sexta-feira, 4 de março de 2016

COMEÇANDO COM O PÉ ESQUERDO


Vai começar o campeonato 2016 da Stock Car, mas o que todos querem saber não estará rolando na pista propriamente...

            Que a situação do Brasil anda complicada nos últimos tempos, ninguém discute. Além da economia estar indo ladeira abaixo, temos um governo inepto, e para piorar, está estourando escândalos a rodo cada vez que se mexe em alguma coisa no governo federal, pra não dizer que congresso e senado voltaram a exibir os piores hábitos de uma classe política que já encheu o saco de tanta roubalheira, além de torrar a paciência do povo. É tanta patifaria, misturada com conversa fiada de uns que se julgam "acima do bem e do mal", como se serem investigados fosse um pecado capital que é de dar nojo, e para piorar, isso não está se resumindo apenas à política, mas também ao esporte.
            No ano passado, investigações do FBI balançaram a FIFA, cuja cartolagem é pra lá de suspeita de negócios escusos. Só que os americanos não costumam brincar em serviço, e nesse rolo alguns cartolas graúdos foram ver o sol nascer quadrado, inclusive sobrando até para a CBF, que de santa não tem nada. Mas quem achava que apenas por aí ia rolar escândalos, eis que uma reportagem publicada pelo jornal Folha de São Paulo esta semana trouxe à tona conversas suspeitas do auxiliar de comissário Paulo Ygor Dias e o ex-chefe de comissários Clóvis Matsumoto em uma rede social dando a entender que usavam de sua posição para prejudicar o piloto Cacá Bueno, de quem não gostavam, ou pelo menos não simpatizavam, nos campeonatos da Stock Car. Bom, com o campeonato da Stock iniciando sua disputa neste fim de semana, no autódromo de Curitiba, começar o ano com uma notícia dessas deve ser mesmo uma maravilha, pois no paddock, não se fala em outra coisa. Vai ter corrida? Vai, e é a etapa das duplas, com vários pilotos convidados dividindo os carros dos pilotos titulares da competição, uma das atrações do campeonato, ao lado da famosa Corrida do Milhão, que este ano será disputada em Interlagos, em setembro.
            Mas ninguém, além das equipes e pilotos, está prestando muita atenção na pista, e mesmo entre eles o assunto é quase tão prioridade quanto as atividades do fim de semana. E quem pode culpá-los? O assunto mesmo está é do lado de fora da pista. A CBA afastou os dois profissionais citados nas conversas, e anunciou que será feita uma apurada investigação. Pelo seu lado, Paulo Ygor Dias e Clóvis Matsumoto alegaram que a conversa foi uma "molecagem", uma "brincadeira", por assim dizer. E, logicamente, mesmo com um assunto incendiário desses, a própria CBA, meio que tentando livrar sua barra, ainda declarou que os comissários esportivos não tem como premeditar punições ou alterar resultados de corridas no nível de conspiração que as mensagens sugerem. Finjo que acredito... Não condenando de antemão os dois autores das conversas reveladas, mas por saber que, honestidade por honestidade, alguém aí aponte alguma que não esteja envolvida em alguma picaretagem ou suspeitas... A CBA, claro, não tem como posar de santa nesta história toda, mas como é óbvio, tentará livrar a sua barra, alegando seu profissionalismo, e a lisura de seus integrantes, bem como possuir um regulamento bem montado e que, na sua opinião, não permite atitudes acintosas como as pretensamente sugeridas de terem sido feitas pelos dois membros acima citados...
            Como se o regulamento da Stock não tivesse seus furos, e que nos últimos tempos não tenha havido algumas punições onde alguns pilotos ficaram bem putos com isso. E, no caso de Cacá Bueno, basta lembrar da suspensão de uma etapa em rodada dupla no campeonato do ano passado, como punição por ter chamado o pessoal da CBA de "bando de imbecis" após o rolo ocorrido na etapa de Ribeirão Preto, onde a bandeirada de chegada não foi mostrada e os pilotos continuaram acelerando fundo, com gente já entrando na pista, o que poderia ter provocado um sério acidente. Cacá é um piloto de personalidade forte, que fala o que pensa, e isso incomoda muita gente, especialmente os manda-chuvas da categoria, que não gostam quando um piloto foge do script "comportado" que eles gostam de impôr como conduta. Por mais que alguns achem o piloto um chato de galocha, e ainda mais por ser filho do narrador Galvão Bueno, é inegável que o resultado da punição com a suspensão do piloto por uma etapa no ano passado pode ter sido mesmo decisiva na sua luta pelo título: o piloto ficou com o vice-campeonato por uma diferença de 32 pontos para Marcos Gomes, o campeão. Levando-se em conta que uma vitória na categoria vale 24 pontos, dá para perceber que ficar por duas corridas sem marcar pontos devido a uma punição realmente pesou na disputa.
            Foi mesmo "molecagem", como afirmam? Quem garante agora que não foi? E, pior de tudo, essas conversas que foram divulgadas foram apenas destes dois "profissionais" da CBA, que se assim o fossem, não deveriam brincar falando de tais coisas nos termos em que se expressaram. Ambos terão que caprichar muito em suas explicações para provar que nada fizeram no sentido de prejudicar Cacá Bueno, e mesmo assim, ainda haverá muito a se esclarecer, como por exemplo: e se houver alguém mais pensando desta maneira, no pessoal de pista, ou dentro da cartolagem da CBA? Quem garante a imparcialidade do trabalho destas pessoas agora? Certo, alguns outros pilotos também sofreram algumas punições duvidosas nos últimos anos, o que em tese pode ser alegado de que Cacá não foi vítima de "perseguição", como as falas sugerem, mas também não significa que isso não foi feito. Quem garante que os demais não foram punidos apenas para despistar? E tem mais: e se Cacá não tiver sido o único "alvo" a ser atingido? Tudo isso precisa ser apurado, e muito bem apurado.
            Cleyton Pinteiro, Presidente da CBA, determinou em uma portaria publicada nesta terça-feira que seja criada imediatamente uma Comissão de Inquérito para apurar eventuais irregularidades que ambos possam ter cometido. A Comissão terá três membros e será formada pelo piloto Chico Serra, o presidente da Federação de Automobilismo do Espírito Santo, Robson Duarte, e será presidida por um representante da ABPA - Associação Brasileira de Pilotos de Automobilismo. Se essa comissão vai resultar em alguma coisa, já é outros quinhentos, e como este não costuma ser um país sério, basta lembrar no que resultaram as últimas "apurações" da entidade que comanda o que sobrou do automobilismo nacional nos casos de doping registrados recentemente...
            As saber da reportagem, Cacá Bueno não pareceu surpreso com o teor dos fatos. Até Galvão Bueno prometeu ir à justiça para apurar essa situação. E outros pilotos também aproveitaram para reclamar de punições sofridas que eles contestaram na época. Paulo de Tarso, ex-piloto e dono de equipe, também concorda que vários itens do regulamento podem se prestar a interpretações que provocam dúvida, contestando declaração da CBA no sentido de que todas as punições são feitas cumprindo-se estritamente o regulamento, e que de acordo com comunicado emitido pela entidade, "Os regulamentos técnicos das categorias são objetivos, não se prestando, em regra, a interpretações divergentes". A grosso modo, tudo o que ocorreu na última década e meia fica na dúvida, e isso pega muito mal para o esporte, e a própria Stock Car como categoria, pelo simples fato de que todas as decisões agora podem ser passíveis de investigação e análise. Claro que nem todas as decisões foram assim, mas como confiar que até mesmo as punições "legais" não foram de alguma maneira manipuladas ao sabor dos acontecimentos?
O Autódromo Internacional de Curitiba recebe pela última vez a Stock Car neste fim de semana, na abertura do campeonato 2016. Pista dará lugar a prédios de condomínios, e o Brasil perde mais um autódromo...
            Paulão Gomes, ex-piloto tetracampeão da Stock Car, que atualmente é diretor de marketing e planejamento da CBA, num discurso até alinhado com o que fala a entidade, diz que "não sentiu nada de maldade na conversa que veio à tona entre os dois profissionais, coroborando a tese da "molecagem" defendida para tentar justificar o teor das declarações. Brincadeira ou não, uma conversa com este tipo de assunto, que pode detonar com a credibilidade de uma entidade e a de um campeonato que se diz sério e profissional, em suma, acabar com a imagem e confiança de um campeonato, e da entidade que diz zelar pelo esporte a motor nacional, e ainda por cima uma pessoa que é o diretor de marketing, que lida com a imagem e confiança que o público tem, dizer que não viu nada de maldade é de uma insensibilidade ou falta de tato pra lá de absurda. Imaginem então se ele não fosse alguém encarregado disso... Outro fato que pode pegar ainda mais mal em sua afirmação reside no fato de Paulão ser nada menos que o pai de Marcos Gomes, atual campeão da Stock que, méritos próprios à parte, pode ter sido realmente beneficiado com a punição de Cacá no ano passado. Some dois mais dois, e dali a pouco os conspiracionistas de plantão vão meter até Marcos no meio da conversa, coisa que o piloto não merece, mas que pode pôr em dúvida sua conquista do título de 2015.
            Cacá desabafa abertamente ao declarar que o que ocorre é "algo que todo mundo sabia mas nunca tivemos provas. Os comissários fazem 2 pesos e 1 medida e jogam um jogo de cartas marcadas. São moleques no mínimo, eles mesmos admitem. E dentro da CBA tem gente sem o menor senso do ridículo, eles confessaram tá aí pra todo mundo ler mas tem gente graúda que segue defendendo a postura deles". Quando se fala assim, pode-se imaginar também punições que podem ter deixado de ser aplicadas, ou algo do gênero, dependendo ou não das conveniências. E se isso realmente aconteceu pra valer, pode ferir mortalmente a categoria naquilo que lhe é mais valioso: a confiança perante o público. Se os torcedores virem que seus pilotos foram logrados, sabe-se lá por qual razão, podem virar as costas para a Stock. E sem público, os patrocinadores pulam fora... E sem patrocinadores, não tem como sustentar a categoria. E sem categoria, menos grana para a CBA, e o automobilismo nacional desce mais um pouco na vala onde se encontra nos últimos tempos, diga-se de passagem, com total anuência da entidade.
            Maurício Slaviero, diretor geral da Vicar, empresa que organiza o campeonato da Stock Car, concorda com as críticas feitas por Cacá, e pede investigação e punição para os envolvidos que porventura tenham ferido a essência do esporte e que devem ser banidos do automobilismo nacional se assim o fizeram. Neste ponto, sua preocupação é óbvia: se a credibilidade da Stock ruir, é a Vicar quem sai perdendo, e muito, ao ver o produto que administra ir pelo ralo. Por outro lado, defende o regulamento da CBA para a categoria, e tratou se isentar a Vicar de qualquer punição sofrida pelos pilotos, como se não tivesse nada a ver com isto. O clima para início da competição, como se vê, não poderia ser mais quente. Pena ser pelos motivos errados, mas é preciso que tudo seja apurado, a fim de se eliminarem quaisquer dúvidas. O problema é que, até que surjam respostas, e isso no caso de ser feita realmente uma investigação séria, profissional e imparcial, todo mundo está desconfiando de todo mundo, dentro e fora da pista.
            Vai ser mesmo complicado se concentrar na pista neste fim de semana...
            Confiram o calendário da Stock Car 2016, e a relação dos pilotos e escuderias participantes da temporada:

DATA
PROVA
CIRCUITO
06.03
Curitiba
Autódromo Internacional de Curitiba
10.04
Velopark
Autódromo do Velopark
22.05
Goiânia
Autódromo Internacional de Goiânia
05.06
Santa Cruz do Sul
Autódromo Internacional de Santa Cruz do Sul
26.06
Tarumã
Autódromo Internacional de Tarumã
17.07
Cascavel
Autódromo Zilmar Beux
11.09
Corrida do Milhão
Autódromo José Carlos Pace - Interlagos
25.09
Londrina
Autódromo de Londrina
16.10
Brasília (sujeita a confirmação)
Autódromo Nélson Piquet
06.11
Goiânia - 2
Autódromo Internacional de Goiânia
20.11
Curvelo
Circuito dos Cristais
11.12
São Paulo
Autódromo José Carlos Pace - Interlagos

EQUIPES
PILOTOS
AMG Motorsport
Guga Lima
Exalta C2 Team
Júlio Campos; Gabriel Casagrande
Cavaleiro
Popó Bueno
Eurofarma RC
Max Wilson; Ricardo Maurício
Full Time Sports
Rubens Barrichello; Allam Khodair
Hot Car Competições
Raphael Abate; Felipe Lapenna
Ipiranga RCM
Galid Osman; Thiago Camilo
Micos Racing
Sergio Jimenez
Red Bull Racing
Daniel Serra; Cacá Bueno
Schin Racing Team
Vitor Genz; Nestor Girolami
Shell Racing
Ricardo Zonta; Átila Abreu
União Química Racing
Diego Nunes
Vogel Motorsport
Denis Navarro
Voxx Racing
Marcos Gomes; Felipe Braga

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