quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

ARQUIVO PISTA & BOX – JANEIRO DE 1999 – 22.01.1999


            E aqui estou eu com mais uma antiga coluna, esta publicada no dia 22 de janeiro de 1999. O assunto do texto principal, curiosamente, era sobre a possibilidade de expansão do calendário da Fórmula 1 para 20 corridas por temporada, e os prós e contras que isso debandava na época. Foi algo que virou realidade muitos anos depois, e com alguns efeitos colaterais que fizeram a F-1 mudar seu modus operandi, com a extinção quase total dos testes das equipes, em especial concentrados agora em pré-temporadas ridicularmente pequenas. Algo que não se concretizou foi a velocidade de desenvolvimento dos carros, agora concentradas nos simuladores que todas as fábricas possuem em suas sedes, com pilotos contratados especialmente para isso, que de certa forma tirou a graça de quem gostava de ver os carros sendo desenvolvidos na pista, e não numa tela de computador, uma vez que isso é feito a portas fechadas, e o público não tem como acompanhar, como acontecia nos velhos testes, onde os torcedores acompanhavam as atividades nas arquibancadas em certas sessões, torcendo pelos times e pilotos. China e Rússia viriam a integrar o calendário com mais provas algumas temporadas depois, mas Portugal está há praticamente 25 anos longe da F-1, e parece que não voltará tão cedo à competição, em vista da demanda hoje por pistas com superestruturas. Ou a menos que apareça um piloto português fenomenal que atraia o interesse do país em ter um GP, como ocorre com a Holanda, que volta ao calendário da competição após 34 anos de ausência, graças a Max Verstappen.
            De quebra, alguns tópicos rápidos sobre alguns outros acontecimentos na semana, com alguns comentários. Uma boa leitura para todos então, e em breve trago mais textos antigos por aqui...



EXPANSÃO DE CAMPEONATO

            Max Mosley tem grandes planos para o calendário da Fórmula 1. E a maior jogada do dirigente da Federação Internacional de Automobilismo é estabelecer, junto com Bernie Ecclestone, o chefão comercial da categoria, um calendário com 20 GPs já para o ano 2000. Para os torcedores e aficcionados por corridas e pela F-1, vai ser uma maravilha; já para os times que competem, nem tanto assim.
            O fato das escuderias não gostarem tanto da idéia é que, segundo elas, isso vai tornar o campeonato excessivamente longo e desgastante, além de aumentar ainda mais os custos da competição. De certa forma, eles têm razão, mas não toda.
            A idéia de Mosley é reduzir os testes realizados pelas escuderias. Só para se ter uma idéia, os grandes times rodam em testes durante o ano mais do que o dobro de quilometragem que rodam durante todos os fins de semana de GPs. Com a nova limitação dos testes particulares das equipes de no máximo 50 dias por ano, as escuderias terão tempo livre que poderá ser usado para correrem mais GPs. O próprio calendário deve ser reconfigurado. Em 1998, tivemos um mês inteiro entre o GP de Luxemburgo e o GP do Japão. Com 20 provas, o campeonato possivelmente ainda começará em março, e se estenderá durante todo o ano até meados de novembro. Tomando como base, seria realizado uma corrida a cada duas semanas.
            Mas esse cálculo seria apenas uma média. Tomando como exemplo o calendário da F-CART, que já chegou a colocar 4 provas em fins de semana consecutivos, nada impede que o calendário da F-1 coloque 2 provas em duas semanas. Até recentemente, os GPs da França e da Inglaterra eram disputados em fins de semana consecutivos. A pequena distância entre estes dois países e seus circuitos permite isso. O mesmo vale para algumas outras provas européias, onde poderiam ser disputadas mais corridas por mês. É claro que é preciso cuidado nesse critério, pois há vários interesses em jogo, e também não se pode causar uma overdose de corridas para o torcedor.
            Candidatos não faltam para as novas vagas que seriam abertas com um calendário de 20 provas. A China já é candidata certa a ter o seu GP. Só não realizará este ano em virtude de problemas operacionais em Zuhai. Os EUA deverão estar de volta ao calendário, com uma pista mista que será construída dentro de Indianápolis. Para as vagas restantes, ainda tem muitos candidatos. Portugal, por exemplo, quer reconquistar o seu GP. E até mesmo a Rússia quer uma corrida, apesar das turbulências econômicas vividas atualmente pela ex-União Soviética, que provavelmente seria realizada em São Petesburgo.
            Tantos GPs, com menos espaço para testes, poderia ajudar também a reduzir, teoricamente, os custos das escuderias de F-1. E a aumentar a competitividade, reduzindo a escalada desenfreada de performance. Não é novidade que, atualmente, os carros que iniciam a prova de estréia de um campeonato são muito diferentes dos carros que encerram a temporada, no fim do ano. Durante o campeonato, são implementados tantos avanços e modificações nos bólidos que só não são carros totalmente diferentes porque o chassi basicamente ainda é o mesmo, mas já houve casos de escuderias que utilizaram mais de um modelo de chassi diferente por temporada em anos recentes. A falta de testes contribuirá para brecar um pouco esta evolução, e teoricamente, reduzir os custos neste sentido.
            Dentre as possibilidades do novo campeonato, é cogitada a eliminação das atividades de sexta-feira, reduzindo-se o fim de semana oficialmente ao sábado e domingo. Mas, com boa redução dos testes, é provável que os treinos livres da sexta-feira sejam mantidos, onde os times possam realizar uma espécie de sessão de minitestes. Seria uma boa compensação, especialmente se puderem deixar livre o uso da pista, aplicando as limitações de pneus apenas ao sábado e domingo.
            Aliás, com relação aos testes, com a ampliação do calendário a este número de 20, eles deverão ficar bem escassos, em se tratando dos treinos particulares. No caso dos testes coletivos, bancados por FIA e FOA, como já são poucos, não deverão ser afetados pelo aumento de corridas. Teoricamente, é possível que sejam programados 1 ou 2 sessões mensais, de acordo com as provas em disputa no mês em questão. Um fim de semana de GP envolve, no mínimo, 5 dias de trabalho. Com um intervalo de duas semanas entre os GPs, poderia haver sessões coletivas de 2 ou 3 dias. Na CART, há casos de testes coletivos de até 1 dia apenas entre algumas corridas.
            São várias as possibilidades que se criam com este calendário mais extenso. Muitos ganham. Os torcedores, em mais disputa e competição, vendo mais GPs; os patrocinadores ganham mais tempo e espaço na mídia (e são eles que mantém a F-1), embora isso possa custar mais caro também. Só resta esperar para que os interesses das escuderias não acabem criando conflitos desnecessários com esta idéia. Vamos ver o que o futuro reserva para o ano 2000.


A partir de amanhã teremos o primeiro confronto dos novos modelos 99 da F-1 em testes este ano, na pista de Jerez de La Fronteira. No caso, as equipes dos pilotos brasileiros estarão na pista. BAR, Stewart e Sauber acionarão seus pilotos tupiniquins para o primeiro teste sério de seus novos carros 99. Uma boa oportunidade para conferir, entre eles, quem poderá ter as melhores possibilidades no mundial deste ano, preliminarmente.


Os tempos obtidos por Jacques Villeneuve em Barcelona, quando chegou a superar Alessandro Zanardi, com a Williams, impressionaram, mas é preciso considerar que o italiano estava usando o velho FW20 do ano passado. É preciso ver como será o desempenho dos outros modelos de 1999 para se verificar o real potencial do carro da BAR. Apesar dos planos ambiciosos da escuderia, é preciso manter os pés no chão.


Chegou ao fim mais uma edição do mais perigoso rali do mundo, o Dakar. E é observando uma prova dessas, onde tudo conta pontos para a vitória ou derrota, que se pode observar que, mesmo com toda a tecnologia disponível para veículos de competição, as interpéries da natureza provam ser um obstáculo intransponível na maior parte das vezes, sendo preciso muita sorte para superá-las. As agruras do deserto do Saara e as florestas atravessadas pelos competidores impuseram inúmeros percalços aos dakaristas. No final das contas, é esse desafio de tentar superar o insuperável, o sabor da aventura e do imprevisível, que motiva estes competidores, neste fim de século onde o mundo civilizado parece não despertar a mesma paixão dos tempos antigos.


No dizer de Jirky Jarvi Letho, o chassi Lola T9900 é carro para brigar por vitórias na F-CART este ano. Se confirmar as boas impressões, serão duas marcas de chassi que deverão dar a volta por cima este ano, uma vez que os primeiros testes do novo chassi Penske também encheram o time de expectativa. O Spring Training, confirmado para o início de fevereiro, deverá dar uma boa perspectiva da competitividade esperada para o campeonato deste ano da F-CART. Será que a Reynard continuará seu domínio?

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