sexta-feira, 6 de julho de 2012

ROLOS NA INDY


            Quem acha que a Fórmula 1 vive enrolada com algumas de suas politicagens que não fique achando que isso é exclusividade da categoria máxima do automobilismo. Nos Estados Unidos, a Indy Racing League, vulgo Indycar, tem tido sua cota de confusões nesta temporada. A única diferença é que, como se trata de uma categoria menor, e de popularidade mais restrita, seus rolos também são mais, digamos, discretos. Mas que eles existem, isso, existem.
            Comecemos pela estranha permissão para a Honda mexer em seu novo motor turbo. Inaugurando uma nova fase, a IRL passou a usar pela primeira vez motores turbo em seu campeonato, tirando-se sua primeira temporada, lá em 1996, quando ainda usou os mesmos equipamentos da F-Indy, que na época, usava motores turbo. Acontece que a Honda levou uma lavada da Chevrolet no início do campeonato, e então, eis que a direção da categoria permitiu aos japoneses fazerem uma modificação no seu motor, com vistas a melhorar a competitividade. Isso foi visto pela Chevrolet como uma quebra das regras da categoria, que espelhando-se nas regras atuais da F-1, estabeleceu o “congelamento” técnico dos motores como forma de redução de custos, além de limite de unidades, punições de perda de posição no grid por troca de propulsor, etc. A modificação permitiu a volta da Honda na briga, e embora os Chevrolet ainda sejam os melhores motores, o desnível existente até então para os propulsores nipônicos ficou bem reduzido. Houve quem não tenha gostado ainda mais disso, como John Barnes, dono da Panther, que escolheu o Twitter como local de desabafo público, colocando lá suas queixas e motivos para desgostar do presidente da Indycar, Randy Bernard, entre outras coisas.
            Numa atitude ridícula, Barnes tomou uma multa de cerca de US$ 25 mil pelas suas críticas, e o caldo entornou de vez. E concordo com sua atitude, afinal, que palhaçada é essa de não poder manifestar sua opinião? Os EUA viraram uma ditadura feito Cuba, por acaso? Mas não fiquem achando que tal palhaçada é exclusividade da IRL: em outros certames, existem cláusulas que impedem expressamente seus participantes de dizerem qualquer coisa desabonadora sobre o campeonato em que participam, e nem é preciso dizer que a F-1 está cheia disso, com pilotos e times que falam e seguem o manual do politicamente correto tão certo que chega a encher o saco.
            A coisa na IRL engrossa quando Barnes resolve pedir a cabeça de Randy Bernard, presidente da Indycar, e segundo alguns, ele estaria sondando outros colegas para ver se a idéia pega, entre eles, adivinhe só, Tony George. Era só o que faltava! Pra quem não sabe, Tony George foi o criador da Indy Racing League. Enciumado por não ter todo o poder que desejava na F-Indy, e detendo o comando das 500 Milhas de Indianápolis, George deu um ultimato à direção da CART em 1995: ou lhe davam o respeito e posição de poder que achava que merecia, ou ele tirava a Indy500 do calendário da F-Indy. A CART era um órgão colegiado formado por donos de todas as escuderias da categoria, e deram uma banana para George, que resolveu cumprir sua ameaça, e criou seu próprio campeonato, onde ele mandava em toda a bagaça.
            Deu no que deu: com duas categorias disputando o mesmo público, a Indy perdeu prestígio e importância. Até hoje a IRL não consegue recuperar a fama que a F-Indy original tinha, e pior, George ainda bancava boa parte do campeonato, que nunca foi economicamente auto-sustentável até alguns anos atrás. Felizmente, acabou afastado da direção da IRL, embora ainda faça parte do conselho da categoria. Entrou então Randy Bernard, que já havia feito fama nos certames de rodeios, e bem ou mal, começou a introduzir mudanças na categoria. Verdade que nem tudo foi bom, mas pelo menos, houve tentativas de se melhorar o que havia disponível, e torná-lo algo ainda melhor. O campeonato foi reorganizado, com várias pistas sendo descartadas em prol de etapas financeiramente mais viáveis. Não é surpresa nenhuma que várias etapas em ovais tinham um público ínfimo, onde o que mais se via eram arquibancadas vazias ou apenas um lance ou outro ocupado por torcedores. Como Tony George bancava o campeonato, essas etapas eram enfiadas por ele e tudo seguia em frente. Chegou a criar sua própria escuderia, a Vision, para enfiar mais carros no grid. Mas uma hora, a brincadeira tinha de acabar, e George acabou destituído até da direção do autódromo de Indianápolis por depauperar o patrimônio da família bancando sua brincadeira de campeonato próprio. Não é novidade para ninguém que George quer recuperar sua antiga posição de poder. O problema é que sua visão mostrou-se equivocada, na ânsia de querer acabar com a antiga F-Indy, e hoje, a IRL precisa saber andar com as próprias pernas. Isso Randy Bernard está conseguindo fazer acontecer, o que torna uma atitude descabida querer tirá-lo do comando da categoria apenas por desavenças pontuais. Mas, foi começando por este tipo de desentendimento que a IRL surgiu, na década retrasada...
            Tivemos também o caso das punições bestas, comandadas por Brian Banhart, comissário chefe, que se envolveu com bate-bocas com vários pilotos, entre os quais Hélio Castro Neves. Felizmente, ele acabou substituído, mas nem por isso a categoria evitou de se envolver em algumas zicas, como foi a punição besta a Scott Dixon em Milwaukee, que acabou sendo punido injustamente por queimar uma relargada, e perdeu as chances de vencer a corrida, terminando apenas em 11°.
            E as equipes também estão chiando por causa do novo chassi DW12. O modelo, fabricado pela Dallara, está custando cerca de US$ 500 mil por unidade, enquanto as promessas do novo equipamento eram de que ele estaria à disposição por no máximo US$ 350 mil. Para conter os custos, os kits aerodinâmicos que permitiriam ser usados para customizar os carros, acabaram adiados para 2013, e agora, para 2014. Os times alegam que os custos estão altos, e estão exigindo que a Dallara baixe os preços de seus equipamentos, uma vez que enfiaram uma regra besta que proíbe os times de fabricar peças e equipamentos para os novos carros: qualquer peça usada neles tem de ser original da Dallara. Neste ponto, a chiadeira é generalizada, e negociações estão sendo feitas com os italianos para baixar os custos, e tem muita gente exaltada com isso. Na minha opinião, manter o campeonato sendo monomarca de chassi foi um erro crasso. Deviam ter aberto a quem quisesse fornecer chassis, desde que respeitando o regulamento técnico, e estabelecendo regras que permitissem um desenvolvimento restrito por parte dos fabricantes para deixar os custos sob controle. Na antiga Indy tinha chassis fabricados pela Lola, Reynard, Penske, e até March e Swift em determinadas temporadas. Por que não agora? Contenção de custos, foi a resposta. Bem, parece que o tiro, até o momento, está saindo pela culatra, pois os italianos estão meio que dando uma banana para os clientes americanos. E nem é preciso dizer que as peças de reposição estão saindo a preços “de ocasião”...
            Era preciso atualizar os carros, que já estavam sendo usados há quase uma década, dando a impressão de que a categoria não evoluía no tempo. Mas os antigos chassis tinham algumas vantagens, e de tanto serem usados, vários times já implantavam neles peças de fabricação própria, ajudando a conter algumas despesas. Muitos também consideram que foi um disperdício terem ignorado os chassis Panoz desenvolvidos para a antiga F-Indy, que quando foi absorvida pela IRL há alguns anos, foram praticamente descartados pela nova categoria, ainda tendo um bom potencial e vida útil. Mais uma decisão equivocada, na opinião de muita gente.
            A economia americana também não ajuda. Desde 2008, com a crise financeira, o mercado não voltou aos níveis de outrora, e quem tem dinheiro sobrando hoje pensa duas vezes antes de gastar seu dinheiro. Um hábito bom, porque antes, muitos americanos tinham tendência a saírem gastando a torto e a direito, e hoje eles são mais comedidos. Mas a fonte secou para alguns times, que não conseguem encontrar patrocinadores com a facilidade de antes. Há pontos a serem comemorados, como os níveis de audiência estarem subindo, com um contrato de exibição na TV americana muito melhor do que o que havia antigamente, a entrada da Izod como patrocinadora oficial do campeonato, e estar entrando mais dinheiro nas promoções de corridas, direitos de transmissão, etc. Mas ainda não está bom o suficiente, é preciso cortar alguns custos. E para isso, será preciso mudar algumas das regras. O problema é conseguir consenso para fazer as mudanças certas, e nessas horas, cada um defende a idéia que lhe parece mais conveniente. E ainda há a sensação de que muita gente está reclamando de barriga cheia, algo que certamente não ajuda nem um pouco na hora de se demonstrar boa vontade na tentativa de achar soluções para os desafios que se apresentam...
            Se não houver vontade de corrigir algumas derrapadas, e união para implementar as idéias e medidas corretas, a IRL pode ver naufragar seus planos de reerguimento da categoria. Até o momento, a única coisa positiva deste ano foi a volta da disputa de motores, com a briga Chevrolet X Honda. Mas é preciso um pouco mais. Vamos ver se eles acertam o rumo, ou se poderemos ver um “racha” ou uma troca de comando no certame. Qualquer uma das duas hipóteses terá conseqüências negativas, e de notícias ruins todos já estão meio cheios.
            Felizmente, a briga dentro da pista segue boa, e o campeonato promete mostrar uma luta pelo título potencialmente interessante. Vamos ver domingo como as coisas se ajeitam na corrida de Toronto, no Canadá...

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A F-1 chegou a Silverstone para a disputa do Grande Prêmio da Inglaterra, uma das corridas com ambiente extra-pista dos mais agradáveis. No descampado que cerca o autódromo, milhares de torcedores acampam para acompanhar a prova, e bater bons papos sobre corridas e afins. E a briga na pista? Podemos esperar qualquer coisa: ainda não teve nenhuma corrida monótona este ano, felizmente. Quem sabe o que pode acontecer agora?

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