sexta-feira, 29 de abril de 2016

O DESAFIO DE LORENZO



Depois de 9 anos na Yamaha, Jorge Lorenzo defenderá a Ducati a partir de 2017.

            Valentino Rossi chegou, viu, e venceu o Grande Prêmio da Espanha, disputado domingo passado em Jerez de La Fronteira, na Andaluzia, de uma maneira que muitos já haviam esquecido. O "Doutor" largou na pole-position, e venceu a corrida de ponta a ponta, como nos seus bons tempos, que muitos insistem em dizer que já passaram, mas o italiano mostra que ainda não estão tão terminados como se pensa. Mas um dos grandes assuntos no paddock do circuito espanhol, além da vitória do piloto italiano da equipe oficial da Yamaha, era a mudança de seu companheiro de equipe, Jorge Lorenzo, para a Ducati, a partir da próxima temporada. A dupla de pilotos mais forte do grid da categoria rainha do motociclismo será desfeita.
            Além de um proposta financeira melhor por parte dos italianos, que ofereceram cerca de 12 milhões de euros por temporada por um contrato de dois anos, contra um salário de 9 milhões de euros se renovasse com a equipe de Iwata, Lorenzo está buscando um tratamento diferenciado que não ia conseguir na Yamaha: ser o primeiro piloto do time. O piloto espanhol, desde que ficou livre de Rossi no time nipônico quando este foi correr pela Ducati em 2011 e 2012, após várias desavenças com o "Doutor", se acostumou a ser o centro das atenções do time, mas quando Rossi voltou à escuderia em 2013, por incrível que pareça, o relacionamento entre ambos conseguiu até ser mais calmo. Mas bastou ambos disputarem ferrenhamente o título no ano passado, para o caldo entornar de vez, situação que acabou se estendendo até às equipes de mecânicos de cada piloto no box.
            Apesar de ter conquistado o título de 2015, o clima no time entre Lorenzo e Rossi não ficou mais calmo, e até mesmo a direção da escuderia ficou um pouco reticente com o espanhol, depois que ele meio que tomou partido contra o italiano das críticas que Rossi havia feito sobre Marc Márquez estar "fazendo corpo mole" a fim de favorecer seu compatriota na luta pelo título do ano passado, discussão que acabou atingindo seu ápice no incidente entre Rossi e Márquez em Sepang, com o piloto da Honda caindo após um suposto chute do italiano em sua moto em uma disputa de posição. Isso levou à punição de Rossi largar em último na etapa final em Valência, e o piloto tentou apelar ao Tribunal Arbitral do Esporte, a fim de reverter a punição. Além de não ter conseguido o que pretendia, Valentino ainda ouviu Lorenzo criticá-lo, com o espanhol tentando se envolver no processo pedindo maiores punições ao companheiro de time sem consentimento da escuderia. Lorenzo conquistou o tricampeonato, e mesmo que o tenha feito por méritos próprios, seu triunfo ficou à sombra da punição dada a Rossi, que pelo sim, pelo não, contaminou o clima da decisão.
            O ambiente entre as equipes de mecânicos, até então cordial, também ficou meio exaltado. Ambos os times de Rossi e Lorenzo mantinham harmonia no seu trabalho conjunto, mas depois do final polêmico de 2015, a sintonia entre todos dentro dos boxes não se tornou mais a mesma de antes. Junte-se a isso o fato de Lorenzo reclamar do compartilhamento de dados entre ele e Rossi, algo plenamente justificável em uma escuderia de competição, sob alegação de que o italiano se aproveitava de seu trabalho de desenvolvimento, e a negativa da Yamaha de mudar sua filosofia de trabalho, e podemos ver que o ambiente no time dos três diapasões andava meio instável mesmo.
            Mas, procurando manter sua dupla de pilotos tranquila o tanto possível, e confiando no talento deles, a Yamaha ofereceu a ambos o contrato de renovação por mais dois anos antes mesmo da largada da primeira corrida, em Losail, no Qatar. Rossi aceitou de imediato, mas Lorenzo pediu um tempo para pensar. Com uma proposta milionária da Ducati, que já há algum tempo vinha sondando o piloto espanhol, e a certeza de que o clima no time nipônico poderia continuar não sendo do seu agrado, Lorenzo resolveu aceitar o desafio de levar o time da marca italiana de volta ao topo da MotoGP.
            Sobre o desejo de ser o número um do time, o próprio Lin Jarvis, chefe da escuderia oficial da Yamaha, revelou que essa era uma exigência que o time não poderia atender, por contar com dois pilotos campeões, e que o tratamento dado a ambos seria sempre igual, sem prejudicar ou favorecer um ou outro. Claro que Lorenzo disse que isso não foi o motivo principal de sua decisão de guiar para a Ducati, mas que influenciou fortemente, isso influenciou. Oficialmente, Lorenzo disse que ir para a Ducati significa encarar novos desafios e uma mudança de ares na carreira.
            A Ducati conseguiu uma evolução significativa em sua moto para esta temporada, e o modelo desta temporada tem mostrado uma notável velocidade em reta, já capacitando o time italiano a voltar a vencer corridas. Para isso, entretanto, a marca precisava de um piloto campeão em suas fileiras, a fim de não ter mais desculpas para a falta de resultados. E Lorenzo é o piloto que, na opinião do time, pode levar a marca de volta ao topo do pódio. Uma das motivações de Lorenzo em sua empreitada seria conseguir justamente o que Rossi não foi capaz de fazer: levar a equipe italiana de volta ao título. Rossi competiu pela Ducati em 2011 e 2012, mas o melhor que conseguiu foram 2 segundos lugares e um terceiro, ficando sem vencer praticamente. Não foi o resultado que muitos esperavam.
            Curiosamente, foi o fracasso da parceria Rossi/Ducati que abriu o caminho para a Ducati ser hoje um time em franca ascenção. Como puderam fracassar tendo um multicampeão como o "Doutor" no time? A resposta era mais do que óbvia: o equipamento era ruim. E isso levou a Ducati a promover mudanças na direção do time, investir na área técnica e reformulações no projeto da moto. Levou um tempo, mas hoje a moto italiana só perde para a Yamaha e a Honda, e só precisam mesmo é de um piloto do quilate de Jorge Lorenzo para enfim igualar-se definitivamente aos dois times mais poderosos da MotoGP. E a Ducati já anda incomodando nesta temporada: Andrea Dovizioso batalhou ferozmente com Lorenzo pela vitória no Qatar, cruzando a bandeirada apenas 2s atrás do atual tricampeão. No GP da Argentina, a Ducati tinha garantido o 2° e 3° lugares quando seus dois pilotos se tocaram a caíram a duas curvas da bandeirada, jogando por terra o melhor resultado do time nos últimos tempos, após uma prova aguerrida em que os modelos de Borgo Panigale mostraram excelente performance. Em Austin, a Ducati foi novamente ao pódio, agora com Andrea Iannone, em outra corrida de ritmo forte, que só não terminou melhor para a escuderia porque Andrea Dovizioso acabou fora da corrida em um toque com Dani Pedrosa em disputa de posição. As motos italianas mostraram a maior velocidade de reta em Austin, com Dovizioso cravando 339 Km/h, ante 338,1 de Iannone. Só para efeito de comparação, a Honda mais rápida em velocidade foi de Dani Pedrosa, com 334,1 Km/h, contra 332 de Marc Márquez. Uma diferença significativa. No Qatar, prova de início da temporada, a dupla da marca italiana também marcou as melhores velocidades em reta, com diferenças similares, que ajudaram Dovizioso e Iannone a complicarem a situação de Márquez, Lorenzo e Rossi. Situação idêntica na Argentina e na Espanha, onde as Ducati eram um perigo mais do que real nas reta. Com um pouco mais de equilíbrio nas curvas, a Ducati virá com tudo para cima das Yamahas e Hondas oficiais.
            Jorge Lorenzo já vinha sendo contatado pelos italianos há algum tempo para ser piloto deles, mas até então, o modelo da Yamaha sempre se mostrava mais competitivo do que as motos italianas, razão pela qual permaneceu com o time de Iwata. Agora, com o crescimento de desempenho das Ducati na pista, a diferença reduziu-se a um percentual que Lorenzo acredita ser capaz de dar o passo decisivo para tornar a marca novamente vencedora, derrotando tanto Honda quando Yamaha. Outro detalhe interessante é a adoção das centralinas padrão, a partir desta temporada, que ajudou a reduzir parte da vantagem de Honda e Yamaha nas pistas, uma vez que o novo modelo utilizado por todos não é tão avançado como os sistemas que ambas as escuderias nipônicas dispunham até 2015, mas que não ocasionou nenhuma perda de performance para o modelo italiano.
            Com o desenvolvimento da moto mais centrado em seu estilo de pilotagem, e podendo ter mais voz ativa no que deseja do comportamento da moto, Jorge Lorenzo acredita que fará a diferença para levar a Ducati novamente ao título, algo que a marca não vê desde 2007, quando conquistou seu último título, com Casey Stoner. Aliás, Stoner retornou à marca há poucos meses, para exercer a função de piloto de testes. Muitos apostavam que a Ducati conseguiria demovê-lo da decisão de abandonar oficialmente as competições e retornar como titular, mas a contratação de Lorenzo encerra as suposições sobre o australiano, embora haja quem sonhe com uma dupla Stoner/Lorenzo na Ducati para 2017, algo tido como improvável, não apenas porque Stoner mantém firme sua decisão de ser apenas piloto de testes, mas porque Lorenzo dificilmente iria ter tranquilidade no time se tivesse novamente um piloto campeão a seu lado. E, depois de finalmente conseguir atrair o espanhol, a Ducati não faria a loucura de tentar alinhar dois pilotos campeões novamente, para desgosto do tricampeão. Mas claro que muitos até torceriam para que essa loucura acontecesse...
            Antes de começar sua jornada na Ducati, Lorenzo pretende despedir-se da Yamaha com mais um título, mas é bom que se prepare para enfrentar oposição forte de Valentino Rossi na parada. Lorenzo não tem do que se queixar do tempo em que correu na equipe nipônica, onde estreou na categoria rainha do motociclismo em 2008. Neste tempo, ele foi três vezes campeão, venceu 41 corridas e chegou a 99 pódios. E ele tem intenção de aumentar estes números. Há quem diga que com a saída do espanhol, a Yamaha deverá privilegiar o italiano na disputa pelo título, mas a Yamaha não iria agir dessa forma, depois de reafirmar seu compromisso de dar atenção igual a seus dois pilotos. O único "favorecimento" possível é que até ser escolhido o companheiro do "Doutor" para 2017, o desenvolvimento da moto para a próxima temporada terá Rossi como parâmetro, o que não é nada mais do que óbvio de se agir. Mas, daí a dizer que Lorenzo não terá a atenção do time para disputar o título é a mais pura besteira.
            Se conseguir levar a Ducati de novo a disputar o título da MotoGP, Lorenzo estará ajudando a categoria a mostrar um espetáculo ainda melhor e mais disputado, e isso será comemorado por todos os amantes da motovelocidade, em que pesem alguns fãs bairristas que adoram jogar lenha na fogueira nas disputas de seus pilotos favoritos, algo que é totalmente dispensável para o esporte em si. Que Jorge Lorenzo consiga ser bem sucedido em sua nova vida na marca italiana em 2017, e continue fazendo uma boa temporada em 2016. Quanto mais disputas, melhor para todos.


GP da Rússia terá sua terceira edição neste fim de semana.
Hoje começam os treinos oficiais para o Grande Prêmio da Rússia de F-1. Na pista, uma das novidades será o experimento do aparato de proteção ao piloto desenvolvido pela Red Bull, chamado Aeroscreen, bem diferente do demonstrado pela Ferrari nos testes da pré-temporada, visando a dar mais proteção, que consiste em um parabrisa de policarbonato. Muito provavelmente seja Daniel Riciardo a testar a peça, mas a escuderia austríaca iria decidir isso apenas na manhã de hoje. Para Charlie Whiting, diretor técnico da FIA, a peça desenvolvida pela Ferrari, batizada de Halo, tem mais chances de ser adotada, mas ainda são necessários mais testes, e a experiência que a Red Bull fará hoje em Sochi fornecerá mais dados a respeito de qual sistema pode ser o mais viável de ser adotado, muito provavelmente já em 2017.


Felipe Nasr pediu e a Sauber resolveu atender: o brasileiro terá um novo chassi à sua disposição para a corrida na Rússia. Felipe alegou que alguma coisa no carro deveria estar errada, para ele não conseguir obter o mesmo desempenho de seu parceiro de equipe Marcus Ericsson nas corridas disputadas até agora, em que pese o rendimento do carro, mesmo com o sueco, estar péssimo. Pelo sim, pelo não, é bom Nasr confimar na pista suas suspeitas de que só não andou melhor por causa do carro, porque Ericsson já aproveitou para dar umas alfinetadas em Nasr dizendo que topava trocar de carro só para mostrar que está andando na frente dele por ser melhor piloto. Como Felipe precisa manter seu cacife em alta se quiser arrumar um lugar em um time mais competitivo em 2017, cabe a ele mostrar que serviço e enfiar o sueco novamente no bolso, ou sua imagem de bom piloto com potencial pode levar alguns arranhões que podem comprometer seus planos para o futuro...



Depois de surpreender por seu desempenho na China, todo mundo espera outra grande exibição da Red Bull aqui em Sochi, ainda mais pelo fato de o circuito montado no Parque Olímpico não ter as mesmas grandes retas da pista de Shanghai, onde o motor Renault ainda deve performance para Mercedes e Ferrari. Em um circuito um pouco mais travado, todos apostam que o time dos energéticos deverá incomodar bastante as favoritas Mercedes e Ferrari. A conferir já nestes treinos livres de hoje...

Nenhum comentário: