sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

ARQUIVO PISTA & BOX – NOVEMBRO DE 1997 – 21.11.1997



            Para encerrar as postagens deste ano de 2016, trago novamente um de meus antigos textos, e esta coluna foi publicada em 21 de novembro de 1997, e o assunto tratado era um pequeno balanço do campeonato daquele ano da F-Indy original, chamada à época de F-CART por muitos, já que a IRL, o campeonato paralelo, havia se apossado do nome “Indy”, e Tony George fazia o que podia para espezinhar a rival, de onde saiu brigado com muita gente. Nem é preciso dizer que a Indy original continuou com toda a sua força ainda por várias temporadas, antes de se enrolar sozinha em alguns problemas. Mas naquele ano de 1997, o campeonato havia sido muito disputado em boa parte dele, até que o italiano Alessandro Zanardi, da equipe Ganassi, colocasse todo mundo no seu devido lugar, e conquistasse o primeiro de seus dois títulos no certame norte-americano. Uma boa leitura a todos, e nos vemos novamente em 2017...


F-CART 97: VITÓRIA DO ARROJO E DA DETERMINAÇÃO

            A F-CART em 1997 viu mais uma temporada marcada por uma renhida luta pelo título entre diversos pilotos. Como não poderia deixar de ser, a luta só se definiu no final do ano, justamente em Laguna Seca. E o título continuou com a equipe Ganassi, só que desta vez foi Alessandro Zanardi a receber o troféu de campeão. Fazendo um retrospecto de 96 e 97, a Chip Ganassi dá ares de ser a nova superpotência da categoria, impondo domínio parecido ao da equipe Penske em anos não tão distantes.
            Só que as coisas não andaram assim tão fáceis. A primeira metade da temporada foi muito mais equilibrada do que todos previam. E isso, ainda por cima, graças às confusões da própria equipe Ganassi, que com estratégias de corrida equivocadas, deixou seus dois pilotos meio que à deriva. Eles até pontuavam bem, mas os rivais estavam começando a desgarrar na liderança da classificação.
            Um exemplo típico foi Paul Tracy. O canadense, depois de vencer 3 corridas consecutivas, já era dado como o virtual campeão da temporada. Michael Andretti era mais um forte candidato no páreo, enquanto Greg Moore despontava como nova força na categoria, ao vencer as provas de Milwaukee e Detroit e era também cotado para ser o campeão.
            A partir de Cleveland, entretanto, Alessandro Zanardi decidiu colocar as coisas no seu devido lugar. A corrida do italiano, que chegou a cair para o fim do pelotão, foi imparável, e resultou em uma vitória esplêndida, digna de um campeão. Daí em diante, nada mais deteve o italiano, que começava a conseguir suas primeiras vitórias no ano. Zanardi não se deixou intimidar e foi pontuando cada vez mais, até assegurar matematicamente o título em Laguna Seca, prova vencida por seu companheiro de equipe Jimmy Vasser, que tinha conquistado neste mesmo circuito, um ano antes, o seu título na categoria.
            Mostrando a força da Chip Ganassi, o próprio Jimmy Vasser, que andava meio apagado nas corridas este ano, conseguiu se recuperar nas etapas finais, terminando o campeonato ainda na 3ª posição. Pelo segundo ano consecutivo, a combinação Reynard/Honda/Firestone mostrou ser a ideal, especialmente no campo dos chassis e pneus, já que o motor Honda não demonstrou o mesmo domínio do ano anterior.
            A Lola demonstrou total fracasso com seu novo chassi T9700, projetado por Bem Boulby. A Tasman, nova equipe de fábrica da marca inglesa, comeu o pão que o diabo amassou. O fracasso já era tão contundente que equipes como a Patrick e a Forsythe decidiram debandar para a Reynard antes mesmo da temporada começar, ao constatar a péssima performance dos Lola ainda nos testes de pré-temporada.
            A Penske mostrou evolução em relação a 96, mas ficou pelo meio do caminho. Nem mesmo as vitórias de Paul Tracy serviram de ânimo. Nas etapas finais do campeonato, o chassi Penske só possibilitou a seus pilotos disputarem posições no bloco intermediário. Al Unser Jr. teve sua pior temporada na categoria, passando quase em branco o ano todo. Já Paul Tracy voltou ao velho e dispendioso hábito de se envolver em acidentes e estragou vários chassis nas etapas finais. Acabou sendo substituído na equipe para 98.
            A equipe Walker mostrou evolução em relação a 96, mas a fiabilidade do carro deixou Gil de Ferran meio incapacitado em algumas corridas. Em outras, o time errou na estratégia, e o resto também sobrou para Gil, que também teve sua dose de culpa pela falta de resultados em algumas ocasiões.
            A Patrick Racing teve outra temporada mediana. Scott Pruett venceu na Austrália, e o americano andou bem em várias corridas. Raul Boesel, o outro piloto do time, também andou bem. O que derrubou a escuderia foi o azar e a falta de fiabilidade mecânica, que deixou ambos os pilotos fora de combate em diversas etapas. Mas também faltou melhor performance em algumas corridas.
            A Forsythe ensaiou um vôo mais alto, agora com Greg Moore bem mais prudente e cuidadoso do que o jovem afoito que se viu arrumando confusões em 96. Só que a fiabilidade acabou dando uma podada nas pretensões do jovem canadense, levando-o ao abandono em várias corridas.
            A Newmann-Hass começou o ano muito bem com o novo chassi Swift, que venceu a prova inaugural em Miami com um show de Michael Andretti. Infelizmente, o novo chassi mostrou também que precisa de muita evolução nos circuitos mistos, onde apresentou graves problemas de fiabilidade e falta de performance. Nem mesmo o arrojo de Michael Andretti salvou o ano. Para piorar, Christian Fittipaldi teve um sério acidente em Surfer’s Paradise, na Austrália, e seu substituto, Roberto Moreno, enfrentou diversos azares nas provas em que correu pela escuderia. E nem Michael Andretti escapou dos azares este ano, especialmente no final do campeonato, ao abandonar as 4 últimas corridas sucessivamente.
            E a PacWest confirmou ser a nova força da categoria, conseguindo pole-positions e vitórias, especialmente na segunda metade da temporada, sendo a única equipe a mostrar poderio para desafiar a Chip Ganassi. Para o cúmulo do azar, a equipe se viu diversas vezes derrubada pelos mais variados problemas. E, na hora da reação, já era tarde para brecar os planos da Ganassi.
            Mas a competição no automobilismo é assim mesmo. Vários pilotos tiveram altos e baixos. Bobby Rahal passou mais um ano sem vencer nenhuma corrida, o que é meio incômodo para alguém que é tricampeão da categoria. Novas futuras estrelas surgiram, como Dario Franchiti e Patrick Carpentier.
            No campo dos motores, a Mercedes conseguiu se impor à Honda em número de vitórias. A Ford, por sua vez, conseguiu vencer apenas 2 provas, mas mostra muita disposição para voltar ao topo em 98. Pelo seu lado, a Mercedes tentará alcançar o título da categoria. A Honda, é claro, terá de lutar para manter sua posição. Já a Toyota continua sendo uma nota de rodapé, precisando ainda de muito trabalho e melhora de performance.
            Nos chassis, a Reynard continuou dando as cartas. O Swift foi uma agradável surpresa para o seu primeiro ano na categoria, e a Lola afundou-se literalmente. Já o chassi Eagle foi tão ruim em 96 que acabou deixado de lado antes mesmo de se iniciar a temporada 97, o que não deixa dúvidas sobre sua falta de competitividade.
            Uma temporada de emoções, desafios e disputas. Assim foi a F-CART de 1997. Que em 1998 seja igual, ou até melhor!
 

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

ARQUIVO PISTA & BOX – NOVEMBRO DE 1997 – 14.11.1997



            Voltando a trazer algumas colunas antigas neste final de ano de 2016, trago hoje o texto que foi publicado em 14 de novembro de 1997. O assunto era um balanço da temporada de Fórmula 1 daquele ano, que se não mostrou o equilíbrio que muitos esperavam, também não foi um domínio sonolento da equipe Williams, que conquistou mais um título, com Jacques Villeneuve, e tinha enfrentado pelo menos oposição séria da Ferrari em diversas corridas, ajudando a dar emoção à disputa pelo título, que foi resolvida apenas na última corrida do ano, em Jerez de La Fronteira. Uma boa leitura a todos, e logo trago mais um antigo texto para leitura aqui...


F-1 97: RECUPERAÇÃO DA COMPETITIVIDADE!

            Apesar da Williams ter faturado mais um título de pilotos e de construtores, superando, enfim, da Ferrari neste ranking da Fórmula 1, o ano de 1997 foi muito bom em termos de disputa. Houve muito mais briga na pista, entre vários pilotos e escuderias.
            Por mais que Frank Williams recuse admitir, ter demitido Damon Hill foi um grande erro. Se a Williams foi o melhor carro da categoria nos últimos anos, foi graças em parte ao esforço e empenho de Hill como piloto de testes da escuderia. Este ano, por exemplo, a Williams acabou sentindo a sua perda em vários GPs, onde não conseguia acertar o seu carro de maneira decente. Mesmo assim, o carro do time de Didicot foi o mais regular das equipes de ponta e também o mais equilibrado, mas ficou nítida a impressão de que o time poderia ter rendido muito mais em várias ocasiões.
            Jacques Villeneuve correspondeu às expectativas, e conseguiu aquilo que seu pai nunca conquistou: o título da F-1. Pena foi ver o canadense cometer tantos erros este ano, o que deixou certa má impressão sobre suas capacidades como piloto. Já Heinz-Harald Frentzen, considerado melhor piloto até do que Michael Schumacher, quando ambos corriam na Sport-Protótipos, acabou sendo uma decepção para muitos, que ansiavam vê-lo disputando freadas com Schumacher e lutando pelo título na Williams. Nas poucas vezes em que ambos se cruzaram diretamente na pista, Schumacher acabou mostrando muito mais talento e garra, especialmente por guiar uma Ferrari, carro ainda bem inferior à Williams.
            Já Michael Schumacher, da mesma maneira como encantou a todos por mostrar toda a sua perícia e talento de pilotagem, levando a Ferrari para a disputa de um título que foi conquistado pela última vez em 1979, jogou tudo a perder com a manobra desleal e suja ao tentar fechar deliberadamente Villeneuve em Jerez de La Fronteira. Não fosse por isso, mesmo que tivesse perdido o título para o canadense, seria o campeão moral da temporada. Pior para Eddie Irvinne, que terá de aturar mais um ano como piloto secundário na Ferrari. Se o alemão fosse campeão, poderiam ser boas as chances de o irlandês ter tratamento igual ao de Michael no time rosso em 98, para conseguir até lutar pelo título, mas como as coisas acabaram dando errado...
            Ainda assim, a Ferrari mostrou evolução, conseguindo o vice-campeonato de construtores pelo segundo ano consecutivo, mas ficando evidente que ainda há muito o que melhorar, pois Schumacher continuou levando o time nas costas.
            A Benetton ficou na mesma. Se em 1996 o carro ainda sofria dos defeitos de pilotagem concebidos para Michael Schumacher, o carro mais “neutro” deste ano ficou ainda pior. Resumindo, a Benetton teve mais motor que carro, pois nos circuitos velozes, como Hockenhein e Monza a Benetton lutou pela vitória. Gerhard Berger dominou amplamente o GP da Alemanha, e Jean Alesi só não venceu o GP da Itália porque a McLaren foi mais rápida no pit stop de David Coulthard e devolveu o escocês à pista à frente do francês.
            Já a McLaren mostrou forte evolução. Vencedora dos GPs de início e término da temporada, a McLaren poderia ter ganho pelo menos 7 corridas se não fosse o azar, ao invés de ter conseguido apenas 3 triunfos. Mika Hakkinen foi o mais azarado, ao perder as hipóteses de vencer em Silverstone, Zeltweg e Nurburgring. Couthard ficou pelo caminho quando ia vencer a prova do Canadá. Boa parte das quebras acabaram ficando no motor Mercedes.
            Fora dos times de ponta, algumas equipes brilharam. A ex-Ligier, agora Prost, mostrou grande coesão e, utilizando todo o potencial dos pneus da Bridgestone, surpreendeu em algumas corridas. Pena que o acidente de Olivier Panis em Montreal tenha tolhido um pouco o potencial da escuderia, que teve de se virar com Jarno Trulli, já que Shinji Nakano não oferecia muitas esperanças. A Jordan, por sua vez, parece ter conseguido durar as deficiências aerodinâmicas de seu chassi, mas a dupla de pilotos não mostrou a desenvoltura necessária para acertar o carro, que mostrou excelente desempenho apenas em algumas pistas de alta velocidade, como Spa, Monza e Magny-Cours. Nos GPs finais, a Jordan voltou em definitivo para o pelotão intermediário, de onde tinha saído a meio da temporada. Com a contratação de Damon Hill, Eddie Jordan terá um piloto muito capaz para fazer evoluir o carro de 98 e poder dar sequência à evolução mostrada este ano.
            A TWR-Arrows viveu momentos infernais na primeira metade do ano. O projeto do carro era ruim, e só com a contratação de John Barnard a meio da temporada é que se resolveu parte dos problemas. Damon Hill brilhou especialmente na Hungria, e Pedro Paulo Diniz fez uma excelente corrida em Nurburgring. Fora a excelente qualificação de Hill em Hungaroring e Jerez, a equipe acabou ficando nisso. Tentará dar continuidade à sua evolução em 98.
            A Stewart realmente ficou no que se esperava. Mas não fosse Rubens Barrichello e sua espetacular atuação em Mônaco, a equipe teria passado seu ano de estréia completamente em branco, à exceção de algumas excelentes qualificações de seus pilotos no grid de largada de alguns GPs. Uma pena que o motor Ford, que por suas notáveis qualidades já foi chamado de “fusca” da F-1, tenha tido uma temporada tão desastrosa no campo da fiabilidade este ano. Mas Jackie Stewart confia em melhores dias em 1998.
            A Sauber teve um bom ano, apesar de sua adaptação ao motor Ferrari ter sido meio brusca. Mesmo assim, a escuderia suíça conseguiu boas colocações. Johnny Herbert foi o grande impulsionador da equipe, que tentará dar um salto grande em 98, melhorando sua evolução do motor Ferrari e contando com Jean Alesi.
            Da Tyrrel, não há muito o que dizer. Não fosse o 5º lugar de Mika Salo em Mônaco, o time passaria 97 em branco. Terminou a temporada como a lanterna do grid, posto antes ocupado pela Minardi, que também teve um ano totalmente apático. Ambas as escuderias tem previsão de melhorias dias no próximo ano.
            Foi uma boa temporada, especialmente se levarmos em conta o desempenho das equipes nas classificações. Zeltweg viu o grid mais apertado da F-1 em muitos anos. Com exceção da Tyrrel e da Minardi, todas as equipes subiram ao pódio pelo menos 1 vez durante o ano, e apenas a Minardi não conseguiu pontuar uma única vez.
            Nada menos do que 4 escuderias venceram corridas este ano. A McLaren venceu 3 provas, e a Benetton também conseguiu vencer um GP. A Williams continuou dominando, porém com menos força, e a Ferrari foi levada nas costas por Michael Schumacher. Tivemos cerca de 6 pilotos diferentes vencendo: Jacques Villeneuve, Michael Schumacher, David Couthard, Heinz-Harald Frentzen, Gerhard Berger e Mika Gakkinen. E 6 pilotos diferentes também conquistaram poles em 97: Villeneuve, Frentzen, Schumacher, Berger, Alesi e Hakkinen.
            Estas foram algumas considerações sobre a F-1 este ano. Ainda falta recuperar alguma coisa para que a categoria fique melhor, como nos velhos anos 1970, mas o passo mais importante parece já ter sido dado, com um pouco mais de equilíbrio na disputa. Que esta retomada da competitividade continue tendo prosseguimento durante o próximo ano.