quarta-feira, 9 de outubro de 2019

ARQUIVO PISTA & BOX – NOVEMBRO DE 1998 – 20.11.1998


            Olá a todos. Hoje trago mais uma de minhas antigas colunas, publicada no dia 20 de novembro de 1998, fazendo um apanhado do que foi a temporada de nossos pilotos na temporada daquele ano da F-CART, a F-Indy original. Muitas expectativas que acabaram não se confirmando, apesar de grande número de representantes nacionais na competição. Os maus resultados, mais a briga interna na TVS/SBT, ajudaram a fazer decair enormemente a qualidade da transmissão das corridas, que chegariam ao ponto mais baixo na emissora de Silvio Santos no ano seguinte. Mesmo assim, o panorama para a torcida de nossos representantes naquele ano ainda era melhor do que o que tivemos este ano na Indycar, sucessora da antiga Indy. Curiosamente, o único que teve uma temporada satisfatória naquele ano foi justamente Tony Kanaan, que agora em 2019 padeceu no inferno da pouca competitividade de seu time. O tempo voa mesmo: naquele ano Tony era estreante na competição da F-CART, e este ano foi praticamente o decano da competição. Uma boa leitura a todos, e em breve trago mais textos antigos...


O QUE DEU ERRADO?

            Pela primeira vez desde 1984, ano em que Émerson Fittipaldi estreou na categoria, tivemos um ano sem nenhuma vitória brasileira no campeonato da F-CART. Sem dúvida alguma, foi o pior desempenho dos últimos tempos dos pilotos brasileiros na categoria americana. Em termos de pilotos, tivemos quantidade e qualidade. Só que, por motivos diversos, todos eles tiveram um ano de perfeito calvário no campeonato, com exceção de Tony Kanaan.
            Não que o piloto baiano não tenha enfrentado problemas em seu ano de estréia na F-CART, depois de brilhar na conquista do título da Indy Lights. Só que Tony enfrentou os problemas normais de todos os estreantes no certame. Apesar de tudo, saiu-se bem, conquistando o título de “novato do ano” com todos os méritos. E isso apesar dos problemas da equipe Tasman, que perdeu boa parte da estrutura de 97 e também o engenheiro Dan Halliday, que foi para a equipe Green cuidar do carro de Dario Franchiti. O resultado da competência de Halliday pode ser comprovado nas vitórias conquistadas pelo escocês na segunda metade da temporada. Tony também enfrentou problemas com a falta de testes da escuderia. Steve Horne, numa atitude elogiável, recusou-se a manter o patrocínio da Marlboro, dando um exemplo de que se pode fazer automobilismo sem contar com o dinheiro da indústria tabagista. Só que Horne pecou em não garantir de maneira eficiente a falta do patrocínio da Phillip Morris, o que limitou as verbas disponíveis, o que se traduziu na quantidade reduzida de testes para poupar recursos. Mas Kanaan superou tudo isso, e com a premissa da Tasman se reerguer em 99, nosso baiano voador com certeza terá condições de brilhar muito mais na categoria do que neste ano.
            Já Gil de Ferran teve um ano apático. Vice-campeão em 97, superando as limitações dos pneus Goodyear, este ano os problemas de Gil foram muito além dos pneus da fábrica americana, que levaram uma surra ainda maior da Firestone. A equipe Walker marcou bobeira em diversas etapas, não foi eficiente na preparação do carro (que sofreu com a falta de fiabilidade em diversas corridas, especialmente no motor Honda), e para complicar, o brasileiro ainda acabou se envolvendo em alguns acidentes, que minaram suas esperanças no campeonato. E para se ter uma idéia de como a temporada de Gil foi fraca, se em 97 ele foi um dos pilotos mais regulares no pódio, este ano só conseguiu subir neles em duas etapas, Motegi e Detroit. O resto do ano foi muito ruim. Gil ainda pilota com a mesma garra de sempre, mas até o talento nada pode fazer quando o carro piora muito. Para o próximo ano a equipe Walker terá dois pilotos, e quem sabe, melhor estrutura, para que Gil lute novamente pelo título.
            Pelo terceiro ano consecutivo, Christian Fittipaldi foi vítima de constantes azares na equipe Newmann-Hass, enquanto seu companheiro Michael Andretti consegue vencer corridas e até disputar o título. O azar foi tanto que, a certa altura do campeonato, o lugar do jovem Fittipaldi na equipe esteve em perigo, podendo ter de procurar emprego para 1999. O pior azar do sobrinho de Émerson este ano foram os pilotos canadenses. Em cerca de 4 ocasiões Christian perdeu a chance de bons resultados por causa da imprudência deles. Em Long Beach e Detroit foi Paul Tracy a se enroscar com o brasileiro na pista; já em Portland e Houston, o enguiço foi com Greg Moore, que todo afobado, acertou o carro de Fittipaldi e tirá-lo das corridas onde tinha tudo para lutar pelas primeiras posições. Mas, além disso, houve uma série de outros problemas que complicaram o resto da temporada, como a violenta batida em Milwaukee nos treinos, partindo o carro ao meio e o tirando da corrida para observação médica. O fato da Newmann-Hass competir com os pneus da Goodyear foi outro revés, apesar de Michael Andretti ter conseguido vencer a corrida inaugural em Homestead.
            Agora, quem levou um sério tombo este ano foram Mauricio Gugelmim e André Ribeiro. Gugelmim, correndo pela PacWest, o time que terminou 1997 como mais uma equipe de ponta na categoria, passou 98 praticamente em branco. A escuderia, numa opção conservadora, temendo pela confiabilidade dos novos motores e chassis 98, correu as primeiras provas com os carros do ano passado, que haviam terminado o ano apresentando excelente desempenho. Mas a medida se mostrou totalmente equivocada, pois os times que usaram os novos equipamentos apresentaram uma performance muito melhor, e quando passaram a utilizar o equipamento novo, já tinham ficado para trás em relação aos outros times, e não teve como recuperar o tempo perdido no desenvolvimento do carro, que ainda ficou prejudicado pela tentativa, que foi malsucedida, do time em fabricar amortecedores próprios para seus carros. Quando retornaram aos amortecedores convencionais, o atraso já era grande, e a temporada estava praticamente perdida, e ainda era preciso reencontrar os ajustes dos equipamentos. Para 1999, a ordem é voltar ao básico, e não tentar nenhuma aventura “técnica”, e tentar reencontrar o caminho das vitórias.
            Já André Ribeiro recebeu um verdadeiro “presente de grego”. Contratado pela Penske, o maior time da categoria, André confiava em finalmente disputar o título da F-CART, mas para complicar a situação, o time resolveu inovar muito no seu chassi 98, incluindo até o bico “tubarão” já em moda na F-1. O resultado foi catastrófico para uma equipe do porte da Penske: Al Unser Jr. só conseguiu um ou outro bom resultado, enquanto André padeceu o ano inteiro com a falta de fiabilidade do carro, que quebrava adoidado em todas as corridas. Nem Al Jr. escapou ileso, também abandonando em várias etapas. A situação ficou complicada para a Penske, a ponto de se colocar até André Ribeiro em dúvida como piloto, segundo a imprensa especializada, de tão ruim que eram seus resultados. André, entretanto, sempre teve a confiança de Roger Penske. Para o ano que vem, a maior escuderia da categoria é um enorme ponto de interrogação. Único time da F-CART a construir seus próprios carros, a Penske ainda não sabe o que irá fazer em 99, se continuará construindo um novo carro, ou se irá adotar chassis prontos, como fazem todos os demais times. Mas pior do que está não pode ficar...
            Hélio Castro Neves, nosso outro estreante na categoria, fez uma temporada razoável, tendo em conta a falta de estrutura e recursos da equipe Bettenhausen. A falta de testes foi o fator decisivo para a limitação de performance em diversas etapas. Mas, comparada com 97, a Bettenhausen até que manteve-se estável, sendo que Helinho poderia ter brilhado até mais, não fossem alguns erros grosseiros em Long Beach e Vancouver. A dúvida agora é o que esperar de 99, uma vez que Helinho ainda tem contrato com Gary Bettenhausen, e o principal patrocinador do time, a Alumax, não renovou para o próximo ano, o que reduz sobremaneira as finanças do time.
            Nossos outros representantes na categoria, Roberto Moreno e Guálter Salles, não passaram de pilotos-tampão, substituindo pilotos titulares. Guálter ainda conseguiu mostrar um pouco de suas capacidades em algumas provas na equipe Payton/Coyne, especialmente em Long Beach, onde assombrou a concorrência na classificação. Mas, sem patrocínio, ficou sem maiores possibilidades de mostrar do que é capaz. Moreno, por sua vez, não teve chance de mostrar praticamente nada.
            Foi um ano apático e de poucos resultados. Em 99, é de se esperar que tenhamos melhor sorte. Gil, Mauricio, Christian, Tony, Helinho, e André, são nomes garantidos e a eles deve se juntar Cristiano da Matta, campeão da Indy Lights este ano. Guálter Salles ainda tenta a sorte de achar um lugar. Já Moreno seguirá sua sina: poderá ser, novamente, um piloto-tampão. Mas a maior esperança é de que consigamos finalmente disputar e ganhar o título da F-CART. Sonhar é preciso...

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