sexta-feira, 15 de março de 2019

SINAL VERDE PARA A FÓRMULA 1

Nova temporada começa com perspectiva de mais um duelo entre Mercedes e Ferrari. Quem vai largar na frente na prova australiana?

            Chegou a hora. Depois de muita espera, os carros da Fórmula 1 preparam-se para dar início à 70ª temporada da categoria máxima do automobilismo, e quando esta coluna estiver sendo lida no Brasil, os treinos livres desta sexta-feira aqui no Albert Park já terão sido encerrados. Como este texto foi fechado antes do início das atividades oficiais de pista, tudo está na expectativa se as impressões obtidas na pré-temporada se confirmação ou não. Mas muita coisa pode mudar, já que vários times chegaram aqui já com várias modificações nos carros, advindas dos estudos dos dados obtidos nos oito dias de testes da pré-temporada, realizados pela enésima vez na pista de Barcelona, na Espanha.
            Um exemplo é da Red Bull, que com o grande empenho de Adrian Newey e do setor de engenharia da escuderia dos energéticos, trouxe nos seus chassis RB15 o pacote de atualizações previsto para estrear apenas no mês que vem, na etapa da China. Tamanho esforço valeu declarações de Helmut Marko de que a Red Bull pode superar qualquer um no grid, com exceção da Ferrari, dando a entender que andará à frente da campeoníssima Mercedes. Diria que Marko deve ter tomado algumas doses exageradas no caminho para o paddock, porque o entusiasmo parece-me exagerado. E falta combinar com os alemães, que não chegaram aqui em Melbourne sem apresentar novidades nos seus carros também, e estamos todos curiosos para ver quem de fato irá andar na frente neste início de temporada.
            Não podemos deixar de lembrar que o ambiente nos boxes da Mercedes foi distinto nas duas semanas de treinos coletivos na Catalunha. Na primeira semana, a excelente forma do carro da Ferrari deixou os prateados em situação de alerta, cientes de que precisavam se mexer para evitar o que poderia ser uma derrota contundente no início desta temporada. Ninguém chegou a perder a calma explicitamente, mas havia um nervosismo implícito no pessoal que denotava que o time vermelho estava com mais vantagem do que eles esperavam. Mas na semana seguinte, com o novo W10 já dotado de muitas novidades, o panorama meio que se acalmou, e no último dia, eles resolveram até mostrar um pouco as garras, com Hamilton ficando apenas 0s003 atrás de Sebastian Vettel. E aí temos aquele jogo de esconde-esconde, onde muitos alegam que ambos os times esconderam suas melhores armas para mostra-las apenas nos treinos de hoje. Mas, como já mencionei, a Mercedes trouxe mais novidades, assim como a Red Bull, e a Ferrari obviamente também trouxe seus novos truques.
            Com uma perspectiva de um duelo direto, homem a homem, Lewis Hamilton, pentacampeão mundial, e em busca do hexa, não se ilude: sabe que este ano tem tudo para ser o mais difícil e complicado de vencer dos últimos tempos. O inglês fez uma temporada quase impecável em 2018, revertendo as expectativas iniciais de favoritismo da Ferrari, e aproveitando as oportunidades, especialmente a meio do ano, para aplicar um golpe contundente no rival Vettel e no time de Maranello, que pelo segundo ano consecutivo, ficou a ver navios na disputa.
            Para este ano, quem começa o ano mais pressionado do que nunca é justamente o alemão, cujo cartaz no time ficou arranhado no ano passado, chegando até a ser vaiado pelos erros cometidos pela fervorosa torcida ferrarista, que não perdoa quando um piloto da “rossa” marca bobeira. E a chegada de Charles LeClerc para o lugar do finlandês Kimi Raikkonen é outro detalhe que confirma que Vettel terá de mostrar porque é tetracampeão mundial da categoria. LeClerc terá liberdade para duelar com Vettel na pista, ainda que o time italiano já tenha afirmado que a prioridade será do alemão para a luta pelo título. A mensagem é clara: Sebastian terá de acelerar fundo, porque Charles vai estar por trás dele vindo bem forte. Ciente de que a preferência é de seu companheiro de equipe, importa ao jovem monegasco andar bem atrás dele, o mais perto possível, e defende-lo dos rivais, caso estejam na frente. A pressão maior estará com Vettel, e não com LeClerc. Mas Sebastian não é o único que entra na pista precisando mostrar serviço.
            Valtteri Bottas é outro que terá um ano decisivo na F-1. Depois de uma temporada abaixo das expectativas no ano passado, tendo sido superado por Kimi Raikkonen e até por Max Verstappen na classificação do campeonato, o finlandês vai ter de pisar fundo e mostrar que ainda merece estar no time campeão do mundo. E se a Ferrari vir tão forte como muitos imaginam, ele precisará mostrar ritmo para andar na mesma toada de Lewis Hamilton, no mínimo, para fazer frente aos rivais italianos. Esteban Ocon, que ficou a pé para esta temporada após a Force India mudar de dono no ano passado, sendo dispensado para dar lugar a Lance Stroll, será uma sombra permanente nos calcanhares de Bottas. Relegado à função de piloto reserva e de testes, Ocon conta em assumir o lugar de titular de Valtteri em 2020, se o finlandês repetir a temporada de 2018.
A Ferrari mostrou força na pré-temporada. É hora de comprovar que não foi blefe.
            Logo atrás de ambas, a Red Bull, tradicional terceira força no pelotão, tem tudo para manter essa posição, embora nos testes da pré-temporada não tenha demonstrado tanta força como de costume. A Honda, nova parceira do time dos energéticos, terá sua oportunidade para enfim apagar as más impressões que seu equipamento tem deixado desde que retornaram à F-1 em 2015, e pelo menos nos testes, conseguiram rodar uma quilometragem impressionante, somando com a Toro Rosso. Ainda é dúvida se a unidade de potência japonesa conseguiu resolver o seu déficit de performance para as outras unidades do grid, mas a Red Bull alardeia implicitamente que os nipônicos já estão melhores que os franceses da Renault, sua ex-parceira. Aliás, não foram poucas as vezes que Helmut Marko, Christian Horner, e Max Verstappen, saíram elogiando a Honda durante os testes. Marko, como já citei, ainda chegou a afirmar que o ritmo de corrida da equipe com as novas atualizações está mais veloz até que a Mercedes. Para o bem da competição, e por mais disputas na pista, seria bom que fosse verdade, e assim pudéssemos ver estes três times digladiando-se ferozmente pelas vitórias e na luta pelo título, restrita nos últimos dois anos apenas entre Mercedes e Ferrari. Por outro lado, se a carruagem virar abóbora, quanto tempo irá demorar para a impaciência da cúpula rubrotaurina se mostrar e começar a criticar os japoneses? E Max Verstappen? O holandês é um fenômeno como poucos, mas será que conseguirá deixar finalmente para trás sua propensão a se meter em confusão devido às suas atitudes e seu arrojo ao volante? Se as novas regras técnicas realmente facilitarem as disputas de posição, podem estar certos de que ele partirá para cima dos adversários sem meio termos. Por outro lado, os rivais também poderão ir para cima dele, e vai ser preciso tomar cuidado com suas reações para evitar ser superado.
            O pau deve comer mesmo é no segundo pelotão, e com vários times na perspectiva de fazerem um duelo dos mais equilibrados, envolvendo Renault, Hass, McLaren, Toro Rosso, e Alfa Romeo. A Racing Point, ex-Force India, não teve uma pré-temporada muito animada, enfrentando vários problemas, e ao menos no início, pode estar um pouco atrás das demais na luta por melhores colocações. Se o time técnico da escuderia mantiver a excelente capacidade dos últimos anos, e agora que recursos financeiros não são mais problema graças aos novos proprietários, eles tem tudo para se recuperar durante o ano. Vai depender de como os outros estiverem, e de como eles irão evoluir seus bólidos. E com melhores perspectivas de ultrapassagens se confirmando, deverá ser uma luta aberta e franca entre todos os pilotos destas escuderias, com todo mundo batalhando para ficar à frente de todos os outros.
            Ao menos no início, a Renault pinta de favorita a liderar o segundo pelotão. Os franceses investiram como nunca nos últimos tempos, para voltarem a ser campeões na F-1, e sabem que o processo é lento e precisa progredir continuamente. Novos profissionais foram contratados para reforçar a área técnica, e a nova unidade de potência parece ter atingido as metas estabelecidas de diminuir o déficit de performance para as rivais Mercedes e Ferrari. Se dessa vez as promessas se confirmarem, talvez vejamos a Renault enfim desafiando as favoritas na pista. O novo chassi RS19 melhorou bastante em relação a 2018, e segundo seus pilotos, permite muito mais desenvolvimento e velocidade pura do que o carro do ano passado. Mas o time e a fábrica francesa sabem que o degrau que os separa dos principais times ainda é grande, e é preciso ver quanto eles conseguem se aproximar este ano. Além de contarem com Nico Hulkenberg, a Renault agora conta com o australiano Daniel Ricciardo, que sabe explorar as oportunidades de uma corrida como ninguém, e promete ajudar a empurrar o time cada vez mais próximo do trio da ponta, e quem sabe, se intrometer no duelo entre eles. Vitórias ainda parecem estar fora de questão, mas subir ao pódio pode ser possível.
            Quem está com os pés no chão é a McLaren. O time fez uma grande revisão interna no time, e no projeto do carro, procurando entender onde pisou na bola no ano passado, e tentar não repetir o mesmo erro. O novo MCL34 é uma evolução em todos os sentidos, e a escuderia sediada em Woking parece pronta para iniciar sua longa recuperação de volta às primeiras colocações. Pela primeira vez desde 2015, o time não teve nenhum problema na pré-temporada, e conseguiu testar bastante, e bem. Fica a dúvida sobre quanto eles conseguiram avançar, porque afinal, todo mundo evoluiu, e a McLaren tinha muito chão para recuperar. O único porém foi a escuderia ter perdido Fernando Alonso, que resolveu ir se divertir em outras paragens. O espanhol sabia como aproveitar todas as oportunidades na pista, e conseguia tirar leite de pedra do carro. Agora, eles terão de conseguir isso com Carlos Sainz Jr. e o novato Lando Norris, que embora talentosos, ainda precisam mostrar a que vieram a fundo, se o carro for realmente competitivo. Por outro lado, o clima no time está bem mais relaxado e menos tenso. O nível de cobrança é menor, e bem mais realista do que foi em anos anteriores, para não mencionar que a escuderia agora tem um entendimento muito mais completo sobre a unidade de potência da Renault e suas necessidades, algo que foi subestimado e superestimado em 2018. E se o carro evoluir e até surpreender, muitos apostam que Alonso poderia até voltar em 2020, para um tira-teima. O espanhol não cortou seus laços com a escuderia, de quem agora é embaixador oficial. Se a McLaren crescer de fato, e empolgar a todos, seria interessante podermos ver o bicampeão se digladiar a fundo novamente pelas vitórias na F-1.
            A Toro Rosso teve uma boa temporada no ano passado, em especial graças a Pierre Gasly, hoje na Red Bull. Como o programa de pilotos da marca dos energéticos queimou o filme de muita gente, eles tiveram que engolir a seco, e chamar de volta Danill Kvyat, que teve a façanha de ser demitido por eles em duas oportunidades, e passou 2018 como piloto de desenvolvimento nos simuladores da Ferrari. Espero que aproveite a chance e cale a boca da cúpula rubrotaurina, ainda mais por passarem a mão na cabeça tantas vezes que Verstappen andou fazendo barbeiragem na pista, enquanto crucificaram o russo por menos. E Alexander Albon, tirado da equipe Nissan e.dams de última hora para a vaga de segundo piloto, não comprometeu nos testes. E o time parece bem capacitado para extrair da Honda o melhor de seu desempenho, podendo brigar pela liderança do segundo pelotão.
Alfa Romeo e Hass: Qual time andará melhor com as unidades de potência da Ferrari?
            Hass e Alfa Romeo brigarão pelo posto de melhor time equipado pelas unidades de potência da Ferrari, que estão mais eficientes do que nunca. Com ambos os times usando as melhores soluções e equipamentos produzidos pela escuderia italiana tanto quanto permitidos pelo regulamento, ambas tem tudo para engrossar a luta no meio do pelotão, e ajudar a manter uma briga mais do que acirrada nesta parte do grid.
            E dá pena ver que a Williams parece ter errado mais uma vez, tendo expectativas cada vez mais desanimadoras em relação às suas possibilidades para a nova temporada, quando deveria tentar voltar a evoluir, mas parece não conseguir sair do lugar, não apenas apresentando outro projeto que parece fraco em relação aos concorrentes, mas demonstrando problemas gerenciais e técnicos. A “licença” de Paddy Lowe, sem data para terminar, denuncia que os problemas do time são mais sérios e complicados do que fazem transparecer. Espero que consigam se recuperar e fazer uma temporada decente, pela história vencedora que a equipe já teve, e pela sua tradição.
            E vamos para o início da temporada. E que tenhamos um bom campeonato, tanto quanto possível. Hora de acelerar fundo na 70ª temporada da Fórmula 1.


As atividades da Fórmula 1 em Melbourne infelizmente começaram com uma má notícia. Charlie Whiting, diretor de provas da categoria, faleceu nesta quinta-feira, vítima de uma embolia no seu quarto de hotel na cidade, preparando-se para trabalhar no fim de semana do GP. Infelizmente, ele não pôde ser socorrido a tempo, e morreu aos 66 anos de idade. Charlie começou na F-1 em 1977, como integrante da equipe de mecânicos da Hesketh. Com a falência da escuderia, ele se mudou para a Brabham, onde exerceu a função de mecânico-chefe, tendo trabalhado junto com Nélson Piquet nos dois títulos conquistados pelo piloto brasileiro. Whiting desligou-se da escuderia quando Bernie Ecclestone a vendeu ao fim daquela década, passando a atuar junto à FIA desde então, começando como diretor técnico, até chegar à sua posição atual. Foram praticamente 42 anos dedicados à categoria máxima do automobilismo, e deixará muitas saudades em todos aqueles com os quais trabalhou. Descanse em paz, Charlie!
 
A morte de Charlie Whiting foi sentida por todos no paddock da Austrália.

Para quem já imaginava poder acompanhar os treinos apenas pelo SporTV, eis uma surpresa: a Globo anunciou a transmissão do treino de classificação no canal aberto, em paralelo com o canal pago. A diferença é que no SporTV2 a transmissão começará por volta das 2:40 hrs, enquanto na Globo, só a partir das 3:00 hrs., pelo fuso horário de Brasília. A prova será transmitida ao vivo pela Globo a partir das 2:00 hrs. na madrugada de sábado para domingo. E é bom lembrar que as transmissões das corridas em horário alternativo no SporTV agora nada mais são do que reprises da transmissão da Globo no horário ao vivo, perdendo completamente aquele diferencial que possuía até meados do ano passado.

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