Com a segunda colocação que lhe deu o título, Nico Rosberg brindou a torcida em Yas Marina fazendo zerinhos na pista com seu carro. |
Enfim, Nico Rosberg
chegou lá. O piloto alemão da equipe Mercedes terminou a etapa derradeira da
temporada 2016 da Fórmula 1, disputada em Abu Dhabi, na segunda colocação, e
correu para o abraço do título de campeão da categoria máxima do automobilismo
mundial. Depois de 11 temporadas, com 206 GPs disputados, tendo obtido até
então 30 pole-positions e 23 vitórias, Nico finalmente alcançou seu tão
almejado sonho. E, aos 31 anos, tornou-se o segundo filho de pai campeão da F-1
a repetir o feito. Keke Rosberg, pai de Nico, foi campeão da F-1 em 1982, tendo
vencido apenas uma corrida naquela temporada. O primeiro filho de pai piloto
campeão foi Damon Hill, que levou o título de 1996 pela Williams. Damon é filho
de Graham Hill, que foi bicampeão da F-1 em 1962 pela BRM, e em 1968, pela
Lotus.
Nico estreou na F-1 em
2006, pela equipe Williams, onde disputou suas primeiras quatro temporadas na
categoria. Foi 17° colocado em seu ano de estréia, marcando 4 pontos; em 2007
foi o 9° colocado, com 20 pontos; no ano seguinte, com 17 pontos, ficou em 13°.
Em 2009, em seu último ano correndo para Frank Williams, foi o 7°, com 34,5
pontos. Para 2010, começaria uma nova fase, agora na Mercedes, que voltava a
ter um time oficial próprio na F-1. E tendo Michael Schumacher como companheiro
de equipe. E Nico não se intimidou, tendo sempre terminado as três temporadas
em que teve o heptacampeão como companheiro à sua frente. O resultado, à época,
foi relativizado em virtude de Schumacher já não render como em seus anos de
antigamente. Dessa forma, parte do mérito de Nico como piloto, superando
Michael, devia-se mais à falta de ritmo do heptacampeão do que ao talento de
Rosberg, na opinião de muitos, entre torcedores, e até mesmo entre a imprensa
especializada. Nem mesmo quando conquistou sua primeira pole e vitória, em
2012, conseguiu convencer a maioria de seu grande talento.
Nico e sei pai, Keke Rosberg,na estréia do piloto pela Williams, em 2006. |
Nico só se livraria
deste estigma em 2013, quando passou a ter como companheiro de equipe Lewis
Hamilton, um dos mais arrojados e velozes pilotos do grid da F-1 atual. E
saiu-se relativamente bem: embora tenha ficado atrás do inglês na classificação
final do campeonato (6°, contra 4° de Lewis), Rosberg venceu duas corridas,
contra apenas uma de Hamilton. Nos pontos, a diferença foi de apenas 18 do
alemão para o inglês. Se Hamilton já era praticamente um talento reconhecido, e
um campeão do mundo, Nico dava mostras de que não ficava tão atrás assim.
E, no primeiro ano em
que a Mercedes começou a dominar a nova era turbo, Nico foi um páreo duríssimo
para Hamilton. Mesmo tendo vencido apenas metade das corridas do inglês, levou
a decisão para a última etapa, em Abu Dhabi, onde acabou ficando fora de
combate devido a um problema no carro. Foi vice-campeão com méritos. No ano
passado, contudo, foi menos combativo durante boa parte do campeonato, tanto
que só obteve metade das vitórias do ano nas etapas finais, depois que Hamilton
já havia conquistado matematicamente o título. Pesou na concentração de Nico os
problemas de sua esposa Vivian, que enfrentou uma gravidez complicada, além de
alguns percalços em algumas corridas, que permitiram a Hamilton disparar na
frente. Novamente vice-campeão, Nico terminava a temporada em alta, pela
performance impecável exibida nas três corridas finais. Seria o Nico que
veríamos em 2016.
No início, foi. Embora
a Mercedes ainda fosse o time a ser batido, as primeiras corridas da temporada
tiveram alguns problemas inesperados a serem enfrentados pela dupla de pilotos
do time prateado. E foi Nico quem soube lidar melhor com as adversidades que
surgiram, que acabaram vitimando mais Lewis do que Rosberg. Foram 4 vitórias
nas 4 primeiras corridas, abrindo nada menos do que 43 pontos para seu
companheiro de equipe. Seu único abandono foi em Barcelona, onde ele e Hamilton
se envolveram em um acidente logo na primeira volta, fazendo ambos terminarem a
corrida ali mesmo. Em Mônaco e no Canadá, Rosberg assistiu à recuperação de
Hamilton, que venceu as duas corridas, iniciando sua revanche. Mas, com nova
vitória em Baku, Nico abria novamente sua vantagem na competição, chegando a 24
pontos. Só que nas quatro corridas seguintes, seria Hamilton a dar as cartas,
com quatro vitórias consecutivas que não apenas pulverizaram a vantagem de
Nico, como o fizeram ficar, após a etapa da Alemanha, 19 pontos atrás de Lewis.
Fora isso, o episódio da batida entre ambos na volta final da etapa da Áustria,
onde Rosberg foi considerado culpado, pegou mal para os lados de Nico. Será que
o filho de Keke iria ser novamente empurrado para mais um vice-campeonato?
Lewis Hamilton,
contudo, teria que pagar punição por esgotar sua cota de motores para o ano, e
usou a etapa da Bélgica para isso. Utilizando nada menos do que 3 unidades
novas, o tricampeão largou em último, e chegou em 3°, minimizando os prejuízos
de mais uma vitória de Nico, que cumpriu seu dever. Tudo indicava uma
deslanchada do piloto inglês para as etapas seguintes. Mas foi aí que tudo
começou a dar errado para Hamilton. Uma largada falha em Monza, e Hamilton caiu
para trás, enquanto Rosberg disparava na frente e vencia mais uma vez. Hamilton
ainda recuperou-se e chegou em 2°, mas obviamente isso não fazia parte de seus
planos. Novo empecilho viria em Cingapura, na corrida noturna da temporada, que
em 2015 tinha mostrado um desempenho incomum da Mercedes, que em nenhum momento
andou na frente. O panorama se repetiu parcialmente neste ano: enquanto
Hamilton tinha problemas, Nico conseguia superar as adversidades, para largar
na frente, e vencer novamente. Lewis ainda salvou em 3° lugar, mas a disparada
que o inglês esperava dar estava sendo feita é por Rosberg.
Mas o nocaute de
Hamilton viria mesmo em Sepang, na Malásia. A 15 voltas do final da corrida,
com tudo sob controle, eis que o motor Mercedes de seu carro estoura, e
Hamilton tem seu segundo abandono na temporada. Nico, com o 3° lugar,
comemorava como nunca. Sua vantagem subia para 23 pontos, quase uma vitória. De
azarão a meio da temporada, os papéis se invertiam, e agora Hamilton é quem
tinha de correr atrás. Mas, novamente, uma largada falha do inglês deu a Nico
mais uma chance de ouro em Suzuka, no Japão. E ele não a desperdiçou: venceu a
corrida, e com o 3° lugar de Hamilton, abriu confortáveis 33 pontos na
dianteira. Estava praticamente com uma mão na taça de campeão ao deixar Suzuka.
Mas, com quatro
corridas para encerrar a competição, não convinha comemorar antecipadamente. E
nem deveria. Tudo ainda poderia acontecer, e o panorama, mudar completamente de
novo. Mas, com o excelente carro que tinha nas mãos, era tudo uma questão de
correr com segurança, evitando riscos. Nico não precisava mais vencer:
bastariam 3 segundos lugares e um terceiro, para liquidar a fatura, mesmo que
Hamilton vencesse as quatro corridas. E assim foi indo: Hamilton venceu de
forma inconteste nos Estados Unidos, México e Brasil. Mas Nico,
inteligentemente, foi 2° colocado em todas estas corridas. Lewis se aproximava,
mas a vantagem já era grande demais para tirar Rosberg da liderança, sem que
nada de anormal acontecesse. E, chegando a Yas Marina, um terceiro lugar
bastava para definir o campeonato a favor do alemão.
Hamilton ainda tentou
uma tática, ao andar menos do que poderia, aproximando os adversários que
vinham atrás, na esperança de que eles se intrometessem entre ele e Rosberg. O
alemão, em temendo um acidente numa disputa de posição, tenderia a não se
arriscar. Boa jogada, mas Nico não caiu no golpe: mesmo com a forte pressão de
Max Verstappen e Sebastian Vettel, ele não se intimidou. Guiou firme e
decidido, e se não ameaçou Hamilton praticamente em nenhum momento, também não
deu chances a quem vinha de trás. Chegou a travar uma disputa de posição
arriscada com Verstappen, para reassumir o 2° lugar, e sacramentar de vez suas
credenciais de que era o campeão da temporada. E assim foi.
Lewis Hamilton bem que tentou juntar os competidores para tentar complicar a vida de Nico na corrida, mas o alemão não caiu no golpe do parceiro de equipe. |
Rosberg venceu o
campeonato de 2016 com todos os méritos. Não foi o piloto que mais venceu (teve
9 vitórias, contra 10 de Hamilton), mas teve o melhor conjunto de resultados do
ano, e é isso que importa. Um campeonato não é construído em apenas uma
corrida, mas ao longo de todo o ano, e entre erros e acertos dos pilotos da
Mercedes, Nico foi quem se saiu melhor e mais constante neste ano. E, com as
dúvidas sobre como será a relação de forças na próxima temporada, onde os
carros terão novas regras técnicas, a chance de Nico ser campeão era agora, ou
poderia ser nunca, se a concorrência de fato chegar no time prateado em 2017.
Nico de fato não é tão
talentoso como Hamilton. Este possui um talento natural incontestável, mas Roserg
é um piloto esforçado, determinado, e de excelente nível. E soube aproveitar
melhor as oportunidades que surgiram neste ano, procurando compreender melhor
os detalhes que poderiam fazer a diferença, como o sistema de largada do modelo
W07, que acabou apresentando complicações para ambos os pilotos, mas afetou
muito mais Lewis do que Nico, que se esforçou mais para saber entender e
contornar as dificuldades do equipamento. É um campeão com todos os méritos.
Hamilton já teve que aceitar isso. Agora, é simplesmente comemorar o título, e
aproveitar para descansar, porque a batalha de 2017 terá tudo para ser, em
teoria, muito mais complicada do que a dos últimos três anos, para a dupla de
pilotos da Mercedes.
Felipe Massa despediu-se da F-1
em Abu Dhabi com um resultado positivo: largou em 10°, e terminou em 9°,
marcando pontos na sua última corrida na categoria. Largou na frente de
Valtteri Bottas, que acabou abandonando a corrida por problemas mecânicos na
caixa de câmbio. De quebra, ainda ganhou de presente da Williams o carro que
guiou em Interlagos, e uma bela festa no paddock, promovida pela escuderia, com
direito a inúmeros convidados. Só não deu mesmo para recuperar a posição
perdida na classificação para o espanhol Fernando Alonso, que chegou em 10°, e
terminou o mundial à frente do brasileiro. Felipe Massa encerrou em 11°, com 53
pontos; Alonso foi o 10°, com 54 pontos. Felipe encerra uma grande fase de sua
vida, e pela primeira vez em muito tempo, irá curtir o fim de ano sem as
preocupações que uma nova temporada de competições lhe trará no ano seguinte.
Ele mesmo admitiu que só saberá como é ficar fora da F-1 quando o campeonato de
2017 começar, e pelo menos por enquanto, ainda não decidiu onde irá participar
no próximo ano. Parabéns por tudo o que nos ofereceu na F-1, desde 2002,
Felipe, e boa sorte em sua nova vida em 2017, seja ela qual for.
A Force India fez o seu melhor
campeonato em 2017 desde que estrou na F-1. O time de Vijay Mallya, em que pese
sua situação pra lá de enrolada com as finanças de suas empresas, terminou a
temporada em 4° lugar, com 173 pontos. Sérgio Perez foi o 7° colocado na
competição, marcando 101 pontos, enquanto Nico Hulkenberg, que está de saída
para a Renault, fez 72 pontos. O piloto mexicano conseguiu ainda dois pódios
para o time, sendo o 3° nas etapas de Mônaco e Europa (Baku). E a Williams
regrediu, ao invés de evoluir, mostrando-se incapaz até mesmo de defender a 4ª
posição no Mundial de Construtores, depois de ser superada facilmente por Red
Bull e Ferrari, e perdendo o ritmo na segunda metade da temporada, sendo não
apenas alcançada pelo time de Mallya, como superada facilmente até. Para o time
de Frank, sobrou de consolo apenas um pódio no ano, conseguido por Valtteri
Bottas na etapa do Canadá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário