quarta-feira, 2 de setembro de 2020

FLYING LAPS – AGOSTO DE 2020


            E estamos no mês de setembro. Agosto já ficou para trás, e com ele, várias disputas em diversos campeonatos do mundo do esporte a motor mundo afora. Este mês era tradicionalmente um pouco parado, em virtude das “férias” de meio de ano de alguns certames, como a F-1, mas devido à pandemia da Covid-19, tudo precisou ser mudado, e apesar dos percalços, a imensa maioria das corridas que conseguiram programar até que está fluindo com certa normalidade, tendo como maior diferencial o fato de estarem sendo feitas a portões fechados, como acabamos vendo nas 500 Milhas de Indianápolis deste ano. E todo início de mês é hora de mais uma sessão Flying Laps, com tópicos rápidos sobre acontecimentos diversos do mundo da velocidade que não deu para comentar nas colunas semanais regulares. E neste mês de agosto, se teve assunto para discutir, foi da MotoGP, que praticamente monopolizou a sessão de hoje. Não é para menos, uma vez que a ausência do grande hexacampeão Marc Márquez transformou a disputa pelo título na classe rainha do motociclismo em um verdadeiro mistério, sem favoritos destacados na competição. Portanto, uma boa leitura a todos, com muito boa saúde, e cuidem-se, uma vez que não podemos nos descuidar com relação à Covid-19, que ainda está causando muitos estragos pelo mundo inteiro, apesar de tudo.

Andrea Dovizioso está fora da Ducati em 2021. Às vésperas do Grande Prêmio da Áustria, o empresário do piloto comunicou que o italiano, vice-campeão da MotoGP nas últimas três temporadas, não defenderia mais o time de Bolonha na próxima temporada. As negociações vinham se arrastando nos últimos meses, e a Ducati, tendo em vista as condições econômicas adversas oriundas da pandemia do coronavírus, teria oferecido um novo contrato com redução salarial a Dovizioso, que não teria aceitado a condição. O time já havia confirmado Jack Miller para a vaga de Danilo Petrucci para o próximo ano, e continuava o mistério a respeito da permanência ou não de Dovizioso na escuderia italiana, apesar de ter sido o melhor piloto da marca nos últimos anos, em especial a partir de 2017, quando a Ducati voltou a ser uma força no campeonato, e Andrea discutiu o título daquela temporada até a última corrida com Marc Márquez. Dovizioso agora pretende definir o seu futuro nas competições, mas a situação é complicada, uma vez que não há vagas nos demais times de expressão, e o piloto mesmo admitiu não ter um plano B para a situação, apenas afirmou que as condições propostas pela Ducati não era as mais condizentes para continuar defendendo o time. Vários pilotos classificaram a decisão de uma grande perda para a Ducati, que fica sem o seu principal piloto para a próxima temporada, lembrando que Jack Miller, apesar de estar tendo boas performances com o time satélite da Pramac, ainda é visto com certa reserva. A Ducati, a depender de como se comportar no restante da temporada, pode perder boa parte de seu poderio, já que Dovizioso vinha sendo o ponto de referência do time nos últimos anos.


Uma prova de como a Ducati ainda pode lamentar a saída de Dovizioso é que, praticamente mantendo a tradição da marca de ir bem na pista de Zeltweg, Andrea venceu a primeira corrida da MotoGP na pista da Estíria, depois de um bom duelo com Joan Mir, da Suzuki, e Jack Miller, da Pramac. A KTM voltou a ter uma boa apresentação com Brad Binder, que terminou a corrida no país da equipe em 4º lugar, à frente de Valentino Rossi, que fez uma corrida determinada, largando do meio do grid, enquanto os demais pilotos da Yamaha tinham seus problemas. Líder do campeonato, Fabio Quartararo seguiu reto numa curva, mas evitou a queda, tendo de voltar no fim do pelotão para uma corrida de recuperação, até terminar em 8º. Maverick Viñalez terminou em um modesto 10º lugar. E o time oficial da Honda, mostrando mais uma vez quanto depende de Marc Márquez, foi apenas 14º com Álex Marquez, vendo Takaaki Nakagami, do time satélite LCR, terminar em 6º lugar.


A segunda prova da MotoGP em Zeltweg, batizada de Grande Prêmio da Estíria, a exemplo do que foi feito na F-1, mostrou novamente uma bela disputa pela vitória, que acabou com o português Miguel Oliveira, levando o time da Tech3, satélite da KTM, ao degrau mais alto do pódio. A corrida mostrou um duelo entre Pol Spargaró, da KTM, Joan Mir e Alex Rins, da Suzuki, Takaaki Nakagami, da LCR, e Oliveira, da Tech3. Na volta final, enquanto Spargaró e Jack Miller, da Pramac, se digladiavam na liderança, um toque entre ambos na última curva permitiu a Miguel Oliveira assumir a liderança e vencer a prova, num final eletrizante, como já havíamos visto em anos anteriores na pista austríaca. Joan Mir acabou em 4º, seguido de um Andrea Dovizioso que não conseguiu repetir o triunfo da semana anterior, terminando em 5º. Novamente lutando contra a falta de performance de seu equipamento, Valentino Rossi acabou sendo mais uma vez o melhor piloto da Yamaha, em 9º lugar. Fabio Quartararo, em uma atuação apagada, foi apenas o 13º colocado, e viu sua vantagem no campeonato reduzir drasticamente, embora ainda continue liderando a competição.


As duas corridas da MotoGP em Zeltweg foram marcadas por fortes acidentes, que obrigaram a interrupção das corridas, que foram reiniciadas após os eventos que, felizmente, não resultaram em tragédias na pista, embora tenha faltado muito pouco para não acontecer o pior. Na primeira prova, Johaan Zarco acabou tocando em Franco Morbidelli, no trecho de aproximação da curva 3 do circuito. Com o toque, os dois pilotos caíram, mas as motos de ambos seguiram em frente, atingindo o guard-rail e voando sobre a curva 3, passando no meio da dupla da equipe oficial da Yamaha. Valentino Rossi e Maverick Viñalez por pouco não foram atingidos pelas motos desgarradas, que se destroçaram com o impacto no guard-rail e capotaram sobre a pista na saída da curva 3. Viñalez chegou a tirar as duas mãos do guidão de sua moto, procurando proteger a cabeça, mas felizmente não foi atingido, e nem caiu por causa disso. Franco Morbidelli disparou inúmeras farpas contra Zarco, que acabou punido por direção irresponsável, e teve como punição largar dos boxes na segunda prova, além de ter de passar por uma cirurgia na mão, em virtude do acidente sofrido, mas tendo sido liberado para competir. Com vários destroços das motos de Morbidelli e Zarco na pista e área de escape, a corrida foi paralisada, e recomeçada somente após os reparos no guard-rail e limpeza da pista. E, felizmente, nada de grave ocorreu também com ambos os pilotos após a queda ao chão. Zarco, obviamente, não gostou da punição recebida, mas infelizmente o histórico recente do piloto não vem ajudando muito em sua defesa, e ele acabou considerado culpado pelo acidente que poderia ter resultado em uma tragédia na pista do Red Bull Ring, caso Rossi e Viñalez tivessem tido menos sorte e fossem pegos em cheio pelas motos desgovernadas.


Maverick Viñalez, aliás, teve outro percalço complicado na segunda prova em Zeltweg. O piloto da equipe oficial da Yamara ficou literalmente sem freios durante a corrida, e para tentar evitar o pior, acabou se soltando se sua moto em plena aproximação da primeira curva do circuito, ao notar que já não tinha como reduzir sua velocidade. Maverick caiu ao chão e rolou pelo asfalto, felizmente sem sofrer ferimentos, enquanto sua moto seguiu reto contra o guard-rail, batendo forte, e até pegando fogo após o impacto. O acidente ocasionou nova interrupção da corrida, a segunda nas provas disputadas na Áustria, até que a proteção fosse reparada, e a moto destruída de Viñalez fosse removida. A Yamaha, assim como outros times, vinham enfrentando problemas de freios na corrida anterior, de modo que a Brembo resolveu trazer novos materiais para todos utilizarem na segunda corrida, como forma de tentar sanar o problema. Só que, de acordo com as informações, Viñalez resolveu não usar o novo equipamento, preferindo correr com o freio antigo, mesmo correndo maiores riscos. Valentino Rossi, seu companheiro de equipe, assim como Fabio Quartararo e Franco Morbidelli, do time satélite SRT, usaram o novo equipamento, e mesmo assim, também tiveram problemas de frenagem na corrida. A Brembo se eximiu de responsabilidade por eventuais acidentes, caso os pilotos não seguissem suas recomendações de segurança, o que provocou críticas dos demais pilotos à postura de Viñalez, que afirmou que desde a quarta volta já sentia que estava perdendo a capacidade de frenagem. Para outros pilotos, como Alex Rins e Joan Mir, Viñalez acabou colocando a si mesmo e a outros pilotos em situação de perigo, caso o acidente tivesse ocorrido em outras circunstâncias, uma vez que já haviam várias voltas desde o início da manifestação do problema. Felizmente, mais uma vez, nada de mais grave aconteceu, mas os pilotos sabem que não podem contar sempre com a sorte, e que melhorias na segurança da pista precisam ser implementadas, para a MotoGP continuar correndo por lá. Veremos o que será feito a respeito...


E o assunto mais repercutido da MotoGP durante as corridas realizadas na Áustria foi a ausência de Marc Márquez, que está praticamente fora da disputa pelo título da atual temporada. A Honda, equipe do piloto, anunciou que o retorno da “Formiga Atômica” teve de ser adiada, visando uma recuperação total de Marc, que quebrou o braço direito após sofrer um acidente na primeira corrida do campeonato, em Jerez de La Fronteira. Márquez até tentou voltar na segunda corrida, mas ao ver que não teria condições de pilotar como gostaria, retirou-se da disputa. E pouco depois, a placa que tinha sido implantada em seu braço, para a recuperação da fratura, teria se rompido, devido a um esforço feito em casa, o que motivou a realização de nova cirurgia para tratar do problema, e a um período de afastamento mais longo necessário para sua recuperação, o que o tirou das etapas seguintes, até as provas disputadas em Zeltweg. Mas na Áustria, a Honda confirmou que a recuperação de seu piloto irá demorar mais tempo, cerca de dois meses, no mínimo, de modo que Marc retornaria apenas nas corridas finais, em novembro, e já sem condições de lutar pelo título. Para alguns, o piloto, ao se ver sem chances de vencer o campeonato, poderia retornar somente em 2021. Com isso, o sonho de um novo título fica adiado para o próximo ano. Apesar de lamentarem a ausência do hexacampeão, os torcedores aproveitam para cravar quem será o campeão da temporada atual então. Fabio Quartararo, apesar da má performance na Áustria, ainda lidera a competição com 70 pontos, mas Andrea Dovizioso vem bem perto em 2º lugar, com 67 pontos. Jack Miller é o 3º, com 56 pontos, seguido por Brad Binder, com 49 pontos; e Maverick Viñalez, com 48. Vice-campeão nos últimos anos, Andrea Dovizioso tem sua melhor chance de ser campeão, o que seria um duro golpe na Ducati, já que o piloto está fora dos planos do time italiano para 2021. Será que agora vai? Pelo que já fez nos últimos anos, sendo o melhor do resto do grid depois de Márquez, seria bem merecido ao piloto... Mas o mundo na velocidade muitas vezes nem sempre é justo, então, esperemos que Dovizioso consiga aproveitar a grande oportunidade que se apresenta para marcar o seu nome na MotoGp em definitivo...


A ausência de Marc Márquez revela o quanto o time oficial da Honda ficou dependente do piloto. Seu irmão Alex, que estreou este ano na classe rainha do motociclismo, não vem tendo um bom desempenho nas corridas até aqui, ocupando apenas a 15ª posição no campeonato, com 15 pontos. OK, Alex é novato na competição, e todo mundo já sabia que a moto da Honda é particularmente difícil de ser pilotada, bastando ver as dificuldades enfrentadas por Jorge Lorenzo no ano passado, e antes disso, os problemas que Dani Pedrosa tinha para acompanhar o ritmo de Marc Márquez. Tanto que, desse modo, devia se relevar a diferença de quase 1s4 no tempo do grid da primeira corrida em Jerez de La Fronteira entre a dupla de irmãos. Essa dificuldade no comportamento da moto da Honda já não é novidade, com outros pilotos que usam o equipamento, como Cal Crutchlow, a reclamarem deste tipo de problema, que torna o equipamento mais difícil de ser pilotado no seu extremo. Mas, com Marc Márquez, um fora de série, e um dos gênios com capacidade de se tornar o maior piloto da história da MotoGP de todos os tempos, dado o seu desempenho desde que estreou até aqui, a Honda se via no direito de ignorar as ressalvas e pedidos dos demais pilotos. Afinal, quem precisava deles, com a “Formiga Atômica” ganhando quase tudo? Só que, ficar assim tão dependente de seu piloto pode também ser um tiro pela culatra, e estamos falando de corridas de motos, onde o risco de acidentes é potencialmente mais perigoso do que nas corridas de monopostos, onde os pilotos contam com uma estrutura de proteção muito mais ampla se comparado com o de uma moto. A Honda, depois de vencer os últimos campeonatos com base nessa filosofia, agora paga o preço de sua aposta, mas ao menos, está fazendo o certo, ao deixar Marc Márquez de fora da competição, até que esteja plenamente recuperado. O piloto poderia se exceder tentando recuperar terreno no campeonato, e se expondo ainda mais a sofrer novos acidentes, que poderiam dificultar, ou até complicar ainda mais sua situação. Melhor voltar mais adiante, inteiro, e com melhores condições de competição.

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