sexta-feira, 15 de março de 2024

PARAÍSO DENTRO DA PISTA; INFERNO FORA DELA

A Red Bull tem um início de temporada fulminante, com duas vitórias em dobradinha incontestáveis dentro da pista. Fora dela, contudo...

            A temporada 2024 da Fórmula 1 não tem sido muito empolgante até agora. A Red Bull, mais uma vez, está nadando de braçada, e as demais escuderias estão negando fogo na competição, pelo menos no que tange a discutir a hegemonia do time dos energéticos, que pelo terceiro ano consecutivo mostra que deve levar a temporada novamente sem maiores percalços, tanto na briga pelo título de pilotos quanto pelo título de construtores.

            Nem tudo, porém, são flores no time de Milton Keynes. A escuderia está vivendo duas realidades completamente distintas na temporada 2024. Poderíamos afirmar, sem sombra de dúvidas, que na pista, a escuderia vivencia praticamente o paraíso. Fora da pista, contudo, o clima é de um verdadeiro inferno, com potencial para abalar a outra face que a escuderia vem desfrutando no presente momento, a depender dos seus desdobramentos.

            Na pista, até agora a Red Bull vive um dos inícios de campeonato mais tranquilos de toda sua história. Em duas corridas, duas vitórias, em duas dobradinhas, com Max Verstappen vencendo as duas provas com um pé nas costas, disparando na frente desde a pole-position, também duas para o atual tricampeão, sem sequer ser ameaçado por quem vem atrás. Verstappen tem feito arranques demolidores, de modo que já na primeira volta abre mais de 1s para o concorrente mais próximo, que fica impossibilitado de usar o DRS para tentar acompanhar, já que neste ano o sistema da asa móvel já pode ser usado depois da primeira volta de largada e/ou relargada, com o intuito de reforçar as brigas por posições. Nem isso serviu para ajudar os rivais dos outros times, que já comem poeira e ficam brigando entre eles, enquanto Max escapa de tal modo na dianteira, que as transmissões de TV tem até ignorado o holandês em parte da corrida, já que ele corre praticamente sozinho, preferindo se concentrar nos demais pilotos que conseguem brigar entre si na pista.

            E logo atrás, ainda que com vários segundos de diferença, vem Sergio Perez, que nas duas corridas realizadas, fechou a dobradinha com dois segundos lugares, e ocupa a vice-liderança do campeonato. O mexicano, diga-se, sempre fez bons inícios de temporada no time rubrotaurino. A questão é se ele vai manter a constância, um ponto fraco de Perez, é verdade, que acabou potencializado pela escuderia no desenvolvimento do carro, que foi ficando mais nervoso, e deixando Sergio desconfortável e sem confiança nas reações do bólido. Se o panorama não se repetir, mesmo assim é pouco provável que Perez ajude a animar a disputa. Pode até ocorrer, quando Verstappen tiver algum percalço, mas no confronto direto, muito difícil. E nem a Red Bull, a grosso modo, quer que o mexicano complique a vida de sua grande estrela. Para eles, em especial o “inquisidor-chefe” Helmut Marko, Perez tem de fazer o que fez em Sakhir e Jeddah: terminar em 2º lugar, comboiando o holandês. E só. E com a capacidade do RB20, é obrigação ele fazer isso. E, pelo menos até aqui, tem cumprido com as expectativas, a ponto de nem mesmo uma punição na Arábia Saudita ter comprometido sua posição final de corrida.

            Neste aspecto, todo mundo já pode até jogar a toalha. Max Verstappen vai ser tetracampeão sem maiores problemas. A única dúvida é em que GP o holandês vai encerrar a fatura matematicamente. E, da mesma forma, se Perez não se atrapalhar, também saber em que momento o mexicano vai ser novamente vice-campeão. Da mesma maneira, será mais um título de construtores a ser contabilizado pelo time dos energéticos, a saber em que momento a conquista também será sacramentada. E, só para constar, uma informação interessante: com o triunfo em Jeddah no fim de semana passado, a Red Bull atingiu a marca de 115 triunfos na F-1, superando a marca de 114 triunfos conquistados pela Williams, um dos times mais tradicionais da história da categoria máxima do automobilismo. E com plenas chances de superar a Mercedes, com 125 vitórias, muito em breve, ficando atrás então somente da Ferrari e da McLaren. Nada mal, não?

Christian Horner é o pivô da crise interna na Red Bull, por ter tido atitudes "impróprias" com uma funcionária do time. Jos Verstappen, pai de Max, já cerrou posição a favor da demissão do diretor da escuderia, de quem nunca foi exatamente próximo, alegando defender os interesses do filho.


            Sim. Mas, como já é de conhecimento público, a situação na equipe Red Bull anda em ebulição. O motivo é que Christian Horner, o chefe da escuderia, teria praticado atos impróprios com uma funcionária da escuderia, o que motivou uma investigação para apurar os acontecimentos, e isso acabou sendo de conhecimento público, uma vez que a situação poderia ser realmente séria, a ponto de motivar até a demissão de Horner, que está na chefia da escuderia desde sua estréia na F-1, em 2005, praticamente 20 anos, o que faz dele o mais longevo chefe de equipe do grid atualmente. Uma investigação “independente” teria sido realizada, e apontado que não haveria indícios graves como haviam sido especulados, e que Horner estaria firme no cargo. Teoricamente, poderia ter encerrado por ali, mas a investigação independente realizada não teve seus resultados divulgados com transparência, o que começou a dar margens a certas interpretações. Teria acontecido mesmo algo sério, que poderia ter implicâncias capitais, a ponto de Horner perder o emprego? Ou teria sido mais fogo de palha, onde nada muito grave aconteceu, mas que também não convinha ser divulgado ao público para não criar celeumas desnecessárias? Operação abafa em ação por parte da Red Bull? Ou algo mais? Certamente a imaginação poderia nos oferecer um cenário fértil de possibilidades, mas o que de fato teria acontecido realmente, e o que importa de fato saber?

            Como desgraça pouca é bobagem, eis que um e-mail foi divulgado a muitas pessoas envolvidas na F-1, imprensa, chefes de equipe, FIA, etc, contendo prints de conversas comprometedoras por parte de Christian Horner com uma funcionária do time. Quem teria vazado isso? Mas, o mais importante: aquilo é verídico? É o que teria ocorrido de fato? Como não há uma confirmação, ficamos na dúvida. Pode ter acontecido tudo, e o que estava ali descrito nem parecia tão grave como se fala por aí, a ponto de gerar esse terremoto todo. Mas, e se não for? A quem interessa jogar lenha nessa fogueira? E como isso pode afetar a Red Bull, e quem sabe, até atrapalhar as atividades do time na pista?

            Daí então, como quem não quer nada, mas mostra a que veio, eis que Jos Verstappen, pai do atual tricampeão de F-1 e piloto do time rubrotaurino, entra na conversa pregando a expulsão de Horner do time, caso contrário, a escuderia irá implodir se ele permanecer. Quem conhece o caráter de Verstappen pai sabe que ele não é exatamente flor que se cheire, e isso já vem de longe, quando era piloto na categoria máxima do automobilismo. Nada muito estranho, levando-se em conta que Horner e ele não se bicam, daí a “sugestão” para a Red Bull se livrar do seu “problema”. Até Max Verstappen acabou sendo metido na conversa, e deixou claro sua posição, ao afirmar que seu pai não é mentiroso, e que se tiver que escolher entre Horner e Helmut Marko, é Marko na cabeça. Até porque Max é o queridinho do consultor da Red Bull, tratado por ele a pão de ló, mesmo quando fazia as maiores estripulias na pista, causando todo tipo de confusões em certas disputas. Não é de se admirar que ele tenha essa lealdade a Marko, que já não é de hoje, também, que ele tem uma certa disputa velada de poder com Horner pelo comando da Red Bull.

            Esse diz-que-diz motivou nova investigação, agora do conglomerado Red Bull, querendo apurar melhor a situação. Falou-se que Marko poderia ser suspenso, sob suspeita de ter sido o responsável pelo vazamento das informações, aproveitando uma pisada na bola do desafeto, a fim de se promover no time. No fim, eis que Marko acabou reafirmando em sua posição. Nada de suspensão. Mas Christian Horner estaria de novo na corda bamba. O chefe da Red Bull chegou a responder agressivamente à situação, dizendo que sua vida particular é “particular”, e que não iria mais permitir que sua família acabasse exposta nesta situação. E, claro, a tal funcionária que teria sido assediada por Horner acabou suspensa do time, algo que não parece muito claro o motivo da suspensão, pelo menos no bom sentido. E o clima continua quente nos bastidores. O problema é saber exatamente o que rolou de fato, e isso é o que ninguém confirma de fato.

            Tudo indica que deve ser uma queda de braço nos bastidores para ver quem manda. Christian Horner e Helmut Marko coordenam as coisas na Red Bull, mas oficialmente, Marko atua mais como consultor, e dirige o programa de formação de pilotos da marca, enquanto Horner é o chefe máximo da Red Bull. Mas Marko tinha muita autoridade dentro da Red Bull, a ponto de ser o grande responsável por “fritar” os pilotos que não fossem seus queridinhos na estrutura da Red Bull e seu time B (originalmente Toro Rosso, atual Visa RB) quando estes não rendessem o esperado. O trunfo de Marko era ser pessoa de confiança de Dietrich Mateschitz, dono de 49% do império Red Bull, o que lhe dava aval para mandar tanto quanto Horner. Mas Mateschitz bateu as botas, e o consultor não estaria desfrutando de tanta confiança em relação aos novos dirigentes da companhia. Portanto, a melhor maneira de ganhar confiança seria mostrar serviço, e numa dessas, quem sabe, se livrar do principal incômodo, Horner, por que não?

Na possível queda de braço por poder dentro da Red Bull, Helmut Marko (acima) conta com a lealdade de Max Verstappen; já Christian Horner teria ao seu lado Adrian Newey (abaixo), o principal responsável pelos projetos dos carros vitoriosos da escuderia.



           
Não é de hoje que Horner e Marko já não andam em sintonia ideal. Marko contaria com a simpatia do lado austríaco da Red Bull, mas o lado tailandês, dono de 51% da Red Bull, seria mais aliada de Horner. Horner, aliás, tem outro trunfo importante: se Marko conta com Max Verstappen como aliado, Christian tem a seu lado Adrian Newey, o projetista da escuderia, e grande responsável pelo sucesso dos carros campeões da marca desde os tempos de Sebastian Vettel. E nessa queda de braço, o que não falta são especulações e possibilidades, falando até que Max Verstappen poderia sair do time, se visse sua eficiência comprometida, podendo ir para a concorrência, onde as opções poderiam ser até a Ferrari, Mercedes, e por último, Aston Martin. Isso envolveria a saída de Marko da Red Bull, podendo ir para estes times, acompanhando seu protegido Verstappen. Se Horner for “saído”, Adrian Newey poderia ir junto com ele, e isso poderia ser um golpe tremendo na escuderia, tamanha a importância do projetista para o time. E vamos lembrar que, quando o projetista deixou a Williams e a McLaren anteriormente, estes times sofreram um grande baque em sua competitividade na pista, portanto, o risco envolvido neste tipo de operação pode ser considerável.

            Mas, fatores externos podem se fazer sentir. A Ford, que fez parceria com a Red Bull Powertrains para fornecimento das novas unidades de potência da escuderia dos energéticos a partir de 2026, estaria descontente com os modos como as investigações tem sido realizadas, pedindo mais transparência na apuração dos fatos. E possíveis quedas das vendas das bebidas energéticas mundo afora, influenciadas por este fato nebuloso, poderiam levar a Red Bull, dona do mais famoso energético do planeta, a tomar medidas saneadoras e corretivas para resolver a situação. E isso pode sobrar tanto para Marko, se for considerado o responsável pelos vazamentos das informações, como para Horner, pela pisada na bola que abriu a brecha para esta situação ser explorada. Ainda mais em uma época onde redes sociais podem fazer um grande bem, mas também um grande estrago. Não que a F-1 já não tenha tido dirigentes de equipes que fizeram merda, e em alguns casos, coisas até escabrosas, em momentos do passado. Mas até então, isso repercutia apenas nos times. Hoje em dia, com as escuderias pertencendo a conglomerados ou grandes empresas, o impacto que algo assim pode causar na imagem do grupo proprietário pode ser comprometedor. A única certeza é que não há santos na categoria máxima do automobilismo, mas assim como na política, todos são inocentes, até alguma palhaçada vir à tona.

Enquanto o clima ferve nos boxes, na pista Verstappen despacha os adversários sem a menor dificuldade, iniciando sua caminhada rumo ao tetracampeonato.

            Por enquanto, isso não se refletiu no desempenho na pista, mas se a situação continuar, e ficar mais complicada, ninguém sabe exatamente onde pode ir parar. E não é segredo que os rivais estão acompanhando de perto para tentar capitalizar com a situação, na esperança de que isso reduza a hegemonia da Red Bull na pista, ou se podem surgir oportunidades que eles possam explorar para benefício próprio, como contratar quem sair perdendo nessa história, ou quem sair diante dos desdobramentos da situação. Como mencionei no título desta matéria, na pista a Red Bull está no paraíso neste momento, mas fora dela, está um verdadeiro inferno, por mais que o time tenha conseguido transparecer normalidade nas atividades de competição até aqui. Mas, uma erupção está em curso, e quando ela explodir, e se explodir, vai saber quem estará de pé ao seu término, na pior das hipóteses?

            Aguardemos os novos capítulos desta trama em andamento...

 

 

Muitos reclamaram da atitude de Kevin Magnussen no GP da Arábia Saudita, quando o dinamarquês “travou” os pilotos atrás de si, permitindo que Nico Hulkenberg escapasse para poder marcar um ponto para o time da Haas, o que conseguiu ao fim da corrida. Eles acusaram manobras antidesportivas por parte de Magnussen, o que o fez tomar duas punições de 10s cada, que acabaram adicionadas ao seu tempo de corrida ao fim da prova, o que para muitos foi completamente inútil, já que não houve como compensar o prejuízo na pista. Eles pleiteiam que, em caso de punição, seja efetuada a ordem de stop & go, ou drive through, o que seria uma punição bem mais efetiva. Por outro lado, críticos também afirmam que, apesar das manobras de Magnussen bloqueando os rivais que resultaram nas punições, os pilotos também fracassaram em superar o piloto da Haas, demonstrando que eles foram incapazes de superar o adversário, ainda mais com as longas retas da pista de rua árabe, que em tese ofereciam boas oportunidades de ultrapassagem. É uma discussão que vai dar muito o que falar, de ambos os lados.

 

 

E a Formula-E chegou a São Paulo para a etapa brasileira do campeonato, na pista montada junto ao Sambódromo do Anhembi, na zona norte da capital. Foi aqui no ano passado que a F-E começou a mostrar a que veio o seu novo carro Gen3, com muitas disputas e ultrapassagens entre os competidores, para fã nenhum da velocidade botar defeito. Mith Evans, da Jaguar, venceu a corrida, trazendo embutido Nicky Cassidy, da Envision, e com Sam Bird, da Jaguar, fechando o pódio, com os três cruzando a linha de chegada muito próximos, lutando até a bandeirada pela vitória. Foi uma boa apresentação para o primeiro ePrix de São Paulo, fazendo a estréia do Brasil no calendário da competição dos carros monopostos 100% elétricos. E a equipe britânica tem tudo para repetir a dose de sucesso do ano passado na prova deste ano, até porque Cassidy agora está ao lado de Evans na Jaguar, reforçando ainda mais a capacidade da escuderia, cujo trem de força mostra que é o mais eficiente da categoria no presente momento. A Porsche, única rival que parece ter um trem de força capaz de concorrer no mesmo nível da Jaguar, é a esperança de melhorar a disputa na briga pela vitória em São Paulo. A marca alemã começou a temporada vencendo na Cidade do México, com Pascal Wehrlein; e em Diriyah, conquistou outro triunfo na primeira prova com seu time cliente, a Andretti, com Jake Dennis. Mas a Jaguar esteve sempre ali por perto, e a vitória de Nicky Cassidy na segunda corrida apenas confirmou a força do time britânico, que certamente vai brigar pelo título da temporada com muito mais afinco em 2024 do que no ano passado. Hoje, haverá o primeiro treino livre, a partir das 16:30 Hrs. Neste sábado, o segundo treino livre começa às 07:30 Hrs., com a classificação marcada para as 09:30 Hrs. A largada será às 14:00 Hrs. Todos os treinos e a corrida terão transmissão ao vivo da Bandeirantes, com a corrida sendo exibida no canal aberto, e também no Bandsports, que também exibirá os treinos. Na internet, o canal do site Grande Prêmio no You Tube terá transmissão de todas as atividades de pista ao vivo.

A Formula-E vai acelerar novamente em São Paulo, no circuito montado junto ao Sambódromo do Anhembi. Corrida promete boas disputas, a exemplo de 2023.


 

 

Sobre os pilotos brasileiros na competição, não dá para ter esperanças positivas de bons resultados, tanto de Sergio Sette Camara quanto de Lucas Di Grassi. Suas equipes infelizmente não possuem carros competitivos, apresentando trens de força deficientes, e sendo os mais fracos da temporada. A ERT até conseguiu alguns pontos com uma performance primorosa de Sergio na primeira prova de Diriyah, mas o estilo de pista da etapa paulistana é bem diferente, com trechos de alta velocidade, o que deve ser um grande complicador para o time chinês. Situação similar para a ABT de Di Grassi, já que o trem de força da Mahindra também não tem demonstrado eficiência, conforme vimos nas corridas deste ano. Se algum deles conseguir marcar um ponto, já terá sido um grande feito. Melhor sorte para todos em 2025...

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