sexta-feira, 29 de setembro de 2023

RED BULL CAMPEÃ

Depois de um pequeno percalço em Cingapura, Max Verstappen chegou ao Japão, viu, e venceu a corrida sem maiores problemas (acima), e a Red Bull conquistou o título de construtores de 2023 (abaixo), o que já era praticamente favas contadas no ano.


         O que era mais do que previsível, aconteceu: a Red Bull é campeã de construtores da temporada 2023 da Fórmula 1, o sexto título da escuderia austríaca na categoria máxima do automobilismo, comemorado domingo passado em Suzuka, no Japão, e já pode comemorar também o título de pilotos, que deve vir na próxima corrida, no Qatar, exceto se acontecer uma grande catástrofe que impeça Max Verstappen de pontuar, para coroar o tricampeonato consecutivo do piloto holandês, vencedor também das contendas de 2021 e 2022.

         Desde a temporada de 2013, é provavelmente o título mais fácil já conquistado pelo time dos energéticos, dada a supremacia do modelo RB19 em relação aos demais carros da concorrência. Por mais que digam que o segundo piloto do time, Sergio Perez, é a real dimensão do rendimento do carro, isso não se sustenta, diante do mau momento do piloto mexicano em várias etapas recentes, como na própria corrida do Japão, onde Sergio cometeu vários erros e barbeiragens, lembrando que, mesmo assim, ele é o vice-líder do campeonato, sua melhor classificação de carreira desde que estreou na F-1, mostrando que o time sediado em Milton Keynes deitou e rolou sem oposição na temporada deste ano.

         E o mérito é todo deles. O time conta com um grupo técnico muito competente, sob a batuta de Adrian Newey, projetista dos tempos da velha guarda, tendo dado seus primeiros passos na F-1 na equipe Fittipaldi no início dos anos 1980. A primeira era de domínio da Red Bull na categoria máxima do automobilismo veio entre 2010 e 2013, com quatro títulos consecutivos de pilotos e construtores, com Sebastian Vettel levantando o caneco nestas quatro temporadas. Tirando a temporada surpreendente da Brawn GP em 2009, nenhum time conquistou tanto em tão pouco tempo na competição, sendo visto inicialmente até com certo motivo de chacota, quando Dietrich Mateschitz resolveu ter um time de F-1 no início dos anos 2000, quando a categoria parecia atrair todas as grandes montadoras de automóveis do mundo para seu certame. Mas o mundo iria se dobrar à escuderia dos energéticos em pouco tempo.

         A Red Bull já estava envolvida com o automobilismo havia mais de uma década, patrocinando times e pilotos em diversos campeonatos, mas na primeira metade dos anos 2000, Mateschitz resolveu dar um passo mais ousado, tornando-se proprietário de uma escuderia de F-1. A chance surgiu quando a Ford, cansada de gastar rios de dinheiro com sua equipe Jaguar sem ter os resultados esperados, colocou o time e toda a sua estrutura à venda ao fim de 2004, sendo então adquirida pelo império dos energéticos, e dando origem à Red Bull Racing.

Em 2005 (acima), a estréia da Red Bull na F-1 como equipe de competição. Em 2009 (abaixo), as primeiras vitórias na categoria.


         Desde o início, o time se destacou por trazer um ar de frescor à F-1, com uma atitude mais relaxada e menos sisuda em um campeonato marcado pela seriedade e declarações insípidas e totalmente politicamente corretas. A escuderia chegou até mesmo a editar um jornal eletrônico, redigido e distribuído no paddock nos fins de semana de GP, com textos descontraídos e bem-humorados. Mas, já de cara, mostrando uma administração muito competente, e com planos ambiciosos a médio e longo prazos. Logo em sua primeira temporada, 2005, por exemplo, já marcou 34 pontos, 5 a menos que sua antecessora Jaguar em cinco temporadas (marcou 39 pontos), terminando o ano em 7º lugar. Nada mal para um primeiro ano, sabendo aproveitar o material de que já dispunha, e mostrando o quanto a administração da Jaguar não sabia coordenar seus esforços na competição.

         É verdade que os primeiros anos não foram exatamente gloriosos, mas sinais de evolução surgiam. O time contratou Adrian Newey, engenheiro e projetista de grande currículo, para desenvolver o seu projeto de tornar a Red Bull uma equipe vencedora, e os primeiros sinais dessa mudança vieram em 2009, quando a F-1 passou por uma mudança técnica, e a Red Bull começou a crescer a olhos vistos, especialmente na segunda metade da temporada. O time começou a vencer suas primeiras corridas, e num campeonato até bastante equilibrado em 2010, conquistou não apenas seu primeiro título de construtores como seu primeiro título de pilotos, com o mais novo grande talento do automobilismo alemão, Sebastian Vettel. Desnecessário dizer que a escuderia chegou a ser desprezada por alguns, que se referiam a ela apenas como “um fabricante de bebida”, argumentando que nem tinha DNA “automobilístico” que lhe desse credibilidade para ser um time de competição. Nada mais falso, uma vez que a Red Bull, como empresa, sempre fez grandes patrocínios de esportes, e já era patrocinadora de pilotos e times de competição havia muitos anos.

Em 2010, o primeiro título de pilotos e de construtores da Red Bull na F-1, com Sebastian Vettel (acima). Em 2021, de novo campeã de pilotos, com Max Verstappen (abaixo).


         Tanto apoiou diversos pilotos como criou um programa de formação para jovens talentos, comandado por Helmut Marko, para garimpar pilotos que pudessem suprir as necessidades da escuderia. Para tanto, eles se tornaram proprietários de um segundo time na categoria máxima do automobilismo, ao comprar a Minardi, e transformá-la em seu time “junior” na F-1, com o nome de Toro Rosso (Red Bull, em italiano), onde iriam alocar seus pilotos novatos ou recém-contratados, para avaliação antes de promove-los ao time principal. Sebastian Vettel foi o primeiro a ganhar essa “promoção”, e mostrou a que veio, conquistando os títulos entre 2010 e 2013, com a Red Bull, de pilotos e construtores, aproveitando os anos de domínio da escuderia, que no fim do último ano antes da atual era híbrida da F-1, estabeleceu um recorde de 9 vitórias consecutivas de um mesmo piloto, Vettel, uma marca impressionante, e que só foi batida este ano, com Verstappen marcando 10 triunfos consecutivos, pela mesma equipe Red Bull.

         É verdade que o programa de pilotos da marca de bebidas virou uma faca de dois gumes, onde ao mesmo tempo que dava oportunidades a muitos talentos, também os descartava em dó nem piedade, onde o humor instável de Helmut Marko dava o tom das decisões, promovendo e “despromovendo” pilotos muitas vezes sem ter a paciência necessária para esperar resultados. Ou o piloto chegava e arrebentava, ou era “arrebentado” pelo dirigente, cuja última “vítima” foi Nyck De Vries, espinafrado da atual Alpha Tauri (antiga Toro Rosso) após meia temporada no time.

         Os anos de domínio da Red Bull acabaram interrompidos pela hegemonia da Mercedes entre 2014 e 2020. Mesmo assim, o time continuou mostrando um alto grau de eficiência e competitividade, com exceção da temporada de 2015, onde ficou na 4ª colocação entre os construtores, e não venceu nenhuma corrida. Nos demais anos, o time sempre terminou o ano no TOP-3, e vencia algumas corridas aqui e ali. Muitas vezes passou a desancar a parceria Renault, cujas unidades de potência não tinham a mesma eficácia das rivais Mercedes e Ferrari. Impaciente com as promessas de melhorias que não se concretizavam, a Red Bull resolveu apostar na Honda, apesar da relação problemática que a marca nipônica teve com a McLaren entre 2015 e 2017, com péssimos resultados. As unidades de potência foram fornecidas à Toro Rosso a título de teste na temporada de 2018, e os resultados foram satisfatórios, a ponto de a partir de 2019, o time oficial utilizar os propulsores nipônicos. E foi uma aposta que se pagou, pois naquela temporada os resultados já estiveram ao nível dos melhores anos da era híbrida com os Renault, só que demonstrando muito potencial de crescimento.

         Se em 2020 o time austríaco voltou a ser vice-campeão de construtores, repetindo a posição alcançada nas temporadas de 2014 e 2016, as metas de voltar efetivamente a disputar o título se concretizaram no ano seguinte, quando Max Verstappen se digladiou com Lewis Hamilton, conquistando o título da temporada, e fazendo a Red Bull novamente campeã de pilotos, ainda que muitos contestem o modo polêmico de liberação dos retardatários utilizado por Michael Masi no fim da corrida de encerramento da temporada, visto por eles como uma jogada de cartas marcadas que inverteu completamente a situação na volta final, algo totalmente desnecessário para uma temporada onde se viu um verdadeiro duelo de titãs na pista, com méritos tanto para a Mercedes quanto para a Red Bull, que voltava ao seu palco de protagonista.

         Uma posição que ficou ainda mais evidente no ano passado, quando o time se impôs de desafiante a favorita no duelo contra a Ferrari, na nova era de regras técnicas que trouxe de volta o efeito-solo na F-1, com o time dos energéticos dominando a competição a partir da segunda metade da temporada, com Max Verstappen conquistando de forma incontestável seu bicampeonato, e mostrando ser o grande talento da atual geração da F-1. E, mostrando que não se acomodou com a nova conquista, o time apresentou para a temporada deste ano um carro ainda mais eficiente e dominador, que subjugou completamente a concorrência, nas mãos de um Max Verstappen cada vez mais implacável na pista, tendo vencido até aqui 13 das 16 provas da temporada realizadas até então, e com perspectiva de vencer quase tudo até o encerramento do ano. Mais do que o talento de Verstappen, e a genialidade de Adrian Newey no projeto do carro, é a sinergia entre os setores da escuderia dos energéticos que fazem com que ela tenha uma eficiência das mais absurdas já vistas, um mérito que ninguém pode lhes tirar, haja visto a falta de oposição por parte dos outros times, que não conseguiram apresentar carros tão eficientes, nem apresentar a mesma eficiência nas corridas, sejam com seus pilotos, ou com estratégias de corrida. Mercedes, Ferrari, Aston Martin, e agora, a McLaren, ocuparam em determinados momentos a posição de segunda força do grid, mas sem conseguirem se firmar na posição, que atualmente parece pertencer ao time de Woking, mas sem conseguir ameaçar de fato a dominância do time dos energéticos, que só perdeu uma corrida na temporada até aqui, em Cingapura, quando o time não conseguiu achar o acerto ideal para seus carros, ficando pela primeira vez fora do Q3 em uma classificação há muito tempo, e sem nenhum piloto no pódio em quase dois anos. E no Japão, mostrando que tudo tinha sido apenas um tropeço momentâneo, Verstappen voltou a dominar como quis, marcando a pole-position com autoridade, e vencendo com praticamente 20s para o rival mais próximo, sem dar chance a nada e nem a ninguém.

A McLaren bem que tentou, mas não conseguiu ameaçar a vitória de Verstappen em Suzuka (acima), mas se contentou em subir ao pódio com seus dois pilotos. Já a Mercedes chamou mais atenção por um duelo entre seus pilotos (abaixo) do que pelo resultado, tendo sido batida em velocidade também por McLaren e Ferrari.


         Uma competência técnica que nunca deixou de ser uma das marcas registradas da escuderia. Mesmo nos anos de domínio da Mercedes, a Red Bull conseguia mostrar uma incrível evolução de seu carro durante a competição, enquanto outros times por vezes não apenas penavam para obter o mesmo desempenho evolutivo, ou até mesmo perdiam o rumo nas atualizações que concebiam para seus carros. Atualmente, em um momento de teto de gastos, acertar a mão em um projeto logo de cara se torna uma grande vantagem, sem mencionar que atualizações certeiras contribuem para um uso ainda mais otimizado dos recursos à disposição.

         É bem verdade que todo esse sucesso tem lá seus pontos negativos. Desde que passou a ser um time campeão, a Red Bull abandonou aquele clima de equipe “diferente” no paddock, com um ar mais relax e cuca fresca, deixou de fazer o seu jornal de box, e ficou um ambiente tão sério e sisudo como os demais times do grid. E, claro, alguns percalços, como ter extrapolado o teto de gastos em 2021, ainda que por uma pequena margem, deu mote a muitos haters acusarem a escuderia de ter sido trapaceira, e agindo assim também em relação a seus pilotos, passando a mão na cabeça de Verstappen, quando o holandês cometia estripulias na pista das mais escabrosas, e crucificava erros muito mais perdoáveis de seus companheiros de equipe, e até negando-lhes a devida valorização, como se só tivessem olhos para o piloto holandês, e nada mais. Não economizam também nas críticas a cada “rifada” de piloto que cometiam, alegando impaciência e métodos trogloditas que acabavam com a carreira de pilotos que poderiam render muito mais se fossem um pouco mais comedidos, entre outras “falhas”, e não se pode deixar de dar certa razão a estas críticas, pois muitos pilotos “condenados” pelos métodos truculentos de trato de Helmut Marko foram ser vencedores e campeões em outras categorias que souberam lhes dar um tratamento mais condizente. Mas, com o sucesso obtido, Marko faz ouvidos surdos para estas críticas, e Christian Horner também não perde seu sono com isso. Para alguns, o sucesso subiu à cabeça da Red Bull, para o bem, e para o mal. Mas não dá para ser perfeito nesse mundo. E a medida da competência é que desde 2010, apenas Mercedes e Red Bull foram campeãs na F-1, e contando com a temporada deste ano, já vão 14 anos com apenas os dois times dividindo as glórias das conquistas na categoria máxima do automobilismo.

         A ousadia também continua a ser uma marca importante da escuderia, que recentemente, a fim de não depender de terceiros para fornecimento de suas unidades de potência, montou uma divisão própria para isso, a Red Bull Powertrains, comprando o projeto das unidades da Honda, após os japoneses resolverem deixar a competição, ao fim de 2021, e contratando diversos profissionais das marcas concorrentes. A fábrica nipônica continuou fornecendo seu know-how à nova empresa do grupo Red Bull, decidindo capitalizar o sucesso obtido nas pistas, mas com o desenvolvimento das unidades ficando a cargo principal da nova Red Bull Powertrains, que em outra jogada audaciosa da escuderia austríaca, firmou contrato com a Ford para ser sua nova parceira de competição a partir de 2026, marcando o retorno da montadora dos Estados Unidos à F-1, de onde saiu justamente vendendo sua escuderia de competição à própria Red Bull, em fins de 2004. O mundo dá voltas, não? Até porque convém lembrar que a Ford fez sua estréia na F-1, nos anos 1960, em outra parceria que se tornou antológica nos anais da competição, quando a empresa norte-americana apoiou o projeto do motor V-8 DFV concebido pela pequena empresa fundada por Mike Costin e Keith Duckworth, formando a Cosworth, que se tornaria o mais vitorioso propulsor da categoria máxima do automobilismo por mais de uma década e meia de participações.

         Muitos apostam que, até a nova mudança de regra no regulamento técnico da F-1, em 2026, a Red Bull tem tudo para continuar dominando a competição, com Max Verstappen exercendo uma hegemonia ímpar, já que ele não tem um colega de time que lhe dê sufoco na escuderia rubrotaurina. Sergio Perez até deu uma impressão mais positiva no início do ano, mas desde a etapa de Mônaco a performance do mexicano desandou na maioria das corridas, permitindo o avanço espantoso do holandês, a ponto de abrir mais de 150 pontos de diferença para Perez, que mesmo assim ainda ocupa a vice-liderança da competição, tamanha a fragilidade demonstrada pelos rivais na pista. Parafraseando Bernie Ecclestone, quando se referiu à temporada de 1988, quando a McLaren humilhou a concorrência, o problema não é a Red Bull ser “boa demais”, os outros é que “estão muito ruins”. Foi o que vimos naquele ano, e o que estamos vendo agora. Fica a expectativa se os rivais conseguirão reequilibrar o jogo no próximo ano, ou se a Red Bull continuará sua sina de supremacia atual.

         É verdade que não há hegemonia que sempre dure. A recente da Mercedes durou praticamente oito anos. A nova era atual da Red Bull está apenas em segundo ano, portanto... Algo que já deixa os adversários completamente arrepiados com as piores expectativas sobre o que pode vir em 2024. O problema não é da Red Bull, que só está fazendo, e muito bem, o seu trabalho. Os outros que se virem para mudar esta situação. Boa sorte para eles, porque irão mesmo precisar... Ou veremos o time dos energéticos comemorar seu 7º título de construtores, e muito mais...

 

 

Depois de disputar o novíssimo Grande Prêmio da Índia, a MotoGP não descansa e nesta sexta-feira já iniciou os treinos para o GP do Japão, no traçado misto do Twin Ring Motegi, o complexo da velocidade pertencente à Honda localizado ao norte de Tóquio. Na pista, a expectativa está centrada no atual campeão, Francesco Bagnaia, da Ducati, que com a queda sofrida na corrida de domingo em Buddh, e o segundo lugar conquistado por Jorge Martin, da Pramac, ficou com sua liderança na alça de mira, correndo o risco de perde-la se algum azar ocorrer. Vale lembrar que ‘Peco” ainda sente um pouco os efeitos do atropelamento sofrido em Barcelona, onde escapou de sofrer maiores ferimentos. Isso limitou sua performance na prova de Misano, permitindo a aproximação dos adversários, em especial de Martin, mas o tombo sofrido na corrida do último domingo ofereceu ao adversário da Pramac a melhor chance de encostar no líder do campeonato. Será que Bagnaia vai ser desalojado da liderança do campeonato? Para a Ducati, tudo está em “família”, já que Martin também corre com motos da marca italiana, já que a Pramac é um time satélite há anos, correndo com os mesmos modelos da Desmosédici do time oficial de fábrica. Mas poderia ser constrangedor o time matriz ficar para trás de um de seus times clientes no campeonato. Vejamos como Bagnaia vai reagir, e se vai conseguir retomar o controle da situação. A corrida Sprint, assim como a prova principal, no domingo, tem largada programada para as 03:00 Hrs. da madrugada deste domingo, com transmissão ao vivo pelo serviço de streaming Star+, bem como pelo canal pago ESPN4.

 

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