quarta-feira, 9 de setembro de 2020

A TRAJETÓRIA DOS CIRCUITOS DA F-1 – PHOENIX


            Voltando a trazer mais um texto sobre as pistas que sediaram provas na história da Fórmula 1, depois de dissertar sobre o circuito de rua de Detroit, cidade que teve o privilégio de sediar sete provas de um Grande Prêmio de F-1, nos anos 1980, hoje vamos falar um pouco sobre a pista que substituiu a capital do automóvel como sede do GP dos Estados Unidos, no final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Foi mais um circuito de rua que, apesar de não ter sido detestado como Detroit, infelizmente também não durou muito tempo no calendário da F-1. Confiram no texto abaixo, e boa leitura para todos...

PHOENIX

            Dando seguimento à trajetória complicada dos circuitos da história da Fórmula 1 nos Estados Unidos, é hora de abordar a pista da cidade de Phoenix, capital do Estado do Arizona, que teve o privilégio de sediar o Grande Prêmio dos Estados Unidos por três oportunidades, entre as temporadas de 1989 e 1991. Já havia dissertado a respeito do circuito urbano de Detroit, que sediou a prova estadunidense em várias oportunidades na década de 1980, mas o descontentamento de equipes e pilotos com a pista vinha crescendo a cada edição, e todos ansiavam por um novo palco para a corrida em terras do Tio Sam. Detroit, contudo, seguia firme em termos contratuais para manter a sua corrida, que em tese estaria garantida até 1991.
            Mas, antes disso, em 1986, Guy Gonyea, ex-piloto de corridas e empresário, iniciara entendimentos com o então prefeito de Phoenix, Terry Goddard, sobre a possibilidade da cidade sediar uma etapa do Campeonato Mundial de Fórmula 1 da FIA, a fim de aumentar a visibilidade mundial da cidade como um importante destino turístico. Com o apoio de Goddard e de autoridades municipais, Gonyea conduziu então um extenso estudo de viabilidade, obtendo o apoio de várias organizações empresariais da cidade. Garantido o apoio à sua idéia de realização do GP, Guy Gonyea iniciou então as negociações para levar a F-1 para o Estado do Arizona, idéia que deixou Bernie Ecclestone interessado, diante das críticas crescentes que a pista de Detroit vinha recebendo.
            Novas reuniões foram sendo feitas, mas com Detroit ainda possuindo um contrato de realização do GP em ordem, tudo o que Phoenix poderia fazer era esperar. Contudo, após a corrida de 1988 na capital do automóvel, a cidade de Detroit recusou-se a investir na melhoria da infraestrutura de suporte ao Grande Prêmio de F-1, visando sanar parte das críticas recebidas. Com tratativas de tentar realocar a prova de F-1 no Belle Isle Park não tendo obtido resultados, Detroit resolveu substituir a prova de F-1 pela F-Indy, e então Phoenix entrou no mapa da FIA e da então FOCA, como novo palco para o GP de F-1 dos Estados Unidos.
            Iniciou-se uma corrida contra o tempo para providenciar as condições necessárias para permitir a realização de um Grande Prêmio de F-1 em um circuito urbano na capital do Arizona, tendo sido assinado um contrato prevendo a realização da prova por cinco anos, em janeiro de 1989. Com o calendário já confirmado, Phoenix literalmente “herdou” a data que seria da realização do GP em Detroit, marcado para o dia 4 de junho de 1989, de modo que a cidade teve apenas cerca de quatro meses para preparar-se para receber os carros da F-1. Foi projetado um circuito de 3,798 Km de extensão, com cerca de 15 curvas, a imensa maioria todas em 90º, já que foram montadas nas ruas do centro da cidade. Foi necessário providenciar um recape de todas estas ruas, bem como construir arquibancadas, garagens e boxes para as escuderias utilizarem.
          Apesar dos receios quanto à temperatura da cidade em pleno mês de junho, a corrida se manteve firme na data que havia herdado, e equipes e pilotos, depois de finalmente darem adeus ao “pesadelo” da pista de Detroit, encontraram outros problemas na capital do Arizona, começando justamente pelo calor forte do deserto que ronda a cidade. E isso acabou resultando em uma corrida cheia de abandonos, inclusive do pole-position, Ayrton Senna, que havia marcado a primeira pole do circuito com o tempo de 1min30s108, com McLaren MP4/5 Honda. O brasileiro ainda faria a melhor volta da prova antes de abandonar, com o tempo de 1min33s969. A vitória acabou com seu companheiro de equipe Alain Prost, com Riccardo Patrese, da Williams/Renault em 2º lugar, e um incrível Eddie Cheever, da Arrows/Cosworth-Mader a fechar o pódio em 3º lugar, lembrando que Eddie nasceu justamente em Phoenix.
            No ano seguinte, a Fórmula 1 decidiu não correr o erro de voltar a Phoenix no mês de junho. Desta vez, a corrida dos Estados Unidos iria abrir a temporada de 1990, disputando o GP no mês de março, em temperaturas bem mais amenas. Deu certo, desta vez com 14 carros a terminarem a prova. Gerhard Berger, com McLaren MP4/5B Honda, largou na pole-position, com o tempo de 1min28s664, com o austríaco também fazendo a melhor volta da corrida em 1min31s050. A corrida foi marcada pelo duelo entre Ayrton Senna, da McLaren/Honda, com Jean Alesi, da Tyrrel/Cosworth, com o intrépido francês surpreendendo a todos ao liderar a corrida com autoridade, e dar trabalho a Senna na luta pelo liderança da corrida. Mas Senna venceu a parada, com Alesi terminando em 2º lugar. Thierry Boutsen, da Williams/Renault, fechou o pódio naquela ocasião.
            Em 1991, o circuito sofreu algumas modificações, com o objetivo de tentar facilitar as ultrapassagens, dilema frequente em se tratando de pistas de rua. Embora mantivesse o mesmo número de curvas, a extensão foi reduzida para 3,721 Km, o que fez com que o número de voltas do GP, de 72, passasse para 81. As modificações foram infrutíferas, já que tornaram o trecho de reta da Washington Street mais curto, apesar de criarem um trecho teoricamente mais favorável à disputa de posições. O circuito, claro, ficou mais rápido, como se comprovou na pole de Ayrton Senna, com McLaren/Honda, marcando o tempo de 1min21s434. A volta mais rápida da prova acabou com Jean Alesi, agora defendendo a Ferrari, com o tempo de 1min26s758. Curiosamente, todos os pilotos que marcaram as melhores voltas em cada edição da corrida de Phoenix não terminou a prova. O pódio foi composto só de campeões mundiais: Ayrton Senna venceu a corrida liderando de ponta a ponta, com Alain Prost, da Ferrari, em 2º lugar; e Nélson Piquet, com Benetton/Ford, fechando o pódio.
           Parecia que, apesar dos pesares, Phoenix se manteria firme no calendário da competição, apesar de parte dos moradores locais onde era montado o circuito não gostar a realização do GP de F-1. Mas, no segundo semestre de 1991, Bernie Ecclestone comunicou aos organizadores que a cidade estava fora do calendário de 1992. O motivo do cancelamento da corrida era que Ecclestone queria incluir o Grande Prêmio da África do Sul na temporada de 1992, e que esta corrida oferecia melhores condições de realização, uma vez que em Phoenix, o público do GP era baixo, e a cidade teria dificuldades de aumentar a capacidade de arquibancadas. Basicamente, com o fim do apartheid na país sul-africano, Bernie não perdeu tempo em reagendar a corrida que existia até meados dos anos 1980, quando acabou sendo retirada do calendário pela pressão contra o regime racista do apartheid. Era uma oportunidade muito mais atrativa para Ecclestone do que manter a corrida de Phoenix, de modo que ele não pensou duas vezes em cancelar o GP, até pagando a rescisão do contrato de realização da corrida na capital do Arizona, que nunca mais veria os F-1 desde então.
            Ecclestone, contudo, caiu do cavalo: Embora a F-1 tenha corrido em 1992 e 1993 na África do Sul, neste ano o circuito de Kyalami, que sediava o GP, mudou de dono, e os novos proprietários decidiram que a realização do GP de F-1 era cara demais, de modo que a África do Sul jamais retornou ao calendário. Tivesse permanecido em Phoenix, talvez a cidade continuasse sediando o GP dos Estados Unidos por mais algum tempo, mas o que Ecclestone conseguiu foi deixar os Estados Unidos de fora da F-1 por quase uma década, até o país voltar ao calendário no ano 2000, agora em um circuito misto construído dentro do traçado oval do Indianapolis Motor Speedway, mas isso é história para um outro dia...

Primeira largada da primeira corrida da F-1 em Phoenix, em 1989 (acima). O forte calor castigou carros e pilotos naquele dia, e apenas seis pilotos terminaram a corrida. No ano seguinte, Ayrton Senna e Jean Alesi deram show na pista (abaixo), lutando pela vitória.



Em 1991, Phoenix sediaria seu último GP de F-1, e o pódio contou com Ayrton Senna, o vencedor, ao lado de Alain Prost (2º colocado) e Nélson Piquet (3º lugar).

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