sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

MOTOGP OFF 2020

Depois de perder a Indy, fãs do esporte a motor ficam também sem a MotoGP na TV brasileira em 2020.

            Quando falam daquele ditado que diz que tudo o que está ruim sempre pode piorar, podemos dizer que 2020 começou um pouco nesta toada. Não bastasse os fãs do esporte a motor nacional ficarem órfãos da transmissão da Indycar na TV brasileira, depois de algumas décadas com transmissão das corridas, agora o impacto vem na notícia, divulgada na semana passada, de que o SporTV simplesmente “rifou” o campeonato da MotoGP de sua programação para este ano. E com efeitos praticamente imediatos, com a consequente demissão de Guto Nejaim e Fausto Macieira, respectivamente narrador e comentarista das provas da classe rainha do motociclismo e suas categorias de acesso, a Moto2 e a Moto3.
            Fausto Macieira já estava no SporTV desde a segunda metade dos anos 1990, e Guto Nejaim acumulava 17 anos de serviços no canal esportivo. Muita estrada na emissora, mas para uma empresa que demitiu Reginaldo Leme no ano passado, que já tinha mais de 40 anos de casa, parece não ser nada demais, exceto para os fãs da velocidade, que ainda viam no canal esportivo por assinatura do Grupo Globo uma esperança de respeito aos fãs das competições do esporte a motor. Mas, se lembrarmos bem, vamos lembrar da demissão de Lito Cavalcanti, que tinha também mais de vinte anos de trabalhos no canal. Além da perda de profissionais capacitados e que entendiam do riscado, o prejuízo maior fica para os fãs do esporte, que agora perdem mais um campeonato na TV brasileira, em especial um que vinha mostrando corridas muito disputadas, mesmo com a hegemonia perpetrada pelo espanhol Marc Márquez, da Honda, que no ano passado conquistou seu hexacampeonato, praticamente sem rivais na disputa pelo título.
            Guto Nejaim e Fausto Macieira confirmaram as demissões, e ficaram até surpresos com a decisão do Grupo Globo de não renovar o contrato de transmissão da MotoGP, ainda mais pelos índices de audiência das corridas, que nos últimos anos sempre foi exibida apenas pelos canais pagos do SporTV, serem sólidos, e terem tido até um aumento recentemente. Não é difícil imaginar o motivo, com muitas corridas com disputas roda a roda, e vitórias sendo decididas na última curva, não há como negar que a MotoGP tem feito o público levantar nas arquibancadas, nos autódromos, e nos sofás, pelos telespectadores. Quem reclamava da mesmice da F-1 tinha nas corridas da MotoGP um prato cheio para emoções fortes e grandes pegas.
            E tanto a transmissão tinha audiência que a dupla de transmissão atuava junta há praticamente 10 anos, sendo que antes disso Macieira fazia companhia a Sergio Mauricio. De início transmitindo apenas a classe rainha, desde 2012 a transmissão englobava também as categorias de acesso da MotoGP, a Moto2 e a Moto3, inclusive com a transmissão dos treinos livres e classificatórios. Com transmissões de estúdio, em alguns momentos, contudo, o SporTv fez as transmissões dos circuitos, in loco, o que demonstrava que o campeonato estava dando retorno à emissora. Um retorno que, segundo levantamentos recentes, estava longe de ser ruim, o que significa que dava lucro. A ponto de tanto Macieira quanto Nejaim terem ficado incrédulos com a não renovação da transmissão das provas por parte do SporTV.
Há dez anos juntos transmitindo as provas de motociclismo, Guto Nejaim e Fausto Macieira também foram demitidos do SporTV, com a não renovação do contrato de transmissão.
            A dupla, aliás, mostrava fôlego nas transmissões, e alguns maneirismos à parte, naturais no estilo de todo profissional narrador e comentarista, aguentavam o tranco, e traziam para o telespectador todas as informações pertinentes da categoria nos fins de semana de corridas, apresentando os treinos e as provas, ficando no ar de forma ininterrupta até acabar toda a programação do dia, que geralmente começava pelas atividades da Moto3, passando pela Moto2, e finalizando, óbvio, com a classe rainha, a MotoGP. E com corridas empolgantes, eles tratavam de deixar o telespectador empolgado com o que via nas pistas das competições.
            Se apesar do cancelamento da Indycar os fãs ainda possuem a opção de tentar acompanhar o certame de monopostos dos Estados Unidos pelo serviço de streaming DAZN, que fará a transmissão da categoria com opção em português no Brasil, por enquanto não temos nenhuma opção da MotoGP por aqui. A categoria de moto tem o seu serviço de streaming, o Videopass, mas sem opções em nosso idioma. Há esperança de algum canal assumir a transmissão, mas assim como já foi questionado em relação à Indycar, é quem teria interesse em fazer a transmissão, seja em canal aberto ou fechado. As maiores esperanças, obviamente, recaem no Fox Sports, mas o canal, que já tem as competições da Nascar, Formula-E, com espaços para o WEC e IMSA, teria espaço para as disputas de motos? A ESPN até poderia ter chance, mas o canal despejou o Mundial de Superbike de sua grade de programação há pouco tempo atrás, o que ajuda a dar um certo banho de água fria nas expectativas dos fãs da velocidade.
            Na internet, muitos fãs demonstraram sua revolta com a falta de respeito do SporTv para com os fãs do esporte. É compreensível a ira dos torcedores. Mas se o canal não quer exibir algum campeonato, ele tem todo o direito de não fazê-lo, como uma empresa privada que é. E logicamente que arque com as consequências de sua decisão. Apesar dos comentários defendendo o canal ao alegar que se foi feito corte da MotoGP seria pela transmissão não compensar, com o SporTV se concentrando em transmissões mais rentáveis, por outro lado, perde credibilidade junto a um público especializado, que se vê cada vez mais sendo preterido nos canais esportivos, que por sua vez, estariam ficando cada vez mais voltados unicamente para o futebol, preferindo transmitir até partidas de várzea a algum evento mais relevante, como sugerido pelo jornalista Rodrigo Mattar, do SporTV, o que infelizmente não deixa de ser uma triste verdade.
            Enquanto lá fora vemos coberturas que entregam ao fã o que ele quer ver, aqui no Brasil os fãs da velocidade estão tendo cada vez mais seus esportes de competições perderem espaço, obrigando-os a acompanharem os certames por meios “alternativos”. E decisões como as do SporTV e da Bandeirantes só ajudam a criar mais antipatia do público por estes canais, uma vez que as decisões parecem carregar um viés muito mais inconsequente do que lógico. As justificativas são pasteurizadas, sem nenhuma informação mais particular, procurando oferecer uma satisfação ao público que durante anos deu audiência para o canal, e acompanhou suas transmissões com afinco. Como que numa vingança às vezes por críticas de seu modo de transmitir, como no caso da Bandeirantes, que há anos maltratava a Indycar em sua grade, fosse no canal aberto ou no canal por assinatura, preferem então tirar os campeonatos do ar, ao invés de tentar melhorar a transmissão do mesmo.
 
Com muitas disputas acirradas, e vitórias sendo decididas algumas vezes na última curva da última volta, MotoGP tinha corridas empolgantes para fã nenhum botar defeito.
          
Mas, e quando a competição em si já era boa, e a audiência vinha muito bem? Aí, não tem mesmo como achar isso uma boa decisão. Negócios à parte, os fãs do esporte a motor, que já tem suas críticas pelo modo como a Globo decaiu na qualidade de suas transmissões da F-1, simplesmente aproveitam a deixa para malhar ainda mais a emissora, e com razão. Ainda mais em uma categoria que já tinha formado um público fiel e grande ao longo dos vários anos em que o certame vinha sendo transmitido única e exclusivamente pelos canais por assinatura. Falta de audiência certamente não foi o motivo determinante para o cancelamento da transmissão, com a não renovação do contrato com a Dorna, entidade que gerencia a MotoGP.
            E quanto aos fãs, como ficar sem as provas do campeonato mundial de motovelocidade? Acompanhar os pegas de feras como Valentino Rossi, Andrea Dovizioso, Alex Rins, Maverick Viñalez & cia., defendendo seus times, a Honda, a Yamaha, Ducati, Suzuki, e todas as outras escuderias, passando por pistas que os fãs já conheciam de longa data, como Sachsenring, Jerez, Mugello, Assen, Le Mans, Valência, entre muitos outros. E Marc Máquez conseguirá colecionar mais um título este ano, como fez nas últimas temporadas? Valentino Rossi, grande nome da MotoGP, estará fazendo sua última temporada? E Yamaha e Ducati voltarão a entrar firmes na luta pelo título, com uma Suzuki que promete encostar mais nos ponteiros? E como ficará a convivência de Marc Márquez na Honda tendo seu irmão caçula Alex como companheiro de equipe? E como ficará o campeonato com o maior número de provas da MotoGP, com 20 corridas neste ano?
            A temporada 2020 tem muitas perguntas, e por enquanto nenhuma resposta. E muitos se perguntam se Márquez, que fez uma cirurgia no ombro direito em novembro, para tratar de ferimento ocasionado por uma queda na pista de Sepang e depois em Jerez, estará plenamente recuperado para os primeiros testes da pré-temporada, programados para 7 a 9 de fevereiro, na pista da Malásia. Outra questão é como ficará a situação de Andrea Iannone, pego em um exame antidoping que deu positivo para uma substância anabolizante, e que terá de enfrentar uma audiência no Tribunal Disciplinar Internacional da FIM, na Suíça, no dia 4 de fevereiro, em um processo onde o piloto pode levar um gancho de 4 anos das competições esportivas, se não conseguir provar inocência ao alegar que provavelmente ingeriu a substância proibida ao consumir alimentos contaminados por ela.
            Haverá muita emoção, dentro e fora da pista. E os fãs nacionais ficarão, até algum fato novo surgir a respeito, sem ter como assistir a tudo isso, pelo menos, como estavam acostumados a fazer nos últimos tempos. Tomara que o percalço seja temporário, e logo possamos ter uma alternativa válida para que se possa assistir às corridas no Brasil, e os fãs possam desfrutar dos pegas e disputas que só a MotoGP tem conseguido proporcionar em tempos recentes. É preciso ter esperança, apesar dos sinais preocupantes que vemos por parte de nossas emissoras de TV, onde proliferam cada vez mais programas de qualidade pra lá de duvidosa, que tiram qualquer prazer que se possa ter de assistir algo na TV nacional. Ficarmos presos ao monopólio do futebol também não é nem um pouco agradável. Tem e deve existir espaço para todos, algo que com um bom gerenciamento sempre se consegue. O problema é que aqui é Brasil, e mostrar competência neste país ultimamente tem sido muito complicado, com pessoas cada vez mais ineptas e inconsequentes dando as cartas, em um alcance cada vez maior.
            Que 2020 ainda possa ser um ano digno para os fãs nacionais do esporte a motor, apesar dos pesares...


Sinal vermelho em Maranello para a temporada 2020 da Fórmula 1? Notícias divulgadas esta semana dariam conta de que o novo modelo da Ferrari para a nova temporada da F-1 teria apresentado resultados tremendamente ruins nas simulações do túnel de vento, dando a entender que o novo chassi 671 (que deverá ser o nome do novo modelo 2020) estaria com um problema de aerodinâmica que pode ser bem grave. A se confirmar o fato, o time rosso poderia ver cair por terra suas expectativas de disputar o título este ano, pois o defeito poderia exigir refazer toda a concepção aerodinâmica do novo modelo, o que poderá comprometer talvez boa parte da temporada da competição, ou na pior das possibilidades, ter até de construir um novo carro, com a temporada em andamento. Depois de produzir modelos que se mostraram competitivos em 2017 e 2018, a Ferrari teve percalços para exibir a mesma performance competitiva no ano passado, tendo sofrido durante a maior parte da primeira metade da temporada para conseguir enfrentar os tradicionais rivais da Mercedes, e até mesmo da Red Bull, em algumas pistas. As expectativas para este ano eram bem mais otimistas, acreditando-se que o corpo técnico ferrarista saberia evitar os problemas que acabaram comprometendo parte do excelente desempenho exibido na pré-temporada, quando os carros vermelhos deram a impressão de que seriam os bólidos a serem batidos na competição, o que não ocorreu. Só em parte da segunda metade da temporada a Ferrari conseguiu reagir, e mesmo assim, ficou no ar a dúvida de que o time teria conseguido recuperar sua performance devido a um recurso ilegal na medição do consumo de combustível, algo que não ficou provado de maneira clara, mas que parece ter contribuído para nova queda da performance dos carros vermelhos nas etapas finais da temporada. Mas agora, surgir um problema desta natureza, antes mesmo dos primeiros testes da pré-temporada, pode ser algo realmente desastroso para a Ferrari, indicando que seu grupo técnico cometeu erro ainda mais crasso no projeto do novo modelo 2020. E não é preciso pensar muito para imaginar as consequências que isso pode acarretar, caso o time vermelho fique de fora da disputa pelo título, há muito esperado pela cúpula ferrarista, e pelos tiffosi. Mattia Binotto, diretor da escuderia desde o ano passado, já enfrentou críticas pelo modo como a Ferrari gerenciou seus pilotos em 2019, e teria um verdadeiro abacaxi para descascar novamente se o desempenho do time ficar comprometido por este problema técnico detectado no túnel de vento. Pode ser preciso esperar até a primeira sessão coletiva de testes em Barcelona, em fevereiro, para se confirmar exatamente o quanto isso poderá comprometer ou não a performance de sua dupla de pilotos, e o que será necessário fazer no caso do pior cenário se materializar. Se em tempos de bonança a Ferrari já é um time onde o ambiente é tenso e carregado, em tempos mais difíceis então...
 
Problema apresentado no novo carro 2020 pode frustrar esperanças da Ferrari de lutar pelo título da F-1 este ano, e deixar sua dupla de pilotos bem insatisfeita.

E olhe que a Ferrari esteve no centro das atenções recentes do pessoal que acompanha a Fórmula 1, diante dos boatos de que Lewis Hamilton poderia trocar a Mercedes para vir para Maranello em 2021, acompanhado até de Toto Wolf, que poderia deixar sua posição de chefe no time alemão para assumir o mesmo posto na escuderia italiana. Mas os italianos resolveram encerrar a questão, apostando em sua nova estrela, Charles LeClerc, que teve seu contrato renovado pelos próximos cinco anos, mostrando que o piloto inglês hexacampeão não está em seus planos. Se o ano do time rosso acabar comprometido por este erro potencial do projeto do novo carro, LeClerc vai começar a aprender de fato o que é competir pelo time de Maranello, que muitas vezes é um verdadeiro caldeirão de pressão, que ameaça esmagar pilotos, dirigentes, e funcionários, estando na mira da inquieta imprensa e torcida italianas. No ano passado, apesar dos percalços vividos, Charles não pode reclamar do que conseguiu no campeonato, por ter sido o seu primeiro ano em um time de ponta, após sua temporada de estréia na modesta Alfa Romeo. Mas agora, a lua de mel acabou, e o piloto será cobrado mais do que nunca e sem tolerância para errar, mas também dependerá do ambiente interno do time, e da competitividade de seu carro, coisas que pode ver faltar, se o clima ficar conturbado em Maranello. LeClerc que se prepare... E Sebastian Vettel, que já tem sua vida na Ferrari complicada, que fique de sobreaviso ainda mais... O ano promete, mas talvez não no bom sentido...

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