sexta-feira, 29 de junho de 2018

BALANÇO DA FRANÇA

Sebastian Vettel acertou Valtteri Bottas na freada da primeira curva na prova de retorno de Paul Ricard à F-1 e facilitou tudo para Lewis Hamilton (abaixo), que venceu a corrida sem ter qualquer oposição.

            Em tempos de Copa do Mundo, a Fórmula 1 resolveu acelerar fundo, e teremos corridas em três finais de semana consecutivos. Estivemos em Paul Ricard no último final de semana, e todo mundo já botou o pé na estrada segunda-feira (alguns ainda no domingo, mesmo) para a próxima parada da competição, aqui na região da Estíria, Áustria, onde fica a pista de Zeltweg, atualmente chamada de Red Bull Ring, mas que no presente momento ainda é uma sombra do que foi um dia. Estão prometendo recuperar o traçado completo desta pista, que tem um trecho que passa atrás do morro, e que ainda está lá, o qual fazia este circuito ser de altíssima velocidade nos seus bons tempos, até 1987, mas até agora, nada. Por isso, esta versão reduzida do circuito é meio lastimável, e os carros dali a pouco podem ser capazes de virar abaixo de um minuto, o que seria ridículo. Já que trouxeram a pista de Paul Ricard de volta em sua extensão total, utilizada atéentão pela última vez em 1985, bem que poderiam parar com a enrolação e devolver Zeltweg à sua glória original como pista...
            Mas, antes dos carros entrarem no circuito hoje para os primeiros treinos oficiais, algumas palavras a respeito do retorno da França ao calendário da F-1. Foi realmente muito legal voltar àquela pista, cujo charme e carisma dão de goleada em Magny Cours. Para não mencionar das atrações e belezas das imediações. Já a corrida em si não foi nada espetacular, como muitos temiam, mas também não foi exatamente um desastre em termos de emoções. Tivemos algumas boas disputas, mas a briga pela vitória acabou arruinada pela baianada de Sebastian Vettel na largada, quando o alemão da Ferrari acabou acertando a Mercedes de Valtteri Bottas, furando um dos pneus do finlandês, e comprometendo sua corrida. Safety Car de novo logo no início de uma corrida, que não promoveu nenhuma revolução no curso da prova, afetando mais mesmo Vettel e Bottas. E, claro, desilusão para os torcedores franceses ao verem dois de seus pilotos, Esteban Ocon, da Force India, e Pierre Gasly, da Toro Rosso, se enroscarem logo na primeira volta e darem au revoir ali mesmo. Os dois franceses certamente não falaram a mesma língua naquele final de semana.
            Sem Bottas para tentar alguma coisa, Lewis Hamilton passeou pela pista de Le Castellet, acelerando apenas o necessário para vencer a corrida. Utilizando a versão atualizada da unidade motriz da Mercedes, Lewis venceu sem ser ameaçado, e ainda viu Vettel chegar apenas em 5º lugar na corrida, onde deu muita sorte de só ter quebrado o bico de seu carro, e contando com a performance muito superior de seu carro para superar quase todos na pista. Não há como negar que, desde a prova de Barcelona, a F-1 viu escancarar a diferença de ritmo de Mercedes, Ferrari e Red Bull para o resto do pelotão, que começa a ficar bem para trás, chegando a tomar até volta do vencedor. Mas, recuperação por recuperação, Vettel foi mais eficiente do que Bottas, que conseguiu voltar à corrida, e foi apenas o 7º, chegando atrás de Kevin Magnussen, da Hass, que voltou a ser o melhor time do “resto” do grid.
            Na frente, quase nenhuma ação. Hamilton, mesmo sendo conservador, para não forçar o carro, foi aumentando paulatinamente sua vantagem sobre Max Verstappen, que conseguiu passar mais uma corrida sem se envolver em confusão, e escapando do rolo da largada, andou praticamente sozinho em 2º lugar a corrida inteira, sem ameaçar, mas também sem ser ameaçado. Daniel Ricciardo deu azar de ter sua asa dianteira danificada, e foi perdendo performance na parte final da corrida, sendo superado por um Kimi Raikkonen muito mais eficiente do que nas últimas corridas. Mesmo assim, para o carro que tem, Kimi poderia ter tentado dar um pouco de pressão em Verstappen, o que não ocorreu, com o holandês terminando a corrida quase 20s à frente do finlandês. No resto do grid, a Renault não conseguiu chegar perto das principais equipes no seu GP caseiro, e só não levou um baile da Hass porque Romain Grosjean continua lastimável na temporada atual, sem conseguir marcar um mísero ponto. E, se a Sauber tivesse um pouco mais de performance, o monegasco Charles LeClerc teria sido uma pedra nas sapatilhas de Carlos Sainz Jr. e Nico Hulkenberg, que estão se vendo muito mais distantes das equipes de ponta do que gostariam, depois de um início de temporada até encorajador. LeClerc, aliás, andou forte o quanto pôde na corrida, antes que seus pneus perdessem a eficiência, e ainda salvou um pontinho que vai credenciando-o a revelação da temporada, e provável candidato a piloto titular da Ferrari na próxima temporada, se confirmarem a aposentadoria de Raikkonen, assunto que sempre entra na “rádio paddock” a meio da temporada, pelas performances apresentadas pelo finlandês. Será que dessa vez vai mesmo? Pelo histórico, a Ferrari nunca foi de colocar pilotos jovens como titulares, achando que eles ainda são “verdes” e “imaturos” para pilotarem um carro de ponta. Mas eis Max Verstappen para desmentir esse raciocínio. Mas os italianos também sempre foram famosos por sua teimosia em alguns aspectos, portanto, não se pode esperar que eles mudem de uma hora para a outra. LeClerc pode passar mais uma temporada na Sauber que pode ser muito positiva para ele continuar crescendo como piloto, e quem sabe em 2020, assumir o carro vermelho, já bem mais calejado e preparado? Até porque Vettel continua a ser o maior defensor de Kimi como companheiro de equipe, pelos motivos que todo mundo conhece... Não arruma encrenca na pista e fora dela com o companheiro de equipe, e Sebastian sabe que pode dar conta do finlandês.
Fernando Alonso: do paraíso da vitória em Le Mans ao inferno em Paul Ricard com mais um abandono, e o pior desempenho da McLaren na temporada atual.
            O que não seria o caso de Daniel Ricciardo. O time italiano refutou a contratação do australiano sob a alegação de que não poderia ter dois pilotos com salários “TOP” na escuderia, que já tem Vettel ganhando uma fortuna por lá. Mas é apenas a desculpa oficial que dão para não trazerem Daniel, porque o motivo real é mais do que conhecido: Vettel não o quer por lá, afinal, o alemão levou uma verdadeira sova de Ricciardo em 2014 quando correram juntos na Red Bull, e a Ferrari o contratasse ele certamente pediria as contas, com receio de levar outra lavada que poderia colocar em xeque sua fama como piloto campeão. Ricciardo quer um carro que possa levá-lo ao título, e a Red Bull agora terá o desafio de fazer sua nova parceria com a Honda dar certo para os próximos dois anos. Atitude ousada e corajosa, mas necessária para ver se consegue dar o salto necessário para conseguir bater Mercedes e Ferrari, que continuam à frente de todos os times no grid da F-1 atual.
            Não se pode dizer o mesmo da Williams, que continua empacada em último lugar, e parece que não vai sair de lá este ano. Melhor a escuderia inglesa começar a se preparar para um ano ainda mais difícil em 2019, quando terá um orçamento muito menor para poder utilizar, com a diminuição brutal da premiação do Mundial de Construtores, onde receberá a menor fatia do bolo, e terá de se virar para cobrir a perda do patrocínio da Martini, que já deu seu aviso de despedida há tempos. É hora de Pady Lowe tentar sua redenção no time, ou afundar de vez. E ainda fica a ameaça de Lance Stroll se cansar da brincadeira de guiar a draga de carro do time e pular fora, e levando junto a imensa grana que seu pai investe na escuderia de Grove. O time vai tentar corrigir seu rumo semana que vem, em Silverstone, onde promete estrear uma versão completamente revisada do seu FW41, a fim de conseguir tentar salvar o ano do desastre completo de terminar a competição em último lugar. Mas, não dá para sentir muita empolgação com isso. Como ninguém quer ver um nome icônico como o da Williams, o terceiro time mais antigo do grid, na situação em que se encontra, portanto, todos torcem por uma reviravolta que lhes permita voltar a andar melhor. Mas, se essa revisão não funcionar, melhor esquecer mesmo o resto de 2018, e pensar no ano que vem de uma vez por todas...
A pista do Red Bull Ring (abaixo) marcou a última pole-position conquistada pela Williams (acima), com Felipe Massa. Hoje o time se arrasta nas últimas posições do grid na F-1.
            Decepção mesmo está sentindo Fernando Alonso, e os torcedores da McLaren. O asturiano, depois de viver um sonho do paraíso na semana retrasada ao vencer as 24 Horas de Le Mans pela Toyota no Mundial de Endurance, viveu o inferno de se arrastar literalmente pela pista na pior apresentação do time de Woking no ano. E o pior de tudo foi não haver um problema específico no carro, que ainda por cima, quebrou na penúltima volta da corrida, configurando o terceiro abandono consecutivo de Alonso na temporada. Como desgraça pouca é bobagem, a McLaren ainda afirmou que o modelo MCL33 padece de um problema aerodinâmico que não estão conseguindo analisar no túnel de vento, e que só podem tentar solucionar testando na pista, algo que só dá para fazer nos treinos livres das sextas-feiras de GP, onde o tempo para tentar descobrir o que está acontecendo não é lá muito abundante.
            Se até o ano passado boa parte da culpa pela falta de competitividade podia ser atribuída à pífia performance das unidades motrizes da Honda, que quebravam mais que macarrão seco e tinham uma falta de potência absurda, este ano não está dando para apresentarem desculpas que não sejam decorrentes de um projeto que certamente não é o que eles imaginavam apresentar. Por mais problemas que as unidades motrizes da Renault tenham tido, é só tomarem como parâmetro o desempenho da Red Bull, que já venceu duas corridas e marcou uma pole, e ocupam a 3ª posição no Mundial de Construtores com mais que o dobro de pontos do próprio time oficial da Renault. Se o modelo MCL32 de 2017 era um carro relativamente bom com um propulsor ruim, este ano a situação se inverteu: o MCL33 está decaindo a olhos vistos, enquanto o motor é bem satisfatório. Tanto é que a McLaren está perdendo de lavada até para o time oficial da Renault, que no início do ano parecia estar emparelhado com a escuderia de Woking. E agora, o que fazer? O time teria feito contato para possível contratação de Daniel Ricciardo, possível indício de que Alonso deve pular fora não apenas da escuderia, mas também da F-1, e ir ser feliz em outros ares e categorias. Mas o australiano toparia essa parada? Acho que seria um retrocesso na sua carreira, e com chances de comprometer o seu futuro na F-1.
            A Force India tenta reagir na competição, mas o orçamento curto impede que o time consiga avançar como gostaria de fazer. Continuam correndo boatos de que a escuderia pode ser vendida, e até o nome de Michael Andretti teria sido mencionado como um possível comprador, o que acho muito improvável, ainda mais em um momento onde o ex-piloto pode estar em vias de formar uma parceria para uma entrada da McLaren na Indycar no próximo ano. Cuidando de seu time no certame de monopostos dos Estados Unidos, e ainda tendo de gerenciar uma possível parceria, não creio que Michael resolveria se arriscar numa empreitada na F-1. E ele já tem também um time na Formula-E, onde os custos de competição são muito mais acessíveis e com menos riscos.
            Conversas de bastidores à parte, o que podemos esperar para a corrida deste domingo? Zeltweg, apesar de curto, ainda é uma pista onde o motor fala alto, e portanto, podemos esperar um novo duelo entre Mercedes e Ferrari. O time prateado pode estar liderando a competição de construtores, e recuperado a liderança da tabela de pilotos com Lewis Hamilton domingo passado em Paul Ricard, mas não é por isso que eles irão ficar menos ocupados em procurar manter a dianteira na disputa. Para tanto, a escuderia prateada chegou aqui à Áustria com um carro completamente revisado e com várias modificações, algumas claramente inspiradas no design do SF71H, para tentar deixar o carro mais à vontade com os diversos compostos de pneus da Pirelli. Portanto, podemos esperar uma atividade mais intensa de pista hoje com Hamilton e Bottas, procurando colocar o novo carro à prova, e verificar se ele ajudará a manter a Ferrari e a Red Bull bem atrás na disputa, que até o presente momento, vem se mostrando razoavelmente equilibrada em termos de resultados e pontuação no campeonato.
            Só esperemos que a corrida pelo menos seja mais animada que as últimas etapas. O público quer disputas na pista, não corridas monótonas e sem brigas...


A MotoGp inicia hoje os treinos para uma das provas mais icônicas da temporada: o Grande Prêmio da Holanda, no circuito de Assen. A corrida tem um significado especial para a Yamaha, e para Valentino Rossi. Para o “Doutor”, é o fato de ele ser o maior vencedor da prova, com 3 triunfos. Para a Yamaha, é a conclusão de um ano sem vitórias na classe rainha do motociclismo. O último triunfo da marca dos três diapasões foi nessa pista, no ano passado, com Rossi, quando o time japonês ainda tinha esperanças de lutar pelo título da temporada. Só que, dali em diante, a performance do equipamento de Rossi e Maverick Viñales decaiu, e arrastou a dupla de pilotos junto, que acabou relegada a papel secundário no restante do ano, vendo o duelo pelo título ficar restrito entre os times oficiais da Honda, com Marc Márquez, e o da Ducati, com Andrea Dovizioso. O italiano conseguiu estender a disputa até a corrida final, em Valência, mas perdeu para Márquez. Foi a primeira vez em muitos anos que a Yamaha não conseguiu discutir o título da temporada, e infelizmente, o jejum de vitórias continuou neste ano, onde até agora a escuderia não conseguiu vencer. Graças à constância de sua dupla de pilotos, e aos azares de alguns concorrentes, a Yamaha até aparece bem colocada no campeonato, assim como Rossi (vice-líder) e Viñales (3º colocado). Mas conquistar novas vitórias tem sido mais difícil do que se imaginava, e a Honda continua a grande favorita ao título, enquanto a Ducati só não está dando o mesmo trabalho que no ano passado porque Dovizioso e Jorge Lorenzo tiveram muitos problemas até agora no ano, mas parecem estar prestes a acertar os ponteiros a qualquer momento. Será que a Yamaha vai conseguir encerrar o seu jejum no aniversário de um ano de sua última vitória, ou a seca irá perdurar mais um pouco? A conferir no domingo, com transmissão ao vivo no canal pago SporTV 2, a partir das 9 da manhã.

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