sexta-feira, 11 de outubro de 2019

MÁRQUEZ HEXA

Com mais uma vitória, Marc Márquez comemora com seu time o hexacampeonato na MotoGP na prova da Tailândia.

            E a disputa pelo título da MotoGP terminou. Com mais uma vitória, a 9ª na temporada 2019, Marc Márquez, piloto da equipe oficial da Honda, liquidou a fatura, conquistando o seu 6º título na classe rainha do motociclismo. Junte-se a isso o título conquistado na classe 125cc (atual Moto3) em 2010, e mais o título de 2012 da Moto2, e já são 8 títulos em apenas uma década de competição. Uma marca impressionante. A conquista foi na etapa da Tailândia, mas a comemoração mesmo virá na semana que vem, aqui no Japão, onde será disputada a etapa nipônica, na pista de Motegi, onde no ano passado Márquez havia conquistado o pentacampeonato mundial, na pista de propriedade da Honda. Este ano, ele já entrará no circuito de Motegi com seu título de campeão renovado pela sexta vez. E ainda pode conquistar mais vitórias ainda em 2019. Afinal, temos quatro provas para encerrar a competição, no Japão, Austrália, Malásia, e o fechamento em Valência, na Espanha.
            Com o triunfo, Márquez atingiu 325 pontos, 110 a mais que Andrea Dovizioso, da Ducati, o vice-líder, com 215. Como só restam 100 pontos em jogo, os concorrentes nada mais podem fazer, além de se resignar, e partir para nova tentativa em 2020. Dovizioso, aliás, tem tudo para reprisar pelo terceiro ano consecutivo o vice-campeonato, mas apenas em 2017 o piloto italiano de fato foi um adversário mais difícil para Marc, quando conseguiu levar a luta pelo título até a última prova da temporada, onde sofreu a derrota. No ano passado, Márquez foi campeão ainda restando 3 provas, marca batida este ano. Com 215 pontos, Andrea Dovizioso tem uma vantagem de 48 pontos sobre Alex Rins, da Suzuki, o 3º colocado, e ainda pode ser alcançado, embora seja difícil descontar essa diferença. A disputa pelo terceiro lugar no certame, por outro lado, tem tudo para ser acirrada, pois vários pilotos estão próximos, e o desempenho deles no ano tem sido bem inconstante, indo bem em algumas provas, e não tão bem em outras. Aliás, essa inconstância foi algo que afetou também o mesmo Dovizioso, que não apresentou uma performance tão boa em algumas corridas, além da Ducati também ter tido um desempenho com altos e baixos no ano.
            Com uma moto que não pode ser considerada a melhor do grid, mas certamente tem tudo para ser a mais temperamental, haja visto críticas que são feitas ao equipamento por outros pilotos da marca, como Cal Crutchlow, Marc Márquez fez toda a diferença com o seu enorme talento e capacidade de domar a moto nipônica. Basta vez a performance de seu colega de time, Jorge Lorenzo, no que pode ser considerada a grande decepção do ano, tendo deixado uma Ducati oficial quando finalmente estava começando a obter os resultados que esperava, e se imaginava que poderia formar junto com Márquez o “time dos sonhos” da categoria na escuderia oficial da Honda. Lorenzo é apenas o 19º colocado na competição, tendo como melhor resultado um 11º lugar na etapa da França. Um desempenho absurdo tamanha a discrepância para o novo hexacampeão, que com a mesma moto, venceu 9 provas na temporada até aqui. Por mais que se possa justificar os problemas de saúde que Lorenzo enfrentou desde antes da pré-temporada, e os azares durante o ano, nem em sonho se imaginava um cenário tão desalentador para o tricampeão, que chegava à escuderia com esperanças de reviver os tempos de glória vividos quando defendia a Yamaha.
Márquez travou um duelo acirrado com Fabio Quartararo (acima) para tomar a liderança do francês na prova tailandesa no finalzinho da corrida. Mas o fim de semana começou com dois acidentes feios do piloto da Honda (abaixo). Mas nem isso foi suficiente para detê-lo na conquista do título de 2019.
            Muitos se perguntavam se Dani Pedrosa não estava mais tendo o que demonstrar na MotoGP, após ser literalmente engolido por Márquez desde sua estréia no time da Honda, e tendo tantos percalços, incluídos problemas de saúde decorrentes de acidentes sofridos nos últimos anos. Mas Pedrosa ainda conseguia andar próximo de Márquez, e até ganhar uma ou outra corrida, à exceção de 2018, quando não conseguiu vencer nenhuma corrida. Mesmo assim, a Honda já tinha se tornado um time de apenas um piloto, Márquez. A contratação de Jorge Lorenzo visava remediar essa posição, mas o resultado saiu literalmente pela culatra, e há dúvidas se Jorge realmente cumprirá seu contrato com o time no próximo ano, como prometeu fazer. Afinal, muitos começaram a sentir saudades de Pedrosa, e nesta temporada, a Honda foi mesmo equipe de apenas um piloto. E na prova que Marc conquistou o hexa, Lorenzo passou longe, finalizando a corrida em 18º. Impossível fazer uma avaliação decente da temporada do tricampeão.
            Para os rivais, ver Lorenzo praticamente fora de combate com performances tão ridículas era um bônus inesperado, ou justamente o contrário. Afinal, muitos esperavam uma briga renhida dentro da Honda, com Márquez e Lorenzo, na pior das hipóteses, se digladiando em todas as provas, teoricamente roubando pontos um do outro, e que poderia favorecer os rivais na disputa, aproveitando-se deste duelo provavelmente fraticida, como já havíamos visto antes em outras disputas de outros campeonatos do mundo do esporte a motor, e dentro da própria MotoGP. Com Lorenzo fora do caminho, seria um adversário a menos, mas também tendo um Márquez reinando absoluto na pista, e infelizmente, foi o que se viu. Em 15 corridas, 9 triunfos, e apenas um abandono, na etapa dos Estados Unidos, em Austin. No restante, um cenário assombroso: quando não vencia, era no mínimo 2º colocado, uma constância que os rivais não tiveram durante todo o ano.
            Não faltaram candidatos. A Ducati, como de costume, andou forte na etapa inicial, em Losail, com Andrea Dovizioso vencendo novamente, e dando mais uma vez a impressão de que agora a equipe italiana seria mesmo uma rival para a Honda em tempo integral. Qual nada: a escuderia de Borgo Panigale só foi mostrar um desempenho novamente à altura em Mugello e Zeltweg, sendo que nas demais provas, apesar de andar até bem, foi superada com alguma facilidade pelos rivais. E tanto Andrea Dovizioso como Danilo Petrucci deixaram a desejar em várias corridas, ficando assim bem para trás na pontuação, e permitindo que Márquez escapasse e abrisse uma imensa vantagem, impossível de ser descontada. Alex Rins, com a Suzuki, foi outro que fez uma boa temporada, mas a exemplo da dupla da Ducati, também teve muitos altos e baixos, conseguindo alguns pódios, mas passando fora dele em muitas corridas. E quando o principal rival termina todas as corridas no pódio, não se pode permitir ficar de fora dele, se quiser de fato disputar o título. E três abandonos não ajudaram também...
Pelo terceiro ano consecutivo, Andrea Dovizioso, com a Ducati, deve ser vice-campeão, sucumbindo novamente no duelo com a "Formiga Atômica".
            Ainda assim, Ducati e Suzuki tiveram mais a mostrar do que a Yamaha, que só nas últimas corridas vem começando a mostrar força, e ainda por cima, não exatamente com os pilotos do time oficial de fábrica. A grande estrela da marca dos três diapasões é o jovem francês Fabio Quartararo, que vem conseguindo demonstrar performances melhores até que Maverick Viñales e Valentino Rossi. Viñales ainda conseguiu levar a Yamaha oficial a uma vitória solitária na Holanda, mas fora isso, o espanhol e o “Doutor” vem tendo uma temporada mais de baixos do que de altos, ficando completamente longe da disputa até mesmo pelo vice-campeonato. Maverick, que já chegou a ser chamado de “cavalo paraguaio” por não ter deslanchado na Yamaha como fazia na Suzuki, melhorou seu rendimento nas últimas corridas, mas tudo o que pode almejar é disputar a 3ª colocação final com Alex Rins, piloto de seu ex-time. E Rossi, com vários azares e problemas, além da falta de rendimento de sua moto, vem com Quartararo já na sua cola, com o intrépido francês a deixar o veterano italiano para trás na classificação, mas tudo isso muito, muito longe de ameaçar a supremacia imposta por Marc Márquez.
            Curiosamente, tem sido uma boa temporada da MotoGP. Certo, Márquez tem sido dominador, mas tivemos provas com disputas de tirar o fôlego. Em algumas onde acabou derrotado, Márquez se viu superado na última curva da última volta, depois de duelar por toda a corrida praticamente. Impossível de não apreciar a intensidade dos duelos. E foi o que vimos na Tailândia, com Marc e Quartararo praticamente disputando a ponta por toda a prova, até o então pentacampeão tomar a dianteira no final da corrida, para levar o triunfo. Em compensação, o espanhol se viu derrotado em Silverstone e Zeltweg, em disputas praticamente decididas na linha de chegada, com vários duelos em muitas corridas. Se Márquez não estivesse na pista, o campeonato seria ainda mais incrível, pela paridade dos resultados dos demais pilotos. Infelizmente, se há alguém que está desequilibrando a competição na MotoGP, é Marc Márquez. E isso não é de hoje.
            A “Formiga Atômica”, desde sua estréia na classe rainha, em 2013, surgiu como um verdadeiro rolo compressor sobre a concorrência, que desde então só teve um único título, obtido em 2015 por Jorge Lorenzo para o time oficial da Yamaha, que ainda teve Valentino Rossi como vice-campeão naquele ano, com Marc Márquez terminando a temporada em 3º lugar, o que não pode ser considerado um ano “ruim”, uma vez que o espanhol ainda venceu 5 provas naquele ano, e só não reprisou o título porque ainda era mais adepto do estilo “tudo ou nada”, onde quando não vencia, geralmente caía com a moto ou se envolvia em alguma confusão, em seu ímpeto avassalador de vencer a todo custo.
            Aliás, foi com esse ímpeto arrasador que Márquez estreou em 2013, como novo companheiro de Dani Pedrosa na equipe Honda oficial. E Márquez chegou mais do que chegando: foram 6 vitórias, que garantiram o título logo em sua primeira temporada, ao derrotar Jorge Lorenzo por poucos pontos (334 a 330). O estilo “tudo ou nada” de Márquez atingiria seu ápice na temporada seguinte, em 2014, onde a nova sensação da MotoGP esmagaria a concorrência como jamais se havia visto, conquistando o bicampeonato com 13 vitórias em 18 corridas, um verdadeiro assombro para todos. E, se não vencia, o que mais costumava acontecer era Márquez se envolver em algum atrito ou acidente na pista, dado seu caráter de nunca desistir. Mas uma hora, esse estilo cobraria seu preço, e veio na temporada de 2015, onde Marc se viu superado pela dupla da Yamaha, e de tanto tentar vencer, mesmo quando não dava, abandonou pelo menos seis corridas.
            Mas ele então se deu conta de que não precisava manter essa postura kamikaze. E a partir dali, o que já era complicado para os rivais ficou ainda mais difícil. Márquez não deixou de ser rápido como já era, mas agregou à sua pilotagem uma maior visão de corrida, e passou a ser mais cerebral, calculando melhor suas disputas, e não indo com sede demais ao pote. Com uma pilotagem ainda arrojada, mas menos agressiva nas manobras, Marc foi errando cada vez menos, para desespero dos rivais. O resultado foi a conquista do tricampeonato em 2016, em sua 4ª temporada na classe rainha. Uma conquista feita com menos vitórias, mas muito mais eficiente do que as duas primeiras. Segurar a “Formiga Atômica” passaria a ser uma tarefa cada vez mais inglória desde então. O primeiro a tentar foi Andrea Dovizioso, em 2017, e o italiano até surpreendeu a todos, não apenas pela grande forma exibida pela Ducati naquele ano, mas por ele próprio. Andrea acabaria capitulando apenas na corrida final, ficando com o vice, mas mostrando um novo Marc Márquez, que continuava a mostrar uma força imensa na luta pelas vitórias, mas sabendo conservar resultados importantes em outros momentos, quando arriscar poderia ser demasiado. Assim, o tetracampeonato foi conquistado com 6 vitórias no ano, mesma marca de sua temporada de estréia.
Seis títulos em sete temporadas na MotoGP: o fenômeno Marc Márquez parece quase impossível de ser derrotado.
            Se alguém achou que isso tornaria Marc menos vencedor, errou feio. No ano passado, o 5º título veio com impressionantes 9 vitórias. Com uma tocada mais precisa, e sem deixar de ser arrojado ao extremo, Márquez se tornava cada vez mais eficiente no duelo com os rivais na pista. Qualquer brecha exposta era um ponto fraco mortal numa disputa com o piloto da Honda. E ele continua demonstrando essa nova postura com cada vez mais eficiência, como visto este ano, tendo apenas um abandono, e por erro próprio, como ele mesmo admitiu, e terminando todas as demais corridas em 1º ou 2º. Passar a admitir seus próprios erros na pista foi outro ponto crucial para evoluir sua performance ainda mais, um ponto que seus rivais até souberam explorar nas primeiras temporadas do piloto, mas não mais.
            E, claro, Márquez também contou com uma grande sorte em alguns momentos. E vimos isso na Tailândia, onde o piloto sofreu dois acidentes pavorosos, sendo que em um deles sua moto ficou completamente destruída. Mas Marc escapou praticamente ileso destes acidentes, dada a violência das pancadas, e até de ter ficado sem respiração durante alguns segundos. Poderia ter sofrido ferimentos consideráveis. Mesmo assim, mostrou também uma determinação e coragem ímpares, para alinhar no grid, mesmo depois destes dois acidentes, e duelar como sempre fazia, e averbar mais uma vitória. Um feito para poucos.
            Com a perspectiva de renovar com a Honda para até o fim da temporada de 2023, todos já se perguntam se Márquez irá superar a marca de oito títulos de Giácomo Agostini, o maior campeão da classe rainha do motociclismo até hoje, da mesma maneira como apostam que Lewis Hamilton poderá superar os 7 títulos de Michael Schumacher na F-1. E as chances disso acontecer são bem grandes. Estamos presenciando um mito do esporte, da mesma maneira como vimos as conquistas de Valentino Rossi nas duas rodas, ou de Michael Schumacher na F-1. Um momento privilegiado, e que ainda pode durar por um bom tempo, rumo a novas marcas e recordes.
            Felicidade para os amantes do esporte a motor... Azar dos adversários na pista...


A F-1 disputa neste final de semana o Grande Prêmio do Japão, e a expectativa aqui em Suzuka é de como veremos a Ferrari na pista, depois do que ocorreu na Rússia. Lewis Hamilton já adianta que os carros vermelhos deverão continuar sendo os mais rápidos na pista, jogando o favoritismo nas costas de Sebastian Vettel e Charles LeClerc. Vai ser interessante de ver como o time vermelho irá gerenciar a postura de sua dupla, que segundo alguns, já não estaria mais se dando bem, e até nem conversando mais dentro do time. Se a Ferrari deixar sua postura cretina de lado, que deixe seus pilotos se entenderem na pista, e sem conchavos ou acordos. Fica ridículo um piloto “pedir” posição para o time, como se este tivesse que deixar seu competidor fazer tal solicitação. Ora bolas, que vá para cima, e trate de passar. O título da temporada já é de Lewis Hamilton, praticamente. Que Vettel e LeClerc se entendam na pista de Suzuka, sozinhos, ou será que delegaram ao time a capacidade de pilotarem seus carros? O que se preocupa por aqui, realmente, é a chegada do tufão Hagibis, que pode complicar a situação, dependendo de como vier a tormenta. Por precaução, a FIA cancelou os treinos deste sábado, quando o tufão deverá chegar a esta região, ao lado de Nagoya. Para o domingo, tudo já deverá estar bem, e teremos o treino de classificação às 10 horas locais, para definir o grid para a corrida, quatro horas depois. Já tivemos situações assim antes, com outros tufões interrompendo treinos e até colocando a corrida em questão em anos anteriores. O melhor é torcer para tudo dar certo, e nada de ruim ocorrer, não apenas em relação ao GP, mas a todo o Japão, onde estes fenômenos podem causar muitos estragos.

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