quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

ARQUIVO PISTA & BOX – OUTUBRO DE 1997 – 31.10.1997



            Trazendo novamente uma de minhas antigas colunas, esta aqui foi publicada em 31 de outubro de 1997, e o assunto principal era a decisão do título da F-1 naquele ano, que teve como campeão o canadense Jacques Villeneuve. Mas o assunto principal foi a tentativa de Michael Schumacher de repetir o que fizera com Damon Hill três anos antes, na Austrália, quando o então piloto da Benetton garantiu o seu primeiro título ao jogar o carro contra Hill após cometer um erro e bater no muro. Michael, que vinha conseguindo se livrar da fama de piloto desleal e até trapaceiro (muito mais por conta das manobras feitas pela Benetton naquele ano de 1994), acabou punido depois pela FIA, que o excluiu o campeonato, mas mantendo suas vitórias, o que foi uma punição “para inglês ver”, já que não deu em nada.
            Polêmicas à parte, aquele seria o último título conquistado pela Williams, que de lá pra cá, nestes últimos 20 anos, nunca mais conseguiu disputar o título, tendo apenas alguns brilhos ocasionais, sendo que nos últimos 10 anos, só teve uma única vitória na categoria máxima do automobilismo, na Espanha, em 2012, com o venezuelano Pastor Maldonado. Em 2014, o time inglês ensaiou um retorno a seus bons dias de time de ponta, mas a escuderia foi decaindo em 2015, e neste ano, frustrando quem esperava vê-la retornar a seus dias de vitórias e glórias. No mais, a coluna também traz algumas notas rápidas do fim da temporada da Fórmula 1 de 1997. Uma ao leitura a todos, e em breve trago mais alguns textos antigos. Até mais.


TIRO PELA CULATRA

            E acabou dando Jacques Villeneuve como campeão da Fórmula 1 em 1997. E Michael Schumacher, além de ter perdido o título, perdeu também a fama de bom rapaz que vinha conquistando nos últimos tempos. E Villeneuve agora posa de forma a calar os críticos que tanto o malharam nos últimos meses.
            De certa forma, a decisão do título foi justa, principalmente se levarmos em conta o incidente que Schumacher tentou fazer no momento em que ia ser ultrapassado pelo rival na pista espanhola de Jerez de La Fronteira. Michael Schumacher tentou uma manobra desleal e suicida e por azar, deu tudo errado. Não só a manobra, mas até o perfil demonstrado pelo bicampeão alemão até então. Até aquele momento, Schumacher fazia o papel de “mocinho”, que desafiava o poderio dos então “vilões” da história, a Williams e sua supremacia titânica, que tanto abalou a competição da F-1 nos últimos anos. E marcava também o ressurgimento da Ferrari, que estava finalmente ressuscitando para um título que a casa de Maranello não via desde 1979. Era mais do que óbvio que a torcida era pelo lado dos mais fracos, no caso, a Ferrari, que como escuderia mais carismática da F-1, merecia mais do que nunca acabar com este jejum. Porém...
            Para todos os efeitos, foi feita justiça, e tivemos mais um mundial decidido em um “acidente”. Curioso frisar que, tanto este, como o último caso de decisão por acidente, os faltosos com a ética acabaram tendo o que mereciam. Numa espécie de “Lei de Talião”, o famoso “olho por olho, dente por dente...”, tivemos batida por batida. Basta comparar: em 1989, Alain Prost conquistou seu 3º título mundial, acarretando uma batida em seu arquirrival, Ayrton Senna, na pista de Suzuka, no Japão. Senna esperneou pelo modo como Prost agiu naquele dia, mas não adiantou nada. Já em 1990, em situação inversa, Senna deu o troco em Prost, na mesma pista de Suzuka, e faturou o bicampeonato. Foi a vez de Prost espernear, mas também não deu em nada. E ficou nisso. Prost agiu errado quando fechou Senna em 89, mas recebeu uma dose de seu próprio remédio no ano seguinte. Então, tudo igual. Cada um dos dois competidores teve sua vez, cada um perdeu e venceu. E fim de papo.
            Agora, alguém se lembra que, em 1994, Michael Schumacher só garantiu seu 1º título mundial após ter jogado o carro em cima de Damon Hill? Foi em Adelaide, na Austrália. Schumacher assumiu a ponta na largada, e desde então, passou a sofrer um feroz assédio do piloto inglês. Lá pelas tantas da corrida, o alemão cometeu um erro, bateu de leve no muro e voltou à pista com o carro avariado. E vendo que Hill ia ultrapassá-lo para vencer a corrida e o campeonato, não teve dúvidas, deu uma fechada violenta em Damon, danificando a suspensão dianteira da Williams. O abandono de Hill garantiu ao alemão o campeonato, já que o inglês tinha um ponto a menos que o alemão na classificação. Damon, como um verdadeiro cavalheiro, não fez barulho contra o episódio, e sempre jogou limpo na pista. Mesmo arrasado com o ocorrido, preferiu não fazer alaridos inúteis.
            Agora, foi a vez de Schumacher sentir a vingança daquele ato de 94, só que com outro adversário, Jacques Villeneuve. Por ironia, o culpado do ato foi justamente o próprio Schumacher. Michael acabou tentando repetir o que fez com Hill em Adelaide e acabou se dando mal. Na sua fechada, o alemão só danificou de leve a lateral da Williams, enquanto a suspensão dianteira, alvo primordial da batida, escapou ilesa. Pior, com o “chega-pra-lá”, Schumacher acabou saindo da pista e foi parar na caixa de brita, dando adeus à corrida, e às suas pretensões de título. O tiro acabou saindo pela culatra. Ainda havia uma esperança, mas Villeneuve, sensatamente, procurou apenas terminar a corrida, e com o terceiro lugar, faturou o título.
            Nunca aprovei estas decisões por batidas. A disputa tinha de ser na pista, como manda o esporte. Golpes baixos assim só prejudicam a competição. Parece que, nestes casos, contudo, o próprio destino encarregou-se de punir os faltosos. A exemplo de Alain Prost, Schumacher acabou, de certa forma, punido pelo golpe baixo de 94. Só que a culpa desta punição, desta vez, cabe unicamente a ele...


A Renault despede-se oficialmente da F-1 como queria: com o título de construtores e também o título de pilotos. De 1989, quando retornou à categoria, até o último GP deste ano, foram um total de 146 GPs disputados, com 80 pole-positions e 74 vitórias, além de 5 campeonatos de pilotos e 6 de construtores. E todos com um motor de uma única estrutura: um V-10 atmosférico. E que sempre sofreu constantes evoluções: do primeiro modelo RS-1, utilizado pela Williams em 1989, até o moderno RS-9 que foi utilizado este ano pela Williams e pela Benetton, a Renault empregou o melhor da tecnologia de competição em seus propulsores. Agora, ciente do dever cumprido, a fábrica francesa sai de cena oficialmente, mas seus motores continuarão sua sina, possivelmente vencedora, nos próximos anos, sob o logo da Mecachrome...


Jacques Villeneuve é o 4º piloto da história a conquistar o título da F-Indy e da F-1. O primeiro a conseguir essa façanha foi Mario Andretti, que quando conquistou o título da F-1 em 1978 pela Lótus, já era tricampeão da F-Indy (1965, 1966, e 1969), e ainda faturaria mais um título na Indy depois disso (1984). O segundo a consegui-lo foi Émerson Fittipaldi, bicampeão de F-1 (1972 e 1974), que venceu o campeonato da Indy em 1989. A seguir, Nigel Mansell, que faturou o título da F-1 em 1992, e no ano seguinte, chegou ao título da F-Indy, sendo que chegou a deter os dois títulos por uma semana. Jacques Villeneuve foi campeão da F-Indy em 1995. Desde 1996, está na F-1 como piloto da Williams.


O treino de classificação para o GP da Europa, em Jerez, foi sensacional. Praticamente nunca na história da F-1 houve 3 pilotos, especialmente os 3 primeiros no grid de largada, a conseguirem marcar exatamente o mesmo tempo, empatando até nos milésimos de segundo. Quando vi Michael Schumacher igualar o tempo de Jacques Villeneuve, já parecia um milagre dos deuses do automobilismo, que haviam resolvido presentear a decisão do título com tal ocorrência. Quando Heinz-Harald Frentzen fez o mesmo, já no final do treino, a sensação de todos no autódromo era de espanto geral. Apesar de tudo, todos desfrutaram como puderam deste momento. Um momento único, que todos tem certeza de que provavelmente não voltará a se repetir tão cedo na F-1...


Assistimos em Jerez a 3 despedidas da F-1. Além do abandono da Renault, Ukyo Katayama também encerra sua carreira de piloto. E outro que também pendurará o capacete é Gerhard Berger. Sem dúvida, a saída de Berger é a que mais fará falta. Seu carisma era único atualmente na categoria, coalhada cada vez mais de pilotos assépticos e insossos...


Ralf Schumacher acabou sendo convocado para o serviço militar alemão. Serão cerca de 10 meses a serviço da Força Aérea Alemã. Com isso, abre-se a possibilidade de Ricardo Zonta ocupar sua vaga na Jordan, mas nada está certo ainda...


Pelos seus atos na pista de Jerez domingo passado, Michael Schumacher terá de dar explicações à FIA. A data é 11 de novembro. Vamos ver o que pode acontecer com o alemão...

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