desde que estreou na F-Indy, em 1984, é a primeira vez que Émerson não participará das 500 Milhas de Indianápolis Em compensação, o Brasil terá 5 pilotos na pista. Maurício Gugelmim é o melhor classificado, ocupando a 6ª posição no grid (2ª fila). André Ribeiro vai largar em 12º.(4ª fila). Christian Fittipaldi conseguiu a 28ª colocação, enquanto Gil de Ferran vai largar em 20º e Raul Boesel em 23º. Marco Greco, outro brasileiro que, como Émerson, não conseguiu classificação, vai ficar de fora da corrida.

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