sexta-feira, 6 de outubro de 2023

UM NOVO DESAFIO À FRENTE

Acabou o casamento entre Marc Márquez e a Honda, depois de mais de uma década de muitas conquistas, mas de muitas frustrações nos últimos dois anos.

         Se o campeonato da MotoGP pegou fogo nas últimas corridas, com o azar do atual campeão Francesco Bagnaia, que escapou por pouco de sofrer lesões mais sérias no atropelamento que sofreu na etapa da Catalunha, em Barcelona, e a ascensão fulminante de Jorge Martin, com ambos separados na classificação por míseros 3 pontos, e com seis corridas ainda para encerrar a competição de 2023, o grande assunto da semana na classe rainha do motociclismo passou a ser o anúncio da ruptura de Marc Márquez com a equipe oficial da Honda, com a “Formiga Atômica” anunciando que tomará novos rumos em 2024, muito provavelmente defendendo a Gresini, embora a escuderia ainda não tenha se pronunciado oficialmente sobre a chegada do piloto para o próximo ano. O acordo já era mais do que esperado, diante da falta de perspectivas de Márquez, que não viu melhoras significativas no teste do protótipo de 2024 realizado há poucas semanas, além do fato também da Gresini adiar a informação de qual seria sua dupla de pilotos para a próxima temporada. Pesava principalmente como o hexacampeão resolveria seu assunto contratual com a escuderia nipônica, já que em outros momentos ele havia declarado que cumpriria integralmente o acordo firmado ainda em 2020, se bem que, diante do desgaste da relação vivenciada este ano, o próprio time também se pronunciou dizendo que não se oporia à saída de seu piloto, caso isso ocorresse.

         Mas piloto e equipe chegaram a termo para encerrar o vínculo, que ia até o fim da temporada de 2024, ao fim da atual temporada. Com isso, devidamente confirmado, o hexacampeão voltará a formar dupla com seu irmão caçula Álex Márquez, com quem dividiu o time de fábrica da Honda na temporada de 2020, nas poucas etapas em que pode competir naquele ano. O assunto já está gerando o maior burburinho entre fãs e imprensa especializada, no que tange às possibilidades de Marc com a melhor moto do grid, mas há muitos detalhes a serem considerados nisso. Primeiro, o próprio Marc Márquez não fala em restabelecer sua hegemonia, como foi nos seus tempos áureos na Honda. A Gresini é um time satélite da Ducati, e até informação em contrário, ela recebe as motos de competição do ano anterior, que em 2024, deverá ser a Desmosédici GP23, enquanto o time de fábrica de Borgo Panigale terá à sua disposição a nova GP24, modelo que também estará disponível para a Pramac, seu principal time satélite. Em termos de equipamento, a Gresini está equiparada à VR46, que também utilizará a GP23 no próximo ano.

Com uma moto errática e imprevisível, nem mesmo Márquez tem conseguido extrair performance, mesmo andando até acima do limite, e com isso, veio caindo bastante na atual temporada, e chegando a se machucar em algumas quedas.

        Segundo, é preciso reconhecer que Marc Márquez é decididamente um dos gigantes da história da MotoGP, e o seu grande destaque da última década. O piloto ainda é relativamente novo, e poderá ter várias temporadas pela frente, mas isso não significa que ele irá arrasar novamente a concorrência. Quem garante que não haja no grid atual pilotos que possam igualar-se à “Formiga Atômica” em talento e capacidade? Grandes nomes do grid atual, como Fabio Quartararo, Brad Binder, Jorge Martin, e até mesmo o atual campeão, “Pecco” Bagnaia, não seriam capazes de equilibrar a briga com o futuro ex-Honda? É verdade que vimos diversos shows de pilotagem do piloto, mas ele competiu com uma moto Honda que era um equipamento bastante competitivo, senão a melhor moto do grid em algumas temporadas, e conseguia extrair do equipamento uma performance absurda, que nenhum de seus companheiros de time conseguiu igualar. Porém, é preciso considerar que a moto japonesa tinha nos últimos anos um comportamento nervoso que Márquez conseguia domar com maestria, o que não acontecia com seus colegas de time. Mas, e como se dará essa performance do hexacampeão, se os rivais contarem com motos competitivas que lhe permitam extrair também o máximo delas?

        Terceiro, como estará a competitividade da Desmosédici no próximo ano? É praticamente certo que a Ducati ainda será o melhor equipamento do grid, se os rivais não conseguirem apresentar um equipamento mais evoluído do que os atuais, e neste caso, se a Gresini tiver de fato o modelo GP23, teremos uma boa e talvez uma má notícia. A boa notícia é que o modelo GP23 vai ser uma moto campeã, que certamente fará o vencedor da temporada atual, e portanto, será um equipamento competitivo, fiável e bem testado, muito melhor do que a moto da Honda, pela expectativa, ou falta dela, em relação ao modelo do próximo ano. A má notícia, e que ainda não pode ser mensurada, é qual será o desempenho do novo modelo GP24, que será uma evolução da GP23, enquanto a moto mais nova ficará com o time oficial e a Pramac. Por esse parâmetro, a competitividade da GP23 ano que vem será determinada pelo desempenho de sua sucessora, mas principalmente, do que os concorrentes poderão apresentar. Se formos ver o campeonato deste ano, vemos que a Ducati realmente está dominando o campeonato. Os três primeiros colocados na classificação usam motos Ducati, com o atual campeão, Francesco Bagnaia, liderando a competição com a equipe oficial de fábrica. Logo atrás, na vice-liderança, em uma arrancada impressionante nas últimas etapas, está Jorge Martin, com a mesma Ducati do time de fábrica, mas defendendo a Pramac, time satélite. E com uma diferença mínima entre eles, devido à combinação do mau momento de Bagnaia nas últimas provas, e do excelente momento de Martin. Um pouco mais atrás, vem Marco Bezzecchi, com outra Ducati, mas o modelo GP22, do também time satélite VR46.

Irmão mais novo, Álex Márquez deve voltar a fazer dupla com seu irmão Marc na Gresini em 2024, depois de serem companheiros de equipe no time oficial da Honda em 2020.

         O primeiro “intruso” da dinastia Ducati é Brad Binder, na 4ª colocação, com a KTM, mas com o sul-africano distante 118 pontos do líder Bagnaia, e 64 pontos atrás de Bezecchi, ilustrando o abismo na pontuação. Na 5ª posição vem Aleix Spargaró, da Aprilia, que não vem fazendo uma temporada tão impressionante quando a de 2022, 30 pontos atrás de Binder. E daí para baixo, todo mundo é coadjuvante no campeonato, sem chance alguma de incomodar o TOP-3. Podemos supor, portanto, que a GP22 ainda é competitiva, mas não podemos negar que os concorrentes também estão negando fogo em apresentar maior competitividade a seus equipamentos, em especial a Aprilia, que foi uma das sensações da temporada passada, enquanto a KTM, apesar de estar relativamente bem, não parece conseguir ir além do que já mostrou este ano, também não se configurando uma ameaça que tire o sono dos pilotos do TOP-3 da classificação. E não basta ter o equipamento em mãos, é preciso saber trabalhar com ele devidamente.

Álex Márquez, atual piloto da Gresini, é apenas o 11º colocado na classificação do campeonato, mostrando que a Gresini no momento não está brilhando como se poderia esperar, perdendo para a VR46 por larga margem, considerando que os dois times usam a mesma GP22. Mas, isso não significa que a escuderia não possa melhorar no próximo ano, lembrando que no ano passado, Enea Bastianini, que era piloto da Gresini, venceu várias corridas e chegou até a entrar na briga pelo título, terminando a temporada em 3º lugar. Se o time conseguiu esse desempenho, pode voltar a consegui-lo, mas isso é uma possibilidade, não uma certeza. Vai depender de como Marc Márquez se adaptar à Desmosédici. Por mais que a “Formiga Atômica” tenha conseguido se sobressair com uma moto Honda cujo comportamento nervoso vitimou outros pilotos de talento renomado do grid, com Dani Pedrosa e Jorge Lorenzo, não sabemos se ele irá se encaixar rapidamente no estilo de pilotagem da moto italiana, depois de tantos anos acostumado ao comportamento da moto japonesa. Ele pode se adaptar rapidamente, ou pode ter dificuldades. Jorge Lorenzo, tricampeão com a Yamaha, levou mais de meia temporada para se encaixar no estilo de pilotagem da Ducati quando chegou ao time italiano anos atrás, e mesmo depois de “pegar” a mão da Desmosédici, ele não conseguiu brilhar como esperava, ficando nas duas temporadas que lá esteve na sombra de Andrea Dovizioso, que nunca foi considerado um piloto TOP, mas chegou até a disputar o título contra Marc Márquez, tendo sido vice-campeão por três anos consecutivos. Marc Márquez não é Jorge Lorenzo, e muito menos Andrea Dovizioso, mas não se pode negar a possibilidade do hexacampeão, por algum destes motivos estranhos que por vezes ocorrem no mundo esportivo, não se “encaixar” com o novo equipamento. Se ele tirar de letra, ótimo para ele, e uma possível dor de cabeça para os rivais na pista, até porque ele mesmo declarou que seu objetivo é voltar a ser “o maior de todos”. Nada contra sua meta, mas faltará combinar com os rivais na pista.

         Some-se a isso o fato de Marc Márquez estar desembarcando na Gresini praticamente em vôo solo. O time satélite da Ducati não teria permitido que ele trouxesse nenhum engenheiro ou técnico da Honda, a fim de garantir que seus segredos não “vazem” para a concorrência, já que o contrato do piloto, a princípio, seria apenas para a temporada de 2024. Isso conduz a novas especulações sobre qual pode ser o destino da “Formiga Atômica” em 2025, se ele seguiria na Gresini, ou se a Ducati apostaria em coloca-lo no time oficial de fábrica. Ainda há a hipótese do hexacampeão migrar para a KTM, mudança que não seria possível em 2024, uma vez que a fábrica austríaca está completamente sem vagas disponíveis no momento, mas poderia ser viabilizado para o ano seguinte.

         Há outra variável que pode ocorrer, que seria a Gresini receber a nova GP24, para uso exclusivo de Márquez, mas a cúpula da Ducati dificilmente tomaria tal decisão, para evitar “desbalancear” o equilíbrio de importância de seus pilotos, e até de seus times satélites, o que poderia criar rinhas internas que seria indesejáveis. A adição de Marc Márquez seria um reforço mais do que bem-vindo, mas a própria Ducati tem seus talentos, e dar um tratamento preferencial ao hexacampeão seria desvalorizar seus contratados. Não que isso não possa mudar futuramente, mas para tal acontecer, Marc Márquez precisaria mostrar desde já a sua capacidade diferenciada que o fez hexacampeão da classe rainha do motociclismo, e isso só poderia ser visto ao fim da temporada de 2024, onde tudo pode acontecer, onde o futuro ex-Honda pode até voltar a arrebentar, mas também pode não fazer nada demais.

Situações diferentes nos times satélites da Ducati: a Pramac (acima) corre com a mesma moto do time oficial, enquanto a VR46 (abaixo), assim como a Gresini, utiliza a Desmosédici da temporada anterior.


         Mas, alguns fãs parecem tão entusiasmados que não estão nem aí para estas particularidades. Alguns já falam até que Márquez já seria o campeão de 2024, porque com a melhor moto do grid não teria para ninguém, enquanto alguns falam que seria covardia o piloto correr com a Ducati no momento atual da marca. Cal Cruthlow, que foi piloto da Honda alguns anos atrás, até reforçou essa impressão, de que com a Ducati nas mãos, Márquez voltaria a ser imbatível na pista, esquecendo-se que já se passaram alguns anos de lá para cá. Dá até a impressão de que o campeonato de 2024 já acabou antes mesmo de começar, ignorando completamente todos os pormenores relatados acima, que sim, farão diferença no andamento da competição. E não vamos esquecer que o Marc Márquez de agora, mesmo estando completamente recuperado, pode não ser o mesmo que arrasava os concorrentes na pista. Embora tenhamos visto sinais de sua conhecida genialidade e talento, precisamos ver como ele estará de fato com uma moto mais competitiva de forma regular e constante em termos de performance, algo que faltou na Honda nos últimos tempos.

         Marc Márquez passou por maus bocados nos últimos anos, desde que sofreu aquele acidente na primeira corrida de 2020 em Jerez de La Frontera, lesionando o braço. Na pressa de tentar voltar já no fim de semana seguinte, forçou demais o braço recém-operado, o que levou a complicações que exigiram várias outras cirurgias, e muitos meses de afastamento, onde precisou aprender a ter paciência, e a ouvir mais os médicos a respeito dos riscos de uma recuperação malfeita. O piloto também acabou tendo reveses inesperados, como os tombos que sofreu que lhe causaram diplopia, exigindo mais tempo de afastamento. Basicamente, só no início deste ano Márquez parece ter voltado completamente recuperado. Mas aí, os problemas da moto arisca, para não mencionar algumas manobras arriscadas e outras atabalhoadas, acabaram provocando alguns machucados que fizeram com que o piloto perdesse novamente mais algumas provas. Acostumado a pilotar sempre no limite, o número de tombos, e o retrospecto recente de agruras sofridas parecem ter convencido o piloto de que não poderia continuar mais arriscando andar no fio da navalha sempre, até porque por mais que se esforçasse, o desempenho atual da RC213V não correspondeu ao esperado. Muito pelo contrário: nunca Márquez caiu tanto da moto em tão pouco tempo.

         Depois de uma década, com boa parte dela repleta de glórias, títulos e marcas impressionantes obtidas na classe rainha do motociclismo, Marc Márquez inicia uma nova fase em sua carreira, disposto a recuperar o protagonismo perdido nos últimos anos. E todos querem ver como ele estará de fato, voltando a duelar com uma moto mais competitiva. Ele decidiu que não haveria tempo para esperar a Honda voltar a ser competitiva como gostaria, pois o tempo não espera por ninguém, e se ele se sentia capaz de aceitar o desafio de correr por outra marca, o momento é agora, pois mais para frente, as dificuldades poderiam ser ainda maiores, para não mencionar que, quanto mais tempo se passa sem bons resultados, você já não impressiona as pessoas como costumava fazer, mesmo que o talento e a capacidade ainda estejam lá. Agora, a bola está com o hexacampeão, e que ele consiga se mostrar à altura do novo desafio que encara em sua carreira de piloto na MotoGP. Veremos em 2024 se ele será bem sucedido ou não...

 

 

A Fórmula 1 inicia hoje os treinos oficiais para o Grande Prêmio do Qatar, no reformado circuito de Losail, e sendo mais uma prova com corrida Sprint, a perspectiva é de que Max Verstappen encerre aqui nas areias catarianas a conquista do tricampeonato, já que precisa apenas de poucos pontos para fechar a disputa matematicamente, não importa o que façam seus adversários. Mais uma corrida noturna na temporada, a prova Sprint terá largada às 14:30 Hrs. deste sábado, enquanto a corrida no domingo será disputada às 14:00 Hrs., ambas com transmissão ao vivo da TV Bandeirantes.

A pista de Losail recebeu a F-1 em 2021, e o GP do Qatar volta ao calendário este ano para ficar.

 

 

Liam Lawson ganhou mais uma chance de mostrar o que sabe na pista, defendendo a Alpha Tauri. Daniel Ricciardo teve seu retorno postergado, com o australiano devendo voltar à competição somente nos Estados Unidos, de modo que Lawson, que deverá ocupar o posto de piloto de testes da Red Bull durante a temporada de 2024, continuará sendo o companheiro de Yuki Tsunoda neste fim de semana em Losail. Liam sabe que toda oportunidade para estar na pista é crucial, já que a Red Bull não garantiu onde alocará o piloto em 2025, apenas afirmou que ele será “considerado” entre as opções. Dependendo do rendimento de Ricciardo na temporada do ano que vem, é possível que Daniel volte para a Red Bull em 2025, com Lawson assumindo titularidade na Alpha Tauri, então. Já Sergio Perez, que tem contrato até o fim de 2024, precisará mostrar serviço no próximo ano, se quiser garantir seu emprego, sendo que alguns especulam que, se o mexicano cair de produção novamente, como ocorreu este ano, o retorno de Ricciardo à Red Bull pode até ser antecipado, com o mexicano sendo “rebaixado” para o time B dos energéticos, e dispensado totalmente em 2025, obrigando-o a ter de procurar outra equipe para se manter no grid.

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