sexta-feira, 7 de outubro de 2016

HORA DA REVANCHE?


Lewis Hamilton vinha cumprindo seu script rumo a mais uma vitória sem erros na Malásia, quando seu motor o deixou na mão. Abandono pode ser crucial para definição do título.

            Hoje começam os treinos oficiais para o Grande Prêmio do Japão, e a pergunta que mais se ouve no paddock de Suzuka é se Lewis Hamilton vai conseguir partir para a revanche na luta pelo título, após o revés inesperado sofrido domingo passado em Sepang. Para Nico Rosberg, que foi o grande sortudo da prova malaia, depois de um início de corrida que parecia dos mais desanimadores, sair do circuito com 23 pontos de vantagem na classificação era algo que o alemão não esperava nem em sonho.
            Lewis Hamilton vinha cumprindo seu dever conforme o script exigia: largou na pole, e em vista da estratégia da Red Bull, que parecia colocar Max Verstappen em condições de ameaçar a vitória do piloto da Mercedes, o atual campeão vinha aumentando paulatinamente sua vantagem, e já estava praticamente com a vantagem em pista necessária para fazer sua última parada e voltar ainda na frente, a menos que a Mercedes fizesse alguma burrada no pit stop. Mas eis que o motor Mercedes de seu carro quebrou, e Hamilton, mais desiludido do que nunca, deu adeus a uma corrida onde tinha tudo para retomar a liderança. Acontece. E, este incidente pode até decidir o título. Faz parte do jogo, e há de se lembrar que antigamente, quando os carros eram menos fiáveis do que hoje, abandonos por quebra mecânica, e até mesmo por falta de combustível, eram coisas bem comuns. Nesta era atual, onde elevaram os patamares de confiabilidade dos carros a níveis absurdos em virtude das exigências do regulamento de determinados sistemas terem de durar X ou Y provas, as quebras tornaram-se menos rotineiras. E, talvez por isso mesmo, tenham ficado ainda mais dolorosas para os pilotos, em determinados momentos.
            Hamilton acusou o golpe em Sepang, pelas declarações ridículas que deu após a corrida, chegando a insinuar que o time pode preferir ver Nico Rosberg campeão ao invés dele. Nada mais estapafúrdico: a Mercedes tem mais é que receber os elogios por deixar que sua dupla duele abertamente, o que ajuda o show da F-1 em um momento onde o time alemão quase não tem oposição das demais escuderias, ao contrário da atitude covarde tomada pela Ferrari nos tempos de domínio de Michael Schumacher, quando não permitia a seus segundos pilotos duelarem abertamente contra o alemão. Hamilton vinha tendo um comportamento até exemplar este ano. Mesmo quando ficou 43 pontos atrás de Nico na classificação, pareceu manter muito bem a cabeça no lugar, e sabia que seria apenas questão de acertar os ponteiros para reagir no campeonato. E ele o fez com notável desenvoltura, aproveitando os momentos em que as coisas passaram a dar errado para seu parceiro, e a jogar duro quando Rosberg tentou intimidá-lo, como na Áustria. A ponto de a desvantagem de 43 pontos tornar-se uma vantagem de 19 pontos, imediatamente antes da F-1 entrar nas férias de agosto.
            Pelo que Hamilton vinha mostrando até ali, seria difícil batê-lo, a menos que algo errado acontecesse. Até mesmo as punições calculadas em Spa-Francorchamps, para permitir queo inglês tivesse opção de mais unidades de potência à disposição para o restante do campeonato, correu conforme o script traçado em confirmar o favoritismo do piloto inglês, com Nico Rosberg ficando cada vez mais com aquele ar de dejá vu, em que seria novamente vice-campeão, apesar de todos os seus esforços.
            Mas, a partir de Monza, quem diria, a situação se complicou novamente para os lados de Hamilton. Se o inglês anotou uma pole com autoridade na Itália, uma largada falha arruinou completamente suas chances de vitória. Nico Rosberg agradeceu, e venceu sabendo que era uma chance que seria rara, em condições normais dali em diante. E, em Cingapura, circuito onde a Mercedes havia falhado em vencer no ano passado, confirmou-se novamente uma prova que seria difícil para o time alemão impor sua supremacia. Mas Nico, aproveitando as oportunidades, não apenas marcou mais uma pole, como venceu praticamente de ponta a ponta, enquanto Lewis não conseguia ter o mesmo desempenho. O que devia ser uma vantagem controlada, voltou a ser desvantagem, e Nico assumia novamente o comando do campeonato. Era preciso reagir, e Hamilton foi à luta em Sepang, onde tudo parecia caminhar para o que se esperava... até o motor do inglês ir para as cucuias.
Nico Rosberg nem se importou em terminar em terceiro em Sepang. O piloto alemão agora tem 23 pontos de vantagem para Hamilton na classificacão.
            Por essas e outras, quando os pilotos da Mercedes tiverem entrado na pista de Suzuka hoje, Hamilton vai querer mais do que nunca partir para o ataque. Com esta corrida, faltarão as provas dos Estados Unidos, do México, do Brasil, e Abu Dhabi, para encerrar o campeonato. Tem muito chão pela frente, mas a vantagem aberta por Rosberg, de 23 pontos, vai exigir de Hamilton empenho total em vencer. Se Nico for segundo colocado, e imaginando que Lewis vença todas as corridas, ele só recupera a dianteira na classificação na etapa do Brasil, e mesmo assim, seria por 5 pontos de vantagem. Isso na hipótese de tudo dar certo para ele na corrida, mas vendo o rival chegar logo atrás. Iríamos para Abu Dhabi ver uma decisão onde tudo poderá acontecer. Mas não podemos descartar a hipótese de algo dar errado para Hamilton, e se isso ocorrer, tudo ficará bem complicado.
            E tudo vai depender do que virmos aqui em Suzuka. Se Hamilton não colocar a cabeça no lugar, e acabar cometendo outro erro, ou ver Rosberg aumentar ainda mais sua vantagem, o piloto alemão pode dar um passo decisivo para chegar ao seu primeiro título. Nas provas finais do ano passado, foi Rosberg quem dominou as corridas, embora o campeonato já tivesse sido matematicamente decidido a favor de Lewis. Se Nico se encher de brios e repetir a pilotagem precisa daquelas etapas, será muito complicado batê-lo. E, se ele andar bem, aí é que Hamilton pode acabar perdendo as estribeiras, se sentir que seu possível 4º título irá para o brejo. Ou o inglês parte para o início da revanche aqui no Japão, ou tudo ficará ainda mais complicado nas outras etapas. E olhe que estou falando apenas como se a Mercedes corresse sozinha na pista. É preciso lembrar de combinar com a concorrência, especialmente com a Red Bull, que pode incomodar ainda mais em Suzuka. O longo trecho da primeira metade da pista japonesa é cheio de curvas, e exige um chassi extremamente equilibrado, o ponto forte do RB12. Podem apostar que, depois da dobradinha conquistada em Sepang, o time dos energéticos vai querer um bis, e olhe que Sepang tinha duas longas retas em que a unidade de força da Renault deveria ter problemas para acompanhar o ritmo das Mercedes, e em tese, até das Ferrari.
            Aqui em Suzuka, o grande número de curvas na primeira metade da pista é contrabalançado pelo longo trecho em subida na segunda metade, que deve roubar desempenho da unidade de potência francesa. E temos também o trecho da veloz curva 130R, logo após este bom pedaço de reta. Mas podemos esperar por uma Red Bull pronta para botar pra quebrar. E com sua dupla de pilotos mais do que motivada. Não vamos esquecer que em 1993 Ayrton Senna venceu aqui com uma McLaren cujo motor Ford V-8 não rendia o mesmo que o Renault V-10 da Williams de Alain Prost. Chuva à parte na corrida daquele dia, é uma maneira de dizer que a Mercedes pode ter dores de cabeça com o time dos energéticos nesta pista. E a Mercedes já tem suas preocupações: a quebra da unidade de Hamilton deixou o time em alerta, pois não havia nada que indicasse que ela estava prestes a quebrar, ou que apresentasse algum problema que pudesse indicar isso. A questão é se pode aparecer alguma outra surpresa no fim de semana.
            Com relação a quem pode ser o principal adversário do time prateado na corrida, favoritismo teórico da Red Bull à parte, a Ferrari ainda vai querer tirar satisfações na luta pelo vice-campeonato, algo que ficou bem mais complicado depois da dobradinha da equipe austríaca em Sepang. Se ficar enrolada em uma disputa com os carros vermelhos, a Red Bull pode acabar deixando de ser uma preocupação, mas a ordem em Maranello é tentar salvar o que resta da temporada, e para isso, ser pelo menos vice-campeão de construtores é a ordem máxima, porque no campeonato de pilotos, Daniel Ricciardo já escapuliu demais para uma reação tanto de Vettel quanto de Raikkonen. E ainda tem Max Verstappen querendo se meter nesta briga, o que será outra dor de cabeça para a dupla ferrarista. Imaginem se o moleque atrevido termina o ano à frente de ambos? Se Vettel soubesse a encrenca que arranjaria quando criticou Daniil Kvyat após a etapa da Rússia e provavelmente desencadeou (ou no mínimo precipitou) o processo de troca dos pilotos entre a Red Bull e a Toro Rosso...
            A prova de Suzuka tem tudo para ser interessante no domingo. E, dependendo do que virmos nos treinos livres e na classificação, talvez tenhamos uma disputa mais ferrenha pelo título, ou uma antecipação de quem pode vir a levar o troféu da temporada. Portanto, vamos para os treinos livres (este texto foi fechado nesta quinta-feira, antes do início dos mesmos), e esperemos por um bom fim de semana para a F-1 no Japão.


Lewis Hamilton não foi o único piloto a sofrer um desastre completo com o resultado do Grande Prêmio da Malásia. Sebastian Vettel, que tinha chances de fazer uma boa corrida, mesmo largando atrás das duas Red Bull no grid, acabou com sua corrida logo na primeira curva, ao abrir demais na tentativa de ganhar posições, e acabou acertando Nico Rosberg, que teve muita sorte de sua suspensão traseira ter aguentado a pancada recebida do carro do alemão da Ferrari, que viu sua suspensão dianteira torta logo ali, e deu adeus à corrida. Com o resultado, Vettel acabou novamente superado por seu companheiro Kimi Raikkonen na classificação. O finlandês agora é o 4º colocado, com 160 pontos, enquanto Vettel é o 5º, com 153. Mas, mesmo que não abandonasse, e tivesse uma corrida normal, sem problemas, Vettel certamente amargaria mais uma derrota para a Red Bull, terminando a corrida possivelmente em 3º lugar. Raikkonen foi o 4º colocado, com 28s785 de desvantagem para Daniel Ricciardo, o vencedor. Nico Rosberg foi o 3º colocado, cruzando a linha de chegada com 25s516. Max Verstappen, o 2º colocado, ficou a apenas 2s443 do piloto australiano e companheiro de equipe na Red Bull. Só lembrando que foi na Malásia que Vettel venceu pela primeira vez com a Ferrari, no ano passado, e tudo dava a impressão de que o tetracampeão iria levar a Ferrari de volta ao topo da F-1 no curto prazo... A situação ficou muito a desejar nesta temporada. Todo mundo no paddock fica imaginando o que Vettel deve estar pensando em ver seu ex-time vencer novamente uma corrida, enquanto a Ferrari só não anda mais para trás porque Force India e Williams estão ainda mais para trás.


Felipe Massa, decididamente, não está conseguindo fazer um fim de carreira satisfatório na F-1. Em Sepang, após conseguir realizar um treino classificatório até razoável, viu suas chances de obter um bom resultado irem para o brejo logo antes da largada, quando teve um problema no acelerador de seu carro e teve de largar do fim do grid. E, como desgraça pouca é bobagem, o piloto brasileiro ainda teve um pneu furado durante a corrida, o que só ajudou a tornar o dia esquecível, finalizando a corrida em 13º lugar, e novamente sem conseguir marcar pontos. Em contrapartida, Massa ainda teve de ver Valtteri Bottas finalizar numa ótima 5ª colocação, e chegar aos 80 pontos, consolidando-se como melhor piloto do “resto” do grid, após as duplas de Mercedes, Red Bull e Ferrari. Massa ainda acabou superado na classificação do campeonato por Fernando Alonso, que largou em último e fez uma corrida combativa para terminar em 7º lugar, bem próximo de Sérgio Perez, o 6º, e Bottas, o 5º lugar. Se continuar nessa toada, a despedida de Massa da categoria não deixará mesmo saudades...


O traçado que a F-E usará em Hong Kong tem 10 curvas e aproximadamente 1,86 Km.
A Formula-E prepara-se para iniciar a sua terceira temporada, e o novo palco de estréia é em Hong Kong, ao sul da China, que substitui a prova de Pequim, que deu início à competição nos dois anos anteriores. A nova pista tem 1,86 Km de extensão, com 10 curvas, e possui até um trecho razoável de reta, mas não se pode imaginar que as ultrapassagens serão fáceis: o traçado é pequeno, e mesmo o trecho de reta, após uma curva em hairpin após a reta de largada, pode não facilitar tanto quanto se imagina no mapa. Amanhã, sábado, a categoria inicia suas atividades, com o shakedown de todos os carros, e até demonstração de corrida da Robo Race, carros robôs elétricos sem pilotos que podem ser uma das sensações do futuro. No domingo, a corrida será disputada em 45 voltas no circuito, às 15:30 horas locais. O canal pago Fox Sports mostrará a corrida na íntegra a partir das 8:15 Hrs, pelo horário de Brasília. Na pista, apenas dois brasileiros nesta temporada: Lucas Di Grassi segue defendendo a escuderia Audi ABT; enquanto Nelsinho Piquet aguarda um ano menos problemático com a NexTev Racing, que praticamente teve um ano para esquecer na última temporada. Bruno Senna, infelizmente, não conseguiu renovar com a equipe Mahindra, e está fora da competição. E um dos destaques da nova temporada é a estréia da Jaguar, que vem como equipe completa para o certame dos carros monopostos elétricos, com a dupla de pilotos Adam Carroll e Mitch Evans. Apesar de negar o favoritismo, Lucas Di Grassi é um dos nomes mais fortes do grid, ao lado do atual campeão Sébastien Buemi, que deve ser o piloto a ser batido. Liguem suas tomadas que a nova temporada da F-E promete boas disputas e emoções.
Hong Kong dá a largada para a nova temporada da Formula-E.

Nenhum comentário: