sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

ARQUIVO PISTA & BOX – ABRIL DE 1995


            Neste momento de fim de ano, já que estou dando uma folga nos textos de automobilismo, fiquem por enquanto com mais uma de minhas antigas colunas. Esta é de abril de 1995, com o primeiro retorno a Ímola, depois do trágico GP de San Marino do ano anterior. Foi difícil encarar o retorno àquela que era uma de minhas pistas favoritas na Europa, e que ficou tragicamente marcada na memória de todos em 1994. Vamos ao texto, e um bom Natal a todos os leitores...

 
RETORNO A ÍMOLA



Adriano de Avance Moreno

            Praticamente um ano depois, a Fórmula 1 retornou à pista que mudou radicalmente a categoria no ano passado. O fim de semana negro vivido por todos no Autódromo Enzo e Dino Ferrari deixou a todos atordoados e sem fala. Na sexta-feira, Rubens Barrichello sofrera um violento acidente com seu Jordan na aproximação à entrada dos boxes: o brasileiro bateu feio e sofreu alguns ferimentos que inviabilizaram sua participação na corrida. Mas o pior estaria por vir no sábado, quando a Simtek de Roland Ratzemberger perdeu parte da asa traseira e seu carro seguiu reto na curva Villeneuve, batendo de forma frontal no muro ali existente, e promovendo mais uma cena de horror no final de semana. A morte do novato austríaco deixou todos com um ar pesado. Até Ayrton Senna começava a ficar mais sério do que o normal, mais compenetrado com outras questões, e visivelmente preocupado. No domingo, um acidente múltiplo logo na largada deixou todo mundo já alvoroçado, e depois, a colisão de Senna na curva Tamburello foi o clímax do fim de semana negro que se tornou o Grande Prêmio de San Marino em 1994.

            Acusações sobre o que realmente motivou o acidente, se a corrida deveria ou não ter sido cancelada, se Senna morreu ainda na pista ou não, muita coisa rolou nos dias e semana seguintes. Novas regras de segurança foram implantadas, meio que a torto e a direito. A F-1 conseguiu seguir em frente, mas não sem sofrer alguns sobressaltos. E agora, em 1995, eis que a categoria retornou a esta pista, que para muitos, virou algo maldito. O fim de semana do GP, felizmente, transcorreu sem maiores percalços, mas o clima estava pesado desde o início da chegada de todos ao circuito.

            Fãs de várias partes do mundo transformaram a antiga curva Tamburello em uma espécie de santuário, com flores e diversos outros tipos de objetos trazidos para demonstrar o apreço e tristeza pela fatalidade de um ano atrás que ceifou a vida de um dos maiores pilotos de todos os tempos. O próprio circuito sofreu modificações que, para alguns, o descaracterizaram, como se provou em boa parte da corrida: antes um circuito de várias disputas, Ímola se tornou uma pista travada, que inibe as ultrapassagens, e a corrida deste ano, ganha por Damon Hill, foi mais na base da estratégia, sabendo o momento certo de fazer as paradas de Box para trocar pneus e reabastecer, do que por disputas de ultrapassagem na pista.

            A velha Tamburello não existe mais: foi feita uma curva, para o lado interno do circuito, que nunca permitirá as mesmas disputas que existiam no traçado antigo. Na curva Villeneuve, outra mudança, com a curva suave transformada em um cotovelo quase a 90° que também inviabiliza as tentativas de ultrapassagem. Outras curvas que foram modificadas foram a Rivazza e a Acqua Mineralle, que se tornaram mais fechadas (a primeira) e mais simples (a última). Tudo em nome da segurança, claro. Mas com a nítida sensação de que algo melhor poderia ter sido feito, se fosse melhor planejado, sem sacrificar o traçado desta pista. Mas os organizadores e torcedores, estes últimos pelo menos desta vez, nada criticaram do que foi feito. O fato da corrida ter transcorrido sem maiores incidentes foi um bálsamo para todos, ainda com as lembranças de 94 frescas na cabeça. Tudo o que não poderia acontecer novamente, felizmente não aconteceu. Algum novo acidente poderia até complicar ainda mais as coisas, ou invés de ajudar.

            Damon Hill, vencedor da prova, dedicou a vitória a Senna. Nada mais justo, uma vez que o time também sofreu de maneira considerável a perda de seu piloto em 94. Podem acusar Hill de ser um piloto “comum”, mas talvez ele seja o último “gentleman” da categoria, onde cada vez mais os pilotos e integrantes dos times parecem cada vez menos humanos e mais frios.

            Findo o GP de San Marino, ficou pelo menos o alívio de que o fantasma de 94 parece ter sido finalmente exorcizado da mente de muitos. Mas para alguns, ainda irá demorar muito mais para arrefecer...




Algo que foi muito chato de se ver em Ímola é que, enquanto a curva Tamburello virou ponto de romaria dos fãs, que foram prestar as homenagens a Ayrton Senna, a curva Villeneuve, onde Roland Ratzemberger morreu no ano passado praticamente ficou esquecida. A única exceção foi a visita solitária de Rudolf Ratzemberger, nada menos do que o pai de Roland, que fora prestar homenagem no lugar onde seu filho morreu, na companhia de algumas pessoas da equipe Simtek. Quem também esteve presente no local foi Mika Salo, que havia sido companheiro de Ratzemberger na F-3000 japonesa. Tudo muito mais triste ainda, como se o piloto austríaco nem tivesse existido. A morte de Senna o fez virar apenas um “nota de rodapé” na história do automobilismo...

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