Lucas Di Grassi lavou a alma com a vitória em Long Beach, depois da desclassificação na Cidade do México. |
Vez por outra, o mundo
do automobilismo costuma nos pregar peças, nos surpreendendo, seja
negativamente, seja positivamente. Depois de uma pilotagem irretocável na etapa
da Cidade do México, o campeonato aparentemente havia acabado para Lucas Di
Grassi após receber a notícia de que havia sido desclassificado da corrida, devido
ao seu carro estar cerca de 1,8
Kg abaixo do peso mínimo. De líder da competição, o
brasileiro voltava a ser o vice-líder, mas com uma desvantagem de 22 pontos em
relação a Sébastien Buemi, piloto da e.dams que vinha sendo apontado como o
grande favorito ao título, por dispor do melhor carro do ano, e claro, ter
apresentado até então, performances mais do que inspiradas, como na etapa da
Argentina, quando largou lá atrás e por pouco não venceu a corrida. Tirar toda
esta diferença, faltando 6 corridas para o fim da competição, parecia missão
bem difícil. Muitos já apontavam que Buemi passaria a administrar os
resultados, de modo que o brasileiro não tivesse chance de se recompor.
Mas, nada como um dia
depois do outro. Se a desclassificação no México foi um balde de água fria,
Lucas viu sua redenção na competição na etapa seguinte, em Long Beach, na
Califórnia. O brasileiro já terminara a classificação à frente de Sébastian
Buemi, que estranhamente, não conseguiu se impôr durante nenhum dos treinos, e
largaria na 9ª posição, enquanto Lucas partiria em 3°. Não fosse a soberba
performance do suíço na Argentina, muitos diriam que seria a chance perfeita de
Di Grassi começar a tentar uma reação, chegando à frente de seu grande
adversário no campeonato. Com a punição a Antonio Félix da Costa, Di Grassi foi
promovido a 2° no grid, largando na primeira fila, e ele soube manter a posição
na largada e primeira volta, evitando se meter em confusões e partindo para
cima de Sam Bird, que herdara a pole position e comandava a corrida. Mais
atrás, Buemi, sabedor de que tinha carro para discutir a vitória, tentava
chegar mais à frente, mas o circuito de Long Beach mostrava-se difícil em
termos de pontos de ultrapassagem, e foi numa tentativa estabanada que Buemi se
complicou sozinho e acabou com suas chances: ele perdeu a freada no cotovelo
que dá para a reta dos boxes e subiu por cima do carro de Robin Frijins,
danificando ambos os bólidos, além de perderem várias posições com o enrosco,
na 12ª volta.
A direção de prova
ordenou a ida aos boxes, uma vez que os carros dos dois pilotos ficaram
danificados na colisão: Buemi perdeu parte do bico, enquanto Frijins ficou com
a asa traseira pendurada. Buemi cumpriu a ordem e teve de ir para os boxes,
trocando de carro para a segunda metade da corrida, mas isso na volta 17. Com
mais da metade da corrida ainda pela frente, Buemi teria de andar devagar para
não ficar sem carga na bateria até a bandeirada. E como desgraça pouca é
bobagem, ainda levou um drive trhough, tendo de passar novamente pelos boxes, e
perdendo qualquer chance de pontuar. Era tudo o que Di Grassi precisava para
ter um bom dia e recuperar-se no campeonato. E ele não se fez de rogado:
Ultrapassou Sam Bird, assumindo a liderança, e a partir daí, comandou a corrida
como quis. Nem mesmo o pit stop para troca de carro o fez perder a liderança,
que manteve sempre sob controle. E tudo ficou ainda mais fácil quando Bird
perdeu o ponto de freada em uma curva e foi parar nos pneus de proteção,
perdendo várias posições.
A situação só ficou
tensa mesmo quando Nelsinho Piquet bateu a poucas voltas do final, perto da
saída dos boxes, e foi preciso a intervenção do safety car. Uma relargada ruim
poderia comprometer a vitória de Di Grassi, mas o brasileiro manteve-se atento
e manteve a dianteira, seguindo firme para a bandeirada, que ao contrário do
que ocorreu na Cidade do México, não acabou anulada horas depois. Com os 25
pontos, Di Grassi não poderia estar mais feliz: além da vitória, viu o rival
ter de se contentar em marcar apenas 2 pontos da volta mais rápida da corrida,
o que o fez ficar 1 ponto atrás do brasileiro na classificação. Sim, Lucas
voltou à ponta do campeonato, com 101 pontos, contra 100 de Buemi. É uma
diferença apertada, e Buemi ainda é o grande favorito, pelo carro mais
competitivo que possui. Mas, se Lucas continuar guiando como vem fazendo, ele
certamente estará a postos para aproveitar qualquer bobeada que Buemi aprontar,
como o ocorrido em Long Beach. Cabe ao piloto suíço da e.dams colocar a cabeça
no lugar e tratar de se concentrar mais, para evitar novos erros e retomar as
rédeas da competição.
Lucas está de volta ao
páreo, e sabe que a disputa continua acirrada e será difícil, mas pelo menos
ele está novamente na briga, e se não fosse a desclassificação na etapa
passada, poderia estar liderando com folga o campeonato, o que colocaria uma
grande pressão em Buemi, que certamente acusaria o golpe. Na verdade, o suíço
já mostrou instabilidade tanto em Long Beach quanto no México. No circuito
Hermanos Rodriguez, Buemi não conseguiu superar Jerôme D'Ambrosio na luta pela
posição na pista, chegando a cometer alguns erros nas tentativas de ultrapassagens.
Em Long Beach, foi impaciente ao tentar ir para a frente sem muita paciência,
apesar de saber possuir o melhor carro do grid. Um pouco mais de prudência e
paciência, e ele certamente teria tido chances de chegar até ao pódio, uma vez
que já estava à frente de Daniel ABT na pista quando colidiu com Frijins, e
Daniel subiu ao pódio em 3° lugar, fazendo da prova californiana deste ano a
melhor em termos de resultados para a Audi ABT Sports.
A próxima corrida
agora é em Paris. Se Lucas continuar guiando como vem fazendo nas duas últimas
etapas, tem tudo para ser o destaque da competição e o campeão da temporada.
Desclassificação no México à parte, Lucas terminou todas as corridas no pódio
até agora, e vem tendo um desempenho impecável nas corridas, lutando pelos
melhores resultados com um time que vem conseguindo, apesar de alguns
percalços, uma grande coesão técnica e melhorando sua performance. A e.dams
ainda possui o melhor carro, basta que seus pilotos saibam fazer o melhor uso
dele, algo que no momento, só Buemi vem conseguindo, e mesmo assim, ainda
cometendo alguns erros cruciais.
O duelo pelo título
será entre o piloto suíço e o brasileiro, quase uma repetição da disputa vista
na temporada passada. Buemi perdeu por pouco em 2015. O brasileiro que enfrenta
agora é Di Grassi, e não Piquet, o que não significa nada. Lucas será um
adversário tão formidável quanto foi Nelsinho em 2015. Teremos 5 corridas para
ver quem será o segundo campeão da categoria de carros elétricos. Depois de
Paris, teremos a etapa de Berlin, seguida por Moscou, e finalizando com a
rodada dupla no Battersea Park, em Londres, em julho. Até lá, muita água irá
rolar, e podem apostar que a disputa tem tudo para ser, perdoando o trocadilho,
mais do que eletrizante.
Os dirigentes da F-1 resolveram
dar mais uma chance a essa nova forma estúpida de classificação para o grid,
mesmo depois de virem o fiasco que foi na prova da Austrália, e o resultado
visto em Sakhir foi ainda pior, desta vez com o Q2 também
"terminando" antes do que deveria pelos pilotos simplesmente não indo
mais para a pista tentarem suas chances derradeiras. Do Q3 nem dá para falar,
foi tão insosso quanto o de Melbourne, e tirando o fato de Lewis Hamilton ter
arrancado a pole-position de Nico Rosberg, nada de relevante aconteceu. Desta
vez, até o Q1 se mostrou prejudicial, especialmente para os pilotos, que iam
sendo "rifados" pela eliminação sem que tivessem chance de uma nova
oportunidade de tentar melhorar seus tempos. Outra imbecilidade era ver os pilotos
sendo eliminados no meio de suas voltas de classificação, não dando-lhes chance
nem mesmo de completar a tentativa. Se ainda havia alguns defendendo o novo
formato de classificação após a prova da Austrália, foi consenso geral no
paddock e na sala de imprensa de Sakhir que o novo sistema é mesmo uma
porcaria, e ao invés de promover um embaralhamento de forças no grid, só tem
conseguido mesmo é prejudicar os times médios e pequenos, uma vez que os
grandes até agora não sofreram com isso, tirando Daniil Kvyat, que acabou
dançando nas duas oportunidades, o que é muito pouco. Os pilotos já haviam
manifestado seu descontentamento com a manutenção do novo formato para a prova
barenita, mas a FIA, meio que numa questão de ego, resolveu bater o pé e manter
o novo formato. Alegação de que era preciso dar uma segunda chance para ver se
o sistema mostrava a que veio. Bem, a segunda chance foi dada, e olha que
Sakhir, ao contrário do Albert Park, é um autódromo de verdade, e o que vimos é
que a F-1 meteu os pés pelas mãos definitivamente ao querer mudar o treino de
classificação. Mas, pior do que isso, é que estão fincando pé de querer
inventar de novo, pois já declararam, Bernie Eclestone e Jean Todt, pelo menos
até o fechamento desta coluna, que não irão voltar ao sistema de classificação
antigo. Agora, estão falando em compor a posição no grid com tempos agregados
dos pilotos. Difícil dizer onde querem chegar com estas idéias sem nexo. Qual o
problema com o sistema antigo? Eles não dizem, simplesmente. Apenas falam que
não vão voltar, e ponto final. Periga esse campeonato virar um palco de
experimentos de regras variadas para a classificação, com cada GP com o pessoal
se classificando de uma maneira diferente. Os times, pelo menos, defenderam a
volta ao sistema antigo, usado até o ano passado. Mas Ecclestone e Todt,
sabe-se lá o que passa por suas cabeças, querem outra coisa no lugar. A F-1
nunca foi lugar de unanimidades, mas quando isso acontece, e todos
aparentemente sabem o que precisa ser feito para se corrigir alguma burrada,
eis que sempre tem alguém para melar tudo e fazer o que deveria ser simples e
óbvio virar uma verdadeira epopéia, e no pior sentido da expressão. Depois
dessa, Ecclestone que não venha reclamar da F-1 estar indo para o buraco, pois
ele próprio está ajudando a afundar a categoria que diz tanto se preocupar com
ela. Todos esperam que até às vésperas dos treinos livres em Shanghai haja
alguma iluminação e se tome o caminho mais correto para que tudo volte a um
mínimo de normalidade, mas a cota de milagres da F-1 parece andar vencida há
muito tempo...
Romain Grosjean fez outra corrida espetacular com a equipe estreante Hass, conquistando um quinto lugar na raça e superando times mais experientes. |
Pela segunda corrida consecutiva,
o novo time da F-1, a
Hass, conseguiu obter grande destaque, e novamente com Romain Grosjean, que fez
uma prova excelente no Bahrein, e conseguiu o que muitos achavam difícil:
terminar a corrida barenita em posição ainda melhor do que na Austrália, onde
Grosjean já havia surpreendido com um 6° lugar: o piloto conseguiu ser 5°
colocado, com uma estratégia agressiva e uma pilotagem firme e decidida.
Grosjean conseguiu deixar para trás a Toro Rosso e a Williams, e no campeonato
de construtores, a nova escuderia norte-americana já ocupa a 5ª colocação, com
18 pontos, apenas 2 a
menos do que a Williams, com 20. Esteban Gutiérrez, assim como em Melbourne,
novamente não chegou ao fim, entretanto. O desempenho do time de Gene Hass já
começa a criar desafetos no paddock, sob alegação de que o carro do novo time é
praticamente uma "meia Ferrari", uma vez que eles compraram do time
italiano tudo o que era possível pelo regulamento. E esse é o ponto chave: se o
regulamento permite, então está OK. Os que estão criticando, no caso, a
Williams é um dos que reclamam, que tratem de melhorar seus carros ou pelo
menos tratem de disputar a corrida com uma estratégia de prova mais correta: o
desempenho dos carros de Frank no Bahrein até eram encorajadores no início, mas
a estratégia de duas paradas foi um verdadeiro desastre, e o time acabou
levando uma lavada de Red Bull, Toro Rosso, e principalmente da novata Hass,
algo que sua experiência, por assim dizer, não deveria permitir ocorrer.
Além de Romain Grosjean, outros
dois nomes foram bem notados na corrida barenita. Stoffel Vandoorne, chamado às
pressas pela McLaren para substituir Fernando Alonso, que não foi liberado
pelos médicos para correr o GP, conseguiu se classificar à frente de Jenson
Button para a prova, e ainda chegou em 10° lugar, marcando o primeiro ponto da
McLaren no campeonato deste ano. Outro nome que chamou atenção foi Pascal
Wehrlein, que andou fortíssimo com a Manor durante a corrida, conseguindo
ultrapassar carros que até o ano passado eram inalcansáveis para o pequeno
time. Indicado pela Mercedes, Pascal chegou a andar entre os 10 primeiros
colocados na prova barenita, antes de fazer sua primeira parada de pneus. Mas
mesmo depois de cair lá para trás, veio fazendo uma corrida cheia de garra,
terminando em 13° lugar, à frente dos pilotos da Sauber e da Force India. Ambos
já estão na mira dos chefes das outras escuderias, mas seus destinos imediatos
ainda são ligados à McLaren e à Mercedes. Vandoorne talvez dispute a corrida da
China, se Alonso não for liberado até lá para correr, mas seu pensamento está
mesmo voltado para 2017, onde poderá até ser titular do time de Woking,
dependendo de Jenson Button e Fernando Alonso seguirem ou não como titulares da
escuderia. Pascal, por sua vez, passa a ser considerado um nome em potencial
para ocupar um dos carros prateados do time alemão no caso de Nico Rosberg ou
Lewis Hamilton saírem do time, o que no caso do atual tricampeão de F-1, ser um
pouco distante ainda, o que não é o caso de Rosberg. Mas se Nico sair, Pascal
poderá ter sua grande chance. Caso não sejam titulares nos dois times, é bem
provável que sejam "emprestados" a outros times, a fim de que ganhem
mais experiência, como é o caso de Pascal na Manor nesta temporada.
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