sexta-feira, 29 de março de 2019

NAS AREIAS DO DESERTO


A F-1 prepara-se para acelerar nas areias do deserto do Bahrein.

            A Fórmula 1 entra hoje na pista para sua segunda corrida da temporada de 2019, e precisando comprovar tudo o que se esperou dela a partir dos dados da pré-temporada. Para a Ferrari, por exemplo, é mostrar que o resultado exibido no Albert Park foi algo circunstancial, e entrar firme na luta pela vitória. Para a Mercedes, apesar do bom desempenho em Melbourne, o time quer ver se está mesmo tão forte como espera, e ficamos na expectativa se as flechas de prata deixarão os rivais comendo poeira novamente. Uma outra corrida sem resistência dos concorrentes, a exemplo do que vimos na Austrália, poderá ser um banho de água fria para quem esperava um torneio mais disputado. E um baque que pode ser contundente para a Ferrari, que tinha várias razões para crer que poderia disputar roda a roda com o time alemão na pista.
            O time vermelho deixou muita gente desapontada na estréia em Melbourne. Como se não bastasse não ter conseguido andar no ritmo da Mercedes, acabou superada por Max Verstappen, da Red Bull, e gerou desconfianças quando declarou não ter ciência do porquê haviam sido tão lentos na corrida. E a ordem para Charles LeClerc não ultrapassar Sebastian Vettel foi mais um prego no caixão de críticas direcionado à escuderia. Afinal, se Kimi Raikkonem tinha a obrigação de não atrapalhar Vettel, para quê contratar o monegasco, todos perguntam. Pegou mal mesmo porque Mattia Binotto havia dito que seus pilotos poderiam batalhar na pista, apesar de também afirmar que Vettel teria prioridade. Só que ninguém esperava isso já na primeira prova. Depois dessa, muita gente está torcendo para a Ferrari se danar, e que a Mercedes dê outro banho nos rivais.
            O que dá um grande alento é que a pista de Sakhir é bem diferente do circuito urbano montado nas ruas do Albert Park, em Melbourne. Temos aqui um autódromo de verdade, com boas retas, e vários tipos de curvas, com um acerto completamente diferente da prova australiana. Será um panorama mais exato do que poderemos esperar da F-1 nesta temporada. Se a Mercedes continuar muito à frente, aí será preocupante para quem esperava mesmo ter um campeonato mais equilibrado. Não são apenas os torcedores que buscam respostas, mas as próprias equipes, que querem saber exatamente o seu nível de força e competitividade. A Mercedes prefere não cantar vantagem, e afirma que deu sorte na primeira corrida, e que o modelo W10, apesar de bem mais conhecido na sua intimidade, ainda carece de ser melhor ajustado e desenvolvido.
Valtteri Botas venceu na Austrália com uma grande performance dele e da Mercedes. Repetirão a dose em Sakhir?
            Na Red Bull, por exemplo, todos ficaram entusiasmados com o pódio de Verstappen em Melbourne. As unidades de potência da Honda não tiveram nenhum problema no final de semana, e os carros do time dos energéticos tinham excelentes velocidades de reta, outro bom sinal para a escuderia. Mas Verstappen, apesar do otimismo, ainda prefere manter os pés no chão, e nada melhor para isso do que ver como o RB15 irá se comportar aqui em Sakhir. Se a Ferrari se reencontrar na pista, o time de Milton Keynes precisará comprovar se vai mesmo conseguir desafiar os italianos e alemães pelas primeiras posições, lembrando que Max só chegou em Lewis Hamilton pela performance do carro do inglês estar prejudicada pelo dano no seu assoalho. Em nenhum momento o holandês conseguiu ser uma ameaça no radar de Valtteri Bottas, que ainda marcou a volta mais rápida no final da prova, para ganhar o novo ponto extra atribuído a quem for o mais veloz nas corridas. Helmut Marko se apressou em dizer que o novo motor rendeu o esperado, e que agora o objetivo é conseguir acertar o chassi, afirmando que o carro ainda precisa ser melhor configurado, dando a entender que na Austrália o acerto não foi o ideal.
            A Mercedes, aliás, terá uma boa oportunidade para conferir a nova forma de Bottas, que chegou ao Bahrein como líder do campeonato. Hamilton, o vice-líder, pretendo colocar ordem na casa, e vamos ver como a dupla prateada irá se portar na pista. Fica também a dúvida de como a Mercedes irá proceder, dependendo dos concorrentes. Se ficar muito à frente, podemos ver um bom duelo entre Bottas e Hamilton, mas e se os rivais andarem muito próximos, como Toto Wolf irá se portar no comando de seus pilotos? A Ferrari não teve pudores em favorecer Vettel logo de cara na primeira corrida, mesmo que isso não valesse muita coisa. A Mercedes fará o mesmo?
            No pelotão intermediário, temos tudo para ver uma nova briga acirrada entre vários times. A Hass saiu na frente na Austrália, mas conseguirá repetir a performance aqui nas areias barenitas? A Renault pinta como principal desafiante, mas Toro Rosso e Alfa Romeo estão à espreita para mostrar do que são capazes. E a Racing Point também parece estar pronta para engrossar esta disputa, tendo conseguido uma performance até satisfatória com Lance Stroll na Austrália, mas precisando ser confirmada aqui, para tirarmos as dúvidas. Dúvidas que ainda pendem sobre a real performance da McLaren para este ano, que até deu esperanças de dias melhores com Lando Norris chegando ao Q3 em Melbourne, mas levando um forte abalo com um ritmo não tão forte na corrida, e a quebra do MGU-K de Carlos Sainz Jr.
A Williams continua sua via cruccis em 2019.
            O que não dá para continuar esperando muito é da Williams. Robert Kubica confirmou que aqui no Bahrein ele e George Russel terão novamente que pilotar com o maior cuidado, pois o time ainda não tem peças de reposição em número adequado, o que significa que um exagero ou forçada dos pilotos pode resultar em uma potencial saída de pista, que no caso de danificar algo, pode comprometer todo o final de semana, pela falta de peças. Uma situação completamente ridícula para um time com a história da Williams. Isso já obrigou os pilotos a andarem menos do que gostariam na Austrália, e isso foi há duas semanas. A fábrica não conseguiu aprontar o número de peças necessário até agora? Isso só ajudar a diminuir ainda mais o crédito do time de Grove, que pode até nem conseguir largar, caso seus pilotos não fiquem dentro dos 107% do tempo do pole-position. Seria um desastre a mais para a escuderia, uma das mais tradicionais do grid. Só que tradição não garante resultado, e a McLaren está aí para dar o exemplo, como outro nome tradicional do grid. Mas ao menos o time de Woking parece saber melhor onde está pisando, e como tentar acertar o passo para sair do buraco onde se encontra, algo que a Williams ainda parece estar batendo cabeça, e sem achar uma solução.
            Vejamos, então, uma corrida com chances potenciais de duelos bem mais disputados, até para vermos se as novas regras aerodinâmicas realmente facilitarão as disputas de posição em uma pista de verdade, algo que não pudemos comprovar com a eficácia desejada na pista do Albert Park. Os pilotos confirmaram ter ficado mais fácil se aproximar do carro que vai à frente, o que já é um bom sinal. Mas, como sempre dizem: chegar é uma coisa; ultrapassar é outra! E é hora de vermos como estes novos carros se portarão neste quesito. Pelo bem da disputa, espero que os resultados sejam positivos... Outro tiro no pé, e sem resultados, é tudo que a F-1 não precisa neste momento...


Nelsinho Piquet disse adeus à Jaguar e à Formula-E.
Nesta quinta-feira soube da notícia de que Nelsinho Piquet está fora da Formula-E. Oficialmente, ele e seu time, a Jaguar, concordaram em encerrar seu contrato para o brasileiro se dedicar a outros projetos, entre eles, a Stock Car Brasil, cujo campeonato começa na próxima semana, e no qual o filho do tricampeão Nélson Piquet deseja se concentrar unicamente. Mas, na prática, Nelsinho há tempos vinha devendo resultados na F-E, e é uma pena o piloto encerrar sua participação na categoria desta maneira. Nelsinho foi o primeiro campeão da nova categoria, mostrando talento e capacidade. Infelizmente, os dois anos seguintes foram infrutíferos porque seu time, a antiga China Racing, atual Nio, errou a mão no desenvolvimento de seu equipamento, e Piquet não conseguiu defender seu título, e nem sequer voltar a subir ao pódio. Na temporada do ano passado, Nelsinho passou a defender a Jaguar, um time de fábrica que desejava evoluir na competição, e tinha no brasileiro um grande trunfo para levar o time para as primeiras colocações. Apesar da competitividade ainda não permitir vencer, a Jaguar já oferecia muito mais possibilidades que a Nio, e as primeiras provas de Nelsinho foram boas, com resultados constantes, e fazendo crer que o retorno ao pódio, e até mesmo conseguir levar a Jaguar a disputar a vitória na F-E, seriam apenas questão de tempo, já que o desempenho da escuderia realmente vinha evoluindo. Mas, de um momento para o outro, Nelsinho passou a ver tudo dar errado, e além do azar, também começou a cometer erros. Iniciou-se uma fase ruim para o piloto, algo que não é anormal, podendo ocorrer com qualquer um. Afinal, nas 5 primeiras corridas, havia conquistado 3 4ºs lugares e 1 6ª posição, com 45 pontos, e figurando entre os primeiros colocados graças à sua constância. Mas dali em diante, Piquet ficou zerado por nada menos do que 6 provas, voltando a marcar pontos apenas na etapa final da competição, em Nova Iorque, com um 7º lugar, terminando o ano em 9º lugar, com 51 pontos. Mas seu parceiro, o australiano Mith Evans, terminou o ano em 7º, com 68 pontos, e conquistando o primeiro pódio e primeira pole da Jaguar na F-E. Algo não estava indo bem, mas todo piloto tem seus momentos de baixa, onde apesar do talento, as coisas parecem não se encaixar. Para a 5ª temporada, com os novos carros Gen2, a expectativa era de que, a exemplo da 1ª temporada, quando todo mundo ainda precisava conhecer as potencialidades de seus carros, a capacidade de Nelsinho com os novos bólidos pudesse gerar frutos, com todos tendo de ver os novos limites dos novos monopostos adotados. Infelizmente, não foi o que vimos. Piquet marcou apenas 1 ponto, logo na etapa inicial, na Arábia Saudita, mas viu o parceiro Mith Evans conseguir um 4º lugar, e sair na sua frente no novo certame. E dali em diante, nada mais de positivo para o brasileiro. Enquanto Evans foi marcando pontos em todas as provas, ocupando no momento a 11ª colocação, com 36 pontos, Nelsinho ficou estancado com apenas 1 ponto, que lhe rende no momento a 20ª posição em um campeonato com 24 pilotos tendo feito alguma participação. Pior, Piquet ainda se envolveu em um forte acidente na etapa da Cidade do México, e no fim de semana passado, em Sanya, China, acabou batendo sozinho durante a corrida, depois de largar em último lugar. A situação fica ruim se compararmos com o desempenho de Evans, que também largou entre os últimos, em 20º, e conseguiu terminar em 9º, em uma corrida que teoricamente foi complicada para a Jaguar, mas onde o piloto inglês conseguiu resultados que Nelsinho infelizmente ficou devendo. Resultados que alguém de sua capacidade deveriam ser possíveis. Não foram apenas azares, mas performances ruins também, que infelizmente abreviaram sua permanência na categoria. Piquet era um dos poucos pilotos que havia disputado todas as 51 provas do campeonato da F-E desde a sua estréia, em 2014. Espero que ele consiga se reencontrar na Stock Car, onde já competiu no ano passado, tendo participado de 19 provas, e terminado a temporada em 15º lugar, com apenas 65 pontos, desempenho que também ficou abaixo do esperado pela maioria dos torcedores e imprensa especializada. Só para comparar, Lucas Di Grassi, que a exemplo de Nelsinho também dividiu o ano entre a F-E e a Stock Car, venceu 3 provas, e terminou a competição em 12º lugar, com 127 pontos. Problemas de adaptação e de equipe à parte, o filho do tricampeão Nélson Piquet realmente não conseguiu apresentar resultados como se esperava no campeonato nacional. Vejamos se terá melhor sorte este ano, dedicando-se exclusivamente a esta competição. Que seja apenas uma fase ruim, e Nelsinho consiga reerguer sua carreira no automobilismo, e mostrar o talento que herdou de seu pai, que superou inúmeras dificuldades e obstáculos para chegar à F-1, e conseguir ser tricampeão na categoria máxima do automobilismo.


Um ponto negativo continua a assombrar a carreira de Nelsinho perante os torcedores brasileiros: o episódio do Cingapuragate, onde o brasileiro bateu de forma premeditada o seu carro durante o GP de Cingapura de 2008, para favorecer seu companheiro de equipe Fernando Alonso a conseguir vencer a corrida, numa trama orquestrada principalmente por Flavio Briatore, chefão da equipe oficial da Renault na época. A picaretagem foi denunciada no ano seguinte, e Briatore, assim como Pat Symonds, acabaram banidos da F-1. Symonds retornou há alguns anos, dirigindo a área técnica da Williams, até se aposentar em definitivo, enquanto Briatore não voltou até hoje, se bem que não parece nem um pouco incomodado com isso. E Nelsinho acabou rifado da F-1, tendo de reconstruir sua carreira, tendo competido em diversas categorias, como a Nascar, rali, WEC, até reencontrar o sucesso na F-E, sendo o seu primeiro campeão. Infelizmente, nos últimos tempos, as coisas não vinham correndo bem, e afirmar que pode competir melhor se dedicando apenas a uma competição é uma desculpa que não pega muito entre os torcedores, haja visto que vários pilotos da F-E dividem sua atividade também com o Mundial de Endurance, sem comprometer sua eficiência ao volante, dependendo da competitividade do carro que tem à sua disposição.


A MotoGP chegou à América do Sul para a disputa do GP da Argentina, em Termas de Rio Hondo. Andrea Dovizioso, depois do duelo ferrenho com Marc Márquez na etapa de estréia, no Catar, lidera o campeonato, e diferente do ano passado, pretende conservar a primeira colocação na classificação, mas já antevendo que poderá ter novo duelo com o atual campeão da equipe Honda. Será que a Ducati manterá a mesma força exibida em Losail? E Márquez será novamente um páreo duro para o italiano? Fica também a dúvida se a Yamaha poderá render mais do que mostrou na última corrida, ansiando poder lutar pelo pódio e pela vitória, ou se será suplantada pelos concorrentes. E, claro, todo mundo vai querer ver se Jorge Lorenzo, que teoricamente está recuperado, irá finalmente mostrar a que veio na Honda, depois de uma performance muito abaixo do esperado no Catar, quando foi suplantado com sobras imensas por Márquez. A etapa argentina será exibida ao vivo no SporTV2 a partir das 15:00 Hrs, pelo horário de Brasília.


A F-1 terá dois dias de testes no Bahrein na próxima semana, com participação de vários pilotos, e entre eles, Fernando Alonso, que voltará a pilotar um carro de F-1, depois de se despedir da categoria máxima do automobilismo no ano passado. O asturiano, que agora ocupa o cargo de embaixador da McLaren, irá conduzir o novo MCL34 com o objetivo de ajudar no seu desenvolvimento, dada a sua experiência e capacidade. Mas quem estará na pista também será o brasileiro Pietro Fittipaldi, que terá nova chance de andar com o carro da Hass, e pretende aproveitar a oportunidade para ir ganhando ainda mais a confiança do time, visando tornar-se titular da escuderia para 2020, depois de um resultado que agradou muito ao corpo técnico quando pode andar com o VF-19 na pré-temporada, em Barcelona. Para a McLaren, será interessante ver o que Alonso poderá render com o carro deste ano, em comparação com o resultado que for obtido na prova barenita, já que o desempenho do carro em Melbourne não impressionou muito, apesar do clima mais otimista e realista da escuderia britânica.

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