sexta-feira, 28 de agosto de 2020

SOB NOVA DIREÇÃO


Confirmada a venda da equipe Williams, encerrando de vez uma época saudosa da história da Fórmula 1.
            Um dos assuntos mais discutidos no meio automobilístico na semana passada foi a venda da equipe Williams de F-1, momento que “encerrou” de vez a era dos “garagistas” na categoria máxima do automobilismo. Depois de anunciar que o time estaria à venda há alguns meses, eis que foi concluída a expectativa de Frank Williams e sua família despedirem-se da escuderia de competição. O time foi adquirido por um grupo chamado Dorilton Capital, um destes grupos de investimentos que existem por aí, e que a partir de agora é o proprietário de uma das mais emblemáticas escuderias da história da Fórmula 1.
            Até o presente momento, a Dorilton não fez maiores declarações a respeito da aquisição da escuderia de F-1. Apenas afirmou que respeitará a história e o legado da equipe, e que não tem planos de fazer nada drástico, que o time continuará sediado em Grove, na Inglaterra, e que estão ansiosos para começarem a trabalhar com o time. Obviamente, em muitas discussões, os fãs mostraram suas opiniões a respeito, tanto positivas quanto negativas a respeito do acontecimento. Para muitos, é a chance da Williams continuar existindo no futuro próximo, enquanto para outros, é o fim de uma era na F-1 que nunca mais voltará, lembrando dos tempos em que pessoas apaixonadas pela competição colocavam seus sonhos na pista para competirem.
            De fato, a situação da Williams era complicada. O time, vindo de uma gestão técnica e comercial equivocadas nas últimas temporadas, acabou no fundo do pelotão, muitas vezes fazendo apenas figuração no grid. Os bons momentos surgidos no início da era híbrida, em 2014, acabaram não sendo devidamente aproveitados, e muitos culpam Claire Williams pela falta de competência em gerir o time como a principal causa da decadência da escuderia, algo que é preciso lembrar, já vinha ocorrendo desde a segunda metade da década passada, após romperem com a BMW, de quem era o time oficial na F-1.
Fundada oficialmente em 1977, a Williams chegou a seu primeiro título em 1980, com o australiano Alan Jones.
            Com o valor recebido, a família Williams deixará quitadas as dívidas pendentes da escuderia, e a partir de então, a Dorilton passa a se encarregar da administração do time. Não foi mencionado se Claire Williams ou Frank ainda terão algum cargo na administração do time, mas para muitos, é a chance do velho Frank se aposentar com alguma dignidade, dando por encerrada sua bela história no automobilismo, iniciada lá ainda no final dos anos 1960, que culminaria com a fundação da equipe Williams propriamente dita em 1977. Um sonho que sofreu um grande abalo com o acidente que Frank sofreu no início de 1986, quando acabou confinado a uma cadeira de rodas, e a muitos meses de tratamento hospitalar, para voltar a gerenciar seu time em parceria com Patrick Head algum tempo depois, e seguir em frente, algo que só terminou no início desta década, com a aposentadoria de Head, e o comando da equipe passando para sua filha Claire.
            De fato, Williams era o último representante de uma era “romântica” da F-1, onde pessoas que tinham as corridas como grande paixão e objetivo de vida iam à luta para transformar seus sonhos em realidade. Com a evolução comercial da F-1 a partir dos anos 1980, tal feito foi ficando cada vez mais difícil de ser concretizado, até ser eliminado praticamente por completo no início dos anos 2000, frente aos gastos enormes necessários para se poder disputar a F-1. Atualmente, a categoria máxima do automobilismo só tem mais um único time que pertence ao seu fundador, a Hass, de propriedade de Gene Hass, dos Estados Unidos. Mas, como a Hass chegou à F-1 recentemente, este time não fez parte do período citado da história da categoria máxima do automobilismo mencionado.
Nélson Piquet chegou ao tricampeonato no time de Frank Williams, em 1987.
            E o que podemos esperar agora em relação à Williams? A Dorilton é um grupo de investimentos, que costuma escolher operações e empreendimentos, investir neles, recuperá-los, e em muitos casos, passa-los adiante. O momento da compra é oportuno para o grupo, pois devido à pandemia da Covid-19, para cortar custos, a temporada de 2021 da F-1 será disputada com os carros atuais, com poucas mudanças. Isso significa que, até o final do próximo ano, não devemos esperar nenhum milagre de recuperação da Williams em termos de performance na pista. A Dorilton poderá se ocupar, nos próximos meses, em entender o time, analisar as possibilidades, e verificar o que poderá fazer para dar um novo rumo à escuderia, tanto na área técnica quando na gerencial, visando a temporada de 2022, quando teremos um novo regulamento técnico, além do teto orçamentário, que entra em vigor já no próximo ano. O ponto positivo é que isso deve garantir a presença da escuderia no grid, depois dos percalços sofridos nestas últimas duas temporadas, que podiam colocar a própria existência da equipe em risco, e com isso, diminuir o grid para menos de 20 carros. E, com uma nova gestão, a possibilidade de recuperação na competição, algo que será preciso ter paciência, mesmo que em tese possamos esperar boas melhoras já em 2022, pela adoção das novas regras técnicas, se o grupo de engenheiros, atual, ou reforçado pelo novo proprietário, fizer bem o seu trabalho.
            Para muitos, mesmo continuando a existir, a Williams não será mais a Williams, que na prática se torna um outro time na competição, apenas mantendo o mesmo nome. Isso não deixa de ser um fato, mas a mudança de proprietário também não significa um rompimento total da história apresentada por uma escuderia. Afinal, hoje em dia, se formos considerar por este lado, nenhum time mais é o mesmo de quando surgiu na categoria máxima do automobilismo. Nem mesmo a mítica Ferrari, único time remanescente dos primórdios da F-1, uma vez que seu fundador, Enzo Ferrari, faleceu no já distante ano de 1988, e lembrando que, apesar dele continuar à frente da escuderia, já haviam alguns anos que a FIAT era de fato a dona da marca e fábrica sediada em Maranello, na Itália, tendo assumido a gestão total com o falecimento do comendador.
Sob o comando de Ron Dennis, seu novo proprietário em 1981, a McLaren se tornou um dos times mais vitoriosos da história da F-1.
            Outro exemplo é a McLaren. Fundada por Bruce McLaren nos anos 1960, o time seguiu em frente após a morte de seu fundador pelas mãos de Teddy Meyer, até 1980, quando a escuderia foi comprada por Ron Dennis, iniciando uma nova era em sua existência. E podemos citar também a Brabham, time fundado por Jack Brabham, que nos anos 1970, acabou comprado por um certo Bernie Ecclestone, antes que esse se tornasse o grande nome da gerência e administração comercial da F-1.
            Um detalhe importante destas mudanças de propriedade é quando o novo dono respeita a história precedente da equipe. A FIAT sempre manteve intacto o legado do nome Ferrari desde que assumiu a direção integral da marca, de modo que o histórico criado por Enzo Ferrari está preservado até hoje nos anais da F-1, apesar dos altos e baixos que o time viveu desde então. Da mesma maneira, Ron Dennis, mesmo tendo efetuado uma verdadeira revolução na McLaren, criando uma estrutura que em nada remetia ao time, nunca renegou a história do time, muito pelo contrário, o ampliou significativamente, ao propiciar os períodos mais vitoriosos que a escuderia já vivenciou desde que foi fundada. E mesmo Bernie Ecclestone, quando no comando da Brabham, apesar de alguns tropeços, manteve vivo o legado criado por Jack Brabham com alguma competência.
            Em teoria, é o que pode acontecer a partir de agora, com a Williams sob propriedade da Dorilton Capital. Isso dependerá, contudo, de como o grupo de investimentos se posicionará a respeito do time. Sabendo que pode não ser o mais competente para gerir o time, desde que saiba escolher pessoas capacitadas para o trabalho, as chances de manterem o legado da Williams vivo são boas. A FIAT soube fazer isso, e tanto Ron Dennis quanto Bernie Ecclestone, por serem pessoas presentes no universo da F-1, também souberam conduzir os times sob seu tacão. A esperança dos fãs da escuderia é que isso aconteça com a Williams.
Em 1997, o último título da escuderia, com Jacques Villeneuve.
            Não é uma preocupação descabida. A F-1 já viu casos de times que, sob nova direção, acabaram completamente desvirtuados, com bons e maus resultados. Mas o pior que pode acontecer é a perda da memória da escuderia, que embora já tivesse deixado de existir, sofre uma segunda “morte” com a extinção deste legado, uma vez que sua história praticamente se encerra. O desejo de muitos, e meu também, é que a Williams permaneça viva não apenas na história da F-1, como na competição atual, disputando ainda muitas temporadas adiante.
            É a torcida pela manutenção e preservação de um nome que já fez história na F-1, e que merece ser respeitado. Algo que não ocorreu com o time fundado por Eddie Jordan, que estreou na F-1 em 1991, e até competiu de forma decente, chegando a vencer algumas corridas em sua existência de pouco mais de uma década. Mas, quando o time foi vendido por Jordan, ele passou por vários donos desde então, e a cada mudança, sua história na F-1 também foi sendo mudada, e sem respeitar o legado que a escuderia havia construído. O time passou a se chamar, Midland, Spyker, até se estabilizar como Force India, onde teve até boas temporadas na categoria máxima do automobilismo, mas já sem remeter à sua origem como Jordan. Desde o ano passado, já com um novo dono, passou a se chamar Racing Point, e em 2021, assumirá o nome de Aston Martin, um nome até respeitável na indústria automobilística, mas sem a ligação afetiva com o histórico do time criado em 1991.
            Que o legado de Frank Williams escape deste destino inglório. Vida longa à Williams na F-1, em sua nova fase, e que possa voltar a brilhar como nos velhos tempos...


A F-1 finalizou o seu calendário da temporada de 2020, com a definição das últimas corridas que serão realizadas este ano. Boato que já vinha se arrastando nas últimas semanas, a Turquia está de volta ao campeonato, no belo circuito de Istambul. A pista do Bahrein também foi oficializada, com a realização de uma rodada dupla, a exemplo do que foi feito em Zeltweg e Silverstone. Como de costume, a pista de Abu Dhabi se manteve no calendário, e fechará a temporada. A direção da Liberty Media havia garantido as corridas até a prova de Ímola, que terá o nome de Grande Prêmio da Emília-Romana, ao invés de Grande Prêmio de San Marino, para o dia 1º de novrmbro. Duas semanas depois, no dia 15 de novembro, a F-1 voltará a acelerar o belo autódromo de Istambul, que estava ausente da categoria desde 2012. O circuito turco sempre foi elogiado pelos pilotos, que poderão rever suas curvas desafiadoras. E, fechando a temporada, a F-1 vai para o Oriente Médio, com duas provas no Bahrein, nos dias 29 de novembro e 6 de dezembro, com os Grandes Prêmios do Bahrein e de Sakhir, respectivamente. E, no dia 13 de dezembro, o Grande Prêmio de Abu Dhabi, fechando o campeonato. Teremos, então, um total de 17 corridas na temporada, número bastante satisfatório, diante dos desafios ocasionados pela pandemia da Covid-19. Já se informou que a corrida em Yas Marina deverá ser a portões fechados, em público, como tem ocorrido nas etapas disputadas até agora na Europa. Com relação às corridas em Sakhir, as duas corridas utilizarão traçados diferentes do autódromo barenita, como forma de diferenciar ainda mais as duas provas, onde uma delas irá utilizar o traçado “externo” da pista, que deixará esta prova com um traçado parecido com um oval, mas com bons trechos de retas, que certamente irão exigir bastante dos motores dos carros.


Hoje a F-1 inicia os treinos para o Grande Prêmio da Bélgica, em Spa-Francorchamps, iniciando outro período de três semanas consecutivas de corridas. Na semana que vem, teremos o Grande Prêmio da Itália, em Monza, e daqui a duas semanas, uma corrida inédita, na pista de Mugello, ainda na Itália, no dia 13 de setembro. Outra maratona que será feita apenas no novo final da temporada, no Oriente Médio. No balanço geral, não ficou de todo ruim. Se é verdade que algumas pistas ainda poderiam ter feito parte da competição, de modo que talvez não fosse preciso realizar rodadas duplas em algumas pistas, por outro lado os fãs comemoram o retorno e estréia de alguns circuitos que faziam por merecer sua chance de sediarem corridas da F-1. O belo circuito da Turquia é lembrado pelos pilotos que tiveram chance de correr por lá, coisa rara nas pistas projetadas por Hermann Tilke. Mugello, na Itália, merecia sua chance de ter um GP, assim como Portimão, no Algarve. E é muito bom vermos Ímola e Nurburgring retornarem à competição, ainda que de forma excepcional. Com o panorama mundial ainda incerto para o ano que vem, a probabilidade destas pistas se manterem como sedes de GPs de F-1 vai depender de como a pandemia estará ou não controlada. Um retorno concreto à normalidade significará provavelmente o retorno das provas inicialmente programas no calendário de 2020. Já um horizonte ainda muito afetado pela Covid-19 certamente continuará demandando decisões diferentes, e quem sabe, até recorrendo mais uma vez aos circuitos utilizados neste ano. Quanto a isso, só podemos mesmo esperar para ver o que irá acontecer, mas sempre torcendo pelo melhor desfecho possível para esse momento complicado que o mundo atravessa atualmente...


Depois de realizar as 500 Milhas de Indianápolis no domingo passado, a Indycar retoma os trabalhos hoje no circuito oval de Gateway, em uma rodada dupla, com provas amanhã, sábado, e domingo. Para Tony Kanaan, é a “despedida”, pelo menos por enquanto, da categoria, pois não há mais corridas em pistas ovais programadas para a temporada deste ano. O piloto brasileiro, entretanto, já demonstra vontade de continuar competindo, pelo menos no ano que vem, e fazer uma despedida com público, já que o seu adeus programado neste ano infelizmente foi prejudicado pela pandemia da Covid-19, que afastou os torcedores das provas, inclusive em Indianápolis, que precisou realizar as 500 milhas com portões fechados, devido ao aumento do número de casos e mortes nos Estados Unidos. Kanaan, contudo, esclarece que, apesar da vontade de tentar uma nova despedida em 2021, precisará trabalhar nisso, já que, após a corrida de domingo, na prática ele estará sem time e sem patrocínio dali em diante. Será preciso encontrar um lugar para correr, bem como arrumar patrocinador para isso. Campeão em 2004, Tony ainda mostra muita disposição e velocidade, e tem todo o direito de fazer uma despedida mais digna da categoria onde correu por tantos anos. Mas precisa arrumar um time mais decente para fazer isso, porque a Foyt, convenhamos, só ajudou a “enterrar” sua carreira na competição, com carros pouco competitivos. As provas serão transmitidas ao vivo a partir das 16:45 tanto no sábado quanto no domingo, pelo canal pago Bandsports, e pelo serviço de streaming DAZN.

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